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sábado, 21 de maio de 2022

EUA - “Prateleiras vazias. Bebés com fome. Pais desesperados”.


https://visao.sapo.pt/atualidade/mundo/2022-05-20-prateleiras-vazias-bebes-com-fome-pais-desesperados-como-se-explica-a-falta-de-leite-em-po-infantil-no-pais-mais-rico-do-mundo/


Como se explica a falta de leite em pó infantil no país mais rico do mundo
Foto: Paul Weaver/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Bastou o fecho de uma fábrica e a retirada dos seus produtos do mercado, por alegada contaminação, para expor todas as fragilidades da cadeia de abastecimento nos Estados Unidos da América. Trump e Biden não escapam à contestação




Rui Antunes Jornalista



Mundo 20.05.2022 às 15h51




Há escassez de suplemento infantil nos Estados Unidos da América a ponto de os supermercados não deixarem comprar mais de duas ou quatro embalagens por cliente – quando elas existem nas prateleiras. O leite em pó, que substitui ou complementa o leite materno nos primeiros seis meses de vida dos bebés, entrou em rutura de stock no país mais rico do mundo, deixando a nu as fragilidades da cadeia de abastecimento.

A dependência de apenas quatro produtores nacionais de fórmula infantil, aliada a uma regulação técnica excessiva com aparentes motivações políticas e a um protecionismo feroz, levaram a uma falta de leite artificial a nível nacional, na sequência do encerramento de uma fábrica, em meados de fevereiro.

Desde então, a oferta de mercado, que já tinha sido afetada pela pandemia da Covid-19 entre cinco a dez por cento, reduziu para quase metade (43%) do habitual. Há pais e mães a procurarem saber o dia em que cada loja faz a reposição para serem os primeiros clientes e outros a pesquisarem online para identificarem os supermercados que têm o produto em stock. O desespero é tal que há relatos de pessoas a atravessarem estados na tentativa de comprarem o alimento e a regressarem de mãos vazias.

Este agravamento da situação acontece depois de cinco bebés terem sido hospitalizados com infeções graves por bactérias. Dois acabaram por morrer. Pelo menos dois dos cinco alimentavam-se com suplementos da marca Abbott, a maior produtora dos EUA, com cerca de 40% da quota de mercado. Por iniciativa própria, a empresa mandou retirar os seus produtos de circulação e, por ordem das autoridades sanitárias, fechou uma fábrica no estado do Michigan, responsável por mais de metade da sua produção total e de onde tinham saído os leites supostamente contaminados.

As autoridades recolheram no local amostras de leite em pó, mas não foram detectadas as bactérias em causa em nenhuma delas. Nem a FDA (Administração Federal de Alimentos e Medicamentos ) nem o CDC (Centro de Controlo e Prevenção de Doenças) detetaram uma relação direta dos produtos da Abbott com os problemas de saúde dos cinco bebés, embora as tais bactérias tenham sido identificadas noutras amostras recolhidas nas instalações da fábrica. Daí o encerramento decretado. No início desta semana, corrigida a situação, a Abbott recebeu luz verde para reabrir, mas a empresa já informou que pode demorar mais dois meses até que tudo voltar ao normal.



O grau de escassez expôs o monopólio e o protecionismo do setor. Para começar, quatro empresas nacionais detêm 90% do mercado. Isto acontece, em parte, porque o governo dos EUA é o seu principal cliente, uma vez que comparticipa a compra destes produtos para os mais carenciados – mas só em determinadas marcas, beneficiando-as em relação a outras e tornando mais difícil a entrada em cena de mais concorrência.

Por outro lado, a importação de produtos lácteos, que poderia ajudar a resolver a crise, é dificultada ao máximo. Basta referir que apenas 2% dos suplementos infantis vem de fora. A FDA exige mil e uma obrigações aos produtores europeus para exportarem para os EUA, apesar de estar provado que, a nível de qualidade nutritiva, o leite em pó da Europa é superior. Alguns analistas falam em motivações políticas, mais do que técnicas, para justificar o que consideram ser um excesso de zelo da FDA.

Em cima disso, as taxas cobradas desincentivam a entrada no mercado norte-americano. A administração Trump, por exemplo, subiu para 17% a taxa a pagar pelos canadianos para comercializarem lacticínios no território vizinho. Mas a presidência de Biden também está a ser acusada de prosseguir as políticas protecionistas e de não conseguir resolver a crise atual.

É um caso de saúde pública com grandes implicações políticas, isso é certo. Estimativas indicam que três em cada quatro bebés norte-americanos consomem leite em pó infantil e 20% fazem-no logo a partir do segundo dia de vida. São muitas bocas para alimentar. Resultado: “Prateleiras vazias. Bebés com fome. Pais desesperados”, para citar Ian Bremmer, cientista político norte-americano que fundou o grupo de média G-Zero e a consultora Euroasia Group.

“A atual crise é a prova que tentar fazer tudo em casa pode tornar a economia mais vulnerável do que resiliente, à custa dos consumidores americanos”, afirma o também colunista da revista Time. “Os bebés americanos estão a pagar o preço.” Pelo menos, durante mais dois meses, se nada for feito até lá.

Fonte: VISÃO

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