Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



terça-feira, 27 de maio de 2014

Casa feita com 31 contêineres tem 700 m² e três andares; confira


Morada na Austrália é adornada por belas obras de arte, valoriza espaços integrados e inclui até uma piscina de água salgada

Redação - Bonde
Publicação: 27/05/2014 11:33 Atualização: 27/05/2014 12:07

 (Ziegler Build/Divulgação)
Como uma realidade que ganha força nos quatro cantos do mundo, já dá para perceber - e lindos projetos reforçam a afirmativa -, que as casas feitas com contêineres deixaram de ser um conceito e se tornaram o sonho de consumo de muita gente. Um bom exemplo dessa tendência é esta enorme morada localizada na Austrália. Trata-se de uma residência moderna e impressionante, com 706 metros quadrados, construída com 31 contêineres.


 (Ziegler Build/Divulgação)
Projetada pelo escritório Ziegler Build, a casa conta com três andares e possui belas obras de grafite nas partes externa e interna, além de uma piscina de água salgada. A transição entre os espaços de dentro e fora  foi pensada de forma a manter o máximo de integração, com inúmeras áreas ao ar livre em cada nível, como ambientes de estar sem divisão entre o térreo e o primeiro andar. 

Há quatro quartos posicionados em dois pavimento, oferecendo espaço e privacidade para acomodar a família. Em muitos cômodos, a textura do contêiner foi mantida, garantindo que o material utilizado na construção não fique em segundo plano.


 (Ziegler Build/Divulgação)
 (Ziegler Build/Divulgação)
(Com informações do blog Minha Casa Container)

Fonte: ESTADO DE MINAS

Eurodeputado de partido satírico foi a surpresa de última hora na Alemanha



Martin Sonnenborn foi o 96º eleito para o Parlamento Europeu pela Alemanha. Líder de um "partido sem conteúdo", fez uma campanha com slogans como "Merkel é parva". Martin Sonnenborn na campanha para as legislativas de 2013 NELSON GARRIDO


Não é Beppe Grillo, o comediante espanhol que concentrou o voto de protesto, mas a sua eleição como eurodeputado provocou muita surpresa na Alemanha: Martin Sonnenborn é o líder do simplesmente chamado Die Partei (O Partido) e foi o último deputado a ser escolhido entre os 96 que a Alemanha vai enviar para o Parlamento Europeu.

O Partido tem tido uma relação conturbada com eleições, ora sendo aceite, ora não. Nas últimas legislativas, apresentou um “programa sem conteúdo” e agitou uma campanha morna com slogans como “Merkel é parva” – que repetiu nestas europeias.

Sonnenborn não é só alguém dado ao humor sem consequências, embora vá por vezes a extremos. Foi director da revista Titanic, que mistura humor com investigações e acções provocatórias. Em 2000, Sonnenborn mandou faxes oferecendo subornos a delegados da FIFA se dessem o seu apoio à Alemanha como organizadora do campeonato do mundo de 2006. Um deles acabou por se abster, levando a um empate entre os delegados, e o campeonato acabou mesmo por ir para a Alemanha. A recompensa oferecida era um cesto com especialidades da Floresta Negra, incluindo salsichas e um relógio de cuco.

Aliás, o Partido nasceu na redacção da revista, em 2004: "Não tínhamos partido em que votar, então criámos este."

Em termos políticos, Die Partei dispara contra a direita, a esquerda e o centro. Na imprensa alemã, nunca fala a sério. “O objectivo é a demissão”, disse numa das inúmeras entrevistas que deu após a eleição. “Vou aproveitar as próximas quatro semanas para me preparar intensivamente para a minha demissão.”

Mas temendo o desconhecimento sobre o que é o partido, de vez em quando fala meio a sério com a imprensa estrangeira – foi o que aconteceu numa entrevista com o PÚBLICO, durante a campanha para as legislativas de Setembro e 2009.

"Nunca dizemos que somos um partido satírico", explica. "Mas temos, como todos os partidos, sede de poder – e queremos chegar lá através de métodos satíricos."

E isso significa olhar para o que os outros partidos fazem, e fazer melhor: "Radicalizámos: trabalhamos completamente sem conteúdo. Não queremos ter uma posição, porque na Alemanha as posições dos partidos mudam: é-se a favor da energia atómica e depois contra, é-se pelo serviço militar obrigatório e depois contra”, justifica.

No entanto, têm propostas: alguns partidos falavam de um “mínimo de existência” que todos os cidadãos deveriam poder receber, O Partido propunha um “máximo de existência” de um milhão: automóveis, cavalos, etc, ninguém poderia ter mais de um milhão: teria de partilhar. “Poderíamos ter uma restruturação interessante neste país”, dizia Sonnenborn ao PÚBLICO, criticando a crescente desigualdade na Alemanha de Merkel. "Merkel apoia uma política conservadora que defende os grandes interesses, e isso não nos agrada. Quem tem menos dinheiro recebe ainda menos, e quem tem mais, ainda mais", concluía.

Um tema clássico do partido são muros. “Queremos que os bancos se reduzam ao que têm de ser. Um banco é uma instituição que dá dinheiro, não preciso de ninguém que me compre hedge funds ou que faça especulação. E é contra este grande disparate que queremos um muro que nos proteja.”

Sonnenborn não sabe ainda a que grupo se vai juntar, procurando um dos “malucos e zangados”. Mas não deixa de reflectir que no conjunto do Parlamento Europeu, “não penso que sejamos o partido mais maluco”.

Fonte: http://www.publico.pt/

Aécio Neves diz que não usa drogas



Aécio Neves atribuiu ao PT a insinuação de que seria usuário de drogas. "Tenho uma história de vida, para quem não me conhece, absolutamente digna e honrada", afirmou, ao ser questionado sobre uso de cocaína

Aécio Neves fala sobre drogas: “Me acusam há 15 anos” (Reprodução)


O senador Aécio Neves parece disposto a exorcizar o tema das drogas, na pré-campanha presidencial. Nesta semana, em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, ele disse ter experimentado maconha aos 18 anos. Disse que não gostou, que não recomenda aos jovens e afirmou, ainda, que é contra experiências de legalização, como vem ocorrendo no Uruguai.

Neste sábado, em Porto Alegre, ele foi questionado sobre o uso de cocaína e atribuiu essas insinuações ao PT.”A gente vive um submundo da política nas redes, onde se dissemina qualquer tipo de acusação contra os adversários esperando que alguém, talvez desavisadamente, leve o assunto para o dito jornalismo sério. Tenho uma história de vida, para quem não me conhece, absolutamente digna e honrada, reconhecida até pelos adversários”, afirmou.

Depois, ele afirmou que essa acusação vem sendo feita nos últimos quinze anos, mas afirmou que, neste período, ele se especializou em derrotar o PT. “Como não têm sobre a minha vida absolutamente nada, dizem que eu sou despreparado, que eu sou incompetente. Me acusam (de usar drogas) há 15 anos, mas ao longo dos últimos 15 anos eu me especializei em uma coisa: em derrotar o PT. Há 15 anos eu ganho do PT no primeiro turno, em todas as eleições, no meu Estado”, afirmou.

Polêmica

Em abril deste ano, um estudante da PUC foi expulso de uma palestra com Aécio, em abril, depois de gritar uma questão sobre a “cocaína no helicóptero” (dos Perrellas, aliados de AN em Minas). Ficou na saudade.

Na saída, Marcelo Ximenes expôs uma dúvida talvez pueril, mas 300 vezes legítima: “Que democracia é essa que não se pode fazer uma pergunta?”
247, VIA http://www.pragmatismopolitico.com.br/

Malharia Sulfabril tem leilão marcado para hoje, 15 anos após falência

Aiana Freitas
Do UOL, em São Paulo 27/05/201406h00


Quinze anos após ter a falência decretada, a malharia Sulfabril deve ir a leilão nesta terça-feira (27). A empresa brasileira de malhas e confecções foi sucesso nos anos 1970 e 1980 e terá sua marca e quatro fábricas leiloadas.

A marca Sulfabril é avaliada em R$ 40 milhões, e as fábricas, em cerca de R$ 120 milhões.

Apesar da falência, duas das fábricas ainda estão em operação. Atualmente, a empresa está sob a administração de um síndico nomeado pela Justiça, o economista e professor Celso Mario Zipf.

A empresa tem uma dívida estimada em R$ 119 milhões. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial, desse total, R$ 60 milhões se referem a dívidas trabalhistas.

O advogado do sindicato, Osmar Packer, afirma que cerca de 3.000 trabalhadores têm direito a indenizações.
Falência foi decretada em 1999

A Sulfrabril nasceu em Blumenau (SC) em 1947 e chegou a empregar mais de 5.000 funcionários. Suas coleções eram anunciadas no horário nobre da televisão e nas principais revistas do país, com garotas-propaganda como as atrizes Regina Duarte e Sandra Bréa.

A crise da empresa teve início em meados da década de 1990, com a abertura do Brasil ao mercado internacional. A falência foi decretada em 1999.

A decisão sobre a realização do leilão foi proferida em 25 de fevereiro deste ano pela juíza Quitéria Tamanini Vieira Peres. Na sua análise, ela disse que o leilão, após a longa tramitação do processo de falência, é uma "providência há muito esperada por constituir medida necessária à efetivação do pagamento dos créditos".

Atualmente, a Sulfabril emprega 700 funcionários em duas unidades em atividade, em Blumenau e Ascurra (SC). O patrimônio da empresa inclui ainda duas unidades desativadas, em Gaspar e Rio do Sul, também em Santa Catarina.

A catarinense Tatiane Duarte foi nomeada para administrar o leilão. "A venda inclui tanto os imóveis quanto os ativos localizados em cada unidade", disse ela.

O leilão será realizado em modalidade de pregão, por carta fechada. Os interessados tinham até segunda-feira (26) para entregar as propostas no cartório da 1ª Vara Cível de Blumenau. A abertura das cartas será seguida de leilão entre os responsáveis pelas maiores ofertas.

A marca e as unidades, avaliadas em cerca de R$ 160 milhões, serão oferecidas primeiramente em conjunto. Para ofertas à vista, o lance inicial é de 75% do valor de avaliação. Para propostas a prazo, o mínimo é o valor integral da avaliação, com pagamento de 30% à vista e saldo parcelado em até 36 vezes.

Terá prioridade o interessado que desejar adquirir todos os bens de forma englobada, em lote único. Se não houver interessados para a compra englobada, serão abertas as propostas em lotes.

O primeiro lote, das marcas e das duas unidades operacionais (R$ 149,3 milhões), aceitará propostas a prazo. O segundo lote, da unidade desativada em Gaspar (R$ 7,1 milhões), e o terceiro, da unidade desativada em Rio do Sul (R$ 3,7 milhões), contemplam apenas ofertas à vista, com pagamento de 30% em 72 horas e saldo em 15 dias.

Sudanesa condenada à morte por conversão ao cristianismo dá à luz

Sentença gerou protestos de grupos de direitos humanos e diplomatas que pediram tolerância religiosa no Sudão

Condenada à pena capital no último dia 15 por se converter ao cristianismo, a médica sudanesa Mariam Yahia Ibrahim Ishag deu a luz nesta terça-feira (27/05) a seu segundo filho no hospital da prisão onde está retida à espera da execução.

À Agência Efe, Mohammed Ibrahim, um de seus advogados, disse que sua cliente deu à luz a uma menina e que ambas estão em bom estado de saúde. Aos 27 anos, Mariam vive com seu outro filho de dois anos na prisão. A Justiça sudanesa ofereceu um limite de dois anos para que ela termine de amamentar a recém-nascida antes de ser executada, mas Ibrahim afirmou estar esperançoso de que a pena seja alterada por uma condenação menor.

Reprodução/ Al Jazeera
Tribunal na capital sudanesa de Cartum: veredicto causou protestos, apesar de governo alegar que tal medida não é exclusiva do país

Inédito no Sudão, o caso aconteceu no tribunal da capital Cartum. A sentença foi justificada pela por conversão da médica ao cristianismo e pelo abandono da fé islâmica. “Nós lhe demos três dias para refletir, mas você insistiu em não retornar ao islã”, declarou o juiz Abbas Mohammed Al-Khalifa na ocasião, direcionando-se à mulher com o nome de família de seu pai, um muçulmano. O magistrado acrescentou que ela receberá 100 chicotadas como castigo e depois será enforcada. De acordo com a Al Jazeera, Mariam lhe respondeu calmamente que é cristã e que nunca cometeu apostasia.

“Isso não é exclusivo do Sudão. Na Arábia Saudita e em todos os países islâmicos, não é permitido que os muçulmanos mudem sua religião”, argumentou o ministro da Informação, Ahmed Bilal Osman, à AFP. A tradição islâmica designa que os filhos de homens muçulmanos são, automaticamente, seguidores dessa religião.

Na ocasião, dezenas de pessoas foram às ruas da capital sudanesa para se manifestar contra o veredicto. Na audiência, diplomatas advertiram as consequências que tal decisão levaria no que concerne os direitos humanos e a tolerância religiosa no país.

Em comunicado conjunto, as embaixadas de EUA. Canadá, Grã-Bretanha e Países Baixos exprimiram suas preocupações com o caso: “Nós pedimos que o governo do Sudão respeite o direito à liberdade religiosa, notadamente o direito de mudar de fé ou de crença”.

Fonte: OPERA MUNDI

O eleitor brasileiro fará a "esquerda" (que se porta como :"direita", agora que está no poder) baixar os impostos também?



Valls baixará o Imposto de Renda depois do auge de Marine Le Pen

O primeiro ministro francês promete uma diminuição do imposto sem modificar os cortes
A Frente Nacional arrasa nas urnas e estende seu poder por quase todo o país




Manuel Valls sai da cabine depois de ter votado nas eleições europeias no domingo. / AFP

As eleições europeias devastaram o cenário político francês. A primeira vitória da Frente Nacional em eleições nacionais nos seus 52 anos de história colocou o Governo socialista e a oposição conservadora em uma situação de debilidade extrema, atirando a França no buraco negro de um continente assolado pela crise e pela incapacidade dos seus governantes e instituições em dar respostas democráticas e sociais à Grande Recessão. Depois de se reunir em caráter emergencial no Palácio do Eliseu com o presidente François Hollande, o primeiro ministro Manuel Valls prometeu baixar os impostos e em concreto o Imposto de Renda Pessoa Física 2015. Descartou dissolver o Parlamento e convocar novas eleições legislativas como pediu Marine Le Pen depois de ganhar no domingo em cinco das sete zonas eleitorais, ficando com 24 das 74 vagas parlamentares que cabiam à França.

Manuel Valls foi à rádio RTL para assegurar que o Governo "seguirá cumprindo com sua responsabilidade" e anunciar que no ano que vem baixará uma pressão fiscal que qualificou como "insuportável". A promessa, que já foi feita sem êxito durante a campanha, chega tarde para conter o avanço da ultradireita, e Valls assegurou também que não modificará a folha de pagamento aprovada. Há um mês, os socialistas decidiram reduzir os impostos empresariais em 30 bilhões de euros, e se comprometeram com Bruxelas a cortar 50 bilhões de gasto público em três anos. Assim que a pergunta óbvia for: Como a França vai cumprir seus objetivos de déficit se baixar o Imposto de Renda? Valls respondeu que buscarão a foram de fazê-lo, mas deixou no ar a impressão de que a prioridade já não será o rigor contábil e sim o caminho até as eleições presidenciais de 2017.

Na noite do domingo, após conhecer os resultados eleitorais, Le Pen recordou que Valls se empenhou a fundo na campanha e acrescentou que ele deveria atuar conforme isso, insinuando que teria o dever de renunciar. Os socialistas ficaram em terceiro lugar, com 13,9% dos votos, o pior percentual da sua história. Outras vozes, como a do líder centrista Hervé Morin, cobraram a renúncia do presidente François Hollande.

O primeiro-ministro descartou demissões e pediu tempo aos franceses. “Hollande recebeu um mandato eleitoral de cinco anos”, disse. “Temos que terminar o quinquênio. Mas estou convencido de que a França deve se reformar. Porque há muito tempo a direita e a esquerda não têm feito o que devem fazer para se reformar”.

O clima político provocado pelo triunfo da Frente Nacional mostra todos os elementos do final de uma era. Doze anos depois de obter o segundo lugar na eleição presidencial de 21 de abril de 2002, a ultradireita ficou na primeira posição, quatro pontos percentuais à frente dos conservadores da UMP e a nove dos socialistas, confirmando o crescimento meteórico de Marine Le Pen, que em apenas três anos, e praticamente sem recursos econômicos, transformou um partido familiar pequeno e malvisto em uma possante máquina eleitoral, capaz de seduzir cada vez mais franceses e de semear o pânico no sistema bipartidário.

Na eleição presidencial de 2012, Le Pen obteve 17,9% dos votos (7,5 pontos a mais do que seu pai, Jean-Marie Le Pen, em 2007). Nas eleições legislativas posteriores, a FN ficou com 13,6%, nove pontos a mais do que cinco anos antes. Nas eleições municipais de março deste ano, apresentando-se apenas em um terço dos municípios, o partido conquistou seu melhor resultado da história, elegendo 11 prefeitos, sendo que até então a FN só havia governado no máximo quatro cidades.

A análise do pleito europeu não só confirma essa progressão como também a acentua. Com quase 25% dos votos emitidos, a FN quadruplica seu resultado de 2009 e chega à frente em cinco das sete circunscrições eleitorais do país, apesar de a abstenção, longe de aumentar como previam as pesquisas, ter diminuído três pontos percentuais.


Le Pen melhora sua média nacional. Mesmo em regiões esquivas à extrema direita os diques de contenção saltaram pelos ares

O nordeste da França, um deprimido território antigamente voltado para a mineração e agora escolhido pela eurodeputada Marine Le Pen como seu feudo pessoal, é a vanguarda de uma conquista espalhada por todo o país: com 33,6% dos votos, a FN tira 15 pontos da UMP e mais de 20 dos socialistas, que se afundam a um terrível 11%. No leste e sudeste, onde a FN está acostumada a obter bons resultados, Le Pen melhora sua média nacional, com 28,9% e 28,1%, respectivamente. Mas mesmo em regiões tradicionalmente esquivas à extrema direita os diques de contenção saltaram pelos ares. É o caso do sudoeste, onde Le Pen obteve 24,7%, quadriplicando o percentual de 2009. E do oeste, onde a FN multiplica por seis seus resultados de 2009, passando de 3% para 19,3%. Na Île de France, a região da europeísta capital francesa, a Frente Nacional ficou em segundo, depois da UMP, com 17,3% dos sufrágios.

A força da extrema direita coincide com o afundamento dos dois grandes partidos, o que abre cenários imprevisíveis em ambos os casos. Os conservadores, já divididos antes da batalha, começaram ontem à noite a sua habitual guerra de famílias, para acordarem nesta manhã com a pior notícia possível: Claude Guéant, ex-ministro do Interior e ex-braço direito de Nicolas Sarkozy no Palácio do Eliseu, foi detido pelos juízes que investigam o escândalo Bernard Mure. O futuro da UMP parece algo mais do que sombrio, pois perde todo o oxigênio recebido nas últimas eleições municipais: apenas dois meses depois de vencer esse pleito, os descontentes com as políticas de Hollande preferiram a Frente Nacional. A direita perde sete pontos com relação a 2009, ficando com 20,9%, quatro pontos atrás de Le Pen. Os centristas são os únicos que melhoram um pouco com relação a 2009: a aliança Alternativa obteve 9,7% dos votos.

Os socialistas, por sua vez, confrontam uma realidade dramática apenas dois anos depois de terem conquistado todo o poder (presidencial, legislativo, Senado, regional e municipal), situando-se em seu nível eleitoral mais baixo da história, com uma sangria na sua votação em todo o país. E a esquerda em seu conjunto está de luto: os Verdes perderam a metade de votos e caíram a 8,9%, a Frente de Esquerda recebeu 6,3% de apoios, e o Nouvelle Donne, partido dos indignados galeses, não superou 2,9%. Total, incluindo os socialistas: famélicos 32%.

Fonte: EL PAIS

OU SE DEIXA OS PADRES CASAREM, OU A IGREJA VER-SE-Á AFUNDADA POR INDENIZAÇÕES DECORRENTES DE PEDOFILIA



O papa Francisco abre a porta para que os padres possam casar

“Por não ser um dogma da fé, a porta sempre está aberta", disse o pontífice

PABLO ORDAZ A bordo do avião papal 26 MAI 2014 - 20:52 BRT


O papa Francisco no avião voltando ao Vaticano. / ATLAS / AP

“Por não ser um dogma da fé, a porta sempre está aberta...” Não há regras nem zonas vermelhas. Os jornalistas perguntam o que consideram oportuno e o papa Francisco responde. Já tinha feito isso no seu regresso do Rio de Janeiro –“quem sou eu para julgar os gays?” – e volta a fazê-lo agora no avião da El Al, a companhia aérea israelense, no trajeto entre Tel-Aviv e Roma. Uma das questões levantadas é a do celibato obrigatório dos sacerdotes, um velho assunto que volta a ficar atual depois de que, há apenas alguns dias, um grupo de 26 mulheres apaixonadas por sacerdotes enviou uma carta a Jorge Mario Bergoglio lhe pedindo que deixe de proibir “um vínculo tão forte e bonito”. O Papa não se esconde na resposta à pergunta sobre se está disposto a levar adiante uma discussão incômoda no seio da Igreja: “A Igreja católica tem padres casados. Católicos gregos, católicos coptas, existem no rito oriental. Por que não é um debate sobre um dogma, mas sobre uma regra de vida que eu aprecio muito e que é um dom para a Igreja. Por não ser um dogma da fé, a porta sempre está aberta”.

Uma das novidades de Francisco é precisamente essa: sua disposição de discutir o discutível, sem que por isso deixe de expressar sua opinião. Desse modo, a velha aspiração de um setor da Igreja de que os padres possam casar-se e ter filhos sem se verem obrigados a abandonar o sacerdócio volta ganhar esperança. Como também a de integrar novos modelos de família, como os separados que voltaram a se casar, um grupo muito numeroso sobre o qual o próximo sínodo da família terá de debater e chegar a soluções. Da mesma forma que o Vaticano, embora não com a celeridade que talvez fosse necessária depois de décadas de paralisia, começa a reagir contra os abusos sexuais de menores cometidos por seus membros. É outro dos assuntos sobre os quais Bergoglio responde de forma clara:

— O que o senhor fará se houver um bispo que não observar essas normas, o exclui ou pede que se demita ou haverá outras sanções? Como se pode enfrentar no sentido prático?

"Na Argentina dizemos dos privilegiados: ‘este é um filho de papai’. Pois bem, nesse problema não haverá ‘filhos de papai’. Neste momento há três bispos que estão sob investigação: um já está condenado e está sendo estudada a pena que lhe será imposta. Não existem privilégios. O sacerdote que faz isso trai o corpo do Senhor porque, em vez de levá-los à santidade, abusa. E isso é gravíssimo. É como... eu lhes farei uma comparação. É como uma missa negra, por exemplo: você tem de levá-lo à santidade e o conduz a um problema que vai durar toda a vida.”



O Papa revela que dentro de alguns dias será celebrada uma missa na residência de Santa Marta da qual participará um pequeno grupo de vítimas de abusos. “São seis ou oito pessoas, da Alemanha, da Inglaterra e Irlanda. E depois se reunirão com o cardeal [Sean Patrick] O’Malley, o presidente da comissão contra os abusos. Mas quanto a isso temos de seguir adiante, adiante! Tolerância zero!!

Não é a única frente aberta pelo Papa. Nem deixaram de aparecer escândalos econômicos nos quais se incluem altos personagens da Cúria, como o ex-secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone. Bergoglio admite que sempre haverá escândalos, mas diz que sua reforma da Cúria procura precisamente impedi-los. Os jornalistas lhe perguntam sobre a luxuosa festa em um terraço do Vaticano ou o suposto desvio de 15 milhões de euros (45,4 milhões de reais) por parte de Bertone. O Papa não o defende. Somente diz que o assunto não está claro, que está sendo investigado e que sua campanha para fazer do Banco do Vaticano –o IOR– uma entidade decente já provocou o fechamento de 1.600 contas. O problema que persiste, admite o papa argentino, é que há ainda membros da Cúria que resistem, “para os quais não está claro”.

Como tampouco não lhes parece claro que o bispo de Roma se meta em assuntos tão delicados como resolver o conflito no Oriente Médio ou opinar sobre o sistema econômico mundial. Mas o Papa não se faz de desentendido e responde às perguntas. “Estamos em um sistema econômico múltiplo que coloca no centro o dinheiro, e não a pessoa humana. Um verdadeiro sistema econômico deve ter no centro o homem e a mulher. Esse sistema econômico que temos coloca no centro o dinheiro e descarta as pessoas. Agora estão descartando os jovens, e isso é gravíssimo. Na Itália, o desemprego juvenil está por volta de 40%. Na Espanha, é de 50% e na Andaluzia, no sul da Espanha, de 60%. Isso significa que há uma geração de nem-nem, que nem estudam nem trabalham, e isso é gravíssimo. Esse sistema econômico é desumano.”

Fonte: EL PAIS

O Estado, sendo laico, deve defender a dignidade de todos






Ganhou repercussão decisão proferida, há poucos dias, em que se discutiu o conceito de religião.

A questão ligava-se à possibilidade de retirar do Youtube vídeos que conteriam afirmações de intolerância ou discriminação contra “manifestações religiosas afro-brasileiras”, consoante se afirmou (cf. reportagens realizadas a respeito, aqui e aqui).

Temos tido, há tempos, embates relacionados, de algum modo, à noção de liberdade religiosa, ou de atos praticados com alguma justificativa religiosa.

Trata-se de problema de escala global. Lembre-se, por exemplo, da condenação de uma jovem à morte, no Sudão, por ter abandonado a fé islâmica (cf. notícia aqui). Por aqui, um vereador pediu a demissão de funcionária da Câmara de Vereadores por afirmar que “Deus não existe” (cf. notícia aqui).

Com freqüência, os debates realizados a respeito são marcados por algum tipo de preconceito. E, não raro, dispositivos constitucionais são esgrimidos para justificar, por exemplo, a crítica a alguma prática religiosa.

Instado a se manifestar sobre problemas de tal dimensão, ocupam-se os tribunais de tentar dar contornos ao que pode e ao que não pode ser feito, em nome de ou contra alguma religião.

Afirma-se que o Brasil é um Estado laico, o que significa que não acolhe, impõe, estimula ou segue dogmas impostos por qualquer religião, mas também que não reprova uma ou outra religião.[1]

Isso não significa que o Estado é alheio a valores que inspiraram e ainda inspiram boa parte das religiões.

Entendo que não se deve confundir religiosidade e espiritualidade. Se não se admite ao Estado apreender dogmas e rituais religiosos, é difícil negar que o ser humano não tenha uma dimensão espiritual, e esta aspiração foi incisivamente expressada, no texto constitucional.[2]

A dignidade da pessoa humana funciona como eixo central dos direitos fundamentais e essa ideia, incorporada no seio da Constituição, ostenta o que de mais espiritual tem o ser humano: o de reconhecer-se a si mesmo e a seus semelhantes como tal, procurando aprimorar-se como pessoa e, ao mesmo tempo, cuidando para fazer com que o mundo à sua volta melhore.

A laicidade do Estado não permite que se afirme inexistir um princípio que norteia a atuação estatal e que também deve guiar as pessoas, no relacionamento que mantém entre si. Concordo com Enzo Bianchi, que afirma que o Estado, sendo laico, deve defender a dignidade de todos, a começar por aqueles a quem ela é constantemente negada, propiciando que cada um busque dar plenitude de sentido à sua vida.[3]

Esse, segundo penso, é o sentido que devemos extrair da norma constitucional, que, alicerçado nos direitos fundamentais, é, inegavelmente, espiritual.

[1] Afirmou-se, no julgamento da ADPF 54, que “o Estado não é religioso, tampouco é ateu. O Estado é simplesmente neutro”. Isso significa que, “se, de um lado, a Constituição, ao consagrar a laicidade, impede que o Estado intervenha em assuntos religiosos, seja como árbitro, seja como censor, seja como defensor, de outro, a garantia do Estado laico obsta que dogmas da fé determinem o conteúdo de atos estatais. 
Vale dizer: concepções morais religiosas, quer unânimes, quer majoritárias, quer minoritárias, não podem guiar as decisões estatais, devendo ficar circunscritas à esfera privada. A crença religiosa e espiritual — ou a ausência dela, o ateísmo — serve precipuamente para ditar a conduta e a vida privada do indivíduo que a possui ou não a possui. Paixões religiosas de toda ordem hão de ser colocadas à parte na condução do Estado. Não podem a fé e as orientações morais dela decorrentes ser impostas a quem quer que seja e por quem quer que seja. Caso contrário, de uma democracia laica com liberdade religiosa não se tratará, ante a ausência de respeito àqueles que não professem o credo inspirador da decisão oficial ou àqueles que um dia desejem rever a posição até então assumida”. Assim, “ao Estado brasileiro é terminantemente vedado promover qualquer religião. Todavia, como se vê, as garantias do Estado secular e da liberdade religiosa não param aí — são mais extensas. Além de impor postura de distanciamento quanto à religião, impedem que o Estado endosse concepções morais religiosas, vindo a coagir, ainda que indiretamente, os cidadãos a observá-las. Não se cuida apenas de ser tolerante com os adeptos de diferentes credos pacíficos e com aqueles que não professam fé alguma. Não se cuida apenas de assegurar a todos a liberdade de frequentar esse ou aquele culto ou seita ou ainda de rejeitar todos eles” (STF, ADPF 54, trecho do voto do rel. Min. Marco Aurélio, j. 11 e 12.04.2012).

[2] Escrevi a respeito na obra Constituição Federal comentada (3.ed., Ed. Revista dos Tribunais), comentário ao artigo 19 da Constituição.

[3] “La laicità dello stato è allora quella opzione di fondo che consente di reinventare continuamente strumenti condivisibili e linguaggi comprensibili da tutti, di garantire presidi di libertà e di non sopraffazione, di difendere la dignità di ciascuno, a cominciare da quelli cui viene negata, di consentirea ciascuno di ricercare, anche assieme ad altri, la pienezza di senso per la propria vita” (Enzo Bianchi, La spiritualità di chi no crede, disponível aqui).


José Miguel Garcia Medina é doutor em Direito, advogado, professor e membro da Comissão de Juristas nomeada pelo Senado Federal para elaboração do anteprojeto de Código de Processo Civil. Acompanhe-o no Twitter, no Facebook e em seu blog.

Fonte: CONJUR

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A brecha que despedaça o sonho americano

Direita e esquerda buscam fórmulas para abordar o debate sobre a crescente desigualdade



Almoço de negócios em um restaurante da Sexta Avenida de Manhattan em setembro de 2009. / LAHCÈNE ABIB

As entradas ao ato eleitoral custavam até quatro mil dólares, cerca de três mil euros (oito mil e oitocentos reais). Sob uma tenda, os garçons serviam vinho e coquetéis. O público era formado por doadores do Partido Democrata, muitos deles residentes em Potomac, um povoado de bosques e mansões ostentosas que figura em todos os rankings dos lugares mais ricos dos Estados Unidos. Era terça-feira, 13 de maio. Em alguns bairros de Potomac,a média de receita anual de uma mansão supera meio milhão de dólares. Se existe uma pátria de 1% neste país, ou de 0,1% - a elite da elite -, está em Potomac ou em alguma das cidades similares que rodeiam a capital Washington.

Há alguns anos teria sido insólito escutar a palavra desigualdade da boca de Clinton, ante um público acomodado.

Bill Clinton, presidente dos EUA entre 1993 e 2001, era o orador principal daquela reunião para arrecadar fundos. Clinton esteve ali para apoiar Antonhy Brown, um candidato de seu partido, o Democrata, nas eleições primárias para o cargo de governador de Maryland, o Estado onde se encontra Potomac. O presidente não perdeu a desenvoltura nem a capacidade de sedução. “Maryland é um bom exemplo da mensagem sincera que tento levar à América a cada dia: há lugares nesse país nos quais a prosperidade está mais dividida ainda que a desigualdade aumente”, disse. Brown arrecadou cerca de um milhão de dólares naquele ato.

Há alguns anos escutar a palavra desigualdade na boca de Clinton, e frente a um público como o de Potomac, teria sido estranho. A expressão não figura em nenhum dos discursos anuais sobre o estado da União que pronunciou quando era presidente. Sua retórica econômica, similar à da terceira via na Europa, dava ênfase ao crescimento, à reforma do Estado de bem-estar e à redução do déficit.

Agora é diferente. A desigualdade crescente de receita e de riqueza ocupa o centro do debate nos EUA. O presidente Barack Obama fez da igualdade de oportunidades o centro de seu discurso econômico. O populismo antielitista define o discurso em uma esquerda que se prepara para o pós-obamismo. Os conservadores já não evitam falar da disparidade de renda e da distância entre as classes sociais. E em Roma o papa Francisco, com suas reflexões sobre os excessos do capitalismo desenfreado, se transformou em um aliado involuntário de Obama e um incentivo para que a direita revise suas mensagens mais ásperas.

O livro do ano – e talvez da década – é um volume de mais de 600 páginas de um economista francês, Thomas Piketty, até agora desconhecido para o grande público, mas que em poucas  semanas foi elevado a condição de super estrela nos EUA com um estudo que demonstra, com profusão de dados – muito ao gosto norte-americano – o aumento da desigualdade a níveis que se aproximam aos do século XIX. A comparação com o século XIX não se sustenta somente pela disparidade de renda – enquanto os salários reais da classe trabalhadora norte-americana apenas aumentou desde os anos setenta, os salários do 1% com mais receita subiu 165%, segundo dados citados pelo Nobel Paul Krugman -, mas na disparidade de patrimônio. Volta o fantasma da sociedade de burgueses, marcada pela herança: a ideia de que os filhos e netos de ricos de Potomac seguirão sendo a classe dominante durante gerações.

A desigualdade alcançou sua maré mais baixa nos Estados Unidos entre 1950 e 1980: os 10% superiores na hierarquia de renda levavam entre 30% e 35% da receita nacional dos EUA, aproximadamente o mesmo nível da França hoje”, escreve Piketty, em seu livro Capital no século XXI. “Desde 1980, no entanto, a desigualdade de receita disparou nos EUA. A parte do 10% superior aumentou de 30%-35% das receitas nacionais nos anos setenta para 45%-50% na década do ano 2000”. O incremento do 1% com mais receita, no entanto, é mais acusado.


‘O Capital no século XXI’, Thomas Piketty. / EL PAÍS

A ‘Pikettymania’ tem um preço. Os críticos rastreiam os erros e falhas interpretativas no livro. Este fim de semana, o diário Financial Times publicou uma investigação que levanta dúvidas sobre os cálculos e métodos do economista francês. Até o ponto de questionar uma de suas conclusões: que as desigualdades na riqueza tenham regressados a níveis anteriores à Primeira Guerra Mundial.

A tradução ao inglês de Capital no século XXI foi elevado às listas de livros mais vendidos seguindo o rastro de outros livros acadêmicos que definiram as controvérsias de sua época. Conseguiu o feito o francês Francis Fukuyama com O fim da história. Publicado depois da queda do muro de Berlim, o livro de Fukuyama teorizava sobre o triunfo do capitalismo liberal. Alguns anos depois, outro cientista político norte-americano, Samuel Huntington, diagnosticou o momento com O choque das civilizações, escrito durante uma das guerras balcânicas dos anos noventa.

Se agora se fala da desigualdade nos EUA, não é por Piketty. “Acontece que os livros navegam sobre ondas”, comenta durante uma entrevista telefônica o historiador Michael Kazin, professor na Universidade de Georgetown e diretor da revista progressiva Dissent. No momento da conversa Kazin estava mergulhado – como parte da classe intelectual das esquerdas neste país – na leitura do livro. Piketty captou o que os alemães chamam de zeitgeist: o espírito da época.

“O livro de Thomas Piketty tem tanto êxito porque a sociedade dos EUA está muito preocupada pelo enorme crescimento da desigualdade que se produziu desde os anos setenta”, disse, em um e-mail, o economista Emmanuel Saez. Saez, professor na Universidade de Berkeley, tem sido um dos colaboradores mais próximos de Piketty na recuperação minuciosa de estatísticas históricas sobre a concentração de ingressos e riqueza. “O livro tem um êxito particular nos EUA porque alerta contra o retorno da sociedade familiar, na qual os herdeiros acabam se impondo. Isto acerta um nervo nos Estados Unidos, um país que se fundou sobre a base do ideal da meritocracia”, argumenta Saez.


Um engraxate no centro financeiro de San Francisco (Califórnia). / DIETER TELEMANS

A desigualdade se agravou durante os anos de Ronald Reagan na Casa Branca – um republicano que acreditava na desregulação dos mercados e na baixa de impostos – e continuou com Clinton. A grande recessão, que se originou na bolha imobiliária da década passada, deixou mais desemprego e uma classe média que viu como reduzia sua renda e engrandecia a distância ao 1% que saiu da crise intacto. O pior – o terror de cair no abismo, a se precipitar a uma grande depressão similar a dos anos trinta – passou. E, ao contemplar a paisagem depois da tempestade, é quando surge em primeiro plano o problema da desigualdade.

“Há menos medo no curto prazo e mais medo no longo prazo”, constata de Chengdu (China) o economista Tyler Cowen, professor da Universidade George Mason, nas proximidades de Washington, e autor de Avarage is over (A Média Acabou). Cowen descreve em seu livro um mundo próspero em que as pessoas com um alto nível de educação e habilidades tecnológicas prosperam e acumulam mais lucros, e quem carece desta formação verá fechada a entrada para os melhores trabalhos e os melhores bairros. Uma distopia: países desenvolvidos e democráticos divididos entre os que tem (e sabem desenvolver-se com as máquinas) e os que não tem (e não sabem): entre os habitantes de regiões como Potomac e as pessoas que sobreviverão com empregos precários e o salário mínimo.

A pergunta sobre o efeito da desigualdade em qualidade democrática, ou na democracia a secas, volta a ser pertinente. “Então como agora”, escreveu Krugman em alusão à França da Terceira República, “uma riqueza imensa permite comprar uma imensa influência, não só nas políticas que se adotam, mas no discurso político”. Cowen, um economista próximo as posições que nos EUA se chamariam libertárias, e na Europa liberais, não nega a existência das desigualdades nem seu possível efeito prejudicial na democracia se uma parte da população se distancia das instituições. A maioria de membros do Congresso dos EUA são hoje milionários. Cientistas políticos como Nicholas Carnes, da Universidade de Duke, veem uma relação direta entre a classe social dos legisladores e a despreocupação pelas políticas que beneficiam as classes médias.

Durante décadas, para a direita nos EUA as desigualdades não foram nenhum problema. O problema era a falta de oportunidades, mas como este era o país do elevador social, do sonho americano, tudo parecia solucionado. O próprio Clinton, que é democrata, apenas falava de desigualdade quando era presidente (e os republicanos Reagan e Bush pai e filho, menos). A revolta da Tea Party – movimento populista e conservador que explodiu depois da chegada do democrata Obama à Casa Branca, em 2009, e marcou a agenda do Partido Republicano durante estes anos – pôs a esquerda na defensiva. As baixas de impostos e os cortes nos gastos monopolizavam o discurso econômico. Em dois anos isso mudou. Nas eleições presidenciais de 2012, o candidato republicano, Mitt Romney, pagou cara sua imagem de poderoso desconectado do norte-americano de raiz. A paralisação do elevador social passou a ser um feito amplamente admitido, pela esquerda e direita. Desde então a luta contra as desigualdades faz parte do vocabulário diário de Obama. Chamativo é que os conservadores tenham feito deles este discurso.

O populismo antielitista define o discurso de uma esquerda que se prepara para a era pós-Obama

Para Piketty, a causa das desigualdades deve ser buscada na acumulação das rendas de capital, que crescem a um ritmo mais rápido que a economia, o que abre uma brecha entre as classes médias e os mais ricos. Para Cowen, por outro lado, é o abismo tecnológico. Para Charles Murray, seguramente o intelectual de mais peso hoje na direita norte-americana, as desigualdades são reais e colocam em risco a coesão dos EUA, mas não se explicam pelas diferenças de ganhos, nem pelas políticas fiscais, e sim pelas diferenças de valores culturais.

No ensaio Coming apart. The state of white America, 1960-2010 [O distanciamento. O estado da América branca, 1960-2010], Murray explica o declive da classe trabalhadora branca por seu desapego, desde os anos 1960, ao que ele considera ser as virtudes fundamentais dos EUA: religiosidade, honestidade, casamento e trabalho. Os membros desta classe, expõe o autor, se casam menos, trabalham menos, vão mais para a prisão e frequentam menos a igreja do que as elites (Murray se divorciou uma vez, é agnóstico, e defende o matrimônio homossexual). Eles entraram em uma espiral que os distancia cada vez mais das elites industriais, religiosas e cujos membros são proclives a se casar entre eles e, portanto, a procriar filhos mais inteligentes (o uso do coeficiente intelectual em seus estudos é um dos aspectos mais discutidos deste intelectual).

Murray não leu Piketty, disse em uma mensagem por e-mail. Ao questionamento de por que nos EUA o debate político gira de repente em torno da desigualdade, responde: “Porque finalmente a esquerda social-democrata conseguiu eleger um dos seus como presidente dos Estados Unidos, e a esquerda americana, ao mesmo tempo, se tornou mais parecida com a esquerda da Europa, onde a desigualdade tem dominado o debate durante décadas”.

“A desigualdade importa porque na sociedade real as pessoas avaliam seu bem-estar econômico em relação aos outros”, observa o pikettyano Saez. “Por isso a desigualdade sempre será um problema em qualquer sociedade, não importa que seja rica. Dito isso, as pessoas estão mais dispostas a considerar justas as desigualdades com base no mérito do que na herança”.

“A classe média está desaparecendo. Se sente insegura”, disse Roger Hickey, codiretor da Campanha por um Futuro da América, um grupo adscrito à esquerda do Partido Democrata. “Não encontram emprego, os salários não sobem, os conservadores desmantelaram seus benefícios. As pessoas sentem a desigualdade. Os americanos não desgostam dos ricos. Aspiram a ser ricos. Mas se preocupam com o declive daquela grande classe média que foi construída depois da Segunda Guerra Mundial. Sabiam que era a segurança, a oportunidade, a possibilidade de mandar os filhos para a universidade. Agora tudo isso está ameaçado.

“Não acredito que os americanos se preocupem que os ricos ganhem mais. O que os preocupa é que seus salários estão parados. Os americanos não são receptivos diante dos discursos sobre a desigualdade”, opina Cowen. “Neste país a inveja se dirige principalmente às pessoas com que você foi à escola, a seus parentes, seus amigos”.

Não é a desigualdade o que deveria alarmar os políticos e cidadãos, e sim os obstáculos para os pobres saírem da pobreza, argumenta Robert Doar, que trabalhou na Administração de Recursos Humanos de Nova York com o prefeito Michael Bloomberg. O multimilionário Bloomberg deixou o cargo em dezembro. Seu sucesso, o democrata Bill de Blasio, chegou à prefeitura com a bandeira da luta contra as desigualdades, que se agravaram durante os 12 anos de governo Bloomberg.

“A mobilidade (social) e a pobreza são temais mais importantes e merecedores da nossa atenção que a desigualdade”, disse Doar na sede em Washington do American Enterprise Institute (AEI), o laboratório de ideias mais influente da direita dos EUA, onde agora ele trabalha. Acrescenta que a ele preocupa que a “obsessão” por querer que os ricos percam receita ou patrimônio acabe prejudicando os pobres. Se os ricos forem menos ricos, continua, a economia reduzirá e o desemprego crescerá. E em um país com menos ricos se reduzirá a arrecadação fiscal, porque se estes perdem os ganhos e patrimônio, pagarão menos impostos.

O que estes observadores —Cowen, Murray, Doar— têm em comum é que não evitam a questão da desigualdade, ainda que divirjam sobre as causas e as soluções. O debate intelectual, instigado a partir de instituições como o AEI, onde se preparou desde a revolução reaganiana até a invasão do Iraque, reflete uma mudança política: após os anos de individualismo do Tea Party, o Partido Republicano se deu conta de que corre o risco de perder a iniciativa ideológica e aparecer como um partido antipático, insensível às dificuldades da classe trabalhadora, pode ser letal. A direita se esforça para articular um conservadorismo com rosto humano.

E na esquerda renasce um novo populismo, uma palavra que nos EUA carece das conotações negativas que tem na Europa e na América Latina. “Há aspectos demagógicos [no populismo norte-americano], claro”, disse Kazin, autor de The populist persuasion [a persuasão populista], história de referência nos EUA sobre o populismo, publicada em 1995. “Mas o núcleo do populismo”, diz, “é a exigência aos políticos de que estejam à altura de sua palavra e dos ideais fundadores deste país, que consistem em que a elite deve servir aos interesses do povo”. O significado de populismo, nos EUA, é literal: a defesa dos interesses do povo frente às elites. E não só o Tea Party representa esta tradição.

Thomas Piketty, autor de 'Capital no século XXI'

“A forma mais racional para reduzir a desigualdade é apostar pela fiscalização progressiva sobre as rendas e também sobre a riqueza líquida dos indivíduos” (entrevista ao EL PAÍS 13/4/2014)
Emmanuel Saez, economista da Universidade de Berkeley

“O livro de Piketty tem um sucesso especial nos EUA porque alerta contra a volta da sociedade patrimonial, na qual os herdeiros se impõem. Isso toca um ponto sensível de um país que se fundou sobre o ideal meritocrático”.
Michael Kazin, historiador progressista de Georgetown

“O núcleo do populismo é exigir que os políticos que estejam à altura de sua palavra e dos ideais fundadores deste país, que consistem em que a elite deve servir os interesses do povo”.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos

“Os salários médios apenas se moveram. A desigualdade se aprofundou. A mobilidade para cima se estancou”. (Em janeiro, Obama pronunciou pela primeira vez a palavra desigualdade em um discurso do estado da União).
Charles Murray, politólogo conservador

“A esquerda socialdemocrata conseguiu eleger a um dos seus como presidente dos EUA, e a esquerda americana, ao mesmo tempo, ficou mais parecida à esquerda da Europa, onde a desigualdade dominou o debate durante décadas”.

“Há uma longa história neste país de populismo progressista”, disse Hickey. O ativista recorda dos agricultores que no século XIX se organizaram contra as empresas ferroviárias e os monopólios, e as políticas do presidente Franklin Roosvelt em resposta à grande depressão dos anos 1930. Também havia elementos populistas no discurso sobre a great society [a grande sociedade] do presidente Lynson Johnson, que completou esta semana meio século. Agreat society incluía medidas igualitárias no âmbito dos direitos civis, como o fim da segregação legal; e da economia, como a luta contra a pobreza e a criação de seguros médicos gratuitos para os maiores de 65 anos e as pessoas como menos ganhos.

Di Blasio, o novo prefeito de Nova York, ressuscitou esta tradição quando, em campanha, dizia que Nova York havia se convertido em uma história dickensiana de duas cidades, onde vivem quase 400.000 milionários enquanto quase metade dos cidadãos vive perto ou no umbral da pobreza. O slogan do movimento Occupy —o 99% contra o 1%— foi incorporado na linguagem habitual. “Hoje, depois de quatro anos de crescimento econômico, os benefícios empresariais e os preços das ações são incomumente altos, e para os que estão acima nunca foi melhor”, disse Obama no último discurso sobre o estado da União, em janeiro. “Mas os salários médios apenas foram movidos. A desigualdade se ampliou. A mobilidade para cima parou”.

Era a primeira vez que Obama pronunciava a palavra desigualdade em um discurso sobre o estado da União, o ritual anual em que os presidentes definem suas prioridades. Na boca de um político cerebral e instintivamente centrista como ele, as tentativas de falar a linguagem do populismo às vezes soam forçadas. Bem diferente de Elizabeth Warren, senadora democrata por Massachusetts desde janeiro de 2013 e estrela da esquerda populista. Professora de direito em Harvard e jurista especializada em falências, Warren eletriza as bases progressistas com uma linguagem clara contra os bancos, as grandes corporações, as elites. “Ela fala o idioma populista”, disse Kazin, que em seu livro insiste que o populismo, de esquerdas e direitas, é mais uma retórica do que um programa político.

“Apresente-se, Elizabeth, apresente-se!”, gritavam algumas pessoas congregadas, esta semana, para ver Warren em uma conferência sobre o novo populismo organizada pela Campanha pelo Futuro da América em um hotel de Washington. Referiam-se à campanha para a indicação dela para a nomeação do Partido Democrata nas eleições presidenciais de 2016. A ex-secretária de Estado Hillary Clinton é a favorita, mas se há um inconveniente é que é pouco populista, muito próxima de Wall Street e associada à presidência probusiness —favorável às grandes empresas— de seu marido, Bill Clinton.

“A defensora do povo, a tribuna dos 99%, a senadora Elizabeth Warren”, anunciou o apresentador. “Me dizem que passei o dia falando de populismo, do poder das pessoas para conseguir mudanças neste país”, disse Warren. “É algo em que acredito de verdade”. A senadora discursou contra os bancos, que superaram a crise sem que nenhum grande banqueiro fosse para a prisão; denunciou os conglomerados que sonegam impostos; destacou os políticos que negociam tratados de livre comércio de costas para os trabalhadores. “O jogo está arranjado. E isso não está certo”, repetia como um refrão. Suas palavras tinham um timbre esquerdista e profundamente americano. Porque este não é um populismo antissistema. Ao contrário. Os populistas norte-americanos defendem o sistema contra quem acredita ter traído.

Fonte: EL PAIS