06.02.2019 às 16h00
Não, a genitália feminina não se resume a vulvas cor-de-rosa, sem pelos e com lábios pequenos. Nem tudo é como se vê nos filmes, nem tampouco como as cirurgias estéticas apregoam. Cada uma é como é, e não há um certo ou um errado. Mas como é que as mulheres vão saber tratar desta parte do seu corpo se continuam a sentir medo de a explorar, vergonha da sua aparência e nojo do seu cheiro? Depois da campanha de pensos higiénicos em que pela primeira vez a menstruação foi representada com um líquido vermelho e não azul, a Libresse volta com uma ode ao fim do estigma em torno da vulva. Acreditem, este é o melhor vídeo que vão ver hoje.
Não é a primeira vez que esta marca de produtos de higiene íntima feminina (do grupo sueco Essity) aposta em conteúdos que têm por base a desmistificação da genitália feminina e respetivos processos biológicos do nosso aparelho reprodutivo. Lembram-se da campanha que tinha por mote o slogan “Ao contrário da crença popular, as mulheres não sangram um líquido azul, sangram sangue. Ter o período é normal. Mostrá-lo também deveria ser”? Deu imenso que falar porque pela primeira vez o sangue menstrual era representado com um líquido vermelho, de acordo com a realidade.
Alguém tem menstruação azul ou verde? Pois, ninguém. Então porque é que é tão incómodo fazer um representação mais realista de um processo biológico tão normal e comum a mais de metade da população do planeta? Quando optamos por alterar a cor para representar algo tão normal quanto o sangue menstrual estamos a alimentar um tabu em relação a esse mesmo processo. E a reforçar a ideia de que o período é algo muito sujo e que pode ferir susceptibilidades. Curioso – ou nem por isso – que quando se trata de sangue de uma ferida isto não ganha contornos iguais. Já no que toca a algo que sai da vagina, entramos no patamar do grotesco. Como diria Eva Lenser em “Os Monólogos da Vagina, “é sempre tudo tão sombrio e secreto em torno delas, parecem o Triângulo das Bermudas”.
Posto isto, esta marca voltou à carga e apresenta-nos um vídeo divertido e acutilante, intitulado “Viva La Vulva”, que mostra que nem só de representações fálicas vive o mundo. A imagem da genitália feminina também está por todo o lado, das mais diferentes formas. E que, tal como aquilo que nós mulheres temos entre as pernas, isto é simplesmente normal, e associarmos uma imagem a uma vulva também não deve ser motivo de nojo, de bizarria ou de vergonha.
Tal como já uma vez escrevi por aqui, vivemos num mundo muito focado na aparência feminina perfeita, incluindo a da nossa genitália. São muitas as ‘vozes’ que nos gritam diariamente que a nossa genitália é feia, cheira mal e que tem de ser alterada porque deve ser mais atraente (aos olhos de quem?). Há a moda crescente das cirurgias plásticas à vagina e à vulva, quase sempre vendidas com o simples intuito de aperfeiçoamento estético da mesma (lá está, porque supostamente é feia). No mercado surgem também como cogumelos marcas de produtos de higiene íntima totalmente descabidos, onde até desodorizantes e cuecas perfumadas parecem ser indispensáveis a uma vulva que se preze, independentemente dos efeitos nefastos para o seu PH e saúde da flora vaginal (lá está, porque supostamente cheira mal). As depilações tornaram-se uma obsessão, sem que muita gente questione sequer as razões que nos levam a ter pelos nesta zona e qual a sua importância na saúde da mesma. Já para não falar da educação – quantas meninas repetidamente ouvem a frase “fecha as pernas” como se fosse algo a esconder? – e do impacto nefasto de comentários feitos por parceiros sexuais que também estão cheios de preconceitos e mitos sobre a genitália feminina.
Há muitos fatores históricos, sociais, culturais e religiosos, que levam a que muitas mulheres não se sintam confortáveis com o seu corpo. A verdade é que os nossos próprios genitais continuam a ser um mistério para muitas de nós, e a relação de intimidade com aquela que supostamente é a nossa parte mais íntima é muitas vezes inexistente. Há uns tempos, um estudo feito pela
Eve Appeal (uma organização que se dedica à investigação sobre cancros ginecológicos) revelava que, num inquérito feito a cerca de mil mulheres britânicas, mais de metade não conhecia a sua genitália. Não sabia identificar o que era a sua vulva ou a sua vagina, desconhecia o aspecto exterior, além de não ter noção da composição dos principais órgãos do seu aparelho reprodutor.
Volto a citar aqui Eve Lenser, em jeito de conclusão: “Preocupo-me com aquilo que se pensa sobre as vaginas, mas ainda me preocupo mais com o facto de não pensarmos nelas”. Nelas, e não naquilo que os outros poderão achar sobre uma parte tão importante do nosso corpo.
Fonte: https://expresso.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2019-02-06-Viva-La-Vulva-uma-celebracao-da-genitalia-feminina#gs.IkFmoIHB
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