Como uma mineradora, o STF e o governador Ronaldo Caiado se movem para adiar o fechamento de uma mina que mata
Solano Nascimento | Edição 228, Setembro 2025
Em julho de 2019, quando foi protocolada no Supremo Tribunal Federal uma ação para fechar uma mina de amianto na cidade goiana de Minaçu, o aposentado Sergio Grusca já tossia muito e sentia dores no peito, mas ainda conseguia sair de casa sozinho. Os pulmões pararam de funcionar aos poucos, e ele foi ficando recluso. “O pessoal vinha trazer oxigênio a cada três dias, depois a cada dois dias, e ele foi definhando”, contou sua vizinha, Eunice Rodrigues Teixeira, de 51 anos, durante uma conversa com a piauí numa tarde de junho. Ela acompanhou os últimos anos de Grusca, cujo trabalho na mina de Minaçu começou na década de 1970.
Ele morreu em janeiro de 2022, aos 73 anos, vítima de asbestose, uma doença também conhecida como “pulmão de pedra”, que causa o acúmulo de fibras do amianto nos pulmões, reduzindo lentamente a capacidade respiratória – até a morte.
Em janeiro de 2023, quase quatro anos depois da abertura da ação, quando o ministro Alexandre de Moraes suspendeu outro processo na Justiça goiana que ameaçava fechar a mina, Gerson Flausino Pinto já havia pedido à mulher para deixar de acompanhá-la às compras no mercado. “Ele sentia muita falta de ar e o peito doendo”, lembra a viúva, Estelita Rodrigues dos Santos Flausino. “Tinha aquela doença do amianto.” Flausino Pinto trabalhara 21 anos na mina de Minaçu, grande parte desse tempo no silo de armazenamento do minério. Cansado dos procedimentos médicos, o mineiro implorava para não voltar ao hospital, onde acabou morrendo de asbestose dez meses depois, aos 77 anos.
É professor de jornalismo na UnB e autor do livro Os Novos Escribas: O Fenômeno do Jornalismo sobre Investigações no Brasil (Arquipélago Editorial)
Fonte: Revista PIAUÍ-UOL
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