Para entender por que o Haiti é chamado de o país mais pobre do continente, é preciso levar em conta sua trajetória histórica e revolucionária. Ou seja: conhecer a história da Revolução do Haiti (1791 – 1825). 

Foi o primeiro país a abolir a escravidão e o segundo a proclamar a Independência nas Américas. Tornou-se o único caso na história da humanidade em que uma insurreição de escravos destruiu a sociedade vigente e gerou uma nação.

No imediato período pós-colonial havia a possibilidade de que o Haiti fosse um modelo nacional que comprovasse, no início do século XIX, que os negros e pardos eram capazes de governar com prosperidade nos parâmetros das modernas sociedades capitalistas ocidentais. 

Mas a violenta presença econômica, militar e política das grandes potências (sobretudo França e depois Estados Unidos) inviabilizou este caminho, tornando o Haiti mais um país miserável e dependente do grande capital aliado às elites locais, que mantêm a população em condições de miséria e precariedade.

Da condição de rica colônia francesa no século XVIII (a Pérola das Antilhas) aos governos antirracistas e antiescravistas comandando por antigos escravizados como Toussaint Louverture, Henri Christophe e Jean-Jacques Dessalines, o Haiti foi exemplo e contraexemplo. 

Como afirmou na época o abade francês Henri Grégoire, o Haiti era um farol elevado nas Antilhas, para o qual estavam voltados os olhares do mundo inteiro: os oprimidos com esperança, os opressores rugindo de ódio.

A situação haitiana atual não é causada por sua tradição revolucionária, mas, ao contrário, pela negação e combate a esta. 

Conhecer a história deste país ajuda a esclarecer a situação de violência e desigualdade das Américas ainda hoje.

Texto de: Marco Morel