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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

COMEÇANDO A LER "O HOMEM QUE AMAVA CACHORROS"

Sobre O homem que amava os cachorros 

Frei Betto 

Esta premiadíssima obra do cubano Leonardo Padura, traduzida para vários idiomas, é e não é uma ficção. Aborda um fato real: após cumprir pena pelo assassinato de Leon Trotski na Cidade do México, Ramón Mercader refugia-se em Cuba. Padura narra a trajetória do homem que nunca falou e que, como militante comunista, recebeu, a tarefa de eliminar Trotski. Descreve sua adesão ao Partido Comunista espanhol, o treinamento em Moscou, as mudanças de identidade e os artifícios para ser aceito na intimidade do líder soviético. Este romance é como um espelho retrovisor, que permite ao leitor mirar, com olhos críticos, as contradições do socialismo e por que a morte de Trotski, decidida por Joseph Stalin, contribuiu para a queda do Muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética. Mesmo para quem não se interessa pelos fatos históricos subjacentes à narrativa de Padura, sua escrita impele a uma tensão permanente em torno dos preparativos para a realização de um crime de repercussão mundial. São três histórias que se entrecruzam e têm como cenário União Soviética, Espanha, Turquia, França, México e Cuba. O homem que amava os cachorros é uma primorosa obra literária, impactante, que retrata as contradições das utopias libertárias que moveram o século XX e expõe os dilemas do mundo em que vivemos. 

Sobre O homem que amava os cachorros 

Em uma praia de Havana, dois cães medeiam o improvável encontro entre um escritor frustrado, um misterioso estrangeiro e a História. Reconstruindo as trajetórias do líder soviético Leon Trotski e de seu assassino, o militante espanhol Ramón Mercader, O homem que amava os cachorros conduz o leitor pelos impasses da grande utopia revolucionária do século XX e por seus desdobramentos em nosso tempo. Um romance épico e universal, magistralmente escrito. “Leonardo Padura confirma seu status como o melhor escritor de ficção policial em língua espanhola, um digno sucessor de Manuel Vázquez Montalbán.” – The Times 

“Um excelente romance sobre a condição humana e sobre nosso mundo, que vai além da história narrada.” – El Mundo 

“Melhor romance histórico do ano e um dos melhores romances noirs sobre o século XX.” – Lire 

“Um romance magnífico. É crítico sem recorrer a fanatismos e tem grande densidade humana e intenso dinamismo narrativo.” 

– La Vanguardia 

“Este é um livro construído sobre as ruínas de um sonho.” – L’Humanité

NAZISTA foi recebido por entidade judaica do RJ, que já conhecia suas posições, durante a campanha e até se reuniu com a CONIB

O que o estudioso não lembra - ou faz questão de esquecer - é que o então candidato à presidência, durante sua campanha, foi recepcionado e até aplaudido pela Hebraica, do RJ, e, quando fez comentários racistas, em vez de ser execrado e vaiado, foi, de certo modo, apoiado, com risos, senão vejamos: 

Ele também fez crítica aos quilombolas. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas (arroba é uma medida usada para pesar gado; cada uma equivale a 15 kg). Não fazem nada.... Eu acho que nem para procriar eles servem mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles", disse, sob risos da plateia de cerca de 300 pessoas.

https://veja.abril.com.br/brasil/bolsonaro-e-acusado-de-racismo-por-frase-em-palestra-na-hebraica/

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A Revista Piauí abordou o apoio (interessado e recíproco) entre Bolsonaro e judeus, quando o presidente recebeu lideranças alemãs da extrema direita e nazista, festivamente:

Entre alguns grupos de judeus há uma percepção corrente de que a identidade judaica no Brasil hoje está sendo instrumentalizada por um projeto político. Bolsonaro e os bolsonaristas, alguns deles judeus, como Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social do governo federal (Secom) e o empresário Meyer Nigri, buscam construir uma sinonímia entre ser judeu e ser de extrema direita. O judeu forjado pelo bolsonarismo é militarista, branco, elitista e peça-chave do sistema financeiro.

São inúmeras as tentativas do bolsonarismo de caracterizar a comunidade judaica, pretensamente homogênea e coesa, como pró-Bolsonaro. Bolsonaro mobiliza a judaicidade como signo de pertencimento a um grupo influente e poderoso. Ele usa e abusa de um imaginário antissemita: faz crer que a proximidade com judeus o torna aliado de um grupo seleto, com enorme capacidade de controlar o poder e manipular a realidade.

Parte do campo antibolsonarista parece também ter comprado essa narrativa. Nesse contexto, e são fartos os comentários nesse sentido, os judeus como um todo passam a ser julgados como o “maus judeus”, aqueles que não aprenderam com o Holocausto a edificante lição de defender as minorias para evitar novos genocídios. Assim, encampam a ideia de que um massacre étnico tenha a função pedagógica de ensinar algo às suas vítimas.

Apesar de sermos apenas 0,06% da população brasileira, os campos pró e anti-Bolsonaro comumente apontam judeus como protagonistas na eleição de Bolsonaro – teriam sido responsáveis pela legitimação e aproximação do então candidato junto ao sistema financeiro. O fato é que o bolsonarismo buscou ganhos políticos ao tentar fazer crer que judeus e Bolsonaro seriam como unha e carne. Fábula que Bolsonaro tem mais dificuldade de sustentar diante dos encontros com a AfD na semana passada.


https://piaui.folha.uol.com.br/bolsonaro-os-judeus-e-o-antissemitismo/



Então, associar os "catarinas" ao nazismo e a Bolsonaro, de forma genérica, é tão injusto quanto associar os judeus ao nazifascismo de Bolsonaro. 
Obviamente, muitos catarinenses nunca foram adeptos do nazismo, muito menos de Bolsonaro, assim como muitos judeus o abominam, por ser declaradamente racista, misógino, homofóbico, adepto da tortura, corrupto, incompetente, imprestável, mentiroso contumaz, miliciano, entreguista, traidor, em uma palavra, o lixo que é e não faz questão de esconder. 
E tem mais:  os judeus Weintraub, Meyer Lanski (opa, Nigri) e  alguns judeus da FIESP, são piores do que o próprio Bolsonaro.

Até o Lottenberg, da CONIB, andou flertando com o abominável sujeitinho das rachadinhas:

Presidente da Conib participa de jantar de empresários com Bolsonaro
8 de abril de 2021

O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e do Conselho do Hospital Albert Einsten, Claudio Lottenberg, participou de jantar com a cúpula do governo federal na noite desta quarta-feira (7), em São Paulo. Jair Bolsonaro, ministros e empresários discutiram medidas para lidar com as consequências da pandemia de Covid-19 no Brasil.
Em entrevista à CNN, concedida logo após o encontro, Lottenberg afirmou que no evento se buscou não politizar as medidas contra a Covid e as conversas foram marcadas por um sentimento pró-Brasil.
“Tratamos das preocupações com as questões sanitárias e econômicas. Precisamos nos unir num sentimento pró-Brasil, sem polarizar. É um momento de colaborarmos com um único Brasil”, disse Lottenberg.

https://www.conib.org.br/presidente-da-conib-participa-de-jantar-de-empresarios-com-bolsonaro/

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Michel Gherman associa férias de Bolsonaro a seu nazismo: "ele prefere os catarinas"

O objetivo é transmitir a ideia de que os baianos devem morrer na lama, diz o pesquisador

31 de dezembro de 2021, 05:27 h Atualizado em 31 de dezembro de 2021, 05:27
Michel Gherman e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução | Isac Nóbrega/PR)

247 – O professor Michel Gherman, um dos maiores especialistas do Brasil em estudos judaicos, associou o escárnio de Jair Bolsonaro, que brinca de jet-ski e Hot Wheels em Santa Catarina, enquanto a Bahia sofre com enchentes, ao nazismo que ele representaria. Segundo Gherman, isso reflete uma visão eugenista da sociedade, onde quem realmente importa são os "catarinas", e não os baianos. "Quem ainda espera empatia de Bolsonaro não entendeu nada", diz ele. 

Fonte: https://www.brasil247.com/cultura/michel-gherman-associa-ferias-de-bolsonaro-a-seu-nazismo-ele-prefere-os-catarinas

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Em algum outro lugar do mundo, a realidade é diferente?

En Haití, la patria es la suma de intereses particulares que se entrechocan y se rechazan -  JACQUES ROMAIN - Os governadores do rocio.

Ilha de SC - Deteriorada e despersonalizada

Voltávamos de um curso na Cemig, a empresa de eletricidade e MG, quando o avião começou o procedimento de aproximação do Aeroporto Hercílio Luz.

Éramos um grupo de cinco, capitaneados pelo Engenheiro João Carlos Mosimann, à exceção de Waltrick (natural de Lages), nascidos na Ilha.

Quando o referido engenheiro, que depois tornou-se dedicado historiador, avistou o mar, emocionou-se e seus olhos verteram.

Isso aconteceu lá pelos primeiros anos da década de setenta. Entretanto, nunca me esqueci daquela manifestação sentimental de apego à terra onde nascemos.

Mas, de lá para cá, as coisas mudaram absurdamente, em decorrência do incentivo ao turismo, atividade que promoveu a transformação da cidade e adjacências em espaços exageradamente cosmopolitas.

E hoje, eu que tinha verdadeira atração pelo mar - o que não poderia deixar de ocorrer, por ter nascido em Canasvieiras, filho de pescador e ter surfado bastante - já não sinto vontade de ir à praia, sequer.

Tudo isso foi lembrado e dito, como decorrência da frase escrita por JACQUES ROUMAIN, na famosa obra Os governadores do rocio: Desde hace tiempo ese paisaje oceánico ya no lo commueve. Mira ahora el mar con los ojos del pescador que lamenta no tener una caña. Una fibra se cortó completamente en él. ¿Cómo pescar sin ella esa rara presa, el entusiasmo?

Vivo no único distrito da Ilha que não tem orla marítima: Ratones. O mar ainda me atrai, mas já não me comove, exceto quando leio a joia escrita por Othon D'Eça, titulada Homens e algas, por exemplo.

E parafraseando LEONARDO PADURA (renomado escritor cubano, na obra Água por todos os lados), a respeito do bairro onde nasceu (Mantilla, em Havana), sinto que nossa Ilha está cada vez mais deteriorada e despersonalizada pela modernidade e por culturas invasoras, notadamente a gaúcha, que se impõe, por conta de uma grande e histórica desídia administrativa, a qual tem consentido na inversão e expulsão de todos os nossos valores culturais. O ser e o falar ilhéus (ou manezinho, como muitos preferem) já não são os mesmos. O jeito "agalegado" (cantado) de falar anda sumido, quase por completo. O "oióió, tás tolo", o "si qúes, qúes, si non qués dix", o "vai ti cagá...", já raramente são pronunciados. Ninguém cheira mais a maresia, nem a fumo de cachimbo, como os nossos velhos pescadores. Se falarmos em "buzo", "papaterra", "puxadô", "toleteira", "perapau", "encontro", "espinhel", "toiceira de mambu", pouquíssimos saberão do que se trata. Ninguém mais "inresta cebola" em Canasvieiras, ou em Ratones, e raríssimas mulheres ainda sabem fazer "renda de birro". A pesca de "pribimbó" é uma vaga lembrança de raríssimos pescadores. Enfim, nossos costumes "já eram". A Ilha não é mais "nossa", senão de incontáveis adventícios. 

Talvez - é imperioso admitir - a velhice me faça pensar assim, como o mesmo PADURA, na obra citada, lembrou:

( ...) siento la artera evidencia de que esa ciudad en la que nací y vivo, a la que pertenezco y de la cual escribo, comienza a ser un sitio ajeno, que me repele y al que repelo, que se empeña en maltratar mis recuerdos y nostalgias. Tal vez porque envejecemos y nuestras percepciones físicas y espirituales cambian. Tal vez porque mi ciudad se va convirtiendo en otra ciudad dentro de la misma ciudad.

Sobre velhos beijarem crianças

Há alguns dias, encontrei meu neto mais novo e, lembrando-me de uma polêmica recente, no Facebook, tendo por foco o direito das crianças de não se deixarem beijar por velhos, evitei beijá-lo, como desejava, é verdade. E lembrei-me também, que o pai dele, quando beijado por alguém, sem qualquer disfarce, limpava o rosto,  demonstrando, sem qualquer disfarce, com a franqueza de criança, sua repugnância pelo gesto do adulto.

Pois bem: hoje, lendo Colóquio dos cães", de CERVANTES, deparei-me com a seguinte frase:

CIPIÓN.- Bien hiciste, porque no es regalo, sino tormento, el besar ni dejar besarse de una vieja. 

O diálogo ocorre entre duas "personagens", se assim se pode dizer, posto que cachorro não seja personaParece que o célebre escritor espanhol quis dizer que de beijos de velhos, nem cachorros gostam. 

Pobres de nós, os idosos carentes de afeto, kkk.

FILOSOFIA - "Invenção de comunista"?

BERGANZA.- Primero te quiero rogar me digas, si es que lo sabes, qué quiere decir filosofía; que, aunque yo la nombro, no sé lo que es; sólo me doy a entender que es cosa buena. 

CIPIÓN.- Con brevedad te la diré. Este nombre se compone de dos nombres griegos, que son filos y sofía; filos quiere decir amor, y sofía, la ciencia; así que filosofía significa 'amor de la ciencia', y filósofo, 'amador de la ciencia'.

CERVANTES - Colóquio dos cães

Isso dá muito no que pensar

Y no hay vida de ningún murmurante que, si la consideras y escudriñas, no la halles llena de vicios y de insolencias.

CERVANTES -  Colóquio dos cães.

Leitura em curso

MIGUEL CERVANTES DE SAAVEDRA - Colóquio dos cães:


Venía el señor del ganado; salían los pastores a recebirle con las pieles de la res muerta; culpaba a los pastores por negligentes, y mandaba castigar a los perros por perezosos: llovían sobre nosotros palos, y sobre ellos reprehensiones; y así, viéndome un día castigado sin culpa, y que mi cuidado, ligereza y braveza no eran de provecho para coger el lobo, determiné de mudar estilo, no desviándome a buscarle, como tenía de costumbre, lejos del rebaño, sino estarme junto a él; que, pues el lobo allí venía, allí sería más cierta la presa. 

»Cada semana nos tocaban a rebato, y en una escurísima noche tuve yo vista para ver los lobos, de quien era imposible que el ganado se guardase. 

Agachéme detrás de una mata, pasaron los perros, mis compañeros, adelante, y desde allí oteé, y vi que dos pastores asieron de un carnero de los mejores del aprisco, y le mataron de manera que verdaderamente pareció a la mañana que había sido su verdugo el lobo. Pasméme, quedé suspenso cuando vi que los pastores eran los lobos y que despedazaban el ganado los mismos que le habían de guardar. Al punto, hacían saber a su amo la presa del lobo, dábanle el pellejo y parte de la carne, y comíanse ellos lo más y lo mejor. Volvía a reñirles el señor, y volvía también el castigo de los perros.

No había lobos, menguaba el rebaño; quisiera yo descubrillo, hallábame mudo. Todo lo cual me traía lleno de admiración y de congoja. 

''¡Válame Dios! -decía entre mí-, ¿quién podrá remediar esta maldad? ¿Quién será poderoso a dar a entender que la defensa ofende, que las centinelas duermen, que la confianza roba y el que os guarda os mata?''»

(...)
Pocas o ninguna vez se cumple con la ambición que no sea con daño de tercero.
(...)

Comprando queijo, mas pagando por plástico

Já está mais que na hora dos órgãos de defesa do consumidor tomarem providência contra essa sacanagem dos que vendem "queijo" separado por folhas de plástico, as quais entram no peso do produto, como se fossem o próprio produto e, depois, obviamente, vão para o lixo, poluir o ambiente.

Como disse Jack London (novamente ele) as fatias de queijo são "finas como uma hóstia". 

LADRÕES DE ALMA

O encarregado conduziu a reza, mas não prestei muita atenção porque estava completamente ocupado com o quadro da miséria que se apresentava aos meus olhos. 

O sermão dizia mais ou menos o seguinte: “Vocês terão fartura no paraíso. Não importa que passem fome e que sofram aqui, vocês terão fartura no paraíso, desde que sigam o bom caminho”. E por aí ia. 

Entendi aquilo como uma engenhosa peça de propaganda, mas pouco eficaz por duas razões: primeiro, quem ouvia aquilo eram homens materialistas e de pouca imaginação, inconscientes da existência do Invisível e muito acostumados com o inferno sobre a terra para terem medo de um inferno futuro. 

Segundo, porque, fatigados pelas noites de vigília e privação, exauridos pela longa espera de pé e abatidos pela fome, eles não ansiavam pela salvação, mas sim pelo grude. Para serem mais eficientes, os “ladrões de alma” (é assim que se referem aos propagandistas das religiões) deviam estudar um pouco da base fisiológica da psicologia.

JACK LONDON - O povo do abismo

Você conhece alguém assim?

Seu rosto era magro, e a voz, aguda. Aos vinte e cinco anos, davam-lhe quarenta; depois do cinquentenário, parou de registrar a idade — e, sempre silenciosa, o porte ereto e os gestos comedidos, parecia uma mulher de madeira, funcionando de modo automático.

FLAUBERT - Um coração simples

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

A fome esbulha a dignidade e submete

 (...)estávamos morrendo de fome, e é uma lei do mundo que o homem que dá de comer é o senhor. -  JACK LONDON -  O povo do abismo.

Blasfêmia ou indecência, para descarregar?

 E já que os homens xingam mesmo, acho que prefiro a blasfêmia à indecência; há nela uma audácia, uma ousadia e uma provocação que a torna muito melhor do que a mera obscenidade. -  JACK LONDON - O povo do abismo.

Os "poderes constituídos" e os que dormem nas ruas e praças.

(...)  O Green Park é muito conhecido pelos carregadores de bandeira por ser o parque que abre os portões mais cedo, por isso às 4h15min da manhã eu e muitos outros entramos no Green Park. Estava chovendo de novo, mas, exaustos por terem andado a noite toda, eles imediatamente se deitaram nos bancos e dormiram. Vários esticaram-se completamente na grama encharcada e, com a chuva caindo sem trégua sobre eles, dormiram o sono da exaustão. 

E agora gostaria de fazer uma crítica aos poderes constituídos. Como são poderes constituídos, podem decretar o que quiserem, mas tomo a liberdade de criticar o ridículo dos seus decretos. 

Obrigam os sem-teto a andar a noite inteira, sem parar. Expulsam-nos das portas e das passagens e trancam-nos para fora dos parques. A intenção evidente é privá-los do sono. Muito bem, eles têm o poder de privá-los do sono, e de tudo o mais que quiserem, mas por que abrem os portões dos parques às cinco da manhã e deixam os sem-teto entrar lá dentro e dormir? Se a intenção é privá-los do sono, por que deixá-los dormir depois das cinco? E se a intenção não é privá-los do sono, por que não deixá-los dormir mais cedo? Naquele mesmo dia, à uma da tarde, fui ao Green Park e contei dezenas de pobres maltrapilhos dormindo na grama. Era domingo à tarde, o sol aparecia de forma intermitente, e os moradores bem-vestidos do West End, com suas esposas e filhos, ocupavam as ruas aos milhares, tomando um ar. Para eles não era agradável olhar para aqueles vagabundos horríveis, descabelados, sonolentos, e sei que os vagabundos, se dependesse deles, teriam preferido dormir bem na noite anterior. E assim, meu querido e bondoso povo, quando visitarem a cidade de Londres e virem esses homens dormindo nos bancos e na grama, por favor não pensem que são criaturas preguiçosas, que preferem dormir a trabalhar. Saiba que os poderes constituídos os obrigam a perambular a noite inteira e que, durante o dia, eles não têm outro lugar onde dormir.

JACK LONDON - O povo do abismo

ANESTESIADOS

Os trabalhadores brasileiros estão a ser anestesiados - e desgraçados - com o consumo de cerveja, sobretudo, embora a ênfase do sistema seja para combater a maconha e a cocaína, que não pagam impostos e, portanto, não geram recursos para o governo destinar aos banqueiros.

Você já leu JACK LONDON?

(...) Nas ruas de Londres nunca se escapa da visão da pobreza abjeta; basta caminhar cinco minutos em qualquer direção para se chegar a um bairro miserável. 
Mas a região que meu fiacre adentrava naquele instante era uma favela sem fim. As ruas estavam tomadas por uma raça nova e diferente de pessoas, de baixa estatura, aparência infeliz e na maior parte encharcada de cerveja. 
Rodamos milhas e milhas, passando por prédios de tijolo aparente e muita sujeira, e a cada rua ou alameda transversal víamos fachadas de tijolos e miséria a perder de vista. 
Aqui e ali cambaleavam um homem ou uma mulher bêbados, e o ar tornava-se obsceno com o vozerio e as altercações. 
Num mercado, velhos e velhas trêmulos procuravam restos de verdura, feijão e batatas podres em meio ao lixo lançado na lama, enquanto crianças, como moscas que rodeiam um monturo de frutas apodrecidas, mergulhavam os braços até a altura dos ombros num líquido putrefato de onde retiravam nacos deteriorados, que eram devorados ali mesmo.
(...) 
Até onde a vista alcançava, havia sólidas paredes de tijolos, calçadas viscosas e ruas barulhentas; e ali, pela primeira vez na vida, fui assombrado pelo temor da multidão. Era como o temor do mar – as turbas miseráveis, rua após rua, assemelhavam-se às ondas de um mar imenso e fétido, que me envolvia e ameaçava me arrebatar.
(...)
depenam sua carteira de um modo que faria corar até mesmo os usurários que trabalham com juros compostos.
(...)
e fiquei muito impressionado com o fato de minha vida ter sido depreciada em proporção direta às roupas que usava. Antes, quando pedia informações a um policial, ele geralmente perguntava: “Ônibus ou fiacre, senhor?”. Agora perguntavam: “A pé ou de carona?”. Do mesmo modo, nas estações de trem me empurravam um bilhete de terceira classe sem maiores questionamentos.
(...)
Pela primeira vez fiquei cara a cara com as classes baixas inglesas e as conheci de perto. Quando vagabundos e trabalhadores, nas esquinas e botequins, conversavam comigo, conversavam como um homem conversa com outro, e conversavam como homens comuns deveriam conversar, sem a menor intenção de obter alguma coisa em função do que falassem ou do modo como falassem. Quando finalmente cheguei ao East End, percebi satisfeito que o temor da multidão já não me assombrava. Tornara-me parte dela. Aquele mar imenso e fétido havia me arrebatado, ou talvez eu tivesse mergulhado nele de mansinho, percebendo que não havia nada a temer ali (...)
(...) um quarto parecia ser considerado suficiente para uma família pobre cozinhar, comer e dormir.
(...)
Fiquei sabendo que não eram apenas as casas que visitei que não tinham banheiras, mas que também não havia banheiras nos milhares de casas que eu vira. Naquelas circunstâncias, com mulher, filhos pequenos e um par de hóspedes sofrendo com a amplidão excessiva de um quarto, tomar banho numa bacia de lata seria tarefa impossível. Mas a compensação viria com a economia de sabão; daí estaria tudo bem, com a graça de Deus.
(...) Olhei para ela. Ali estava uma mulher da mais fina estirpe da classe trabalhadora inglesa, com numerosos indícios de refinamento, sendo lentamente engolfada pela pútrida e malcheirosa onda de humanidade que os poderes constituídos estão empurrando para fora de Londres. 
Bancos, fábricas, hotéis e prédios de escritório precisam ser construídos, e a gente pobre é uma raça nômade; daí migram para o leste, em ondas, saturando e degradando região por região, obrigando a classe melhor de trabalhadores que os precederam a se aventurar, como pioneiros, para os limites da cidade, ou degradando-os, se não na primeira geração, certamente na segunda ou na terceira.
(...)
Em alguns anos”, diz, “o contrato do meu aluguel termina. Meu senhorio é do nosso tipo. Não aumentou o aluguel de nenhuma das casas, e isso permitiu que ficássemos. Mas qualquer dia ele pode querer vender, ou pode morrer, o que pra gente dá no mesmo.
A casa é comprada por um especulador, que monta uma dessas lojas que escraviza empregados no quintal lá no fundo, onde agora está minha parreira, amplia a casa e aluga um quarto para cada família. Pronto! Johnny Upright vai pra rua”.
(...) 
Ele imediatamente identificou minha nacionalidade e respondeu com uma pergunta: “Você veio pra cá nalgum navio transportador de gado?”. A partir daí engatamos uma conversa que se estendeu a uma taberna e a algumas canecas de half and half, uma mistura de cerveja escura com cerveja clara. Isso produziu uma certa intimidade entre nós, de modo que quando trouxe à luz um xelim em moedas (que fiz questão de dizer que eram minhas), e separei seis pence para o pernoite e seis pence para mais half and half, ele generosamente propôs que bebêssemos todo o xelim. 
Meu companheiro de quarto amarrou um fogo ontem à noite”, explicou. “E os tiras levaram ele. Então você pode dormir no meu quarto. O que acha?” 
Disse que achava bom. Depois de nos encharcarmos com mais um xelim de cerveja e passarmos a noite numa cama miserável num cubículo igualmente miserável, eu sabia tudo sobre ele. E ele de algum modo representava grande parte dos trabalhadores de Londres, como a experiência me demonstrou posteriormente. Ele nascera em Londres, de um pai foguista e beberrão. Quando criança, sua casa foram as ruas e as docas. Nunca aprendeu a ler e nunca sentiu necessidade – dizia que era uma habilidade vã e inútil para um homem na sua posição. 
Tivera mãe e vários irmãos e irmãs ruidosos, que viviam apinhados em dois quartos e dividiam uma comida pior e menos constante do que aquela que ele geralmente arranjava sozinho. Na verdade, nunca ia para casa, a não ser quando não conseguia a própria comida. Furtando ninharias e mendigando nas ruas e docas, uma ou outra viagem ao mar trabalhando como garçom, mais algumas viagens como carO HOMEM E O ABISMO regador de carvão, tornara-se foguista habilitado, o que para ele significava o topo. Ao longo da vida, construíra uma filosofia de vida, uma filosofia feia e repulsiva, mas que também tinha sua lógica e sua razão de ser. Quando lhe perguntei qual era a sua razão de viver, respondeu imediatamente: “Bebida”. Uma viagem ao mar (pois um homem deve trabalhar para obter seus meios), e aí vinha o pagamento e a grande bebedeira final. Depois disso, pequenas bebedeiras ocasionais, mendigadas nos pubs a companheiros como eu, que dispunham de alguns cobres a mais, e, terminada a mendicância, outra viagem ao mar e a repetição do ciclo brutal. 
E as mulheres?”, perguntei depois de ele declarar a bebida como fim único da sua existência. “Mulheres!” Bateu a caneca no balcão e discursou com eloquência. “Aprendi a não mexer com mulheres; não compensa, companheiro, não compensa. O que um homem que nem eu vai querer das mulheres, hein? Me diga. Tive minha mãe, e já foi o suficiente. Falava sem parar na nossa cabeça e fazia o meu velho se sentir miserável quando vinha pra casa, o que ele fazia raramente, tenho de admitir. E por que ele não vinha? Por causa da minha mãe! Ela não fazia a casa dele feliz, era por isso. E as outras mulheres, como é que elas tratariam um pobre foguista como eu, com alguns xelins no bolso? 
Uma boa bebedeira é tudo o que ele tem no bolso, uma boa e longa bebedeira, e as mulheres pegam o dinheiro dele tão rápido que mal consegue tomar um copo. Sei muito bem. Tive minha experiência e sei como é. Vou lhe dizer uma coisa: onde há mulher há problema – berreiro, choradeira, briga, tumulto, e depois vêm a polícia, os juízes, um mês de trabalho forçado na  prisão e nada de pagamento quando você sai de lá de dentro.” 
“Mas mulher e filhos”, insisti. “Uma casa sua e tudo o mais. Imagine você voltando de viagem, as crianças subindo na sua perna, a mulher feliz e sorridente, um beijo em você enquanto ela põe a mesa, e um beijo dos bebês antes de irem pra cama, o apito da chaleira e o longo relato sobre onde você esteve e tudo o que viu, e ela contando sobre os acontecimentos domésticos na sua ausência…” “Bobagem!”, gritou, amistosamente batendo seu punho no meu ombro. “Que brincadeira é essa? Uma mulher me beijando, as crianças subindo na minha perna e a chaleira apitando, tudo isso por quatro libras e dez xelins mensais quando você arranja trabalho num navio, e por absolutamente nada quando não arranja. Vou lhe dizer o que consigo com quatro libras e dez xelins mensais: uma mulher dando bronca, crianças berrando, nada de carvão para fazer a chaleira apitar e a chaleira no prego, é isso que conseguiria. Suficiente para ficar feliz em voltar pro mar. Uma mulher! Pra quê? Pra fazê-lo miserável? Filhos? Ouça meu conselho, companheiro, melhor não tê-los. Olhe pra mim! Posso tomar minha cerveja quando quero, sem uma bendita mulher e crianças chorando por pão. Estou feliz, estou mesmo, com minha cerveja e companheiros como você, um bom navio chegando e a promessa de outra viagem pro mar. É o que digo, vamos pedir outro copo. Um half and half pra mim.
(...)
A palavra “casa” despertava nele apenas associações desagradáveis. Nos baixos proventos do pai e de outros homens da mesma condição social, encontrou razões suficientes para estigmatizar mulher e filhos como estorvos e causas da miséria masculina. Hedonista inconsciente, completamente amoral e materialista, buscava o máximo de felicidade para si, e a encontrou na bebida. Um jovem beberrão. Uma ruína prematura. Fisicamente incapaz de trabalhar como foguista. Era a sarjeta ou o asilo. E o fim. Enxergava isso tão claramente quanto eu, e não ficava aterrorizado. Desde que nasceu, todas as forças do seu meio concorreram para endurecê-lo, e via seu inevitável e desgraçado futuro com uma frieza e uma indiferença que eu era incapaz de abalar. 
Mas ele não era mau. Não era intrinsecamente corrompido ou brutal (...).
Era um sacrilégio desperdiçar uma vida assim, mas devo confessar que ele tinha razão em não querer se casar ganhando um salário de quatro libras e dez xelins em Londres. O mesmo ocorria com o contrarregra, que era mais feliz com o que ganhava num quarto dividido com outros homens do que teria sido se tivesse que se enfiar com uma família enfermiça num quarto mais barato, sem conseguir viver com o que ganhava. Dia após dia, fui sendo convencido de que não só era insensato, mas criminoso que o povo do Abismo se casasse. Eles são as pedras que o construtor rejeitou. Não há lugar para eles no edifício social, e todas as forças da sociedade os puxam para baixo, até que pereçam. No fundo do Abismo estão os fracos, os estúpidos e os imbecis. Quando se reproduzem, a vida que nasce deles é tão precária que forçosamente perece. Estão sujeitos às engrenagens do mundo, do qual não desejam e nem estão aptos a participar. Além do mais, o mundo não precisa deles. Há muitos homens muito mais aptos, que escalam a ladeira íngreme e lutam furiosamente para não escorregar. Em resumo, o Abismo londrino é um imenso matadouro. Ano após ano, década após década, o interior da Inglaterra despeja ali uma enxurrada de pessoas vigorosas, que não só não se reproduzem, mas perecem na terceira geração. As autoridades competentes afirmam que o trabalhador londrino cujos pais e avós nasceram em Londres é uma espécie rara, muito difícil de encontrar. (...) 
O senhor A. C. Pigou escreveu que os idosos pobres e os membros do que se convencionou chamar de “as classes mais necessitadas e carentes” constituem 7,5% da população de Londres. Isso quer dizer que no ano passado, e ontem, e hoje, e neste exato momento, 450 mil criaturas morrem miseravelmente no fundo desse inferno social chamado “Londres”. Sobre como eles morrem, há um caso ilustrativo no jornal desta manhã.
(...)
AUTONEGLIGÊNCIA 
Ontem o dr. Wynn Westcott conduziu um inquérito em Shoreditch sobre a morte de Elizabeth Crews, de 77 anos, moradora da East Street, 32, bairro de Holborn, que morreu na quarta- -feira última. Alice Mathieson declarou-se senhoria da casa onde a falecida vivia. A testemunha a viu pela última vez, com vida, na segunda-feira anterior. Ela vivia bastante só. 
O senhor Francis Birch, policial substituto no distrito de Holborn, declarou que a falecida ocupou o mencionado quarto por 35 anos. Quando a testemunha foi chamada, encontrou a velha senhora em estado terrível, e a ambulância e o cocheiro tiveram de ser desinfetados depois da remoção. 
O doutor Chase Fennell disse que a morte se deveu a uma infecção sanguínea causada por escaras, ocasionadas por autonegligência e pelo ambiente sujo, e o júri deu um veredicto disso. 
O mais alarmante sobre esse pequeno incidente envolvendo a morte de uma mulher é a complacência com que as autoridades examinaram e emitiram o julgamento. Que uma velha senhora de 77 anos de idade tenha morrido de AUTONEGLIGÊNCIA é a maneira mais otimista possível de encarar o fato. A culpa por ter morrido foi da velha morta e, uma vez identificada a responsabilidade, a sociedade segue satisfeita, para resolver outras questões. 
Sobre “as classes mais necessitadas e carentes” o senhor Pigou disse: Seja por falta de força física, inteligência, fibra, ou de uma conjunção dessas três coisas, elas são formadas por trabalhadores ineficientes, indolentes e consequentemente incapazes de se sustentar… 
Em geral são tão prejudicados intelectualmente que se mostram incapazes de distinguir a mão direita da esquerda ou de reconhecer os números de suas próprias casas; os corpos são fracos e sem energia, os afetos são pervertidos e raramente sabem o que significa a vida em família. 
Quatrocentas e cinquenta mil pessoas é uma quantidade considerável. 
O jovem foguista era apenas um, e demorou algum tempo para dizer o pouco que disse. Juro que não gostaria de ouvir todos eles falando ao mesmo tempo. Mas será que Deus lhes dá ouvidos?

-=-=-=-=

Gostou do estilo direto, natural, sem retoques, desse estupendo autor socialista? 
Procure a obra e leia o restante, como estou fazendo, pela segunda vez. 

As ilegalidades na cobrança de ITBI

29 de dezembro de 2021, 14h39


Em praticamente todo o Brasil, municípios e o Distrito Federal exigem o pagamento do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) de forma indevida, antes da ocorrência do fato gerador e sobre valores incorretos.

O Código Tributário Nacional elege como fato gerador do ITBI a transmissão definitiva da propriedade ou do domínio útil do imóvel. Isso significa dizer que o imposto somente pode ser cobrado após a transferência de propriedade, que por sua vez ocorrerá após o registro do título, translativo de propriedade, no cartório de imóveis.

Qualquer ato negocial que não implique em transferência de propriedade não estará sujeito ao pagamento do ITBI. É o caso, por exemplo, de instrumento de promessa de compra e venda, cessão de direitos decorrentes de promessa de compra e venda e arrematação de direitos aquisitivos.

Em todos esses cenários o imóvel continuará em nome do proprietário enquanto não forem cumpridas as obrigações previstas no instrumento preliminar, e outorgada definitivamente, e registrada, a escritura compra e venda.

Caso típico de cobrança indevida de ITBI ocorre com o registro de instrumento de promessa de compra e venda. Não raro, com o intuito de conferir publicidade ao ato negocial, e, consequentemente, maior segurança jurídica, os particulares solicitam o registro da promessa de compra e venda na matrícula do imóvel. A despeito da não ocorrência do fato gerador, a maioria dos cartórios de imóveis, fiscais do recolhimento de tributos, condiciona o registro ao recolhimento do ITBI, por determinação municipal/distrital.

A cobrança do ITBI ocorre sucessivamente a cada vez que o promitente comprador transfere seus direitos a terceiros, e novamente quando da celebração e registro do instrumento definitivo de compra e venda, em clara lesão ao patrimônio do particular que se vê obrigado a recolher várias vezes esse imposto de elevada alíquota.

Exige-se, ainda, o pagamento do ITBI na aquisição de direitos aquisitivos em leilões judiciais. A aquisição de direitos aquisitivos se distingue por completo da aquisição da propriedade do imóvel. Nesse caso, o devedor não é proprietário do imóvel, mas detém direito à aquisição do mesmo, direito esse que normalmente decorre de promessa de compra e venda ou contrato de compra e venda com alienação fiduciária. Isso significa que o arrematante assume a posição do devedor naquela relação jurídica, com todos os direitos e obrigações dela decorrentes. Quando do cumprimento de todas as obrigações previstas no instrumento, o arrematante então deverá exigir a outorga da escritura pública de compra e venda (em se tratando, o instrumento preliminar, de promessa de compra e venda) ou o cancelamento da alienação fiduciária, atos que, registrados na matrícula, transferem a propriedade do imóvel ao arrematante, momento em que deve ser exigido o pagamento do ITBI.

Neste ano, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o ARE 1.294.969, reafirmou o entendimento, já pacificado há anos, no sentido de que: "O fato gerador do imposto sobre transmissão inter-vivos de bens imóveis (ITBI) somente ocorre com a efetiva transferência da propriedade imobiliária, que se dá mediante o registro".

Embora a decisão não represente nenhuma novidade, nota-se, ao menos aqui no Distrito Federal, significativo reflexo da mesma nos procedimentos adotados pelos cartórios de notas, que até então exigiam o pagamento do ITBI como condição para a lavratura de escritura pública, ainda que o ato não implicasse em transferência de propriedade e ainda que antes do registro da escritura.

Para a minha surpresa, recentemente, ao solicitar a lavratura de escritura pública de compra e venda perante cartório de notas, a escrevente da serventia, de forma espontânea, sem que se fizesse necessária intervenção minha no sentido de ilegalidade da cobrança antecipada, indagou se eu pagaria o ITBI antes da escritura ou se deveria incluir na minuta da escritura a menção de que o ITBI seria recolhido posteriormente.

De fato, confesso que o recolhimento a posteriori a que ela se referiu significa após a lavratura da escritura pública de compra e venda, mas antes do registro da mesma. Nessa situação, ainda há ilegalidade, uma vez que, como visto, o ITBI é exigível apenas após o registro do instrumento translativo de propriedade.

De toda sorte, a conduta revela uma mudança significativa nos procedimentos adotados por esse cartório de notas em específico, e tendência de mudança desse entendimento pelos demais cartórios de notas do DF.

Fonte: https://www.conjur.com.br/2021-dez-29/ana-carolina-osorio-ilegalidades-envolvendo-itbi

Caso seja exigido do contribuinte o pagamento antecipado do ITBI, há mecanismos hábeis para questionar essa exação. A Lei de Registros Públicos assegura ao interessado o direito de se insurgir contra exigência do oficial de cartório pelo processo de dúvida registral, julgado pela Vara de Registros Públicos. Infelizmente esse instrumento, de natureza administrativa, não tem atingido o fim a que se propõe diante da morosidade no julgamento.

O mecanismo mais eficiente é o acionamento judicial pela via do mandado de segurança buscando o reconhecimento do direito líquido e certo do particular de não ser compelido ao pagamento do ITBI antes da efetiva transferência da propriedade.

Se o particular optar por realizar o pagamento do imposto, quando for outorgada a escritura definitiva de compra e venda, deverá solicitar declaração do município/DF no sentido de que o imposto foi pago de forma antecipada. Deve ser demonstrado, nesse cenário, de que se trata do mesmo negócio jurídico, antes de natureza preliminar, e ora de natureza definitiva.

Mas não para por aí. Outra ilegalidade muito comum que envolve o ITBI consiste na cobrança do imposto sobre valor superior ao valor devido.

O Código Tributário Nacional considera a base de cálculo do ITBI como o valor venal do imóvel. Como já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, o preço efetivamente pago pelo adquirente do imóvel tende a refletir, com grande proximidade, seu valor venal, considerado como o valor de uma venda regular, em condições normais de mercado.

Além disso, o ITBI é um imposto sujeito a lançamento por homologação, ou seja, compete ao contribuinte declarar o valor da transação e efetuar o recolhimento da quantia correspondente. Nessa natureza de lançamento, não há intervenção do Fisco no momento da apuração do imposto.

O Fisco somente poderá interceder para fixar valor diverso daquele declarado no instrumento como base de cálculo se comprovar que naquela transação os valores ali consignados não refletem a realidade, no bojo de procedimento administrativo, respeitados os princípios do contraditório e da ampla defesa, conforme exige o artigo 148 do Código Tributário Nacional.

Não por acaso, por se tratar de expressa disposição legal, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento pacífico no sentido da indispensabilidade de abertura de processo administrativo para que a administração tributária possa arbitrar valor diverso daquele apresentado pelo contribuinte para efeito de base de cálculo.

Entretanto, o que ocorre Brasil afora é que os municípios e o Distrito Federal realizam avaliações unilaterais dos imóveis, muitas vezes em valores superiores aos valores de mercado. E exigem o pagamento do ITBI sobre esses valores.

De forma objetiva, os municípios e o Distrito Federal desprezam os valores contidos no instrumento, presumem a má-fé de todos os contribuintes e exigem o pagamento do imposto sobre quantia superior, ignorando por completo o procedimento previsto nos artigos 148 e 150 do Código Tributário Nacional.

Na prática, são raras as situações nas quais o ITBI é pago sobre o valor da transação, pois os municípios e o DF, em geral, fixam os valores venais para fins de ITBI em patamar acima aos valores praticados pelo mercado. Isso se tornou particularmente evidente após a crise no mercado imobiliário vivida no país desde 2013.

Em São Paulo, há bairros, como o Morumbi, em que se nota uma diferença para cima de mais de 900% entre o valor de mercado dos imóveis e o valor fixado, para fins de ITBI, pelo município.

Para combater mais essa ilegalidade, o contribuinte pode impetrar mandado de segurança, com pedido liminar, buscando o reconhecimento de seu direito líquido e certo em recolher o ITBI sobre o valor da transação, ou ajuizar ação de repetição de indébito contra o município/DF buscando a devolução do valor pago em excesso.

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Revista Consultor Jurídico, 29 de dezembro de 2021, 14h39

Manifestantes protestam contra deputado bolsonarista após calote de seu sócio em esquema de criptomoedas

Ex-capitão da PM Diogo Souza da Silveira e seu sócio são alvo de protestos na cidade de Cabo Frio (RJ)

29 de dezembro de 2021, 07:11 h Atualizado em 29 de dezembro de 2021, 07:11
(Foto: Reprodução)


247 - Um grupo de pessoas esteve nesta terça-feira (28) diante da boate Buda Lounge Bar, em uma região badalada de Cabo Frio, na Região dos Lagos, para protestar contra o calote aplicado por um dos proprietários do espaço, o ex-capitão da PM Diogo Souza da Silveira. A reportagem é do jornal O Globo.

Ele é responsável pela Spartacus Consultoria, empresa que oferecia lucro garantido — impraticável, diga-se — de até 14% ao mês mediante supostos investimentos com criptomoedas. Ocorre que, tal qual aconteceu com dezenas de outras promessas de enriquecimento fácil na cidade, os pagamentos simplesmente pararam, deixando os clientes a ver navios.

Ainda de acordo com a reportagem, na Buda Lounge, Diogo é sócio do deputado estadual bolsonarista Fillipe Poubel (PSL), que também foi alvo de críticas dos manifestantes. "Você não disse na Alerj que seu sócio era de confiança?", dizia uma das faixas portadas pelo grupo, lembrando homenagens públicas feitas pelo parlamentar ao amigo pessoal. A quem o procura diretamente, Poubel tem alegado que não tem qualquer vínculo com outros negócios do ex-PM. E que ele próprio tem parentes que investiram junto a Diogo e também não receberam o rendimento acordado.

Ao que parece, porém, o argumento não vem convencendo os clientes lesados pela Spartacus, que estão, neste momento, articulando um retorno à porta da Buda Lounge já na noite de hoje, quando há mais movimento no local . Além disso, em dois grupos que reúnem vítimas no WhatsApp, com mais de 400 membros ao todo, as menções a Poubel são constantes.

Fartura de fardados e civis

Agora - além do Exército, Aeronáutica, Marinha e Guarda Nacional - temos as Polícias civis Federal e Estaduais, as Guardas Municipais, a Polícia dos Legislativos e a Polícia Científica.
Isto sem falarmos na ABIN e nos demais órgãos de Fiscalização, como IBAMA, ICMBIO, Polícias Ambientais estaduais e os Ministérios Públicos Federal e estaduais e órgãos ambientais municipais, como é o caso da Floram, em Fpolis.
Tivemos um general enquistado até mesmo dentro do gabinete do Presidente do STF, que agora vai para o TSE.
Tem militar sobrando, até para criar incontáveis bandas de música.
Haja picanha, uísque, vinhos caros e outros mimos - como carros e diárias -  para esse povo todo.

Não bastasse, ainda são contratados vigilantes das empresas privadas.

Não é uma fartura?

E o povo tendo que enfrentar uma carga tributária massacrante, para sustentar esse sistema balofo e ineficiente.

LIBERDADE AMEAÇADA - Juiz censura o New York Times e impede reportagem sobre roubo de informações de filha de Biden


Centenário jornal foi condenado a destruir documentos envolvendo uma organização acusada de fraudes e fake news
Redação Migalhas
| 28 de Dezembro de 2021 às 13:12

Jornal tem mais de cem anos de existêcia e já anunciou que vai apelar contra a decisão judicial - Divulgação


Na semana do Natal, o juiz Charles Wood, da Suprema Corte do condado de Westchester nos EUA, proferiu decisão na qual impede o centenário jornal The New York Times de publicar documentos envolvendo uma organização acusada de fraudes e campanhas de desinformação.

A decisão do juiz norte-americano chama atenção porque não apenas proíbe o jornal de publicar os documentos, mas também manda (i) devolvê-los, junto com todas as cópias físicas de memorandos legais; (ii) deletar/destruir as versões eletrônicas dos documentos.

O Projeto Veritas - sobre o qual o jornal The New York Times tenta publicar reportagens - é liderado por James O'Keefe e é alvo de investigação do Departamento de Justiça do país sobre roubo de informações da filha do presidente Joe Biden e de outras autoridades.

Além disso, o projeto é denunciado pela tentativa de grampear policiais do FBI e por usar apps para se aproximar de funcionários do governo. Em anos anteriores, o The New York Times também publicou reportagens que acusavam o projeto de fazer campanhas de desinformação nas eleições de 2018 em Minnesota.

Primeira emenda x Censura

A estátua da liberdade, monumento da cidade de Nova York, materializa um dos apelidos do país: a terra da liberdade. Os EUA foram assim reconhecidos em razão da Primeira Emenda (Amendment I) da Constituição dos Estados Unidos.

O texto diz o seguinte:

"O Congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabelecimento de religião, ou proibir o seu livre exercício; ou restringindo a liberdade de expressão, ou da imprensa; ou o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações de queixas."

Em razão da decisão contra o The New York Times, o juiz Charles Wood foi muito criticado pelos defensores da liberdade de imprensa. Na sentença, no entanto, o magistrado explicou que a Primeira Emenda trata da proteção integral sobre as questões públicas, e não privadas, como considerou ser o caso.

Para o juiz, sua decisão não representa "uma derrota para a Primeira Emenda", já que analisa um caso envolvendo documentos privados de uma organização.

Quem não concordou com o juiz foi A.G. Sulzberger, editor do New York Times, que já disse que o jornal apelará da decisão. De acordo com Sulzberger, os documentos obtidos pelo jornal foram conseguidos de forma legal no curso das reportagens.

Do hemisfério norte ao sul

Censura à liberdade de imprensa é um assunto delicado para países democráticos. No Brasil, não é diferente.

O ano de 2021 não foi positivo para a liberdade de imprensa no país. Isso porque o Brasil caiu 4 posições no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa, publicado anualmente pela ONG Repórteres sem Fronteiras. O país aparece no 111º lugar na edição 2021, na zona vermelha.

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/12/28/juiz-censura-o-new-york-times-e-impede-reportagem-sobre-roubo-de-informacoes-de-filha-de-biden

MORALISTA DE ARAQUE - Youssef financiou Alvaro Dias, principal aliado de Moro


Publicado por Naian Lopes
- 28 de dezembro de 2021

Apoie o DCM
Alvaro Dias, aliado de Moro, recebeu doação de Youssef em 1998


Aliado de Sergio Moro, Alvaro Dias teve campanha financiada por Alberto Youssef, pivô da Lava Jato. Duas empresas do operador financeiro pagaram, em 1998, cerca de R$ 21 mil, equivalente a R$ 88 mil em valores atualizados. Na época, o senador era do PSDB.

Os dados estão registrados na prestação de contas de Dias, que foi entregue à Justiça Eleitoral no Paraná na ocasião. As doações são em relação a horas de voo em jatinhos que Youssef entregou ao parlamentar.

O operador foi condenado por Moro na Lava Jato. Em uma das sentenças, foi chamado de “criminoso profissional”. Youssef chegou a falar das doações após uma pergunta.


“Na época, eu fiz a campanha do senador Alvaro Dias, e parte dessas horas voadas foram pagas pelo [Luis] Paolicchi, que foi secretário de Fazenda da Prefeitura de Maringá, e parte foram doações mesmo que eu fiz das horas voadas”, comentou em 2015.

A San Marino Táxi Aéreo pagou R$ 9,8 mil para Dias. A segunda era a Câmbio & Turismo, que deu R$ 11,2 mil. A campanha do senador custou R$ 391 mil no total. Paolicchi, citado na fala de Youssef, foi personagem central em um escândalo de desvios na Prefeitura de Maringá.

Ele acusou políticos de terem suas campanhas financiadas com dinheiro público desviado da cidade. Alvaro Dias foi citado, assim como Ricardo Barros e Jaime Lerner.


“O prefeito chamou o Alberto Youssef e pediu para deixar um avião à disposição do senador. E depois, quando acabou a campanha, eu até levei um susto quando veio a conta para pagar”, disse o ex-secretário em depoimento feito em 2001.

Alvaro Dias, aliado de Moro, se posicionou sobre doação de Youssef

O senador foi procurado pela Folha de S. Paulo, responsável pela reportagem. Alvaro enviou um documento do Ministério Público do Paraná. A ação foi arquivada em 2004 por falta de provas.

Fonte: DCM

A SEGUNDA MELHOR CIDADE DO MUNDO?

Estão competindo, Prefeito e Cacau Menezes, para ver quem diz a maior asneira. Florianópolis é boa para viver - tirando-se a carestia, cada vez mais descarada - mas daí a afirmar-se que somos a melhor a a segunda melhor cidade do mundo vai uma distância de léguas.

Menos!!! Sou nativo, mas sandice, ou palhaçada, tem limite. Vamos ser ufanistas, mas não exageremos na dose. 

Mentir está na moda, desde que quiseram defenestrar o PT do poder, com a Globo e seus "calunistas sociais e políticos" (do tipo Cacau Menezes e Moacir Pereira), o Ministério Público, delatores coagidos e inventados, Sérgio Moro, o TRF-4 e empresários safado, como Luciano Hang, incluindo doleiros e banqueiros, além das igrejas evangélicas e uma milicada traidora e entreguista (tratada a picanha, vinhos caros e outros mimos), iniciaram uma campanha para prender Lula e tirá-lo da campanha. 

Gean aprendeu rapidamente a usar esse tipo de procedimento totalmente despido de ética, pelo visto. 

A Ângela Amin já havia feito o mesmo. 

Essa canalha política de direita não tem o menor escrúpulo.

domingo, 26 de dezembro de 2021

MARTIM-PESCADOR

 



Ele é um dos símbolos da capital da Ilha de SC


LEI Nº 10.717, DE 26 DE JUNHO DE 2020.

CONSOLIDA AS LEIS QUE TRATAM DAS ESPÉCIES-SÍMBOLOS DO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS.
Faço saber, a todos os habitantes do município de Florianópolis, que a Câmara Municipal de Florianópolis aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica instituída a Consolidação das Leis das Espécies-Símbolos (CLES) do município de Florianópolis.

Art. 2º Ficam instituídas as seguintes espécies como símbolos do município de Florianópolis:

I - árvore-símbolo: garapuvu Schizolobium parahyba (Fabaceae: Caesalpinioideae);

II - ave-símbolo: martim-pescador-verde Chloroceryle amazona (Alcedinidae); e

III - flor-símbolo: orquídea lélia-púrpura Cattleya purpurata (Orchidaceae).

IV - anfíbio-símbolo: rã-manezinha Ischnocnema manezinho (Anura: Brachycephalidae). (Redação acrescida pela Lei nº 10.767/2021)

Art. 3º A Prefeitura de Florianópolis desenvolverá programas que visem:

I - o reflorestamento e preservação do garapuvu nas comunidades do interior da Ilha;

I - ao reflorestamento e à preservação do garapuvu nas comunidades da Ilha, analisando-se a pertinência do plantio da espécie em função do estágio sucessional da vegetação existente e da proximidade a edificações ou a vias de passagem de transeuntes ou veículos; (Redação dada pela Lei nº 10.767/2021)

II - a promoção de atividades em torno do garapuvu, na semana que antecede ao Dia Mundial do Meio Ambiente, em 05 (cinco) de junho;

II - a promoção de atividades em torno das espécies-símbolos, em especial na semana que antecede ao Dia Mundial do Meio Ambiente, em 05 (cinco) de junho; (Redação dada pela Lei nº 10.767/2021)

III - a promoção de atividades comemorativas ao garapuvu, no Dia da Árvore, em 21 (vinte e um) de setembro;

IV - o repovoamento e preservação de orquídea nas comunidades do interior da Ilha e nas árvores existentes em áreas públicas do município de Florianópolis; e

V - a divulgação, nas escolas da rede municipal de ensino, da importância da orquídea lélia-púrpura e do garapuvu na cultura açoriana.

§ 1º Se as atividades implicarem plantios de espécies-símbolos, o órgão ambiental municipal deverá ser preventivamente consultado para informar sobre a pertinência do plantio nas áreas pretendidas. (Redação acrescida pela Lei nº 10.767/2021)

§ 2º Quando as atividades implicarem doação de mudas, a comunidade deverá ser orientada a não plantá-la em locais inadequados. (Redação acrescida pela Lei nº 10.767/2021)

Art. 4º As Áreas de Preservação Permanente (APP) deverão ter seus limites demarcados com garapuvu.

Parágrafo único. Ficam excluídas desta Lei as Áreas de Preservação Permanente situadas em locais de risco e/ou inadequados ao plantio da espécie, devendo esta ser substituída por outra árvore nativa.

Art. 5º Compete à Fundação Municipal do Meio Ambiente (FLORAM):

I - promover convênio de cooperação técnico-científica com a Associação Orquidófila de Florianópolis (ASSOF), visando à criação da festa nacional da orquídea lélia - púrpura (Cattleya purpurata), a ser realizada todos os anos, entre os meses de novembro e dezembro, época da sua floração, podendo ter a participação da iniciativa privada; e

II - viabilizar o processo de plantio do garapuvu na demarcação de limites das Áreas de Preservação Permanente, bem como a mobilização de estabelecimentos de ensino para auxiliarem no processo.

Art. 6º A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Planejamento e Desenvolvimento Urbano, juntamente com a Secretaria Municipal de Educação, promoverá campanhas educativas sobre a relevância de espécies arbóreas, em especial, o garapuvu, aliadas a programas pré-estabelecidos que conscientizem a população da necessidade da preservação das árvores.

Art. 7º Ficam revogadas as Leis n.s:

I - 3.771, de 1992;

II - 3.887, de 1992;

III - 6.462, de 2004; e

IV - 7.037, de 2006.

Parágrafo único. Após a publicação desta Lei, este artigo revogatório e as leis revogadas passarão a integrar a Lei nº 10.442, de 2018, que instituiu a Consolidação de Revogação de Leis Ordinárias.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Florianópolis, aos 26 de junho de 2020.

GEAN MARQUES LOUREIRO
PREFEITO MUNICIPAL

EVERSON MENDES
SECRETÁRIO MUNICIPAL DA CASA CIVIL

Autor: Ver. Maikon Costa.

Projeto de Lei nº 17.401/2018.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Questões tormentosas

 — Os advogados têm liberdade para defender causas que são claramente injustas? 

Um partido religioso ou político pode influenciar na justiça? 

Advogados e juízes participaram da redação das leis que eles interpretam como lhes dá na telha? 

Será que chegaram, em ocasiões diversas, a advogar a favor e contra a mesma causa? 

São ricos ou pobres?

(...)

Quantas pessoas inocentes e excelentes foram condenadas à morte ou ao exílio graças a juízes corruptos e às intrigas políticas mais maldosas! 

(...)

As mulheres da ilha têm grande vivacidade. Desprezam os maridos e adoram estrangeiros. É entre eles que escolhem seus amantes. Agem com a maior facilidade e segurança.

(...) 

Conversava apenas com mulheres, comerciantes e criados, as únicas pessoas de quem podia receber uma resposta de bom senso.

(...) 

Propôs que as mulheres fossem taxadas de acordo com sua beleza e habilidade no vestir-se. Mas constância, castidade, bom senso e bondade natural não pagariam imposto. O total da arrecadação seria tão pouco que não valeria a pena.

(...) 

Os ricos desfrutam do trabalho dos pobres, que são mil vezes mais numerosos que os primeiros. A maior parte de nosso povo é obrigada a levar uma vida miserável, trabalhando todo dia com um salário pequeno, para que uns poucos vivam com fartura.

(...) À medida que as notícias de minha chegada se espalhavam pelo reino, atraía uma enorme multidão de ricos, ociosos e curiosos para me ver.

(...) — Vocês devem ser um povo de brigões ou então vivem ao lado de péssimos vizinhos. Seus generais devem ser mais ricos do que os reis! 

(...)

Suas casas são muito mal construídas, com paredes desalinhadas e nenhum ângulo reto em aposento algum. É que desprezam a geometria prática, considerada vulgar. As instruções que dão aos trabalhadores são refinadas demais, o que sempre é causa de erros. 

(...) 

o comportamento daqueles animais era tão racional e sensato que concluí serem mágicos que se tinham transformado em cavalos.

- Um povo capaz de civilizar animais irracionais deve certamente superar em sabedoria todas as nações do mundo! O cavalo que me levara até ali entrou em seguida e impediu que me tratassem mal. Relinchou para eles várias vezes demonstrando autoridade e recebeu respostas

 SWIFT -  Viagens de Gulliver

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A água e a imortalidade

 

Se levarmos em consideração que a maior parte dos nossos corpos é composta de água, podemos pensar que esse precioso líquido é o que mais nos aproxima da reencarnação.

15 de dezembro de 2006 · 15 anos atrás


  • Marc Dourojeanni
    Consultor e professor emérito da Universidade Nacional Agrária de Lima, Peru. Foi chefe da Divisão Ambiental do Banco Interam...


Nestes dias a chuva está incontinente. Chove todo dia, de manhã, à tarde e à noite, sem trégua e sem piedade dos humanos que se afogam nos rios ou se asfixiam sob a lama. É triste que após longos meses de espera ansiosa pela água salvadora esta, quando chega, o faz com tanta violência que, quase, se perde o desejo de desfrutar de seus benefícios e até há quem a maldiga. Quando chove tanto como agora, a gente não dispõe de muitas alternativas de trabalho ou recreação ao ar livre. A gente fica confinada no seu lar ou no seu escritório e os dias cinzentos não convidam ao bom humor nem à alegria. Mas, convidam a pensar até na imortalidade do mosquito.

Assim, pensando na água e na imortalidade me ocorreu que o ciclo da água seja o fato que mais aproxima o homem à reencarnação. Com efeito, a maior parte dos nossos corpos é água, tanto como 80% quando nascemos e ainda tanto como 58% quando morremos. A probabilidade de que moléculas de água que já pertenceram a outros seres vivos, dentre eles humanos, conformem nossas células, tecidos e órgãos, é relativamente elevada. Podemos imaginar que quando os nossos cadáveres secam, as moléculas que fogem para a atmosfera ou para o solo, subsolo e lençol freático, conseguem se manter mais ou menos agrupadas e depois de limpas de impurezas são assimiladas por outro ser vivo, uma mulher grávida por exemplo, que as transfere ao novo ser em suas entranhas, que as acumula em seu corpo, inclusive no seu cérebro e coração. Aquele novo ser poderia ter muito da gente do mesmo modo que nós devemos ter muito de outros que nem conhecemos. Claro é que a ciência não confirma isso. A ciência nem se preocupou em saber se as moléculas, átomos e partículas subatômicas do oxigênio e hidrogênio têm alguma forma de memória, como o DNA o que, admitidamente, é altamente improvável. De outra parte, grande parte da água no nosso corpo entra e sai, não sendo residente estável. Mas, neste universo, tudo é possível e muitas vezes, a imaginação supera a realidade. No final -ou no começo- a Bíblia diz que de pó somos e de pó seremos. Que o diga o General Pinochet agora transformado num pouco de pó num recipiente e toda sua água vital planando ameaçadoramente sobre Santiago.

Quando a chuva cai em cima podemos nos divertir imaginando quantas dessas gotas de água possuem moléculas que já pertenceram a personagens famosos e desejáveis como Cleópatra ou Marilyn Monroe ou que, pelo contrário, foram parte de Nero, Gengis Khan ou, pior, de Stalin ou Hitler. Também devemos pensar que algumas delas foram há muito ou pouco tempo, elementos constitutivos dos excrementos, da urina e do suor de humanos e animais assim como, evidentemente, das plantas mais diversas. No final essa probabilidade apenas revela que a água, como os nutrientes que formam o pó de que está feito nosso barro corporal, são comuns a absolutamente todos os seres vivos e esses elementos básicos da vida circulam de um para os outros, sem respeito, nem consideração por hierarquia ou fortuna. Na verdade, saber que estamos feitos por elementos reciclados de outros seres, sejam eles humanos ou não, nos obriga a sermos humildes. De fato, isso pareceria demonstrar que, ao final, os seres vivos do planeta são um único e gigantesco organismo. A teoria Gaia? Mas, de qualquer modo, isso também não deixa de abrir uma porta aos desejos tão humanos de ser imortal…. pelo menos até antes que acabemos com a vida no planeta.

O tema das vítimas da água por excesso vem duplamente à tona nestes dias em que coincidentemente, a SOS Mata Atlântica e o INPE divulgam cifras catastróficas de desmatamentos novos na Floresta Atlântica. Neste caso, o caráter catastrófico não se refere às cifras de eliminação de “milhões de hectares”, como acontece todo ano na Amazônia, mas, à sua importância relativa por serem fatos ocorrendo num bioma já quase extinto, com menos de 7% da sua superfície original, sem mencionar que as florestas remanescentes estão extremamente degradadas. Com efeito, no último qüinqüênio o país perdeu 95.000 ha a mais da sua Floresta ou Mata Atlantica, concentradamente nos estados de Paraná e Santa Catarina onde foram extirpados quase 74.000 ha principalmente dominados pelo pinho paranaense, ou seja, a formação vegetal mais ameaçada do bioma. Esse fato demonstra uma vez mais que nada detém os que pretendem fazer dinheiro por cima de qualquer outra consideração, razão ou lei. Mas, neste caso, o que se deseja salientar é a óbvia relação entre os problemas de inundações, deslizamentos e outras catástrofes letais que assolam os pobres que se instalam na beira de rios ou nas fraldas das montanhas e o maltrato contínuo às florestas da Mata Atlântica. Os que violam a lei com fins de “fazer mais dinheiro” deveriam ser tratados como homicidas culposos. Diga-se de passagem, que não se compreende como nem porque, frente às evidências que o material do INPE revela de modo indiscutível, os culpados não são indiciados e processados e nem, pelo menos, severamente multados.

O ciclo anual da imbecilidade é tão inexorável como o da água. De uma parte, leis e outras medidas legais que se discutem ardorosamente, quase raivosamente, como as que se referem ao manejo das bacias hidrográficas, áreas de preservação permanente, reservas legais, controle da contaminação, saneamento e unidades de conservação, dentre outras ligadas direta ou indiretamente à água, são praticamente esquecidas, ou seja, não aplicadas, desde o dia seguinte de sua aprovação. Os pobres rurais, peri-urbanos e urbanos se instalam onde querem e como querem sem que nenhuma autoridade se oponha, nem lhes informe do risco que os espera e a outros, rio ou ladeira abaixo e, até o fazem com o apoio de políticos que dizem ter “sensibilidade social” que tampouco lhes oferecem nenhuma alternativa. Os ricos desmatam o que desejam sem nenhuma consequência que lhes preocupe realmente, pois as multas, se por muito azar forem aplicadas, são ridiculamente baixas.

A cada ano, se gastam milhões para resgate e ajuda de danificados e outros tantos para reconstruir as infra-estruturas danificadas. A cada ano, com o coração pesado frente ao balanço das perdas em vidas e materiais, se fala intensamente desses problemas e se promete à sociedade que essas tragédias não se repetirão, que as bacias serão manejadas, os desmatamentos controlados e os invasores dos locais de maior perigo reassentados. Mas, igual que com a aprovação das leis, essas promessas são relegadas ao esquecimento, apenas quando o sol volta a brilhar e, em contrapartida, as autoridades e a sociedade passam a se preocupar da falta de água nos rios e da raridade da precipitação pluvial. Outra vez aparecem os danificados, em especial os pobres rurais, sem água para beber nem para produzir alimentos no nordeste e até no sul do país. Os salvadores da pátria então inventam, com grande pompa, a transposição das águas do rio São Francisco. Esquecem que esse mesmo rio está morrendo porque a sua bacia alta, encravada em relictos florestais moribundos, não recebe nem a milésima parte da atenção nacional merecida, que representaria a centésima parte do que se gastará em concreto para derivar suas águas na parte baixa. É melhor, nem falar da energia elétrica gerada pela água, que agora se procurará nos confins da Amazônia a custos financeiros, sociais e ambientais extravagantes quando as hidroelétricas do resto do país morrem rapidamente por não se cuidar das bacias hidrográficas respectivas.

Nada novo é dito aqui. Tudo isso está comprovado, anunciado, reiterado. O economista Jeffrey Sachs também falou disso há poucos dias, em aplaudida palestra em São Paulo, onde repetiu com outras palavras o que Al Gore também tinha dito, lá mesmo, com igualmente grande sucesso, semanas antes. Ele lembrava, uma vez mais, que para quebrar o circuito vicioso da pobreza deve se basear, o esforço do desenvolvimento, na educação, como o propunha Cristovam Buarque, e na proteção do entorno natural. Reiterava que está demonstrado que a economia e o manejo do ambiente são partes da mesma equação, suportes indissolúveis do desenvolvimento durável. Mas, isso, como Cristovam Buarque sentiu na pele, não pega nem paga politicamente. O ciclo da imbecilidade é tão inexorável como o da água. Ou, para fechar por onde comecei, a imbecilidade humana é imortal.

Fonte: https://oeco.org.br/colunas/16406-oeco-20051/