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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Atingidos por crise econômica, argentinos reduzem viagens ao Brasil

O número de hermanos que estiveram no país caiu em 4,72% na comparação com 2017
A desvalorização do peso e a inflação alta afetaram principalmente os planos de viagem da classe média baixa argentina. Na foto, um turista brinca na Praia de Copacabana durante a Copa de 2014. Foto: Custodio Coimbra / Agência O Globo
A desvalorização do peso e a inflação alta afetaram principalmente os planos de viagem da classe média baixa argentina. Na foto, um turista brinca na Praia de Copacabana durante a Copa de 2014. Foto: Custodio Coimbra / Agência O Globo



Miami em janeiro, Fortaleza em março, Rio de Janeiro em julho, Espanha, para encerrar o ano, em novembro. Esse foi o calendário de viagens de 2018 da argentina Analia Carpi Caseiro, que vive em Buenos Aires. Com a escalada do dólar, este ano não será igual ao que passou. “Eu costumava viajar para o Brasil de duas a três vezes por ano. Neste 2019, fui somente para Pipa, no Rio Grande do Norte, e não vou poder voltar nem neste ano nem no próximo, que acho que também será difícil”, lamentou Caseiro, que trabalha no departamento jurídico da OSDE, empresa argentina da área de saúde.



É um ajuste no plano de voo pessoal — que afeta, de largada, as despesas com lazer — bastante conhecido dos brasileiros. A turbulência vem do início do atual governo do presidente Mauricio Macri, em 2015. De lá para cá, o preço do dólar em pesos saltou quase cinco vezes. Do início de 2018 para cá, a cotação da moeda americana na Argentina passou de 19 para 45 pesos. Macri precisou recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), obtendo um socorro de US$ 57 bilhões.

No dia a dia, os argentinos viram a inflação ultrapassar a barreira dos 50% nos últimos 12 meses. Tarifas de serviços, como gás e luz, e transporte dispararam. Junta-se a isso, a incerteza em torno das eleições presidenciais que acontecerão em outubro, quando Macri tentará a reeleição numa disputa com a ex-presidente Cristina Kirchner.


“A redução de turistas argentinos foi compensada, em parte, pelo aumento de visitantes de países como Uruguai, Chile e Peru”

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O efeito desse cenário para o viajante argentino, que precisou apertar o orçamento para dar conta da alta nas despesas, é o mesmo de uma tempestade para quem planejava fazer um piquenique ao ar livre. De janeiro a abril, o número de argentinos que embarcaram em um avião rumo a um destino no exterior encolheu 18,5%, para 1,489 milhão de viajantes. Só no mês de abril, a queda alcançou 23,6% segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec) da Argentina. O efeito para o mercado brasileiro é forte. A Argentina é o maior emissor de visitantes internacionais para o Brasil. No ano passado, foram 2,489 milhões de argentinos, ou 37,7% dos 6,62 milhões de estrangeiros que estiveram no país, segundo dados do Ministério do Turismo. O número de argentinos caiu em 4,72% na comparação com 2017, já anunciando os dias cinzentos para os hermanos que sonhavam em esticar as pernas em praias brasileiras nas férias quentes do início deste ano.

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Em janeiro, 95.400 argentinos viajaram para o Brasil, tombo de 22% em relação ao primeiro mês de 2018. Em março e abril, o recuo ultrapassou a barreira dos 23%, sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Sebastian Pizzati, diretor da Pizzati Viajes, operadora de turismo com sede em Mar del Plata, além de outras dez lojas físicas pelo país e um site para vendas on-line, conta que as viagens internacionais começaram a minguar em junho do ano passado, com o recrudescimento da situação da economia argentina. “Entre os destinos mais afetados, o Chile é o que mais vem perdendo argentinos. A queda do movimento para outros países vizinhos não é menos dura: Brasil, Paraguai e região registram reduções médias de 20%”, disse.

O turista argentino, segundo Pizzati, passou por uma dieta forçada. No último verão, as vendas da operadora para o Brasil encolheram 47%; para o Caribe, 58%. Já a comercialização de pacotes de viagem dentro do país avançou 18%. “Quem antes ia para o Caribe viaja agora para o Brasil. Quem viajava para o Brasil ficou pela Argentina ou nem viaja. O menor recuo na emissão de turistas para fora da Argentina foi para a Europa. A explicação é que esse é um destino para as classes mais altas, que são menos impactadas pela crise.”

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Em meio à crise econômica, o presidente Mauricio Macri tenta a reeleição numa disputa com a ex-presidente Cristina Kirchner. Foto: Agustin Marcarian / Reuters

No Sul do Brasil, onde os argentinos conseguem chegar também de carro ou de ônibus, o efeito foi mais forte. Em Balneário Camboriú, metade dos turistas costuma vir do país vizinho, contou Dirce Fistarol, vice-presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do município catarinense.

“A crise na Argentina, por causa da desvalorização cambial, derrubou em 30% o número de visitantes do país em Balneário Camboriú no último verão. Já sabemos que a próxima temporada também será menor. A classe média mais baixa foi a mais afetada, o que impacta diretamente o turismo de massa”, disse Fistarol, acrescentando que a cidade já trabalha para captar turistas de outros países do Mercosul, como Chile e Paraguai, além do Brasil. “Os visitantes passam a recorrer aos grandes portais de viagens ( em busca de preço mais acessível ).”

Na prática, os argentinos se apertam para encontrar uma viagem que caiba no bolso. Alexandre Moshe, diretor-geral do portal Decolar.com, conta que o número de argentinos que utilizaram o portal de viagens em 2018 subiu 11%. Nos meses de verão deste ano, a alta chegou a 21%. “Mesmo com a crise, o turista argentino tem um comportamento parecido com o do brasileiro e acaba usando sua criatividade para seguir viajando para outros destinos mais acessíveis. Busca opções com moedas menos valorizadas, voos mais baratos, hospedagens em categorias mais baixas e até opta por viajar de carro.”

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O ajuste para encaixar a viagem no orçamento reduzido, segundo Moshe, pode ser visto na migração para hotéis de categoria inferior. Em 2019, 38% dos turistas argentinos que usaram o Decolar escolheram hospedagem três estrelas, em comparação com 29,4% em 2017. A opção por um hotel cinco estrelas encolheu de 12,5% para 8,5% nesse período.

Destinos que registraram queda no número de argentinos de forma geral apresentaram alta para o Decolar, caso de Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador e Recife. No último verão, um impulsionador da demanda argentina no portal para o Brasil foram os pacotes com voos fretados, com custo entre 20% e 30% abaixo dos de roteiros com voos regulares.

“A passagem aérea subiu muito. Em maio, estive no Rio com meu filho e gastamos R$ 2.700 de passagem. No mês que vem vamos novamente e o gasto subiu para perto de R$ 3.500. É preciso pensar duas vezes antes de gastar, ficar de olho nas promoções”, contou Ximena Simpson, cientista política brasileira que vive há quase 20 anos em Buenos Aires. O número de argentinos que visitaram Balneário Camboriú caiu 30% no último verão. Foto: Moment Editorial / Getty Images

Como possui familiares no Rio, Ximena leva vantagem, porque não tem despesa com hospedagem na cidade. Em janeiro, esteve em Maceió, de férias. Em julho, contudo, virá ao Rio com a família, mas cortou possíveis extras, como um fim de semana em Búzios.

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A crise da Avianca Brasil, em recuperação judicial desde dezembro e cujas operações foram suspensas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) no fim de maio, também influencia esse horizonte. A saída da empresa do mercado já fez o preço das passagens aéreas subir no país.

Com a permissão para que empresas aéreas de baixa tarifa (low cost) operem no país, as argentinas Flybondi e Avian estão fazendo sua certificação operacional para voar para o Brasil. Esta última, contudo, que integra o grupo Avianca, suspendeu seu processo de licenciamento em meio à crise da Avianca Brasil, informou a agência.

“O cenário de incerteza na política e na economia também pesa e freia gastos com viagens. Os juros do cartão de crédito são altíssimos, não sabemos se tudo seguirá subindo. Impostos e serviços aumentam exponencialmente, mas os salários não avançam na mesma medida”, afirmou Analia Caseiro.


“O número de turistas argentinos caiu 23% em março e abril em relação ao mesmo período do ano passado. O país é a principal origem de visitantes estrangeiros no Brasil”

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Ricardo Domingues, diretor executivo da Resorts Brasil, que reúne mais de 50 dos maiores empreendimentos desse segmento no país, explica que anualmente, 11% dos hóspedes são estrangeiros, metade deles argentinos. “Os argentinos vêm para o Brasil principalmente no verão. No último, com a crise no país e a desvalorização do peso, nossos associados relataram queda de 35% no número de hóspedes argentinos no Sul, sobretudo em Santa Catarina, em destinos como Balneário Camboriú e Florianópolis. São lugares em que a ocupação média nesse período batia 90% e recuou para 70% ou 72%.” Os resorts sentiram efeito também na Bahia, com tombo similar, de 32%.

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A GJP Hotels & Resorts, com uma dezena de hotéis no país, explica que os argentinos são fração pouco representativa na ocupação total. Ainda assim, a retração é mais visível em destinos de lazer. No hotel Marupiara, em Porto de Galinhas, praia do município de Ipojuca, em Pernambuco, hospedaram-se 178 argentinos de janeiro a maio deste ano, ante 515 nos mesmos cinco meses de 2018. Já no hotel Prodigy Santos Dumont, no Rio, onde a ocupação é ancorada no viajante corporativo, a queda foi de 261 para 243 em igual período.

Alfredo Lopes, à frente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), que reúne a hotelaria carioca, confirma que houve retração na chegada de turistas argentinos na capital fluminense neste ano, embora não disponha de números atualizados. A saída da Avianca Brasil do mercado fez o preço das passagens aéreas subirem, o que dificultou ainda mais a vida do turista argentino. Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

No Nordeste, Porto de Galinhas está entre os destinos que receberam menos hermanos. De março a maio, a retração bateu em 32% no número de argentinos, disse Brenda Silveira, representante local do Convention & Visitors Bureau. “Tivemos uma queda de argentinos em janeiro, mas conseguimos suprir com os brasileiros, porque, com a alta do dólar, há um aquecimento do turismo doméstico também no Brasil. O pico dos argentinos para cá é em fevereiro e março, pois é quando eles ainda estão de férias e já há queda nas tarifas no Brasil, porque as férias daqui terminaram.”

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Não por acaso, a retração na vinda de argentinos para o Brasil em fevereiro foi de apenas 5,1%, com movimento de 115 mil viajantes, segundo o Indec. “Com menos argentinos, nossa ocupação no primeiro semestre caiu cerca de 15%. Mas estamos trabalhando outros mercados latino-americanos e tentando suprir essa queda. São mercados prioritários para o Nordeste, já que, em concorrência com o Caribe, temos a vantagem geográfica e voos mais acessíveis”, disse Silveira.

O Ministério do Turismo afirma que vem trabalhando para reduzir o custo e diversificar a oferta turística brasileira tanto para os viajantes domésticos quanto para os estrangeiros. “Faz parte dessa estratégia a atração de empresas aéreas especializadas em passagens de baixo custo, como a Air Europa. Importante ressaltar que, apesar da queda no número de turistas argentinos em 2018, o Brasil registrou crescimento na chegada de outros importantes emissores da América do Sul como Chile, Paraguai, Uruguai e Peru”, diz a nota da pasta. 
 
Fonte: https://epoca.globo.com/atingidos-por-crise-economica-argentinos-reduzem-viagens-ao-brasil-23752990

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