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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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sábado, 15 de outubro de 2022

AMBIENTE MARINHO


- Doc estava recolhendo animais marinhos na Grande Restinga, na extremidade da Península. É um lugar fabuloso. Com a maré alta, é uma depressão agitada pelas ondas, coberta de espuma. As vagas de rebentação passam por cima da barreira de recifes e seguem estrondosamente até a praia. Mas quando a maré está baixa, aquele pequeno mundo aquático torna-se sereno e adorável. O mar é muito claro e o fundo vira um lugar fantástico, povoado por animais sempre disparando de um lado para outro, lutando, se alimentando, procriando. Caranguejos correm de um canto a outro, atrás das algas ondulando. As estrelas-do-mar pousam sobre mexilhões e lapas, prendem os milhões de ventosas minúsculas e depois puxam para cima, com uma força incrível, até que a presa seja arrancada da rocha. E no mesmo instante o estômago da estrela-do-mar se projeta e envolve o alimento. Nudibrânquios alaranjados e estriados deslizam graciosamente pelos rochedos, os mantos ondulando como as saias de dançarinas espanholas. Enguias pretas esticam as cabeças para fora das fendas, à espreita de uma presa. Os camarões-braços-fortes estalam as suas pinças sonoramente. Aquele mundo colorido e maravilhoso está sempre visível. O bernardo-eremita corre como uma criança frenética pelo fundo de areia. Encontrando uma concha vazia de caramujo marinho, chega à conclusão de que é melhor do que a sua. Deixa a sua concha, expondo o corpo mole ao inimigo por um momento, tratando de se meter apressadamente em seu novo abrigo. Uma onda passa por cima da barreira de recifes e agita por um momento as águas serenas, criando espuma e borbulhas na restinga. Mas logo aquele mundo encantado volta a ser sereno, adorável e brutal. Aqui, um caranguejo arranca uma perna do irmão. As anêmonas se expandem, como flores brilhantes e acolhedoras, convidando qualquer animal cansado e aturdido a repousar por um instante em seus braços. E quando algum pequeno caranguejo da restinga aceita o convite verde e púrpura, as pétalas imediatamente golpeiam, as células de ferro injetando minúsculas agulhas de narcótico na presa, que vai ficando cada vez mais fraca, talvez sonolenta, enquanto os cáusticos ácidos digestivos vão dissolvendo seu corpo. E é nesse momento que surge o assassino furtivo, o polvo, avançando lentamente, suavemente, quase como se fosse uma neblina cinzenta, simulando agora ser uma massa de vegetação, logo adiante um bloco de rocha, depois um naco de carne em decomposição, enquanto os olhos de bode diabólicos observam friamente. Vai deslizando furtivamente na direção de um caranguejo. Ao chegar perto, os olhos amarelados estão ardendo, o corpo fica rosado, na coloração a pulsar de expectativa e raiva. Subitamente, sai correndo sobre as pontas dos tentáculos, tão ferozmente como um gato a dar o bote. Pula selvagemente sobre o caranguejo, há um esguicho de fluido preto. A massa a se debater é obscurecida por uma nuvem sépia, enquanto o polvo mata o caranguejo. Nas partes expostas dos rochedos, os moluscos borbulham por trás de suas portas e as lapas vão ficando ressequidas. Os borrachudos descem sobre os rochedos, dispostos a devorarem tudo o que puderem encontrar. O ar está impregnado com o cheiro forte de iodo das algas, o cheiro de limo dos corpos calcários, o cheiro multiforme de incontáveis espécies, o cheiro de esperma e ovas. Nos rochedos expostos, as estrelas-do-mar emitem sêmen e ovos entre os seus raios. Os cheiros de vida e exuberância, de morte e digestão, de deterioração e nascimento, se espalham por toda parte. - JOHN STEINBECK - A rua das ilusões perdidas.

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