Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

12 razões da guerra contra a Síria


A Líbia, dona de imensos campos de petróleo foi dividida entre os jihadistas sócios da OTAN. Agora, é a vez da Síria. E o próximo passo, o Irã.


Nazanín Armanian
UNRWA
A destruição da Síria, membro do chamado “Eixo do mal”, foi planejada em 2003, uma vez que a OTAN já tivesse desmantelado o Iraque, o Irã e a Líbia. O motivo, obviamente, não era e nunca foi acabar com outro dos “regimes patrocinadores do terrorismo” – basta ver que o Paquistão e a Arábia Saudita não formam parte da lista, que foi elaborada durante o governo de George W. Bush. Os objetivos, na verdade, são outros:

1) Eliminar os rivais de Israel, sem parecer que “destruir países muçulmanos configura islamofobia”, como afirmam alguns, mas sim concordar com outros, que advogam que “o extremismo islâmico é inimigo do ocidente”. O fato de os regimes de Saddam Husein, Gadafi e Assad tenham sido semi laicos, e que o “ocidente” mantenha magníficas relações com os ortodoxos obscurantistas sauditas, invalidam ambos os argumentos

2) Engendrar “o Novo Oriente Médio”, o que teria que ser acompanhado de grandes e inevitáveis “dores de parto”, como dizia Condoleezza Rice. Seu desenho exige despedaçar os grandes Estados, formando mini-protetorados, garantindo assim o domínio duradouro do império sobre a estratégica região com a maior reserva de petróleo e gás do mundo, disputada pela China, pela Rússia e pela Europa.
 
O plano foi um sucesso: no Anos 90, já conseguiram desmembrar o Iraque (já que o Curdistão é praticamente independente), a Iugoslávia, o último país socialista da Europa, e também o Sudão, o maior país da “África Muçulmana”, também detentor de importantes bolsas de petróleo. A Líbia, defensora de Palestina, dona de imensos campos de petróleo e de bolsões de água doce, foi dividida entre os jihadistas sócios da OTAN. Agora, é a vez da Síria, mais um passo rumo ao verdadeiro troféu: o Irã, a maior reserva de gás e a terceira maior de petróleo do mundo.


Uma desgraçada localização


Após transformar o moribundo Iraque num monte de escombros, George W. Bush se concentrou no Irã, seguindo a doutrina de “dupla contenção” (“dual containment”), que propõe frear o desenvolvimento do Irã e do Iraque em beneficio da supremacia de Israel. Para isso, além de impor sanções econômicas e castigos políticos ao Irã, tinham que desintegrar o chamado “eixo de resistência” (a Israel), a aliança criada por Teerã, com três vizinhos do país judeu: Síria, Hezbollah (no Líbano) e Hamas (na Palestina) – que lhes entregava apoio financeiro, político e militar, enquanto o Irã contaria com sua cooperação no caso de ser atacado por Israel. Por isso:

1) Para realizar uma agressão militar efetiva contra o Irã, a equipe de Bush decidiu primeiro desestabilizar a Síria – com isso, desativaria também o Hamas e o Hezbollah. A estratégia é confirmada pelas informações vazadas pelo WikiLeaks, em 2006, a respeito das operações encobertas da CIA contra Damasco. Este é o principal motivo da guerra que vem devastando a Síria, aproveitando a situação de crise econômica e social do país. Enquanto Barack Obama aponta sua prioridade em conter o crescimento da China, seu governo se nega a uma guerra bélica contra o Irã – mas não a uma ciberguerra e a uma guerra econômica –, e optou por fazer da Síria uma armadilha para os rivais de Israel, prolongando o conflito até hoje. A “crise dos refugiados” sírios na Europa será um catalisador na hora de desmantelar o Estado sírio e por fim ao regime de Assad.

2) Que os Estados Unidos pretenda:

3) Tomar o controle militar de todo o mediterrâneo: a Síria, depois da queda da Líbia de Gadafi, é o único país fora da área da OTAN na zona.

4) Dominar a Eurásia – a “heartland” ou “Área Pivô” – a partir da Síria.

5) Desmantelar a base militar russa no porto de Tartus. Destruir o exército sírio, por seus tradicionais e profundos vínculos com Moscou – o mesmo foi feito com os exércitos do Iraque e da Líbia.

6) Cortar a rota da seda da China, que passava pela Síria.

7) Apresentar a “queda de Assad” como um troféu – às vésperas das eleições presidenciais de 2016, os democratas não podem permitir que Assad sobreviva a Obama.

8) Arábia Saudita e Qatar necessitam instalar, no Iraque e na Síria, regimes sunitas aliados, para poder traçar o “Gasoduto Árabe”, que deve atravessar ambos os países, para chegar ao Mediterrâneo. Pretendem substituir a Rússia como principal fornecedor de gás à Europa, e anular o projeto de um gasoduto Irã-Iraque-Síria-Mediterrâneo. Seu objetivo de manter os preços do petróleo baixos é para forçar a Rússia e o Irã – fortemente dependentes da renda do petróleo e do gás – a abandonarem Assad.

9) A Turquia pretendia recuperar a hegemonia otomana e sunita (versão Irmãos Muçulmanos), sobre a Síria, seu mercado e suas reservas de gás e petróleo. Ao não conseguir isso, agora se dedicam à criação de uma autonomia curda no país. Para isso, planeja inclusive invadir a Síria, apesar do risco de se desgastar política e militarmente com essa movida.

10) Israel, que continua bombardeando a Síria, conseguido seu objetivo de acabar com esse Estado e deixar o Irã sem sua “profundidade estratégica”. Graças a uma insólita aliança anti-iraniana com a Arábia Saudita e a Turquia, conseguiu aumentar a pressão do Estado Islâmico ao Irã, que já está rodeado por milhares de soldados da OTAN.

11) A Rússia, através do território sírio, tentou impedir o avanço dos jihadistas, com muitos chechenos em suas filas, para manter esse grande mercado de armas, salvar sua base naval em Tartus e evitar o domínio absoluto dos Estados Unidos sobre o Oriente Médio.

12) Os militares iranianos, que se negam a perder um aliado como Assad (e olham com preocupação o aumento da tensão no Líbano), se envolveram diretamente na guerra, enquanto o governo de Hasan Rohani já fala de uma Síria sem Assad. Uma divisão, ainda que normal, poderá gerar uma perigosa fratura política no seio da República Islâmica.

Com tantos interesses em conflito, será possível alcançar a paz na Síria?


* Nazanín Armanian é iraniana, residente em Barcelona desde 1983. Formada em Ciências Políticas, dá classes em cursos online da Universidade de Barcelona e é colunista do diário online Público.es.
 
Tradução: Victor Farinelli

Fonte: http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FInternacional%2F12-razoes-da-guerra-contra-a-Siria%2F6%2F34567

Nenhum comentário: