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domingo, 28 de fevereiro de 2021

MPF levanta informações para iniciar investigação sobre negócios do filho 04 de Bolsonaro


Publicado em 28 fevereiro, 2021 1:05 pm
Jair Renan Bolsonaro e o pai. Foto: Reprodução/Twitter


O presidente Jair Bolsonaro passou a ter uma nova dor de cabeça com um de seus filhos. O Ministério Público Federal (MPF) está levantando informações sobre os negócios de Renan Bolsonaro em Brasília. O “Zero Quatro” abriu uma empresa na capital federal e passou a intermediar encontros entre empresários e integrantes do governo. Conforme VEJA revelou, o jovem empreendedor chegou a acionar a Presidência da República para marcar uma reunião de um de seus patrocinadores com representantes do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Após o caso vir à tona, o MPF recebeu denúncias de parlamentares da oposição ao governo e instaurou uma notícia de fato, procedimento preparatório para iniciar uma investigação. Para checar a veracidade das informações, procuradores do Distrito Federal solicitaram um levantamento de dados do filho do presidente, da empresa Bolsonaro JR Eventos e Mídia e de seus parceiros de negócios.

Ao solicitar essas diligências, o MPF quer saber se dois patrocinadores de Renan Bolsonaro firmaram contratos com o governo federal ou se receberam recursos públicos. Uma das empresas estava negociando, por meio do Zero Quatro, fechar um acordo com o Ministério do Desenvolvimento para construir casas populares de pedras. A outra, conforme revelou o jornal Folha de S. Paulo, prestou serviços de produção de vídeos aos ministérios da Saúde, da Educação e do Turismo.


O jovem empresário, que estava desempregado, fundou a sua empresa com um capital social de 105 000 reais. Uma parte desse dinheiro foi doada pelo advogado Luís Felipe Belmonte, suplente de senador e um dos dirigentes do Aliança pelo Brasil, o partido criado para abrigar Bolsonaro e seus aliados.

(…)

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/mpf-levanta-informacoes-para-iniciar-investigacao-sobre-negocios-do-filho-04-de-bolsonaro/

História da comunidade judaica de Santa Catarina




Associação Israelita Catarinense


A comunidade judaica em Santa Catarina começou a se estruturar a partir do final dos anos 1970, com a chegada de diversas famílias originárias principalmente de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, que foram em busca de uma melhor qualidade vida e novas oportunidades profissionais.

As famílias que mudaram para o Estado nos anos 1970 foram se aglutinando de maneira informal e acolhendo novos membros. Este processo de construção comunitária foi formalizado com a criação da Associação Israelita Catarinense – AIC, em 2 de junho de 1990, fundada por um grupo de cerca de 20 pessoas durante um encontro em Termas do Gravatal. A sede, no entanto, foi estabelecida em Florianópolis.

A este grupo inicial juntaram-se, nos anos seguintes, outros judeus que viviam em Florianópolis e em cidades próximas, além de imigrantes originários dos Estados Unidos, países da Europa e, principalmente, da América Latina.

As entidades judaicas fundadas no Estado e vinculadas à Associação Israelita Catarinense são a Wizo (Women International Zionist Organization), fundada em 1990, e o movimento juvenil Hashomer Hatzair, criado em 1997.

No censo comunitário realizado pela AIC, em 2005, foram cadastradas 150 famílias. O mesmo censo identificou algumas famílias em cidades como Joinville, Balneário Camboriú, Criciúma, Itajaí e Imbituba.

A AIC tem participação no governo municipal como parte integrante do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) e da Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Coppir) – ambos ligados à Secretaria de Desenvolvimento Social. As comunidades envolvidas são a negra, a judaica, a indígena, a árabe e a cigana.

Bibliografia:

Schweidson, Jacques. Judeus de Bombachas e Chimarrão. Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 1985.

Schweidson, Jacques. Saga Judaica na Ilha do Desterro: Orgulhoso de suas raízes. Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 1989.

Schucman, Lia Vainer. Produção de sentidos e a construção da identidade judaica em Florianópolis. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

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RIO GRANDE DO SUL | Porto Alegrehttp://www.firs.org.br

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DISTRITO FEDERAL | BrasíliaTelefone: (61) 3273-8255http://www.acibdf.org.br/

RIO DE JANEIRO | Rio de Janeirohttp://fierj.org

SÃO PAULO | São Paulohttps://www.fisesp.org.br/

São Paulo tem a segunda maior população judaica da América Latina


janeiro 23, 2012
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Saiba mais sobre a imigração judaica e projetos da comunidade que beneficiam a sociedade em geral

Uma das maiores riquezas da cidade de São Paulo é a convivência pacífica entre todas as comunidades, religião e raças que vivem em nosso Estado. Este foi um dos motivos responsáveis pela imigração de judeus para São Paulo, que teve início no final do século 19 e hoje é a segunda maior população judaica da América Latina perdendo apenas para Buenos Aires.

O contexto paulista de intenso crescimento urbano e econômico dos primeiros anos do século 20 e o ambiente de uma cidade cosmopolita, culturalmente aberta e receptiva e com uma população significativa de imigrantes atraíram a imigração judaica, que deixava para trás as más condições de vida nos países de origem e episódios de anti-semitismo e de perseguições. Restrições imigratórias nos Estados Unidos, Canadá e Argentina tornaram o Brasil, particularmente São Paulo, um destinopreferencial destes imigrantes. (dados do historiador Roney Cytrynovicz extraídos do site (www.fisesp.org.br).

Nas primeiras décadas do século XX, boa parte dos judeus asquenazis (de origem europeia) se estabeleceram no bairro do Bom Retiro, enquanto muitos sefaradis (de origem do norte da África, Portugal e Espanha) moravam e trabalhavam nos bairros da Mooca e do Brás

De acordo com a Federação Israelita do Estado de São Paulo, entidade representativa da comunidade judaica, no início da década de 1930 havia em São Paulo entre 15 a 20 mil judeus. Estima-se que este número é atualmente de 65 mil somente no Estado de São Paulo e cerca de 110 mil em todo o Brasil.

Pouco familiarizados com os hábitos brasileiros e, provavelmente, marcados pela exclusão vivida em suas sociedades de origem, os imigrantes judeus recriaram no Brasil a intensa vida cultural e política de que desfrutavam anteriormente: fundaram jornais, bibliotecas, escolas, sinagogas, associações femininas de ajuda mútua e de apoio a recém-chegados e preocuparam-se em criar instituições que cumprissem a função de unir e fortalecer a comunidade judaica brasileira.

De acordo com Mario Fleck, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, “a inexistência de movimentos anti-semitas ou práticas discriminatórias significativas no Brasil contribuiu para a identificação geral dos judeus como brasileiros de classe média e para a manutenção de muitos vínculos que ainda ligam a comunidade judaica”.

Trabalho de entidades judaicas beneficiam a sociedade em geral

Centro Israelita de Assistência ao Menor (CIAM) – ‘Entidade que presta serviços a pessoas com necessidades especiais, favorecendo a inclusão social em um processo contínuo de aperfeiçoamento organizacional. O CIAM funciona hoje em duas unidades- Centro de Educação e Desenvolvimento (CED), onde atende cerca de 130 educandos, e Aldeia da Esperança, que desenvolve um programa, pioneiro e único no Brasil, de moradia assistida vitalícia para pessoas com necessidades especiais e com distúrbios psiquiátricos. www.ciam.org.br

Ten Yad – A Instituição Beneficente Israelita Ten Yad vem lutando para alimentar pessoas, através de programas de assistência alimentar gratuita. De todo o seu trabalho filantrópico, destaca-se o “Meals on Wheels” (Refeições Sobre Rodas), um inédito programa de entrega de refeições quentes. www.tenyad.org.br

União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (UNIBES) – ‘A UNIBES promove atendimento global a crianças e adultos, chegando a atingir a um público de 6 mil pessoas por ano, através de suas áreas de Infância e Adolescência e de seu Departamento de Serviço Social. Possui serviços diversos na área de assistência a saúde, bazar beneficente e outros. www.unibes.org.br

Lar das Crianças da Congregação Israelita Paulista: Atende crianças dos 3 aos 15 anos, independente de raça ou religião, proporcionando-lhes educação, através do encaminhamento para escolas públicas ou particulares, além de acompanhamentos psicológico, fonoaudiológico, pedagógico e tratamento médicos gratuitos. Sempre, buscando proporcionar tudo o que uma criança necessita para crescer com carinho, amor, segurança e dignidade. www.cip.org.br/lardascriancas

Projeto Felicidade – O Projeto Felicidade proporciona uma semana de diversão e alegria, incluindo hospedagem em hotéis, transporte, alimentação e passeios, para que crianças carentes com câncer possam resgatar o amor próprio e adquirir forcas para continuarem sua luta contra o câncer. www.felicidade.org.br

Oficina Abrigada de Trabalho (OAT)– É mantida pela Comunidade Shalom, da Liga Israelita do Brasil, onde sua principal missão é capacitar jovens e adultos, portadores de deficiência mental, em suas diversas oficinas de trabalho, inserindo-os no mercado de trabalho à medida que estejam em condições de cumprir seu papel como cidadãos trabalhadores. Possui cinco oficinas, a saber: de papel reciclado, de papelaria, de velas e sabonetes, gráfica e seqüencial industrial. www.oat.org.br

Dados sobre a comunidade judaica no Brasil e em São Paulo

No Brasil: 110 mil judeus
No Estado de São Paulo: 65 mil judeus
Na Capital: 60 mil judeus
São Paulo tem a segunda maior população judaica da América Latina perdendo apenas para Buenos Aires
Número de Sinagogas: 45
Número de Rabinos: 180
Porcentagem de judeus ortodoxos: 15%

Fonte: https://www.fisesp.org.br/2012/01/23/sao-paulo-tem-a-segunda-maior-populacao-judaica-da-america-latina/

Após acordo com CJM, Mercado Livre cancela venda de livros e objetos antissemitas




MUNDO JTA/FORWARD

25 de fevereiro de 2021


O Mercado Livre, o maior varejista on-line da América Latina, está removendo de sua loja objetos antissemitas colocados à venda.

A empresa está removendo livros como “Mein Kampf” e “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, além de moedas, pôsteres e outros itens nazistas.

Em 11 de fevereiro, o varejista divulgou um acordo que assinou com uma filial regional do Congresso Judaico Mundial (CJM) para trabalhar no combate ao antissemitismo. Como parte de uma estratégia conjunta, as duas organizações trabalharão para identificar outras publicações na plataforma que incitem discursos de ódio racial.

“Pelo nosso papel social nos 18 países da região onde operamos, confiamos que demos mais um passo para a erradicação do ódio racial e do antissemitismo”, disse Jacobo Cohen Imach, vice-presidente de assuntos jurídicos do Mercado Livre.

Fundado em 1999 pelo argentino Marcos Galperin, o Mercado Libre atua na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Salvador, Uruguai e Venezuela . O acordo com o CJM afeta as operações em todos esses mercados, onde é mais popular do que a gigante do comércio eletrônico Amazon.

“Trabalhar pela coexistência e contra o discurso de ódio é responsabilidade de toda a sociedade. Alianças como esta entre organizações da sociedade civil e empresas de tecnologia são de grande valor neste sentido”, disse Ariel Seidler, diretor de programa do Congresso Judaico da América Latina e chefe do Observatório da Web, um programa lançado pelo CJM para remover conteúdo antissemita de sites de língua espanhola.

Foto: Divulgação

Fonte: https://www.conib.org.br/apos-acordo-com-cjm-mercado-livre-cancela-venda-de-livros-e-objetos-antissemitas/

LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELATIVIZADA - Projeto em análise na Câmara dos Deputados criminaliza a negação do Holocausto



DAVID GANNON/ AFP

BRASIL LARA HAJE, CÂMARA DOS DEPUTADOS

26 de fevereiro de 2021

Projeto de Lei 4974/20, de autoria do deputado Roberto de Lucena (Pode-SP), criminaliza a negação, promoção, depreciação ou trivialização do Holocausto judeu, com pena prevista de reclusão de dois a cinco anos e multa. 

O Holocausto foi o genocídio ou assassinato em massa de mais de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Em análise na Câmara dos Deputados, a proposta altera a Lei do Racismo. Pelo texto, obliterar ou silenciar a memória do Holocausto judeu, por exemplo, terá a mesma pena.

“A negação do Holocausto, além de uma falácia histórica absurda, é uma forma de ofender a memória e o sofrimento do povo judeu”, afirma o deputado Roberto de Lucena (Pode-SP), autor da proposta.

“Preservar e respeitar o real significado do Holocausto serve não apenas para fazer justiça aos 1,3 milhão de mortos (*), mas também converte-se em parâmetro fiel de memória histórica, não apenas do povo judeu, mas da humanidade”, complementa.

Hoje a Lei do Racismo já pune com reclusão de dois a cinco anos e multa quem fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Pela proposta, a pena valerá também para o uso de quaisquer outros símbolos, distintivos, publicações ou propagandas, para fins de divulgação ou promoção do nazismo ou de suas ideologias associadas.

“A suástica é um dos símbolos do nazismo e não o único, sendo todas as suas manifestações artísticas, plásticas, musicais, literárias, também peças dessa ideologia e que, a depender do contexto, devem ser consideradas como elementos de propaganda nazista”, ressalta Roberto de Lucena.

Ainda conforme o texto, ato do Ministério da Educação definirá a forma como símbolos, expressões artísticas ou publicações alusivas ao nazismo e ideologias associadas poderão ser fabricados, expostos, comercializados, distribuídos ou veiculados, quando necessários ao fomento do conhecimento histórico.

O projeto será analisado pelas comissões de Educação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania; antes de seguir para o Plenário da Câmara.

Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados

Fonte: https://www.conib.org.br/projeto-em-analise-na-camara-dos-deputados-criminaliza-a-negacao-do-holocausto/


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(*) - Negando os 6 milhões? 

O JOGO DO PRENDE-E-SOLTA - Como o doleiro Chaaya Moghrabi escapou três vezes da prisão

 

ALLAN DE ABREU
23fev2021_09h52

Intervenção de Paula Cardoso sobre fotos Pedro Ladeira/Folhapress



Na manhã de 10 de novembro de 2020, quando os primeiros raios de sol despontavam no bairro paulistano de Santa Cecília, a procuradora Fabiana Schneider, então membro da Lava Jato do Rio de Janeiro, acionou o interfone de um suntuoso edifício na Rua Emílio de Menezes. Ela estava acompanhada por um delegado, dois agentes e um escrivão da Polícia Federal. O objetivo era cumprir um mandado de busca e apreensão no apartamento 41, onde morava o libanês naturalizado brasileiro Chaaya Moghrabi, considerado um dos maiores doleiros de São Paulo.


A equipe foi recebida pelo zelador e pelos seguranças do prédio. Depois de passar por dois portões, o grupo se dividiu. O delegado caminhou para a garagem, a fim de evitar que o doleiro escapasse por ali, e a procuradora subiu até o apartamento com os demais policiais. Usaram o elevador de carga, já que o de serviço só é ativado com as digitais dos próprios moradores. No quarto andar, Schneider constatou que não conseguiria arrombar as portas blindadas do imóvel de Moghrabi. Enquanto ela tocava insistentemente a campainha, o delegado, ainda na garagem, ouviu o doleiro gritar para sua mulher: “Não abre a porta!”

Somente depois de vinte minutos é que Moghrabi permitiu que a equipe entrasse no apartamento. “Cadê o celular?”, perguntou a procuradora logo de cara. O doleiro – à época, com 53 anos – foi até a cozinha e entregou um iPhone a Schneider. Mas o aparelho estava sem nenhuma informação. Provavelmente, o investigado apagou tudo enquanto pedia para a esposa não abrir a porta. De volta ao Rio, a procuradora reuniu-se com colegas que integravam a força-tarefa da Lava Jato. Juntos, concluíram se tratar de um típico caso de obstrução de Justiça. Só não solicitaram a prisão preventiva do doleiro porque o Brasil estava em período eleitoral, quando são permitidas apenas prisões em flagrante.

Quase um mês e meio depois, na manhã de 18 de dezembro, Schneider e os policiais retornaram ao prédio de Santa Cecília, agora com um mandado de prisão contra Moghrabi, assinado pela juíza substituta Caroline Vieira Figueiredo, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. O libanês, porém, já não se encontrava lá. Na garagem, os policiais constataram a falta de um dos três automóveis do doleiro. Como sabiam a placa do carro, decidiram rastreá-lo via Sivem, o Sistema de Identificação de Veículos em Movimento, formado por câmeras instaladas ao longo das rodovias brasileiras. A PF descobriu, assim, que Moghrabi estava em Angra dos Reis, no litoral fluminense. Vasculhando os hotéis mais nobres da cidade, os agentes localizaram o doleiro na piscina de um deles. Ao vê-los, o libanês começou a dizer que estava se sentindo mal. Foi levado para um ambulatório de Angra. Depois, já a caminho do Rio, soube que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinara sua soltura.

Era a terceira vez que o ministro do STF libertava o investigado. Sob a ótica de Mendes, nada justificava deter o doleiro em dezembro de 2020, nem mesmo a alegação de que o libanês já tentara obstruir a Justiça. Conforme o ministro escreveu em sua terceira decisão, “a demora de vinte minutos para abrir a porta durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão [em novembro] não tem potencial de afetar o livre desenvolvimento das investigações para fins processuais ou penais, até porque o Estado possui a prerrogativa de promover o ingresso forçado no local, mediante arrombamento”. Mendes não levou em conta o fato de as portas do apartamento serem blindadas, nem se manifestou sobre o celular entregue à procuradora com todas as informações apagadas.


Filho de judeus ortodoxos, Chaaya Moghrabi nasceu em Beirute, capital do Líbano, mas chegou a São Paulo ainda jovem. Na década de 1990, começou a trocar reais por dólares para famílias que frequentavam as sinagogas de Higienópolis, bairro onde há uma grande comunidade judaica. Ele também exercia a atividade para clientes do Banco Safra, amealhados no breve período em que trabalhou na instituição.

Naquele tempo, Moghrabi costumava enviar dinheiro de origem ilícita para o exterior por meio de contas do tipo CC5, abertas sobretudo no Banestado, em Foz do Iguaçu (PR). De acordo com o Ministério Público Federal, ele remeteu ilegalmente 66,4 milhões de reais, em valores da época. No mesmo período, trocou 2,2 milhões de reais por dólares com Alberto Youssef, doleiro que mais tarde se tornaria um dos pivôs da Lava Jato. Por causa desse esquema, o libanês acabou condenado a dez anos e dez meses de detenção em 2015, mas os crimes acabaram prescritos, sem o cumprimento da pena.

No início dos anos 2000, Moghrabi expandiu sua clientela. Todos os dias, recolhia milhões de reais em cheques e dinheiro vivo no comércio popular da Rua 25 de Março e do Bom Retiro, bairro da área central de São Paulo. Depois de converter os valores em dólares, ele os mandava ilegalmente para contas indicadas pelos clientes no exterior. A posse de quantias milionárias em espécie logo atraiu a atenção da família Messer. Durante a década de 1990, Moghrabi mantivera negócios com um integrante do clã no Rio de Janeiro, o também judeu Mordko Messer. 
A partir de 2005, Claudio Barboza – braço direito de Dario Messer, doleiro que estava operando no Uruguai – passou a recorrer ao libanês quando necessitava de reais para entregar tanto a políticos quanto a empreiteiras que desejavam trazer de volta o dinheiro ilícito mantido fora do Brasil. 
Entre os políticos, figurava o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e, entre as empreiteiras, a Odebrecht. De 2011 a 2017, Moghrabi e a turma de Dario Messer movimentaram ilegalmente 239,7 milhões de dólares.

Em 2017, ao ser preso no Uruguai, Barboza assinou um acordo com a força-tarefa da Lava Jato e entregou aos procuradores um arquivo informatizado que registrava transações com doleiros do Brasil. Um deles era Moghrabi, que aparece na planilha sob os codinomes de Yasha ou Monza. O libanês virou, assim, um dos 53 alvos da Operação Câmbio, Desligo, deflagrada pela Polícia Federal em 3 de maio de 2018. 
Ele conseguiu despistar os agentes que o procuravam e se tornou foragido. Quase um ano depois, em março de 2019, o ministro Gilmar Mendes concedeu liminar em que substituía a prisão preventiva de Moghrabi e dos demais doleiros citados na Operação Câmbio, Desligo por medidas cautelares, como o pagamento de fiança de 5 milhões de reais e a proibição de deixar o Brasil ou manter contato com outros investigados.

Ainda assim, Moghrabi permaneceu fora do país até a madrugada de 3 de abril de 2019, quando foi detido no aeroporto de Montevidéu, vindo do Panamá (o nome dele continuava na lista de procurados da Interpol mesmo após Mendes relaxar sua prisão preventiva). 
Às 15h30 daquela quarta-feira, o advogado do doleiro, Alberto Toron, ingressou com um recurso no STF, argumentando que o libanês tinha viajado do Panamá até o Uruguai justamente porque pretendia ir de lá para o Brasil, onde se apresentaria à Justiça e entregaria o seu passaporte. O advogado também explicou que seu cliente já pagara a fiança estabelecida pela liminar de Mendes. Foram 1,5 milhão de reais em espécie e o restante oriundo da entrega de um imóvel pertencente ao pai do doleiro em São Paulo. Na verdade, a fiança havia sido depositada vinte minutos depois de a polícia deter o investigado no aeroporto uruguaio. 

O Supremo não respondeu ao recurso.

No dia 4 de abril, quinta-feira, o juiz Marcelo Bretas decretou nova prisão preventiva do libanês. Para o magistrado, o fato de Toron ter depositado a fiança logo após a prisão de seu cliente, e não antes, demonstrava, “no mínimo, a má-fé do investigado”. Bretas afirmou que a defesa de Moghrabi tinha conhecimento das medidas cautelares estipuladas em março, mas ficou quase um mês sem cumpri-las, “deixando a clara impressão de que somente pagou parte da fiança porque [o doleiro] foi preso no Uruguai”.

O advogado entrou com outro recurso no STF. Sem ouvir o Ministério Público, Gilmar Mendes determinou a soltura de Moghrabi, em liminar do dia 5 de abril. O ministro do Supremo avalizou a justificativa de que o libanês estava retornando ao Brasil para a entrega do passaporte. Afirmou, ainda, que a defesa do doleiro havia emitido a guia do depósito judicial da fiança em 1º de abril – antes, portanto, da prisão. Realmente, a guia foi gerada naquela data, mas o pagamento só ocorreu dois dias depois, quando o investigado já se encontrava detido no Uruguai.

Mendes aceitou o apartamento entregue como parte da fiança sem requerer avaliação independente do imóvel. “Quanto à necessidade de avaliação”, escreveu o ministro, “pode o Juízo determiná-la enquanto o paciente aguarda, em liberdade, o respectivo laudo.” O doleiro foi solto no dia 9 de abril e regressou ao Brasil.

Pouco mais tarde, o Ministério Público Federal pediu a Mendes que reconsiderasse a decisão, baseado numa nova informação: autoridades uruguaias haviam descoberto que o libanês reservara passagem de Montevidéu para o Panamá. Era um indicativo de que, quando desembarcou na capital do Uruguai, Moghrabi não pretendia retornar ao Brasil e se entregar. O ministro ignorou o pedido: “Não me parece razoável que ele prestaria a fiança e continuaria no exterior”, escreveu. Em dezembro de 2020, como já relatado, Mendes voltou a libertar o doleiro, após a prisão em Angra dos Reis. A piauí pediu um posicionamento sobre o caso ao gabinete do ministro, mas não obteve resposta.

Atualmente, Moghrabi é réu em cinco ações penais na Justiça Federal do Rio por associação criminosa, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Num dos processos, o libanês é acusado de lavar 118 mil dólares de propinas decorrentes de contratos na Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. 
Ao cumprir mandado de busca e apreensão na casa da mãe de Moghrabi, em São Paulo, no último dia 10 de novembro, policiais federais encontraram várias joias escondidas no teto de um dos quartos. Posteriormente, procuradores receberam do Ministério Público da Itália documentos que comprovam pagamentos feitos pelo doleiro a uma conhecida fabricante italiana de joias. Trata-se de um sinal de que Moghrabi imobilizava parte do seu capital ilícito em joias e pedras preciosas. Sua carteira de clientes no Brasil ainda é desconhecida pelos procuradores.

Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/o-jogo-do-prende-e-solta/

MAIS PARTIDO DO QUE NOVO - De olho em 2022, Amoêdo abre oposição tardia a Bolsonaro, e Novo racha antes de crescer




THAIS BILENKY
24fev2021_14h51

Ilustração de Carvall

Fundador e ex-candidato a presidente pelo partido Novo, João Amoêdo entrou em rota de colisão com deputados e outros quadros da agremiação ao se tornar um opositor irritado ao presidente Jair Bolsonaro. Eleitor de Bolsonaro em 2018 e rosto público do Novo, Amoêdo cobra uma “depuração” que afaste quem não seja explicitamente opositor ao governo. Quer que o partido defenda o impeachment do presidente, mesmo que isso leve a desfiliações de deputados e até do único governador da legenda, Romeu Zema, de Minas Gerais. Para o seu grupo, a “faxina” ajudará a posicionar o Novo nas eleições presidenciais de 2022 como um projeto de direita antibolsonarista, o qual o próprio Amoêdo não descarta encabeçar.


“As pessoas querem saber quem estão elegendo, o que a pessoa pensa, o que se propõe a fazer. Ninguém quer mais surpresa”, diz o ex-candidato. “Isso me favorece dentro do partido porque tenho sido muito enfático naquilo que defendo.”

Para adversários, Amoêdo foi “seduzido pela idolatria” e se vê como “dono” do partido Novo.

A tensão interna se elevou há um mês, quando Amoêdo passou a defender o impeachment de Bolsonaro em parceria com o Movimento Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre. Em uma reunião, o diretório nacional do Novo discutiu se apresentaria ou não um pedido à Câmara, o que gerou reação enérgica de deputados federais. Zema também foi a público protestar contra a possibilidade de ruptura pública com Bolsonaro. Governador do segundo maior colégio eleitoral do país, o mineiro tem boa relação com o Planalto e seu nome pode ser lembrado para a eleição presidencial de 2022, o que causaria uma disputa interna com Amoêdo. Por fim, o diretório nacional decidiu que não apresentaria pedido de impeachment.

A temperatura baixou, mas na semana passada as diferenças voltaram a se evidenciar, quando a bancada do Novo na Câmara votou contra a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), detido por ameaçar e ofender ministros do Supremo Tribunal Federal. Amoêdo se disse desapontado com o posicionamento. “É decepcionante que o partido não seja oposição ao desgoverno que temos hoje. Não era esse o papel que imaginávamos para o Novo quando da sua fundação”, escreveu o ex-presidenciável em rede social.

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) retrucou, verbalizando a indignação de colegas. “Pena que discorda! Mas prova que o partido Novo não tem dono, mas valores! Defender princípios liberais e a Constituição, mesmo que 1 dos 181 fundadores não os defenda mais, dá ORGULHO da bancada. Nem fanáticos a favor nem fanáticos contra: somos INDEPENDENTES!”, cutucou.

Uma dos cinco membros do diretório nacional, Patrícia Vianna atribui a “demora” da bancada federal a aderir a uma crítica consistente a Bolsonaro à proximidade com o poder em Brasília e ao medo das urnas. “Parte dos eleitores deles é bolsonarista, você fica preocupado com seus votos e likes, e parte quer ter espaço no Congresso, ser relator, participar mais ativamente de alguns projetos”, diz ela. “É um erro você se sentir refém, dizer ‘o cara não é muito bom, mas vou passar a mão na cabeça para conseguir algum espaço’. A gente não apoia isso.” A crítica é dirigida, por exemplo, a Van Hattem, que na Câmara se aproximou de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.



Aexpulsão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, do Novo, em maio do ano passado, atestou a disputa entre bolsonaristas e amoedistas. À época, Salles atribuiu a expulsão ao fato de ter aceitado o cargo no governo. “Amoêdo é o dono do Novo. Faz de conta que segue as regras de compliance do partido, mas exerce controle absoluto sobre tudo através dos membros do diretório nacional, que são todos ligados pessoalmente a ele e só fazem o que ele quer. A única chance de o Novo se libertar disso é trocar todo o diretório nacional”, disse o ministro.

Nesta semana, contudo, a interferência de Bolsonaro na Petrobras deixou até os deputados mais alinhados ao Palácio do Planalto sem saída. Ao rasgar sua já esgarçada cartilha liberal, com a qual se elegeu, o presidente unificou o discurso no Novo.

“É irresponsabilidade do presidente fazer uma troca desse jeito neste momento e com essa indicação”, ataca Van Hattem, referindo-se ao general Joaquim Silva e Luna, que assumirá a petroleira. “Tenho todo o respeito por militares, mas eles têm vocação e treinamento para a área da Defesa, não para cuidar de empresa de mercado. A prova está aí, ações despencando. Bolsonaro tinha que cumprir a promessa de campanha de privatizações.”

Para João Amoêdo, o discurso dos deputados do partido a favor de sua “independência” ameaça a “essência” do partido. “É importante que o Novo como instituição tenha unidade em temas centrais. Sua posição em relação ao governo deveria ser única, não dá para ter gente contra e gente a favor.” Quando declarou voto contra o PT no segundo turno da eleição de 2018, porém, ele próprio falou que adotaria uma “posição independente” em relação a Bolsonaro.

A bancada do Novo é uma das mais governistas na Câmara. Segundo o monitor Radar do Congresso, os oito deputados da legenda entregaram 82% dos votos como o Planalto pediu. Mesmo em pautas de costumes, e não apenas econômicas, as posições do Novo se mostraram alinhadas ao bolsonarismo. Os oito deputados foram contrários à convenção da OEA (Organização dos Estados Americanos) contra o racismo, ratificada pela Câmara em dezembro. Também se opuseram à criminalização do assédio moral no trabalho para não prejudicar empreendedores.

Amoêdo provocou os brios de deputados do Novo em outras ocasiões, como quando defendeu a obrigatoriedade da vacina no combate à Covid-19. A recíproca é verdadeira. “Desespera-se sempre que sente que os princípios e valores do Novo estão se perdendo entre os seus políticos com cargo eletivo”, diz Vianna.

“A saída é parar de achar que o partido tem dono. João acabou se encantando, ficou deslumbrado, seduzido por essa coisa meio perigosa de as pessoas se apaixonarem, transformarem-no em mito. A gente não pode aceitar isso”, criticou o deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP). Para ele, é chegada a hora de o partido ter um “novo líder”, já que Amoêdo é, em suas palavras, “desagregador”. Pior, continua Fonteyne, “ele agrediu os oito melhores deputados da Câmara, segundo o Ranking dos Políticos [os do Novo]. Se os oito não prestam para ele, quem presta? Ele se comporta como o guardião, é incoerente com princípios de liberdade”, protestou o deputado.

Candidato a vice na chapa de Amoêdo em 2018, Christian Lohbauer se tornou um adversário visceral interno na sigla e defende que o Novo “responda ao jogo bruto da política dentro do Parlamento e do governo de Minas”, liberando alianças. “O jogo que o João faz atrapalha tudo, porque a opinião dele, cinicamente, tem efeito sobre opinião pública”, ataca. “O verdadeiro projeto liberal do Brasil está no partido Novo, e o João é uma pecinha pequena nesse negócio, só que ganha projeção porque, em vez de ficar quieto, fica fazendo fuzuê no Twitter.”

O ex-candidato a presidente defende que o diretório nacional fique blindado em relação à interferência dos políticos com mandato. “O que acontece em muitos partidos é que a máquina partidária passa a ser usada pelos interesses dos mandatários.” Diante do impasse interno, o fundador do Novo recorre a uma metáfora de mercado para sustentar que sobreviverá a ala que souber saciar a demanda por um partido liberal no Brasil. “O filiado é como um consumidor. Ele só vai a restaurante de que gosta. Os filiados têm cobrado de nós posicionamento e identidade.”

Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/395816-2/

NO RASTRO DO DOLEIRO DOS DOLEIROS - Inquérito investiga como Dario Messer movimentou mais de 100 milhões de dólares em contas no Banco Safra no exterior - e se banco violou regras contra lavagem de dinheiro




ALLAN DE ABREU
25fev2021_07h00

Ilustração de Carvall


Entre policiais, procuradores e colegas de profissão, o empresário Dario Messer tem um epíteto curioso: o doleiro dos doleiros. Não é à toa. Em quinze anos, movimentou 100,4 milhões de dólares em operações ilícitas de dólar-cabo por meio das filiais do Banco Safra na Suíça, em Luxemburgo e nos Estados Unidos, mostram investigações do Ministério Público Federal do Rio. Por conta disso, os procuradores fluminenses instauraram nesta semana inquérito civil para apurar uma suposta violação, por parte do banco, das regras antilavagem de dinheiro no Brasil. Os procuradores também investigam se houve ato de corrupção empresarial da instituição bancária ao dificultar a fiscalização tanto do Banco Central quanto do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).


Com o inquérito, o MPF pretende avançar nas investigações sobre o megaesquema de lavagem de dinheiro de Messer no Brasil, que movimentou ilegalmente 1,6 bilhão de dólares por 3 mil offshores de 52 países entre 2008 e 2017. A maior parte desse dinheiro foi movimentado por meio de operações de dólar-cabo, em que o doleiro recebe valor em reais do cliente no Brasil e deposita quantia equivalente em dólares na conta desse cliente no exterior ou vice-versa. Essa operação é ilegal porque, diferentemente das vias oficiais, como contratos de câmbio via Banco Central, não há pagamento de impostos, muito menos a obrigatoriedade de se declarar a origem do recurso.

Tanto Messer quanto seus dois principais operadores, Claudio Barboza e Vinicius Claret, firmaram acordos de colaboração com o MPF do Rio após serem presos, entre 2017 e 2019, nas investigações do esquema de desvio de recursos públicos pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral. No acordo, os doleiros entregaram aos procuradores todo o seu sistema paralelo de compensação bancária, chamado Bankdrop: Messer, Barboza e Claret faziam o casamento entre operações de clientes que queriam enviar dinheiro ilícito para o exterior (no caso de políticos ou empresários que queriam sonegar tributos, por exemplo) e aqueles que desejavam trazer dólares não declarados para o Brasil, transformando-os em reais – nesse caso, os principais clientes eram as empreiteiras, como a Odebrecht. Para o MPF, os bancos são “partes essenciais e indispensáveis” nesse processo de lavagem de dinheiro.

A primeira consequência das delações de Barboza e Claret foi a deflagração da operação Câmbio, Desligo, em maio de 2018, com a prisão de 49 pessoas e posteriormente denúncia à Justiça Federal contra 62 doleiros que utilizaram os serviços de Messer – 27 deles também assinaram acordos de colaboração. Paralelamente, o MPF enviou pedidos de cooperação jurídica internacional aos países onde ocorreram as transações bancárias de Messer a fim de saber quem eram os beneficiários das contas abastecidas pelos doleiros.

Para os procuradores, a análise desse material “demonstra a absoluta falta de cuidado, por parte das instituições financeiras envolvidas, nos seus deveres de compliance, permitindo que redes de corrupção, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro operassem de maneira livre e à margem da lei”. As contas em nome de offshores, segundo o MPF, tinham sempre saldos elevados e possuíam títulos de capitalização e seguros de vida vinculados a elas com o objetivo de garantir lucros para os bancos, que em troca faziam vista grossa a essas contas suspeitas.

As três instituições bancárias mais utilizadas pelo esquema de Messer foram o HSBC, de Londres (373,1 milhões de dólares movimentados ilegalmente); o Hang Seng Bank, braço do HSBC em Hong Kong (127,4 milhões de dólares); e o brasileiro Safra, com 100,4 milhões de dólares. No caso do HSBC e do Hang Seng, porém, por terem sede no exterior, estão fora da jurisdição do MPF no Brasil. Já o Safra tem sede em São Paulo – é o sexto maior banco brasileiro, com 233 bilhões de reais em ativos.

Do total movimentado por Messer no Safra, 84,2 milhões de dólares ocorreram na filial suíça do banco, enquanto 12,2 milhões de dólares foram movimentados em Luxemburgo e 1,9 milhão nos Estados Unidos. Para o MPF, seria simples para o banco suspeitar dessas transações, uma vez que contas de compradores de dólares são alimentadas por muitas transações financeiras a partir de contas controladas por offshores (naturalmente suspeitas), enquanto contas de vendedores de dólares, por sua vez, fazem depósitos pulverizados em diversas contas sem relação entre si, já que as transações são controladas pelos doleiros.

Segundo o Ministério Público, das contas movimentadas por Messer na filial suíça do Safra, as principais estão em nome das offshores Mysen Equities S.A., aberta em 2008 (transações que somam 22 milhões de dólares), e Brookings Capital S.A., três anos mais velha (9,6 milhões de dólares). Documentos encaminhados pelo governo suíço via cooperação internacional apontam que as duas offshores eram controladas pelo empresário Samuel Klein, à época donos das Casas Bahia, uma das maiores redes varejistas do Brasil, e sua mulher Chana Klein – ambos já falecidos.

Segundo o MPF, as contas dessas duas offshores do casal Klein foram alimentadas por milhares de transações bancárias com as mais diversas origens. Entre elas, chama a atenção o depósito em 2008, na conta da Mysen, de 150 mil dólares oriundos de uma conta da offshore Klienfeld, que formava a quarta camada do esquema de pagamento de propinas da Odebrecht, segundo as investigações da Lava Jato e as delações dos próprios executivos da empreiteira. Uma transação “totalmente sem sentido”, de acordo com o MPF. Foi da Klienfeld, por exemplo, que saíram 3 milhões de dólares pagos pela empreiteira ao marqueteiro João Santana por serviços eleitorais ao PT, além de propinas aos ex-dirigentes da Petrobras Renato Duque, Jorge Zelada, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, todos alvos da Lava Jato.

“Se o Banco Safra tivesse questionado a transação, ou pedido explicações a respeito da origem dos recursos, nem a Odebrecht conseguiria ‘gerar reais em espécie’ no Brasil para pagar propina a agentes públicos nem o empresário [Samuel Klein] poderia enviar dinheiro não contabilizado para o exterior por meio do sistema paralelo de câmbio operado por doleiros”, escrevem os procuradores na portaria de instauração do inquérito a que a piauí teve acesso. A morte do casal Klein impede o MPF de investigar as offshores suíças no âmbito penal.

A assessoria da família Klein informou em nota que “as offshores utilizadas pela família Klein no exterior estão devidamente regularizadas e declaradas na Receita Federal do Brasil”. Sobre Dario Messer, a assessoria disse que a família Klein “não o conhece e nunca teve qualquer relação com o doleiro”. A família não se pronunciou sobre a transação da offshore na Suíça com a Klienfeld.

Já a assessoria da antiga Odebrecht afirmou que, a partir de 2016, quando iniciou os acordos de colaboração e de leniência no Brasil e no exterior, “todos os esclarecimentos sobre a sua atuação foram prestados pela antiga Odebrecht, que hoje se chama Novonor, empresa comprometida com os mais altos padrões éticos, técnicos, de governança e de eficiência”.

Em abril de 2020, oito meses após ter sido preso preventivamente em São Paulo, Dario Messer passou a cumprir prisão domiciliar com tornozeleira, por determinação do Superior Tribunal de Justiça. Em agosto do ano passado, após o seu acordo de delação ser homologado pela Justiça, o doleiro foi solto por ordem do juiz Marcelo Bretas (apenas com a proibição de deixar o país e de manter contato com outros réus), e desde então segue em liberdade – naquele mesmo mês, Messer foi condenado a 13 anos de prisão por lavagem de dinheiro.



Oque o Ministério Público cobra do banco Safra são práticas mais firmes e recorrentes para identificar operações insólitas de seus clientes e combater suspeitas de lavagem de dinheiro e outros crimes. Bancos são parte fundamental dos esquemas transnacionais de lavagem de dinheiro, como mostrou investigação recente do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) com base em documentos secretos do governo americano. Pelo menos cinco bancos multinacionais ignoraram alertas e movimentaram dois trilhões de dólares de clientes investigados por crimes de todo tipo durante anos.

Outro exemplo de transações bancárias suspeitas citado pelo MPF é a conta mantida na filial suíça do Safra em nome da offshore K&L Hakka International Co. Ltd, utilizada pelo doleiro Chaaya Moghrabi para lavar dinheiro no exterior, segundo o MPF do Rio. A conta ajudou Moghrabi a movimentar ilegalmente ao menos 4,6 milhões de dólares, segundo os procuradores, graças à fragilidade das normas de compliance (transparência e fiscalização) do Safra.

Ao preencher nos seus formulários internos os dados sobre os beneficiários da conta em nome da K&L Hakka – norma denominada KYC (Know Your Customer, ou “conheça o seu cliente”), estabelecida pelo Banco Central – o Safra limitou-se a copiar e colar reportagens de internet, sem investigar a fundo as atividades econômicas dos beneficiários. Além disso, o banco aceitou a explicação, dada pela offshore, de que saques vultosos na conta da K&L Hakka eram para a “distribuição de lucros” ao seu “parceiro de negócios Mr. BC”, não identificado pela offshore. “Essa explicação genérica, que não atende ao sistema antilavagem de dinheiro porque sequer identifica ‘Mr. BC’, foi sancionada pelo gerente da conta, pelo setor de compliance e pelo diretor-geral do Banco Safra”, afirma o MPF.

Caso o inquérito comprove a participação direta do Safra nos atos de lavagem de dinheiro apontados pelo MPF, o banco está sujeito a penalidades que vão de uma simples advertência até a suspensão de funcionamento, passando por multa que pode chegar a 20 milhões, no caso de infração à lei antilavagem (9.613, de 1998), e a multa entre 0,1% e 20% do faturamento bruto do banco, no caso da lei anticorrupção (lei 12.846, de 2013). O MPF avalia solicitar inquérito à PF para investigar as responsabilidades penais da família Safra, controladora do banco.

Desde 2018 a filial suíça do Safra responde a processo aberto pelo Ministério Público do país europeu em decorrência da Lava Jato. Os procuradores suíços “suspeitam de uma falta de organização interna do banco, que não teria permitido a este impedir a prática de delitos de cumplicidade em suborno de funcionários públicos estrangeiros e lavagem de dinheiro agravada”. Caso seja condenado, o banco poderá ser multado em até 5 milhões de dólares. O processo ainda não foi concluído, segundo a assessoria do Ministério Público da Suíça.

Em nota, a assessoria do Safra informou que o grupo “atua no Brasil e no exterior de acordo com as legislações em vigor e os critérios mais rígidos de compliance” e que “todas as operações financeiras são reguladas pelas respectivas autoridades”.

Em fevereiro, a série Open Lux, parceria da piauí com o Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), revelou que Joseph Safra, um dos donos do banco, morto em dezembro de 2020, era beneficiário final em 71 empresas no grão-ducado de Luxemburgo, a principal delas com quase 4 bilhões de euros em ativos. A assessoria do Safra afirmou que o grupo J.Safra “possui operações financeiras no exterior, reguladas pelas autoridades, há décadas”.

Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/no-rastro-do-doleiro-dos-doleiros/