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- I.A.S.
- Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR
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quarta-feira, 30 de junho de 2021
Mas, o Coiso não ia garantir o gás a 35? - A LENHA OU A FOME
Mantida a proibição de pesca em pontes que dão acesso à Florianópolis
29/06/2021
segunda-feira, 28 de junho de 2021
Pai de Henry desabafa sobre cassação de Jairinho: “Amém. Era um psicopata”
ANTES DA COVAXIN, MILHÕES EM PRESERVATIVOS
Inseticidas tóxicos são usados ilegalmente na alimentação de gado em Goiás
Empresa Precisa, intermediária da Covaxin, cresceu 6.000% no governo Bolsonaro
quinta-feira, 24 de junho de 2021
TEM O DEDO DE BOLSONARO, TEM SUJEIRA - Madison Biotech, que tentou receber US$ 45 milhões antecipados pela Covaxin, é empresa de fachada, avalia CPI
De acordo com o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), as informações colhidas pela comissão "apontam para que a Madison, usada pela Precisa para receber ilegalmente pagamento antecipado da venda da Covaxin, seja uma empresa de fachada"
24 de junho de 2021, 11:15 h Atualizado em 24 de junho de 2021, 12:58
Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e a vacina Covaxin (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado | Reprodução)
Alexandre de Moraes manda prender Daniel Silveira por violação à tornozeleira
Danilo Vital é correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília.
Revista Consultor Jurídico, 24 de junho de 2021, 16h20
Vice-ministro: EUA realizam ciberataques contra sistema de energia da Venezuela para ameaçar o país
Nesta quarta-feira (23), o vice-ministro da Defesa da Venezuela, almirante Alexander Velásquez Bastidas, disse que os EUA atacam a rede de energia elétrica do país para intimidar a nação e viabilizar o tráfico de drogas.
"Os Estados Unidos da América realizam ciberataques para ameaçar o país [e] para permitir o tráfico de drogas e o comércio de drogas. Vocês sabem que o sistema de energia elétrica do país é vulnerável a tais ataques", disse Velásquez Bastidas na Conferência de Segurança Internacional de Moscou.
Em março de 2019, Venezuela foi atingida por dois apagões massivos. Ambos os casos foram provocados por incidentes na maior usina hidrelétrica do país, tendo sido atribuídos a ataques cibernéticos e "impacto mecânico". O ministro da Comunicação e Informação da Venezuela informou que os suspeitos foram detectados. Eles são residentes dos EUA, Espanha e Colômbia e os pedidos para sua captura foram enviados para a Interpol.
Recentemente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que Moscou vai continuar ajudando a Venezuela a aumentar sua capacidade de defesa.
"Continuamos as negociações sobre o fornecimento de novos lotes de um ou outro tipo de arma de acordo com os desejos que nossos amigos venezuelanos nos transmitem com base em sua avaliação das necessidades de suas Forças Armadas e de segurança", acrescentou o chefe da diplomacia russa.
Lavrov também criticou as sanções impostas a Caracas como "ilegítimas", observando que Moscou continuará sua cooperação com o país sul-americano para benefício de ambos os lados.
Fonte: https://br.sputniknews.com/americas/2021062417694435-vice-ministro-eua-realizam-ciberataques-contra-sistema-de-energia-da-venezuela-para-ameacar-o-pais/
Está confirmado: "não vale um pequi roído" - STJ tranca inquérito por outdoors com mensagem contra Bolsonaro em Palmas
O Direito Penal é uma importante ferramenta conferida à sociedade, mas que deve ser acionado situações extremas, que denotem grave violação aos valores mais importantes compartilhados socialmente. Não deve servir, jamais, de mordaça nem tampouco instrumento de perseguições políticas aos que pensam diversamente do governo eleito.
Com esse entendimento, a 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça deu provimento a Habeas Corpus para trancar o inquérito aberto a pedido do então ministro da Justiça, Andre Mendonça, contra o responsável por financiar outdoors na cidade de Palmas (TO) com mensagens contra o presidente Jair Bolsonaro.
O investigado arrecadou verba através de vaquinha para instalar na capital do estado imagens do presidente com a mensagem “Cabra à toa não vale um pequi roído. Palmas quer impeachment já!”.
Relator na 3ª Seção, o ministro Ribeiro Dantas explicou que a proteção da honra do homem público não é idêntica àquela destinada ao particular, pois ao aceitar a militância política, resigna-se com maior exposição e escrutínio de sua vida e personalidade, bem como de seus atos.
Assim, nessa hipótese, não basta criticar o indivíduo o sua gestão da coisa pública para ocorrer o crime. É necessário ter a intenção de ofende-lo.
“No caso concreto, as críticas restringiram-se à analise politica e subjetiva da gestão empregada pelo presidente, que, da mesma forma que é objeto de elogios para alguns, é alvo de críticas para outros. Por isso não estão demonstradas nos autos todas elementares do delito, notadamente o especial fim de agir”, concluiu o ministro.
Em outubro de 2020, um simpatizante de Bolsonaro já havia apresentado queixa-crime que pedia a investigação pela Lei de Segurança Nacional também pelos outdoors. A Polícia Federal iniciou as apurações, mas a Corregedoria Regional da PF e o Ministério Público Federal arquivaram o caso em outubro. Foi então que Mendonça pediu o inquérito.
Essa foi uma das muitas oportunidades em que o hoje Advogado-Geral da União usou a Lei de Segurança Nacional para embasar pedido de investigação contra desafetos políticos do presidente Bolsonaro. Como mostrou a ConJur, o uso desmedido da LSN reacendeu o debate sobre a reforma da mesma no Congresso, ações no Supremo Tribunal Federal e pedido para que a Procuradoria-Geral da República averigue abuso de autoridade.
Danilo Vital é correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília.
Revista Consultor Jurídico, 23 de junho de 2021, 14h52
quarta-feira, 23 de junho de 2021
TJSC confirma pena a PM que agrediu com chute no rosto e por trás suspeito baleado
23 Junho 2021 | 09h39min
A 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em matéria sob a relatoria do desembargador Ernani Guetten de Almeida, confirmou nesta terça-feira (22/6) a condenação de policial militar pelo crime de lesão corporal, por agredir suspeito baleado e que não oferecia risco, conforme o vídeo de câmeras de segurança, com um chute no rosto. Com a violência da agressão, que foi cometida por trás, o suspeito desmaiou no meio-fio sob o viaduto da BR-101, km 202, no bairro Areias, em São José.
Na primeira hora da madrugada de 3 de fevereiro de 2017, segundo a denúncia do Ministério Público, oito jovens estavam em um veículo e não obedeceram à ordem de parar de uma viatura policial. A perseguição teve início no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, e seguiu até o município vizinho. Tudo porque o motorista estava com o limite superior ao permitido e não queria ter o automóvel apreendido, conforme os depoimentos.
Em determinado momento, os policiais atiraram contra o veículo e atingiram quatro ocupantes do carro em fuga - três mulheres e um homem -, além de um dos pneus. Como o motorista não atendia o pedido dos caronas para parar, uma das passageiras se jogou do automóvel em movimento. Quando o veículo parou por causa do pneu furado, o motorista continuou a fuga a pé. Os ocupantes desceram e, quando o jovem sentou no meio-fio, com três tiros na perna, recebeu um chute “bem forte”, de acordo com testemunha, e desmaiou. A abordagem foi flagrada pelas câmeras de monitoramento da via marginal da BR-101.
Condenado por lesão corporal à pena de três meses de detenção, em regime inicial aberto, o policial recebeu, nos termos do Código de Processo Penal Militar, a suspensão da pena pelo prazo de dois anos, condicionada à prestação de serviços à comunidade. Inconformado, o militar recorreu ao TJSC. Ele pleiteou a absolvição, com a alegação de que agiu "sob o manto da legítima defesa e do estrito cumprimento de dever legal".
O relator destacou que o PM estava armado e o número de agentes policiais, considerando os que chegaram para oferecer retaguarda, era superior ao número de ocupantes do carro. A decisão foi unânime. “Logo, na hipótese, não é possível cogitar legítima defesa, uma vez que inexiste comprovação de injusta agressão, atual ou iminente, ao apelante ou a terceiro, nem de que foram utilizados os meios necessários para repeli-la, pressupostos esses para o reconhecimento da excludente de ilicitude almejada. Da mesma forma, também descabe o reconhecimento do estrito cumprimento de dever legal, porquanto nenhuma norma jurídica legitima a atuação policial realizada nos moldes como a do apelante, que, como visto, agrediu injustificadamente o ofendido (nome da vítima) e se utilizou de violência de forma abusiva”, anotou o relator em seu voto (Autos n. 0002365-12.2017.8.24.0091).
QUATRAGEM - Uma dança pitoresca, da qual nunca vira alguém falar
A quatragem é a dança pitoresca dos nossos camponeses, dança favorita do roceiro em seus dias de festa, e que faz as delicias do tropeiro nos serões do rancho após as fadigas da jornada.
Dança vistosa e variegada, entremeada de cantares e tangeres, cantiga maviosa, já freneticamente sapateada ao ruído de palmas, adufes e tambores. Sem ter o desgarre e desenvoltura do batuque brutal, não é também arrastada e enfadonha como a quadrilha de salão; ora salta e brinca estrepitosa e alegre, ora se requebra em mórbidas e compassadas evoluções.
Como o próprio nome indica, forma-se de um grupo de quatro pessoas. A música é desempenhada pelos dançantes que além de uma garganta bem limpa e afinada, devem ter nas mãos ao menos uma viola e um adufe.
Há uma quantidade incalculável de coplas para acompanhar esta dança, e a musa popular cada dia engendra novas. São pela maior parte toscas e mesmo burlescas e extravagantes; todavia algumas há impregnadas dessa maviosa e singela poesia, que só a natureza sabe inspirar. - BERNARDO GUIMARÃES - Trecho de O seminarista.
segunda-feira, 21 de junho de 2021
O QUE É UM BOFEDAL?
BOFEDAL (Ver BANHADO, CHARCO)
Antiga técnica indígena para uso de água ajuda Peru a enfrentar seca
Erica Gies
BBC Future
CRÉDITO,
ERICA GIES
Legenda da foto,
No alto dos Andes, uma área pantanosa chamada 'bofedal' ajuda a reter a água o ano todo e a abastecer vilarejos localizados mais abaixo, incluindo Lima, durante a estação de seca
Antes da pandemia de covid-19, no inverno austral, dirigi ao norte de Lima, subindo o altiplano peruano até o vilarejo de Huamantanga.
Estava acompanhado de cientistas que estudam o uso de uma técnica de 1,4 mil anos por agricultores locais para ampliar a disponibilidade de água na longa estação de seca.
Em nosso caminho pelo estreito Vale do Rio Chillón, uma pequena faixa de plantações verdes em meio a muralhas de rochas fulvas, cruzamos o rio e começamos a subir uma estrada de terra íngreme de pista única à beira da encosta de uma montanha.
A cerca de 3.500 m, chegamos a um platô com campos de abacates, lúpulo, batata e feijão e, finalmente, ao vilarejo, onde construções de dois andares de tijolos de barro e concreto ladeavam ruas estreitas de terra. Burros, cavalos, vacas, cães e pessoas zanzavam por ali.
A Cordilheira dos Andes é um dos seis lugares do mundo em que surgiram civilizações complexas, motivadas pela precipitação sazonal, que provou ser um catalisador para inovações hídricas repetidas vezes.
As pessoas nutriam conhecimentos profundos sobre a água e o subsolo, implementando estratégias que ainda surpreendem — e alguns ainda usam.
Hoje, os peruanos modernos estão implantando novamente esse conhecimento antigo e protegendo ecossistemas naturais, como áreas úmidas em alta altitude, para ajudar o país a se adaptar às mudanças climáticas.
É um dos primeiros esforços do mundo para integrar a natureza à gestão de recursos hídricos em escala nacional.
O Peru está entre os países com maior insegurança hídrica do mundo. A capital Lima, onde vive um terço da população do país, se estende por uma planície desértica plana e tem apenas 13 mm de precipitação por ano.
Para sustentar a população, conta com três rios que nascem nos Andes, que se erguem atrás da cidade, atingindo 5.000 m em apenas 150 quilômetros.
Os moradores de Lima não estão sozinhos na dependência de água das montanhas. Estima-se que 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo podem depender da água que flui das montanhas até 2050, em comparação com 200 milhões na década de 1960.
A escassez de água no Peru está piorando como resultado da mudança climática. Como muitos testemunharam, as geleiras das montanhas derreteram e a estação das chuvas diminuiu para apenas alguns meses.
Já a companhia de água de Lima, Sedapal, só consegue abastecer os clientes 21 horas por dia — e Ivan Lucich, presidente da Superintendência Nacional de Serviços de Saneamento (Sunass), diz esperar um declínio ainda maior nos próximos anos.
Um relatório de 2019 do Banco Mundial que avaliou os riscos de seca no Peru concluiu que as estratégias atuais da capital para administrar a seca — barragens, reservatórios, armazenamento subterrâneo — serão insuficientes já em 2030.
Vários anos atrás, desesperados por segurança hídrica, os líderes do país fizeram algo radical: aprovaram uma série de leis nacionais exigindo que as concessionárias de água investissem um percentual das contas de seus clientes em "infraestrutura natural".
CRÉDITO,
ERICA GIES
Legenda da foto,
No vilarejo andino de Huamantanga, os moradores ainda usam um antigo sistema de canais, conhecido como 'amunas', para armazenar a água da estação chuvosa no subsolo
Estes fundos — chamados Mecanismos de Retribuição por Serviços Ecossistêmicos (MRSE) — são destinados a intervenções hídricas baseadas na natureza, como restaurar antigos sistemas humanos que trabalham com a natureza, proteger áreas úmidas e florestas em altas altitudes ou introduzir pastoreio rotativo para proteger as pastagens.
Antes, era considerado uso indevido de dinheiro público se as concessionárias investissem na bacia hidrográfica. Agora é exigido.
À medida que a mudança climática provoca alterações na água em todo o mundo, as estruturas convencionais de controle hídrico estão deixando cada vez mais a desejar.
Essas intervenções humanas tendem a confinar a água e acelerar o processo, eliminando as etapas naturais quando a água fica estagnada no solo. As soluções baseadas na natureza, por outro lado, abrem espaço e tempo para essas fases lentas.
Ao pesquisar para meu próximo livro sobre o assunto, passei a pensar nestas soluções como "slow water" ("águas lentas").
Assim como no movimento slow food ("comida lenta"), as abordagens "slow water" são feitas sob medida: trabalham com paisagens, climas e culturas locais, em vez de tentar controlá-los ou mudá-los.
Também fornecem vários outros benefícios, incluindo armazenamento de carbono e habitat para plantas e animais ameaçados.
Por essas razões, a conservação de áreas úmidas, planícies aluviais e florestas montanhosas para a gestão de recursos hídricos é um movimento que cresce em todo o mundo, inclusive entre instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial.
Mas a maioria dos projetos até agora são pequenos e desconectados, então as pessoas tendem a considerá-los como recursos secundários interessantes, em vez de uma ferramenta fundamental.
É semelhante à visão de longa data em relação à energia solar e eólica que está rapidamente se tornando ultrapassada: são boas, mas acreditava-se que não eram capazes de desempenhar um papel importante no que se refere a atender nossas demandas energéticas.
O programa nacional do Peru, no entanto, tem o potencial de demonstrar quão eficazes as soluções "slow water" podem ser, quando implementadas na escala das bacias hidrográficas.
No entanto, apesar das políticas inovadoras do país, colocá-las em prática tem sido um processo lento, em parte devido à alta rotatividade no governo — incluindo cinco presidentes em cinco anos.
Outro grande obstáculo, e que a maioria dos países enfrenta, é superar as práticas arraigadas no setor hídrico para tentar algo novo.
Em 2018, a Global Affairs Canada e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional se comprometeram a investir US$ 27,5 milhões (R$ 140 milhões) em cinco anos para ajudar o Peru a tirar do papel seu programa inovador.
O dinheiro foi para a Forest Trends, uma ONG que trabalha em soluções naturais para a água no Peru desde 2012.
Seu diretor executivo, Fernando Moimy, defende há muito tempo a ideia, primeiro no governo como ex-chefe da Sunass, depois por meio da Forest Trends.
A iniciativa da ONG, chamada Infraestrutura Natural para Segurança Hídrica, visa fornecer conhecimento técnico, afirma Gena Gammie, diretora adjunta do projeto.
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A Distichia muscoides, com suas pequenas flores alpinas, é uma planta dominante nas áreas úmidas dos 'bofedales' que ajudam a paisagem a reter água
Agora a iniciativa está ganhando força. Quarenta das 50 concessionárias de água do país estão coletando fundos MRSE — e arrecadaram mais de US$ 30 milhões.
A Sunass espera que sejam angariados pelo menos US$ 43 milhões até 2024. Esse dinheiro está sendo investido em mais de 60 projetos em todo o país.
Entre os apoiados pela Sedapal, serviço de abastecimento de água de Lima, estão projetos que fortalecem uma antiga técnica de armazenamento de água e protegem os raros bofedales, áreas úmidas de alta altitude.
'Semear' água
Foi isso que me levou à viagem pelas montanhas peruanas ao norte de Lima, até o vilarejo de Huamantanga, junto a cientistas que estão estudando as antigas técnicas de gerenciamento de água da região.
As pessoas que vivem aqui são camponeses: membros de um coletivo agrícola. Elas usam canais de água chamados amunas — palavra em quechua que significa "reter" — para desviar o fluxo dos córregos das montanhas na estação chuvosa e direcioná-lo para bacias de infiltração naturais.
A estratégia, inventada por um antigo povo chamado Huari, ainda é praticada aqui e em alguns outros vilarejos andinos.
Como a água se move mais lentamente no subsolo à medida que atravessa o cascalho e o solo, ela emerge encosta abaixo dos mananciais meses depois, quando os camponeses a coletam para regar suas plantações.
Como grande parte da irrigação penetra no solo e acaba voltando aos rios que abastecem Lima, revitalizar as amunas abandonadas espalhadas pelas montanhas poderia prolongar a água na estação de seca para os moradores das cidades também. Daí o interesse da Sedapal.
Na praça principal de Huamantanga, em frente a uma igreja católica, conheci Katya Perez, pesquisadora social da ONG Condesan, que estuda como as pessoas interagem com os sistemas de água.
Ela estabeleceu uma relação com os camponeses aqui, reunindo seus conhecimentos e tradições para manter as amunas.
Por exemplo, eles realizam cerimônias de limpeza e bênção dos canais, porque sabem que a remoção anual de lodo permite que continuem funcionando bem.
As amunas ficam acima da vila, a cerca de 4.500 m, então alugamos cavalos dos moradores e cavalgamos pela puna ensolarada, vegetação local repleta de pequenos arbustos e pés de tremoços com flores roxas.
As montanhas se acumulam uma atrás da outra em um aparente infinito, e um pássaro gigante — possivelmente um condor andino — paira sobre nós. Finalmente, avisto uma amuna.
Construída com a disposição cuidadosa de rochas, tem cerca de 60 centímetros de largura e alguns metros de profundidade, serpenteando pelos contornos sinuosos das colinas.
CRÉDITO,
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Legenda da foto,
Os 'bofedales' têm plantas de baixo crescimento e bem adaptadas às condições locais de 'verão todos os dias e inverno todas as noites'
É julho, meados da estação de seca, e a amuna está quase sem água, tendo levado seu tesouro hídrico para uma depressão rochosa em forma de tigela, onde se infiltrou no solo.
A camponesa Lucila Castillo Flores, uma senhora de saia e chapéu, compara o que acontece aqui a "semear" água.
"Se semearmos a água, podemos colher a água", diz Flores.
"Mas se não semearmos a água, teremos problemas."
Pouco antes do desvio para a amuna, os pesquisadores instalaram uma pequena barragem, uma placa de metal colocada verticalmente no córrego com um entalhe em forma de V.
Ferramenta clássica para monitorar a vazão da água, esta barragem cria um pequeno lago, elevando o nível da água para que passe pelo "V" mesmo quando está baixo, explicou um dos cientistas, o engenheiro hídrico Boris Ochoa-Tocachi, diretor-executivo da empresa de consultoria ambiental ATUK, com sede no Equador, e consultor da Forest Trends.
A altura da água é medida com um transdutor de pressão, um instrumento submerso no lago formado pela barragem. Quanto maior o peso no sensor, significa mais água.
Os dados coletados aqui serviram de base para um estudo sobre as amunas que fez parte da tese de Ochoa-Tocachi na universidade Imperial College, em Londres, publicada na Nature Sustainability em 2019.
Montados de volta nos cavalos, descemos parte da montanha e paramos em um manancial abastecido por amunas. Aqui, a água que estava viajando pela rocha e pelo solo brotou em um córrego borbulhante.
"Você está vendo, é realmente muita água em comparação com o fluxo que vimos na barragem", diz Ochoa-Tocachi, com óbvia satisfação.
Uma das coisas mais marcantes sobre as amunas é que os camponeses sabem qual canal abastece qual manancial, o que significa que eles entendem o caminho que a água segue no subsolo.
As entrevistas de Perez com a população local documentaram esse conhecimento, que foi transmitido de geração para geração.
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O pesquisador Boris Ochoa-Tocachi parado sobre uma 'amuna', agora com pouca água, após ter enviado seu fluxo para as bacias de infiltração
Os urbanistas tendem a não levar em consideração o conhecimento dos povos rurais e indígenas, diz Ochoa-Tocachi, mas os pesquisadores foram capazes de confirmar as informações deles, classificadas como "muito precisas", ao adicionar rastreadores aos fluxos das amunas e, na sequência, usar detectores sensíveis para monitorar o surgimento dessas moléculas nos mananciais.
Esta descoberta "nos surpreendeu", afirma Ochoa-Tocachi.
"Isso mostra que podemos usar o conhecimento nativo para complementar a ciência moderna e fornecer soluções para os problemas atuais."
Ele e os coautores do estudo analisaram modelos de como revitalizar as várias amunas abandonadas espalhadas pelo altiplano andino poderia aumentar o abastecimento de água para Lima, que já está cerca de 5% abaixo — um déficit de aproximadamente 43 milhões de metros cúbicos.
Concentrando-se apenas na maior bacia hidrográfica das três que abastecem Lima, eles calcularam um desvio de cerca de 35% dos fluxos de água para as amunas na estação chuvosa, deixando o resto no rio para nutrir a vida aquática.
Eles partiram do pressuposto que metade da água desviada também iria para o meio ambiente, nas profundezas do subsolo ou liberadas na atmosfera por meio de plantas.
No entanto, o que restou foram 99 milhões de metros cúbicos — mais do que o dobro do que Lima precisa.
Eles também mostraram que a água desviada passa entre duas semanas a oito meses no subsolo, com um atraso médio de 45 dias.
Diminuir a velocidade dessa água aumentaria o fluxo dos rios no início da estação de seca em 33%, adiando a necessidade de Lima recorrer a seus reservatórios.
Como os engenheiros que tomam decisões sobre projetos hídricos exigem dados concretos como estes para implementar projetos, esta pesquisa é fundamental para mudar a forma como gerenciamos a água. Ela traduz a eficácia dos projetos "slow water" para a língua que os engenheiros falam.
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Esta barragem mede quanta água está fluindo para a 'amuna', enquanto mais abaixo, a água que emerge da fonte subterrânea também é monitorada
Incentivada pelas descobertas, a Sedapal planeja investir US$ 3 milhões no fortalecimento de 12 amunas acima de Huamantanga, construindo mais duas e revitalizando as pastagens vizinhas, conta Oscar Angulo, coordenador de água e saneamento para investimento em infraestrutura natural da Forest Trends.
Áreas encharcadas
A Sedapal e outras concessionárias de água no Peru também estão investindo em ecossistemas naturais.
Saindo de Lima novamente, desta vez rumo ao nordeste ao longo do Rio Rimac, acompanhei um grupo de especialistas regionais em água a uma turfeira tropical rara de alta altitude chamada bofedal, que são áreas pantanosas.
Exclusivos dos Andes, os bofedales são dominados por plantas bem adaptadas às condições tropicais de montanha de "verão todos os dias e inverno todas as noites", prosperando sob o sol intenso, ventos fortes, um período breve de semeadura, congelamento diário e neve sazonal.
As plantas de baixo crescimento, firmes, mas esponjosas, são pontilhadas com pequenas flores em forma de estrela e entremeadas com pequenas poças de água.
As turfeiras, incluindo os bofedales, têm uma porcentagem maior de matéria orgânica do que outros solos, o que as torna excepcionalmente boas em reter água.
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Lucila Castillo Flores, fotografada aqui em sua casa, explica como as pessoas da comunidade mantêm as 'amunas' para fornecer água durante o ano
Embora as turfeiras cubram apenas 3% da área terrestre, elas armazenam 10% de toda a água doce (e 30% do carbono no solo) do mundo.
Na paisagem íngreme da Cordilheira dos Andes, os bofedales reduzem o escoamento da água, evitando inundações e deslizamentos de terra.
À medida que as geleiras que antes armazenavam água derretem, os bofedales desempenham um papel ainda mais importante na retenção de água para abastecimento na estação de seca.
Por permanecerem verdes o ano todo, os bofedales também são focos de biodiversidade, sendo frequentados por pássaros e mamíferos, incluindo veados, pumas, raposas andinas, gatos-dos-pampas, vicunhas e guanacos, ancestrais selvagens das domesticadas alpacas e lhamas.
Depois de horas dirigindo em direção às nuvens, chegamos a um ponto a cerca de 4.500 m de altitude, onde o vale se ampliou, exibindo um lago sazonal e um bofedal. Mas algo estava terrivelmente errado.
Quadrados de solo de 1,5 m de comprimento e 30 cm de profundidade haviam sido retalhados em um padrão quadriculado por caçadores de turfa para vender aos viveiros de plantas em Lima.
Esta turfa, depositada ao longo de milênios, foi destruída em poucos minutos. Os fragmentos restantes, recém-expostos, cheiravam a decomposição devido à oxidação da matéria orgânica.
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Este bofedal acima da cidade andina de Carampoma foi atacado por caçadores de turfa
Nos deparamos com a superfície irregular do vale, com nossos passos levantando poeira vermelha.
Mas em março, as autoridades percorreram a longa estrada até o vilarejo local, Carampoma, para a cerimônia de lançamento do investimento de US$ 850 mil da Sedapal para restaurar a área devastada e proteger os bofedales saudáveis que restaram.
O programa vai trabalhar em parceria com a comunidade para afastar a pastagem das áreas afetadas e introduzir a vigilância dos bofedales.
O Peru tem leis para proteger as áreas úmidas, mas a aplicação da legislação é um tanto turva.
Para esclarecer a situação, a Forest Trends está se reunindo com autoridades e desenvolvendo um manual para as comunidades, para que a população local saiba o que fazer (como tirar fotos e obter coordenadas de GPS) e quais autoridades notificar, diz Angulo.
Para restaurar as áreas úmidas danificadas, as pessoas vão reintroduzir plantas colhidas cuidadosamente de um local próximo e garantir o fluxo de água para nutri-las.
Os cientistas não sabem quanto tempo vai demorar para restaurar a turfa, mas Angulo espera que a natureza possa começar a se recuperar por conta própria rapidamente com um pouco de ajuda.
Em todos esses projetos, os benefícios para a comunidade local são vitais, explica Angulo, então eles estão motivados a manter as práticas de gestão da terra e da água que, em última instância, beneficiam a bacia hidrográfica como um todo.
Sem isso, "dois a três anos depois, não será sustentável", afirma.
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Quando os caçadores de turfa cortam fragmentos do 'bofedal', as plantas vizinhas secam e morrem
Embora cada país tenha questões hídricas, paisagens e culturas únicas, outros lugares podem aprender com a experiência do Peru.
Os europeus que dependem dos Alpes e os asiáticos que contam com os Himalaias para obter água também estão perdendo suas geleiras para as mudanças climáticas e vão precisar de novas maneiras de captar água das cheias para proteger casas e negócios e armazenar água para uso posterior.
A atividade humana que degrada a capacidade da terra de reter água pode ser revertida, seja o desmatamento nas montanhas do Quênia ou o sobrepastoreio no oeste dos Estados Unidos.
Expandir as soluções "slow water" pelas bacias hidrográficas tem uma curva de aprendizado íngreme, mas a seriedade da crise climática exige uma ação rápida.
"Não temos todas as informações que adoraríamos ter hoje para tomar as melhores decisões possíveis. Mas podemos tomar boas decisões", diz Gammie, acrescentando que o monitoramento científico está permitindo que eles "aprendam e aprimorem à medida que avançam".
O financiamento para esta reportagem foi fornecido pela National Geographic Society.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-57443837