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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Sobre a obra intitulada Urupês, de MONTEIRO LOBATO

 O seu livro é uma maravilha

(...) quando nos mostra o pensador dos nossos problemas sociais, quando nos revela, ao pintar a desgraça das nossas gentes roceiras, a sua grande simpatia por elas. Ele não as embeleza, ele não as falsifica (...) 

A nossa tradicional cabana de sapê e paredes de taipa é condenada e a alimentação dos roceiros é insuficiente, além do mau vestuário e do abandono do calçado. 

A cabana de sapê tem origem muito profundamente no nosso tipo de propriedade agrícola - a fazenda. 

Nascida sob o influxo do regime do trabalho escravo, ela se vai eternizando, sem se modificar, nas suas linhas gerais. Mesmo em terras ultimamente desbravadas e servidas por estradas de ferro, como nessa zona da Noroeste, que Monteiro Lobato deve conhecer melhor do que eu, a fazenda é a forma com que surge a propriedade territorial no Brasil. Ela passa de pais a filhos; é vendida integralmente e quase nunca, ou nunca, se divide. O interesse de seu proprietário é tê-la intacta, para não desvalorizar as suas terras. 

Deve ter uma parte de matas virgens, outra parte de capoeira, outra de pastagens, tantos alqueires de pés de café, casa de moradia, de colonos, currais, etc. 

Para isso, todos aqueles agregados ou coisa que valha, que são admitidos a habitar no latifúndio, têm uma posse precária das terras que usufruem; e, não sei se está isto nas leis, mas nos costumes está, não podem construir casa de telha, para não adquirirem nenhum direito de locação mais estável. 

Onde está o remédio, Monteiro Lobato? 

Creio que procurar meios e modos de fazer desaparecer a “fazenda". 

Construir casas de telhas, para os seus colonos e agregados. Será bom? 

Examinemos. Os proprietários de latifúndios, tendo mais despesas com os seus miseráveis trabalhadores, esfolarão mais os seus clientes, tirando-lhes ainda mais dos seus míseros salários do que tiravam antigamente. 

Onde tal coisa irá repercutir? 

Na alimentação, no vestuário. Estamos, portanto, na mesma. Em suma, para não me alongar. O problema, conquanto não se possa desprezar a parte médica propriamente dita, é de natureza econômica e social. Precisamos combater o regime capitalista na agricultura, dividir a propriedade agrícola, dar "a propriedade da terra ao que efetivamente cava a terra e planta e não ao doutor vagabundo e parasita,, que vive na “Casa Grande" ou no Rio ou em São Paulo. Já é tempo de fazermos isto e é isto que eu chamaria o “Problema Vital". Bagatelas, 22-2-1918- LIMA BARRETO - Problema vital.

O MOTIVO DO DESESPERO, DELE E DA CAMBADA FASCISTA ALIADA

 

100 anos de sigilo: Bolsonaro perde foro privilegiado e deve enfrentar Justiça comum em janeiro

 Atualizado em 31 de outubro de 2022 às 9:39
Presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: João Miguel Jr/Reprodução

Derrotado por Lula (PT) no segundo turno da eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PL) perderá, a partir de janeiro de 2023, a prerrogativa de foro por função. Com isso, ele poderá enfrentar processos na Justiça comum. Os sigilos de cem anos impostos a decretos presidenciais também podem ser revogados.

Mais conhecido como “foro privilegiado”, o instrumento constitucional prevê que ações contra o chefe do Executivo precisam tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF), após a Procuradoria Geral da República (PGR) apresentar a denúncia. É necessário ainda que a Câmara dos Deputados aprove um eventual julgamento do mandatário por parte da Corte.

Com o fim do mandato, Bolsonaro (PL) pode ter a maioria dos processos contra ele enviado para a Justiça comum, o que aumenta as possibilidades de uma condenação penal. Além disso, novas ações podem surgir, movidas pelos Ministérios Públicos dos estados.

Quanto aos processos por crimes de responsabilidade, que dizem respeito ao período do mandato, a tendência é que eles sejam arquivados.

Atualmente, há quatro inquéritos no STF em que o atual mandatário é investigado por eventual cometimento de crimes. Ele também enfrenta acusações criminais feitas pela CPI da Covid. Todos os inquéritos devem seguir em direção à Justiça Comum, sendo julgados por juízes de primeira instância.

“Está na imprensa ameaças à minha pessoa. Se eu perder o mandato, poderei ser preso por até 100 anos pelos ataques à democracia. Eu não dou recado a ninguém. Se querem dar recado a mim, não vai surtir efeito. Vou continuar fazendo a mesma coisa”, afirmou o atual presidente em julho.

sábado, 29 de outubro de 2022

Uma crônica de Lima Barreto, sobre eleições presidenciais

 (...)

Não será, pensei de mim para mim, que a República é o regime da fachada, da ostentação, do falso brilho e luxo de parvenu, tendo como repoussoir a miséria geral? 

Não posso provar e não seria capaz de fazê-lo. 

Saí pelas ruas do meu subúrbio longínquo a ler as folhas diárias. Lia-as, conforme o gosto antigo e roceiro, numa "venda" de que minha família é freguesa. 

Quase todas elas estavam cheias de artigos e tópicos, tratando das candidaturas presidenciais. 

Afora o capítulo descomposturas, o mais importante era o de falsidade. Não se discutia uma questão econômica ou política; mas um título do Código Penal. 

Pois é possível que, para a escolha do chefe de uma nação, o mais importante objeto de discussão seja esse? 

Comparativo de imperfeições

Fazendo-se uma confrontação das más qualidades de um e outro, Bolsonaro é infinitamente pior do que Lula, em todos os aspectos possíveis e imagináveis, sem a menor sombra de dúvida.. 

GEENA SOCIAL

 A expressão, usada por LIMA BARRETO, significa situação de eterno tormento, 

LIMA BARRETO - Diário do Hospício ...

 ...é a leitura que iniciei hoje. Observações conscientes, percucientes, realistas, chocantes, as que faz o famoso brasileiro.

Tinha que ocorrer em SC - É muito provável que uma trabalhadora de Supermercado seja rica, não?

Declaração de hipossuficiência não basta para Justiça gratuita, decide TRT-1228 de outubro de 2022, 21h14



Somente a declaração de hipossuficiência não é mais suficiente para garantir o benefício da Justiça gratuita. A pessoa física precisa comprovar que ganha menos do que 40% do teto do INSS (cerca de R$ 2,8 mil atualmente), ou que não tem recursos para arcar com as despesas processuais.
ReproduçãoTRT catarinense decidiu que não
basta a declaração de hipossuficiência

Essa foi a tese fixada pelo Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (SC) em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). Dos 18 desembargadores, 13 adotaram tal posicionamento.

Os magistrados se basearam no fato de que a reforma trabalhista, ao prever as possibilidades de Justiça gratuita (acrescentando ao artigo 790 da CLT os parágrafos 3º e 4º), empregou a expressão "comprovar insuficiência de recursos". Isso seria diferente de simplesmente "declarar" pobreza.

O processo que motivou a uniformização tem origem em Joinville (SC) e foi ajuizado por uma trabalhadora contra uma rede de supermercados. O desembargador Roberto Luiz Guglielmetto instaurou o IRDR de ofício para decidir se a declaração de hipossuficiência seria o bastante para a concessão do benefício.

Entre os fundamentos levantados contra a tese esteve o parágrafo 3º do artigo 99 do Código de Processo Civil, segundo o qual "presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural".

Além disso, os cinco magistrados divergentes lembraram que a grande maioria das turmas do Tribunal Superior do Trabalho considera suficiente a declaração de hipossuficiência econômica. Com informações da assessoria de imprensa do TRT-12.

Processo 0000435-47.2022.5.12.0000


José Higídio é repórter da revista Consultor Jurídico.

Revista Consultor Jurídico, 28 de outubro de 2022, 21h14

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

De quem estou falando?

Vai se sair agora com uma grande mentira. Rapsódias sobre tudo. Acredita em suas próprias mentiras. Acredita mesmo. Mentiroso fantástico. -  JAMES JOYCE - Ulisses.

VALTER IRÁ IMITAR JEFFERSON? - Vereador de Florianópolis diz que PF está atrás de seu pai após vídeo contra Lula


Maikon Costa (PL) afirmou que publicação do pai, que mostra uma arma e atira, não é ameaça contra o candidato do PT
REDAÇÃO ND, FLORIANÓPOLIS26/10/2022 ÀS 14H58 - 

O vereador de Florianópolis, Maikon Costa (PL), afirmou, nesta terça-feira (25), que a Polícia Federal foi até a casa de seu pai, Valter Lima Costa, para que ele preste esclarecimentos sobre o vídeo em que aparece armado e cita o candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Maikon Costa (PL) diz que Polícia Federal está “atrás de seu pai” – Foto: Montagem/ND

Na publicação, Valter Lima “manda um recadinho” para Lula, no qual afirma que “tenho dez hectares de terra, não está produtiva. Gostaria muito que tu viesse invadir, como tu falaste que ia invadir a casa dos nossos deputados estaduais e federais. Tá aqui para você [mostra a arma], venha para cá, nós estamos te esperando”.

Vereador Maikon Costa (PL) fala sobre abordagem da PF contra seu pai – Vídeo: Reprodução/ND

O vereador disse que não classifica a ação como uma ameaça, mas uma opinião.

“Fico impressionado como a Polícia Federal está gastando energia com alguém que emiti sua opinião e, ainda que tinha utilizado uma arma de fogo, mencionou apenas que a sua casa fosse invadida, ele tomará as devidas providências. Eu não entendo isso como ameaça, mas a Polícia Federal deveria correr atrás mesmo dos bandidos, corruptos, que têm nessa cidade, nesse Estado e nesse país”, diz Maikon.

Valter Lima Costa finaliza o vídeo afirmando: “Lula, tu já estás acabado, cara, deu pra ti, só tô te esperando aqui, ó.” Em seguida, ele aponta a arma e atira.

Em relação à abertura da investigação, o vereador menciona que “quem pediu para abrir o inquérito contra o meu pai foi o delegado chefe da segurança do ex-presidiário, do ex-condenado (sic)”, se referindo ao candidato Lula.
FRAME – Valter Lima Costa, pai de Maikon Costa, faz vídeo contra Lula – Foto: Reprodução/ND

A reportagem do ND+ procurou a assessoria da Polícia Federal, que reiterou não divulgar nomes ou endereços de investigados ou possíveis investigados. O vereador Maikon Costa não respondeu a reportagem até a publicação deste texto. O espaço está aberto.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Governo Bolsonaro entrega ilha em PE para mineradora do "maior infrator ambiental do Brasil"


Com aval de Tarcísio Freitas, terminal de minérios em área de manguezal será erguido por grupo de Daniel Dantas em Suape
Pedro Stropasolas
Brasil de Fato | Recife (PE) | | 25 de Outubro de 2022 às 06:31

Santuário da pesca artesanal, Ilha de Cocaia foi privatizada pelo Governo Federal para ser transformada em um terminal de minérios - Fórum Suape


Ilha de Cocaia, município de Cabo de Santo Agostinho, 35 km de Recife (PE). Um paradisíaco pedaço de terra e mangue que sobrevive dentro de uma das principais zonas portuárias do Nordeste. Por enquanto.

Uma das últimas ações da gestão de Tarcísio de Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura foi autorizar a construção de uma ferrovia de 717 km ligando Curral Novo, no Piauí ao Porto de Suape, no sul de Pernambuco

O projeto da mineradora Bemisa inclui a construção de um Terminal de Uso Privado (TUP) de minérios em Cocaia, reduto da pesca artesanal nos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca. Mais de 5 mil pescadores artesanais, sobretudo mulheres, podem perder a fonte de sustento e renda.

“Aqui vai acabar o mangue mesmo, quando esse minério chegar. Não vai acabar só o mangue, vai acabar tudo. De onde ele está vindo, pra cá , tudo que vem no percurso do trem, vai acabar com tudo”, opina a pescadora Vânia Maria de Alcântara, que começou a pescar com a mãe e as duas irmãs aos 8 anos. Embora em menor quantidade, ela ainda pega de tudo um pouco: marisco, aratu, sururu, ostra, siri.

Areias brancas de uma das praias da Ilha de Cocaia, na região de Suape (PE) / Pedro Stropasolas

Bemisa e Daniel Dantas

A mineradora Bemisa pertence ao grupo Opportunity, cujo sócio fundador é o banqueiro bilionário Daniel Dantas. Além de minerador, Dantas é pecuarista e especulador de propriedades rurais.

Somadas, as multas que as empresas controladas pelos fundos de investimento do grupo de Dantas receberam do Ibama, entre 1995 e 2019, totalizam mais de R$ 323 milhões. Os números fazem dele o maior infrator ambiental do país no período, de acordo com levantamento feito pelo De Olhos nos Ruralistas, com base nos dados do Ibama.

A mais expressiva, de R$ 94 milhões, foi em nome da Agropecuária Santa Bárbara, no Pará. A multa foi prescrita em junho deste ano, após atuação do atual presidente do Ibama, Eduardo Abin, divergindo da Equipe Nacional de Instrução do Ibama.

Em 2009, a AgroSB, como é chamada, dizia ser proprietária de mais de 500 mil hectares de terra, com uma criação de mais de meio milhão de cabeças de gado. Em 2012, foram resgatadas em um das fazendas cinco pessoas em condições análogas à de escravidão .

Sob a gestão de Jair Bolsonaro, cerca de R$ 16 bilhões em multas ambientais devem ser anuladas pelo Ibama, conforme revelou reportagem do Portal UOL.

Transnordestina

Prevista para ser iniciada em 2025, a obra do terminal de minérios integra o projeto de conclusão da ferrovia Transnordestina pernambucana, cujas obras foram iniciadas em 2006 e nunca concluídas.

A ferrovia da Bemisa, bem vista pelo Governo de Pernambuco, tem a promessa de baratear o custo logístico no Nordeste. O contrato de arrendamento da Ilha da Cocaia foi assinado por Paulo Câmara, governador de Pernambuco, no dia 26 de setembro de 2022.

Mas as negociações do governo estadual com a Bemisa iniciaram antes, em 2019, após o Ministério da Infra Estrutura anunciar que apenas o trecho da Transnordestina de Eliseu Martins (PI) até o Porto de Pecém, no litoral cearense, seria feito com verbas públicas.

Eline Maria de Santa Souza limpa as lagostas para vender aos clientes. Frutos são cada vez mais escassos na região / Pedro Stropasolas

O empreendimento em Cocaia será executado pela Planalto Piauí Participações, subsidiária da Bemisa, e terá capacidade de escoamento previsto de cerca de 13 milhões de toneladas de minério por ano. Com um investimento de 5 bilhões de reais, a promessa é gerar 3 mil novos empregos.

A oferta de empregos, porém, é contestada por Eline Maria de Santana Souza, que nasceu e cresceu na praia de Suape - antes mesmo da instalação do Complexo Portuário.

“Vai ter emprego. Mas dois meses, três meses não vão te querer mais. Quem vai botar um pescador para trabalhar numa indústria? Não vai. Só contratam para construir, entendeu? Pra fazer vai ter muito emprego. Mas depois isso é a mesma coisa do Porto, do hotel. Poucos de nós trabalham no porto.”

Jazidas no Piauí

O interesse da Bemisa e do grupo Opportunity no negócio é transportar pela ramal da Transnordestina pernambucana sua produção de minério de ferro no sul do Piauí.

No município de Curral Novo, a mineradora explora por meio do projeto Planalto Piauí uma jazida com volume de 800 milhões de toneladas de ferro. É uma das maiores reservas minerais do País.

O Brasil de Fato procurou a mineradora para entender se foi feito algum estudo para avaliar os impactos socioambientais da instalação do terminal de minérios na Ilha de Cocaia e o que será feito para mitigar os prejuízos para as famílias que dependem do ecossistema. Até o momento, não obteve retorno.

“Quanto mais rápido se constrói essa ferrovia e esse terminal de minérios para poder escoar esse produto, mais projeto de exploração de minérios vão começar a pipocar em vários territórios. Porque vai ser rentável, mais rentável ainda, mais do que já é, porque vai ter uma logística de escoamento. Eu vejo isso como uma coisa que vai incentivar cada vez mais a exploração da terra, cada vez mais a expulsão dos povos de comunidades tradicionais e de seus territórios”, pontua Mariana Vidal, advogada e Coordenadora de Projetos do Fórum Suape, que assessora as comunidades pesqueiras.

Pesca e atividade portuária

Para a construção do terminal, foi preciso transformar a ilha em uma área privada, excluindo Cocaia da chamada poligonal do Porto Organizado de Suape. Criada no governo da ex-presidenta Dilma Roussef, a poligonal garantiu a federalização da área, mas também trouxe uma série de restrições para a prática da pesca artesanal.

Conforme revelado pela reportagem da Marco Zero Conteúdo, as famílias, associações pesqueiras, e entidades civis ficaram sabendo do processo ao monitorar o Diário Oficial da União, em dezembro de 2021, e verificar uma consulta pública assinada pelo Ministério da Infra Estrutura. Neste momento, já havia sido concedida a autorização para a Bemisa.

O Fórum Suape junto a outras organizações comunitárias e associações de pescadores da região acionou o Ministério Público Federal (MPF), questionando a ausência de consulta prévia e informações sobre o empreendimento.

O ofício da pesca e a atividade portuária convivem no mesmo espaço na região de Suape (PE) / Pedro Stropasolas

“O Ministério de Infraestrutura entende que eles não precisam de consentimento de ninguém para isso. Eles abriram a consulta só por uma questão formal”, relata Mariana Vidal.

A avaliação da advogada é que não foi respeitada a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A norma determina que toda intervenção em territórios tradicionais precisa contar com uma consulta prévia, livre e informada, para as famílias impactadas

“A construção de um terminal de minérios da forma está se dando sem transparência, dizer exatamente qual é o local, quantos hectares de mangue estão previstos para serem desmatadas tende a gerar enfim impactos para muitas famílias de pescadores, principalmente as mulheres pescadoras”, opina Vidal.

“Muita gente está pensando que isso aí não vai acontecer. Mas só que quando vir, será de uma vez. E todo mundo vai poder mais fazer nada”, lamenta a marisqueira Eline Maria de Santana Souza.

Uso sustentável

As famílias tradicionais também reivindicam a retirada do território de Cocaia da poligonal, mas para seu uso sustentável, e não para a manutenção da atividade portuária - que já provocou uma série de impactos desde a década de 1970.

“A gente tem perdido a nossa entidade, a nossa cultura, a nossa origem devido esses danos socioambientais”, lamenta Edinaldo Rodrigues de Freitas.

O pescador ensinou o filho a pescar, quando ele tinha 10 anos. E lamenta que o jovem já abandonou o ofício precocemente.

“A destruição dos manguezais afetou 95% da pesca artesanal entre o município de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca. E cada dia mais a tendência é perder essa produção, porque não há investimento para estoque pesqueiro”, afirma a liderança.

Manguezal ainda preservado na Ilha de Cocaia, fonte de sustento de muitas famílias pesqueiras / Pedro Stropasolas

“Antes eu chegava aqui com meu barco com dez panos de rede e pegava duzentas quilos de peixe. Hoje a gente passa um mês inteiro pescando pra botar cinquenta ou trinta quilos de peixe”, completa o trabalhador.

A Ilha de Cocaia, no passado, era formada por uma faixa de terra contínua, e foi modificada após a dragagem do istmo de Cocaia para a ampliação do Complexo de Suape. O processo restringiu o acesso dos rios Massangana, Tatuoca, Merepe e Ipojuca ao oceano atlântico, ameaçando a sobrevivência dos manguezais.

Para Edinaldo, a solução seria o reflorestamento e a proibição de novas intervenções na região de Suape. O pedido vai na linha contrária ao desejo da Bemisa.

“As croas estão sendo entupidas, os canais estão sendo entupidos, que são assoreados, estão ficando rasos, matando tudo que está por baixo. Então a gente está vivendo uma situação caótica e uma favelização. Tanto da pesca artesanal como na vida das pessoas”, relata Edinaldo.

“Para implantar um terminal de minério é bom entender que vai ter dragagens. E as dragagens destroem muito. É um dano irreversível. Vai acabar com o resto do mangue que a gente tem”, completa o pescador.

Belezas naturais da região atraem turistas de todo o Brasil / Pedro Stropasolas

Impacto para o turismo

A construção do terminal pela Bemisa também impacta o turismo na região. Ao todo, 50 lanchas de trabalhadores, que ficam ancoradas na praia de Suape, fazem passeios pelas piscinas naturais da Ilha de Cocaia e podem ter o ofício comprometido.

“As pessoas que vêm a essa praia, principalmente o turista, ele precisa dessa ilha, das piscinas naturais. E com a construção desse terminal, a gente sabe perfeitamente, eu como marítimo que carreguei muito no porto de Tubarão em Vitória do Espírito Santo, sabemos que ao redor da ilha tudo vai morrer. O minério vai destruir toda essa flora que existe aqui. Toda fauna, não vai ficar nada”, explica Oyama Bastos, presidente da Associação dos Passeios Turísticos de Cabo de Santo Agostinho (PE).

“Essas famílias com cinco anos estão todas com problemas respiratórios. Porque o pó do minério vem pra cá. Principalmente o vento sul que recebe essa vila”, completa.

Barcos de passeios turísticos atracados na Praia de Suape (PE). Trabalhadores temem perder fonte de renda / Pedro Stropasolas

Novo marco das ferrovias

O novo marco legal do transporte ferroviário, instituído pela Medida Provisória 1065, foi sancionado por Jair Bolsonaro (PL) em 23 de dezembro de 2021.

A legislação permitiu que o trecho de linha ferroviária que liga o sul do Piauí até a Suape fosse retirado da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e oferecido à iniciativa privada.

Pelo novo regime de autorização, Tarcísio de Freitas autorizou a construção e operação de nove trechos de ferrovias com capital privado, em dez estados brasileiros. Além da Planalto Piauí Participações, da Bemisa, outros cinco grupos empresariais receberam autorização: Bracell, Ferroeste, Grão Pará, Macro Desenvolvimento e Petrocity.

Das empresas autorizadas, somente a Ferroeste atua no setor ferroviário. O restante, incluindo a empresa da Bemisa, operam pela primeira vez no segmento e estão vinculadas a terminais de uso privado.

Privatizações

Em 2018, a Companhia Energética de Alagoas (Ceal), estatal que era subsidiária da Eletrobrás, foi vendida para a multinacional Equatorial Energia por um valor simbólico de R$ 50 mil. Entre os principais acionistas da empresa, está o mesmo banco Opportunity, de Daniel Dantas.

No mesmo ano, a estatal Companhia Energética do Piauí, que fazia a distribuição de energia elétrica no estado, também foi adquirida pela Equatorial.

Em fevereiro de 2021, nove campos terrestres de exploração e produção de petróleo da Petrobrás na Bahia foram vendidos em sua totalidade para a empresa SPE Miranga S.A., também controlada por Daniel Dantas.

Os exemplos remontam a década de 1990, quando Daniel Dantas, principal executivo do Banco Icatu na época - e posteriormente do Opportunity -, e Paulo Guedes, então dono do Banco Pactual, hoje BTG, beneficiaram-se pelos contratos das privatizações promovidos pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em 1998, FHC leiloou a Telebrás por 22 bilhões de reais e o grupo Opportunity passa a controlar uma das empresas criadas após a cisão da companhia telefônica estatal: a Brasil Telecom.

O grupo de Dantas só sairia do segmento de telecomunicações após a compra da Brasil Telecom pela Oi, em 2008. É nesse momento que os fundos de investimentos do Opportunity passam a investir prioritariamente na mineração, através da Bemisa; e no ramo agropecuário, com a Agropecuária Santa Bárbara.

Envolvido em um escândalo de corrupção em 2008, e preso pela Polícia Federal na Operação Satiagraha - anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2015, por ilegalidades na coleta de provas, Dantas passou a integrar a lista de bilionários da Bloomberg Billionaires Index em 2017, com um patrimônio avaliado em US$ 1,8 bilhão.

Paulo Guedes e Daniel Dantas se beneficiaram das privatizações de estatais na década de 1990 / Divulgação

"Tempos tenebrosos da ditadura militar"

Em nota divulgada em fevereiro, a Secretaria Nacional e Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores (PT) se solidarizou com a luta dos pescadores e pescadoras artesanais da Ilha de Cocaia.

"Sem qualquer debate e consulta à população, o Governo Bolsonaro deu abertura a um processo de privatização da Ilha de Cocaia, agindo nas sombras e ao melhor modo dos tempos tenebrosos da ditadura militar", diz trecho da nota publicada em fevereiro.

“O que gera emprego de fato, o que gera renda de fato é manter esses ecossistemas de pé, manter gente na terra, podendo produzir alimento, podendo pescar no mangue. Isso de fato é sustentável", conclui a Coordenadora de Projetos do Fórum Suape, Mariana Vidal.

As respostas institucionais

Em nota enviada ao Brasil de Fato, o Ministério de Infra Estrutura afirma que a retirada da Ilha de Cocaia da Poligonal do Porto de Suape, para a construção do Terminal de Uso Privado (TUP), foi solicitada pela própria autoridade portuária. E que foi feita uma consulta pública para subsidiar o pedido do governo estadual, com a participação da comunidade local.

Afirma também que não recebeu nenhum pedido para a implantação do empreendimento, e que o projeto será analisado "sob a luz das diretrizes do planejamento, da legislação e das políticas do setor portuário". Caberá ao Ibama, segundo o ministério, analisar possíveis impactos socioambientais.

A reportagem também questionou se o Ministério da Infra Estrutura tem conhecimento que a mineradora Bemisa é controlada pelo Grupo Opportunity, cujo sócio é Daniel Dantas, recordista em infrações ambientais. Quanto a este assunto, não obteve retorno.

O Grupo Opportunity afirma ao Brasil de Fato que o projeto executivo do Terminal de Granéis Sólidos Minerais em Suape (PE), ainda está em fase de elaboração e que será apresentado aos órgãos responsáveis para o processo de licenciamento ambiental.

Afirma também que na área de construção do empreendimento, conforme o Plano Diretor do próprio porto, a pesca artesanal é proibida. O grupo também afirma que a Bemisa "preza pelo respeito ao meio ambiente e comunidades onde atua".

Quanto a Agropecuária Santa Bárbara, o Grupo Opportunity diz desconhecer qualquer sanção ambiental no período de 1995 a 2004.
Afirma também que a Agro SB é "reconhecida por não desmatar e por investir e transformar terras degradadas em áreas produtivas".

Segundo o grupo criado por Daniel Dantas, a produção de alimentos e a redução do desmatamento na região sudeste do Pará fez a empresa ser "reconhecida pelo Ibama e Judiciário, que já anularam mais de R$ 245 milhões em multas no nome da AgroSB".

Em nota enviada ao Brasil de Fato, a diretoria do Porto de Suape afirma que apenas a porção sul da Ilha de Cocaia, que representa cerca de 40% do território, está apta para a implantação de terminais, conforme "vocação definida pelo Plano Diretor (desde 2011) como Zona Industrial Portuária (ZIP)".

Segundo a empresa, por aspectos de segurança, está já é uma área de "exclusão de pesca artesanal" e de "tráfego de barcos de pesca de turismo".

Suape informa também que a porção norte da Ilha de Cocaia, denominada Zona de Preservação Cultural, que integra a área da Praia de Suape, foi excluída recentemente da poligonal do Porto Organizado e que não "haverá qualquer interrupção das atividades pesqueiras" nesta faixa. Diz também que o "o projeto atenderá, rigorosamente, á legislação ambiental".

A empresa afirma ainda que a porção sul da Ilha de Cocaia foi submetida à consulta pública pelo Ministério da Infraestrutura, e que os "representantes dos pescadores artesanais foram consultados e opinaram sobre a nova Poligonal, considerando os aspectos relevantes para o segmento".

Sobre o acesso ao projeto da Bemisa, o Porto de Suape afirma que o projeto executivo do terminal ainda não foi elaborado, sendo apresentado apenas um "esboço conceitual que delimita a área onde será implantado o empreendimento". Diz também que os estudos ambientais a serem elaborados pela mineradora passarão pelo "órgão responsável pelo licenciamento ambiental para a emissão das licenças exigidas pela legislação".

"Acabar com a vida"

"A Consulta prévia livre e informada nunca foi feita. Mesmo que eles digam que vão usar apenas 40% da Ilha de Cocaia, a experiência que se tem no Brasil tanto no Espiríto Santo, como no Ceará, é de que transportar minério de ferro e onde se coloca ele, é acabar com a vida. Toda a vida da comunidade do entorno será exterminada", pontua Laurineide Santana, representante do Conselho Pastoral da Pesca do Regional Nordeste 2.

"O Governo tirou a Ilha de Cocaia da Poligonal do Porto, mas não entregou para a população, que é a verdadeira dona, entregou para a Bemisa, que vai explorá-la durante muitos anos", conclui.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Inédito: Federações do sistema de Justiça brasileiro declaram apoio a Lula


Em carta aberta, Fenajud, Fenajufe e Fenamp, as três entidades que representam trabalhadores sistema de Justiça no Brasil, se posicionam com relação às eleições pela primeira vez na história; leia o documento

Lula.Créditos: Ricardo Stuckert
Escrito en POLÍTICA el 24/10/2022 · 21:25 hs



Pela primeira vez na história, as três entidades que representam servidores do sistema de Justiça no Brasil se posicionaram com relação às eleições e declararam apoio a um candidato: Lula (PT).

O posicionamento está em carta aberta divulgada nesta segunda-feira (24). O documento é assinado pela Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados (Fenajud), Federação Nacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajufe) e Federação Nacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores dos Ministérios Públicos Estaduais (Fenamp).

As entidades iniciam a carta afirmando que apoiam Lula "considerando que o governo Bolsonaro foi responsável pelo congelamento de dois anos dos salários e auxílios do funcionalismo público e pretende, se reeleito, implementar uma reforma administrativa, por meio da PEC Nº 32 de 2020, para retirar direitos dos servidores, facilitar a demissão de efetivos e ampliar as contratações sem concurso público, fragilizando as relações trabalhistas no setor público e o serviço prestado à população”.

O documento ainda destaca que esta posição se dá devido ao “atual cenário político-eleitoral, no qual imperam ameaças à democracia, às instituições da República, à soberania nacional, ao patrimônio nacional, aos direitos alcançados pelos trabalhadores e às trabalhadoras brasileiras pelo atual presidente [...] as conquistas sociais e civilizatórias estão sendo destruídas, quando as mulheres, os negros, as populações indígenas, a comunidade LGBTQiA+, os quilombolas, os povos e comunidades tradicionais estão sendo, sistematicamente, vilipendiados em seus direitos”.

Segundo as federações, ao apoiar Lula, elas estarão "contribuindo com o processo de reconstrução do Brasil, a partir de um novo governo, centrado na defesa e ampliação dos direitos sociais, trabalhistas e da soberania nacional, na aplicação de políticas econômicas que possam patrocinar o crescimento econômico com sustentabilidade ambiental, que valorize e proteja o mundo do trabalho, que realmente incentive as políticas públicas para a educação, a saúde e demais prioridades sociais, que respeite a diversidade religiosa e cultural de nosso povo, que seja um incondicional defensor da democracia, valores e das instituições da República, conforme registrados em seu plano de governo, entre outros atributos, completamente ausentes em relação ao candidato que pretende à reeleição".


segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Padre preso por abuso sexual foi afastado por assediar filhos de PMs


Tenente e sacerdote do ordinariado militar do Distrito Federal, Jerfson dos Santos, é alvo de apuração por assédio cometido contra jovens


24/10/2022 2:00, atualizado 24/10/2022 9:22
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O padre Jerfson dos Santos e Santos, tenente e sacerdote do ordinariado militar do Distrito Federal, preso, em flagrante, por abusar sexualmente de um adolescente de 16 anos, já havia sido afastado de suas funções na capelania da corporação por denúncias envolvendo crimes sexuais.


O oficial é alvo, desde o final de 2021, de apurações conduzidas pelo Departamento de Controle e Correição (DCC) da Polícia Militar que investiga denúncias que o acusam de assediar filhos de colegas que frequentavam as missas celebradas pelo religioso. Em um dos casos, o padre teria convidado o filho de um dos policiais que frequentava a igreja para viajar com ele até Caldas Novas.

Após as denúncias, o então bispo militar afastou Jerfson até que as investigações fossem concluídas. Na última sexta-feira (21/10), o padre acabou preso por importunação sexual contra um adolescente que vendia bombons, em Águas Claras, próximo ao prédio onde o religioso morava.

Veja imagens do padre preso por importunação sexual:

O padre havia sido afastado após denúncias de abuso sexual

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O caso é alvo de apuração na corregedoria da PM
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O padre teria convidado o filho de um militar para viajar com ele para Caldas NovasReprodução
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As denúncias dão conta que o padre assediava filhos de policiais militaresReprodução


O caso é apurado pela 21ª Delegacia de PolíciaReprodução
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O sacerdote é acusado por um adolescente de 16 anos de ter oferecido dinheiro em troca de sexoReprodução


O padre havia sido afastado após denúncias de abuso sexualReprodução


O caso é alvo de apuração na corregedoria da PMReprodução
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Importunação sexual

No último episódio, o adolescente supostamente assediado pelo padre disse à polícia que vendia bombons quando o militar se aproximou com o carro e falou que levaria os chocolates, mas, como não tinha dinheiro vivo no momento, o jovem teria que ir até o apartamento do policial, que ficava perto do local. Acreditando no religioso, o menino entrou no carro e começou a observar atitudes suspeitas.

Primeiro, o homem ofereceu o carro para ele dirigir. Depois, indicou onde morava, subiu ao apartamento com o garoto e começou a passar as mãos no corpo dele. O padre ainda disse que daria um dinheiro pelos bombons e que queria um “brinde”, se referindo a algum ato sexual.

A vítima conta ainda que conseguiu convencer o militar de ir embora, mas que ele ofereceu ao garoto uma carona até a estação de metrô. Voltando ao carro, o padre teria dado novamente a direção ao menino, que, em certo ponto, disse que um pneu estava furado. Quando o militar saiu para conferir, o adolescente acelerou e pediu ajuda para quem estava por perto.
Abusos sofrido

Orientado sobre ir até uma delegacia, ele chegou na 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) e relatou os abusos sofridos. Como o padre tinha a chave de pix do menino com o número de celular, passou a enviar mensagens ao garoto com ameaças, dizendo que ele teria problemas caso não devolvesse o carro ou contasse a situação para a polícia.

Foi combinado que a vítima do abuso deixaria o veículo no estacionamento de um supermercado de Águas Claras. No local, policiais civis esperaram o tenente da PM. Abordado, ele acabou preso em flagrante com base no depoimento e nos prints da conversa.
Versão do PM

Padre e militar da PMDF, o acusado negou o crime e contou uma versão diferente na delegacia. Ele disse que estava em Taguatinga Norte para ir ao mercado, mas não soube detalhar o nome do estabelecimento. Por perto, viu o garoto vendendo os bombons, parou e se ofereceu para comprar uma caixa inteira, mas sugeriu que o adolescente passasse a trabalhar em Águas Claras, onde o fluxo de pessoas era maior.

Segundo ele, o garoto disse que morava em Águas Lindas e não sabia como chegar lá. O padre, então, teria oferecido carona. O militar ainda argumenta que foi o menino que pediu para dirigir e só deixou porque achou que ele teria 18 anos.

Sobre a importunação sexual, o padre alegou que apenas pegou na perna do garoto dentro do carro, dizendo que ele dirigia muito bem, porque estaria surpreso com a habilidade. Outra parte da história contada na delegacia que chamou atenção foi a descrição de como eles foram parar no apartamento.

O homem diz que o adolescente perguntou onde ele morava e indicou o caminho. Quando o carro se aproximou do portão da garagem do prédio, ele teria aberto sozinho, por causa de uma TAG de identificação veicular. O acusado também se defende contando que foi o garoto que pediu para subir e, dentro da casa, teria prometido “algo a mais” caso ele comprasse todos os bombons, que seriam favores sexuais.

O padre ainda conta, na versão, que teria recebido uma proposta sexual do garoto por R$ 500. Sobre o furto do carro, ele diz que chegou a ligar para a PM, mas desistiu de formalizar a denúncia quando recebeu mensagem do garoto negociando a entrega.
Preso

Os prints das mensagens trocadas entre os dois foram anexadas ao processo e um primo da vítima foi contatado. A prisão do padre foi informada à corregedoria da Polícia Militar e um PM foi até a delegacia. Ele conduziu o autuado ao 19° Batalhão de PMDF. O padre foi nomeado como capelão militar da PMDF em janeiro de 2020.

O que diz a PMDF

Em nota, a PMDF disse que o capelão encontrava-se afastado de suas funções no âmbito da Polícia Militar e da igreja, aguardando decisão de processo que tramitava no âmbito da Igreja Católica.

“Ao ser acionada, a Polícia Militar prontamente deslocou à delegacia para as providências cabíveis. Cabe salientar que nossa Bicentenária Corporação está nas ruas 24 horas por dia, 07 dias por semana, em todas as Regiões Administrativas, para bem servir e proteger a Sociedade da Capital e não coaduna com fatos que sejam contrários a legislação e regulamentos em vigor”, destacou a corporação.

José Dirceu foi cassado, condenado e preso apenas em razão da palavra do bandido Roberto Jefferson

"Consciência tranquila", disse o ex-ministro

24 de outubro de 2022, 04:52 h Atualizado em 24 de outubro de 2022, 10:16
Roberto Jefferson e José Dirceu (Foto: Reprodução | Lula Marques)


247 – O ex-ministro José Dirceu ficou estarrecido com as cenas de ontem, em que o bandido bolsonarista Roberto Jefferson tentou assassinar policiais federais com tiros de fuzil e granadas. Em mensagem aos amigos, ele afirmou que saiu do governo, foi condenado e preso apenas com base nas palavras deste marginal, a partir da teoria do chamado 'domínio do fato'. "Eu aqui com minha consciência relembrando como tudo começou", afirmou. Confira ainda a mensagem do jornalista Breno Altman:


domingo, 23 de outubro de 2022

DESTRAMBELHOU DE VEZ - Roberto Jefferson troca tiros com PF e agente é baleado

Roberto Jefferson troca tiros com PF e agente é baleado
Jefferson usou câmeras do circuito de segurança para monitorar a movimentação da equipe formada por três agentes, que estavam na sua porta


23/10/2022 13:04, atualizado 23/10/2022 13:06

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Um agente da Polícia Federal foi baleado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) durante o cumprimento de mandado de prisão, neste domingo (23/10) na casa do ex-paralamentar, em Levy Gasparian, no Rio de Janeiro. Ainda não se sabe a gravidade dos ferimentos do policial. A informação foi confirmada pela corporação ao Metrópoles.

Jefferson usou câmeras do circuito interno de segurança para monitorar a movimentação da equipe formada por três agentes, que estavam na porta de sua propriedade. Assim que a viatura parou na frente do portão, o ex-presidente nacional do PTB passou a filmar a tela da TV que transmitia as imagens.

Irritado, Jefferson afirmava que não iria se entregar e decidiu abrir fogo contra a viatura. O parabrisas foi estilhaçado pelos disparos.

GOLPE E TAPEAÇÃO - Dentre os valores morais, destacam-se a probidade e a boa-fé

A boa-fé ou, de outro vértice, o dolo, é o elemento subjetivo que caracteriza um comportamento louvável ou reprovável. 

Ele revela a intenção de quem age, ou omite-se, de modo que se possa aplaudir e aceitar, ou, de outra banda, repelir.

Eleitores e políticos por eles escolhidos - salvo exceções guiadas unicamente por interesses pessoais - firmam uma espécie de contrato social bilateral, que deveria ser respeitado por aqueles que irão representar o povo .

O mesmo raciocínio serve para os crentes em relação aos pregadores. O crente firma um contrato tácito com o padre, o pastor, o bispo, no sentido de que - comportando-se decentemente e principalmente pagando o dízimo - terá garantido seu lugar à mão direita de Deus pai, todo poderoso, criador do céu e da terra.

Os contratos, de modo geral, devem pautar-se por certos princípios, dentre eles os da probidade e da boa-fé.

Mas grande parte dos políticos e pregadores apenas faz de conta que se guiará por tais princípios, enganando pessoas ingênuas, que neles confiam, pois, como disse JOSÉ DO PATROCÍNIO (A campanha abolicionista), são indivíduos suficientemente pouco escrupulosos - pessoas descaradas, sem moral alguma, fingidamente religiosas - para aproveitarem-se da boa fé dos aliados.

Nisso reside a grande dificuldade para se votar, confiando em sujeitos que apresentam um passado e/ou presente nebuloso, temerário, cheio de segredos inconfessáveis, fatos que se impede de virem ao conhecimento público, por força de sigilo imposto por até 100 anos.

Quem usa de sua inteligência - mesmo que não tenha muita - para articular  mentiras mirabolantes e que resultam em danos ao povo, notadamente às pessoas simples, ingênuas por falta de malícia, é um indivíduo que nunca se emendará. É de índole ruim e ninguém conseguirá demovê-lo do perpétuo intento de levar vantagem, em detrimento dos outros.

O pior é a malícia, sim, a malícia da inteligência. A fraude da inteligência” - TOLSTOI - Anna Karenina.

Para arrematar, vale lembrar lição do gaúcho MANOELITO DE ORNELLAS - Máscaras e murais de minha terra/ Of. Gráf. da Liv. do Globo S.A./P. Alegre/1968, p. 85 -, que escreveu, com extraordinária precisão: o assalto à boa-fé chama-se hoje de golpe e à simulação descarada dá-se o nome de tapeação.

SANTA EDUWIGES



Se Bolsonaro reeleger-se a santa que mais ganhará devotos no Brasil será Eduwiges.

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Santa Edwiges: a nobre que se tornou santa porque pagava dívidas de quem não podia
Edison Veiga
De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
15 outubro 2022

Legenda da foto,

Canonizada em 1267 pelo papa Clemente 4º (1190-1268), Santa Edwiges tornou-se a padroeira dos pobres e endividados.


Conta-se que isso tenha ocorrido quando ela já era uma senhora viúva e havia decidido morar em um mosteiro — em Trzebnica, atual Polônia. Habituada a praticar obras de caridade, Edwiges de Andechs (1174-1243) foi visitar um presídio e surpreendeu-se ao saber que boa parte dos detidos ali havia perdido a liberdade pelo mesmo motivo: incapacidade de pagar dívidas.

Ela fez disso uma missão. Passou a saldar os calotes em nome dos presidiários e, em alguns casos, negociar o perdão com os credores. Assim, entendia ela, aqueles homens poderiam recomeçar suas vidas, sem deixar desamparadas suas famílias. Ciente de que apenas isso não seria suficiente, Edwiges também ajudava esses ex-prisioneiros a conseguir emprego.

Canonizada em 1267 pelo papa Clemente 4º (1190-1268), Santa Edwiges tornou-se a padroeira dos pobres e endividados. "Adquiriu fama como protetora dos endividados porque, quando algumas pessoas estavam nessa situação, ou presos, não podendo pagar os débitos financeiros que haviam contraído, ela saldava as dívidas com seu próprio dinheiro, ou obtinha o perdão para os devedores", ressalta o padre Antônio Lúcio da Silva Lima, autor do livro Santa Edwiges - Novena (Paulus Editora).

Ao que tudo indica, esse comportamento de auxiliar financeiramente os pobres, embora intensificado depois dessa visita ao presídio, já era parte de seu dia a dia. De origem nobre, ela se casou aos 12 anos com Henrique 1º, o Barbudo (1165-1238), príncipe da Silésia — hoje parte da Polônia. Isso fez dela uma mulher poderosa. Mas os relatos da época indicam que ela colocava seus bens materiais à disposição de quem mais precisasse.

"Santa Edwiges tornou-se conhecida no mundo inteiro como a mãe dos pobres e padroeira dos endividados, pois a ninguém ela negou auxílio e proteção. É invocada como a padroeira dos endividados em razão da benevolência com que tratava os súditos, que não tinham como pagar as obrigações a ela devidas", comenta o escritor e teólogo J. Alves, autor do livro Santa Edwiges — Novena e Biografia (Editora Paulinas).


"Tantas foram as dívidas perdoadas que o capelão, administrador de seus bens, um dia reclamou dizendo que, se continuasse aquela situação, pouco sobraria para seus servidores. Santa Edwiges disse-lhe para não se preocupar, pois para as pessoas consagradas como ele, Deus haveria de prover", conta Alves. "Ela própria acompanhava os acertos de contas dos súditos, determinando que fossem tratados com benevolência todos os que se achavam em desespero, por não conseguir pagar as dívidas."

Legenda da foto,

Santa Edwiges, em ilustração atribuída a Jan Matejko, feita no século 19

Biografia


Nascida em Andechs, na Baviera — atualmente, parte da Alemanha —, Edwiges era filha de um duque. "Sua infância e pré-adolescência se deu em ambiente de luxo e riqueza", pontua José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia e professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Ceará.
Segundo padre Lima, "desde pequena" ela dava "sinais de seu despego material".

Do casamento com o príncipe Henrique 1º, nasceram sete filhos — ou seis, conforme cada biógrafo. "Humilde, inteligente, esposa dedicada e temente a Deus, ela cuidou da formação religiosa dos filhos e do marido", acrescenta Lira.

"Conta que ela teve forte influência nas decisões políticas tomadas pelo marido, interferindo na elaboração de leis mais justas para o povo e, junto com ele, construiu igrejas, mosteiros, hospitais, conventos e escolas."

Essa postura religiosa e social teria sido praticada pelos nobres enquanto política a partir do oitavo ano do casamento deles. "Edwiges sentiu o chamado de Jesus e, após conversar com o marido, os dois decidiram seguir o Senhor e construir hospitais, mosteiros, escolas e igrejas", diz o padre Lima.

J. Alves ressalta que, mesmo sendo "riquíssima e cheia de privilégios", Edwiges "despojou-se de seus bens e viveu como se nada possuísse". "Educada na disciplina monástica, distinguiu-se pelo amor à oração, à leitura da Bíblia e à eucaristia. Submetia-se, em segredo, a rigorosas penitências, mortificando o corpo com frequentes jejuns e cilícios [objetos para incomodar a pele] de crina de cavalo sob as vestes."

Quando ela tinha 32 anos, atendendo ao que acreditava ser uma orientação divina, decidiu fazer votos de castidade. "Obteve o respeito do marido", frisa Lira. "O voto teria sido feito diante de um bispo."

De acordo com Alves, a decisão foi tomada em comum acordo pelo casal. "Passaram a morar em residências separadas e só se encontravam por ocasião de atos políticos e sociais importantes. Henrique, a exemplo dela, adotou um estilo de vida simples e austero, vestindo-se como monge, despojando-se do ouro. Deixou a barba crescer, à moda dos convertidos, sendo por isso chamado de Henrique, o Barbudo", comenta ele.

O mosteiro feminino

"Em toda a sua vida, Edwiges praticou a caridade. Quando ficou viúva, em 1238, foi morar no mosteiro de Trzebnica, acatando os votos da vida religiosa. Dedicando-se a Deus, à oração e aos mais necessitados, trilhando a estrada que a levou ao paraíso e a constituiu padroeira dos pobres, da família e dos endividados", diz Lira.

"[No mosteiro], continuou a servir os carentes e enfermos", recorda Lima. "Uma vida dedicada à caridade. Ela tinha o dom da profecia e [praticava] milagres em enfermos. Era conhecida por ajudar os mais pobre se carentes, reconhecida por quitar dívidas de pessoas que recebiam sua assistência."

A casa religiosa, mantida por monjas da ordem cisterciense, havia sido fundada graças ao empenho dela mesma junto ao marido. Segundo consta o texto do Martirológio Romano, na sinopse biográfica que justifica sua canonização, na ocasião a abadessa era uma de suas filhas, chamada Gertrudes.

Alves conta que o mosteiro, o primeiro feminino da região, foi desde o princípio transformado por Edwiges em um lugar "de caridade, de esmola e de proteção aos pobres". "Ela não apenas sustentava as monjas, mas ali abrigava numerosos religiosos, doentes, viúvas e crianças desamparadas", afirma o teólogo.


CRÉDITO,DIVULGAÇÃO/ED. PAULUS
Legenda da foto,

Capa de livro sobre Santa Edwiges, publicado pela editora Paulus

Motivações de sua popularidade

A devoção a Santa Edwiges foi trazida ao Brasil pela colonização portuguesa. "Quando o Brasil foi 'descoberto', ela tinha pouco mais de 230 anos de canonizada. A divulgação dos santos católicos era muito forte naquela época e Portugal era extremamente católico, logo a devoção deve ter vindo com os primeiros colonizadores e se popularizado por conta do testemunho de vida dela e da proteção aos endividados", analisa Lira. Aqui, ela se tornou uma das mais famosas santas do catolicismo. Lira acredita que isso se deu devido "ao forte apelo" por conta de sua "proteção aos endividados".

Alves observa que a devoção a ela, dentre os católicos brasileiros, cresce "em todas as classes sociais". Como ela é celebrada em 16 de outubro, é comum que sempre no dia 16 de cada mês, "os devotos depositam a seus pés", ou seja, aos pés das imagens alusivas a ela no interior de igrejas, "pedidos e agradecimentos pelas graças alcançadas".

"Encontram nela o carinho e a proteção da mãe que, no desespero, acolhe o filho", comenta o teólogo.

"São numerosos os testemunhos de pessoas que, na aflição de não conseguir pagar as próprias dívidas, a ela recorreram e, prontamente, foram atendidos", acredita Alves. "Infelizmente, em um país em que o número dos endividados só tende a aumentar a cada dia, é natural que os devotos recorram àquela que passou a vida inteira ajudando os pobres e visitando os prisioneiros que não tinham como pagar suas dívidas."


Padre Lima destaca que, em "tempos difíceis na economia", a santa "continua sendo invocada com muita fé pelos devotos". "Ela que, sendo de família nobre, fez-se pobre para assistir aos necessitados, não deixa de ser uma referência para tantas pessoas que suplicam sua proteção e ajuda", destaca ele.

"Basta sairmos de nossas casas, sobretudo nas grandes cidades, e enxergarmos um cenário de muita miséria: tropeçamos em pessoas que vivem nas ruas, nas praças, debaixo dos viadutos, em tendas… Elas não têm com quem contar, a não ser suplicar aos céus, por intercessão de Santa Edwiges, para que surja uma 'luz no fim do túnel' para terem de volta a sua dignidade de filhos e filhas de Deus resgatada", afirma Lima.

O cenário de pobreza favorece esse tipo de devoção, sobretudo quando o poder público não cumpre o necessário para dar condições dignas de vida aos mais pobres. "Os nossos políticos, ainda mais agora em tempo de eleição, falam bonito e prometem o impossível. Na verdade, os despossuídos de vida e dignidade continuam povoando as ruas por não terem as condições mínimas que a Constituição prescreve e lhes garante", diz ele. "Quando não se pode contar com os seus governantes e nem com o poder público, recorre-se aos céus. E, especificamente, a Santa Edwiges."

Na opinião dos especialistas, a mensagem que a vida de Santa Edwiges deixa para o mundo contemporâneo é a de que todos podem fazer o bem. E, assim, ajudar a transformar o mundo.

"Ela nos ensina que devemos ter um olhar compassivo e misericordioso para com todas as pessoas, sobretudo aquelas que perderam tudo, também sua dignidade como ser humano, e ajudá-las concretamente", pontua Lima. "Apenas comover-se com a realidade de miséria, pobreza e endividamento que assolam o nosso Brasil não vai resolver a questão. São necessárias políticas concretas para ajudar essa massa de anônimos e invisíveis da nossa sociedade."

"Santa Edwiges nos ensina, com a própria vida, a passarmos das boas intenções e bons propósitos a atitudes concretas", acrescenta o padre. "Ela, sendo nobre, não desprezou os pobres e necessitados. Servia-se dos seus bens materiais e dinheiro para aliviar o sofrimento das pessoas que estavam sobrevivendo à margem da vida. Ela nos pede para deixarmos de lado os nossos palavrórios vazios e inúteis e partirmos para ação concreta."

Para o professor Lira, a vida dessa santa é a prova de que "ser da nobreza e rica não impede uma pessoa de praticar a caridade, desenvolver o amor a Deus e a ele confiar sua existência auxiliando àquelas que mais necessitam material e espiritualmente".

"A mensagem de Santa Edwiges vai além das preocupações financeiras, do endividamento monetário que, durante algum tempo, podem nos tirar o sono e nos fazer entrar em desespero", argumenta Alves.

"Sua vida nos ensina que a dívida maior a ser resgata em nossa vida é a do amor a Deus e aos nossos irmãos e irmãs. Mostra que cada um de nós é devedor do amor e da misericórdia de Deus. Todos temos uma dívida impagável de amor para com Jesus que, por amor, deu sua vida por nós e pelo próximo. Temos também uma imensa dívida de amor para com o próximo, a quem podemos amar e por ele ser amados."


- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63264547