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terça-feira, 12 de abril de 2022

Por que a emenda de R$ 1 milhão de Eduardo Bolsonaro para o surfe é um escândalo?


Há uma infinidade de irregularidades inacreditáveis. Investigação é só mais uma no currículo do governo capenga que ainda insiste na tese risível de que é “zero corrupção” – Por Henrique Rodrigues

Eduardo Bolsonaro, o deputado surfista.Créditos: Reprodução/Paradouro Ondas do Sul
Escrito en OPINIÃO el 11/4/2022 · 17:53 hs


O caso do evento de surfe que receberia R$ 1 milhão de uma emenda parlamentar de autoria de Eduardo Bolsonaro não é só um escândalo, é um escárnio. Apenas siga o fio e entenda o episódio.

Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, propõe uma emenda no valor de R$ 1 milhão para que um evento de surfe seja organizado. Pois bem, até aí, esse seria o papel de um deputado ao destinar verbas da União para a realização de algo.

O projeto prevê cinco cidades como sedes das etapas e a principal delas é São Paulo. Só pra lembrar, São Paulo não tem praia.

Para isso, foram solicitados orçamentos de três empresas. Duas delas correram para afirmar que nunca participaram da disputa e que não enviaram proposta alguma. Os representantes dessas entidades, a Fábrica de Eventos e a Match Esportes, se pronunciaram oficialmente e, após verem os documentos, disseram que os orçamentos são forjados.

A terceira empresa, a Tenisarte, que venceu a concorrência, não mantém qualquer meio de contato público, exceto um telefone que consta no site da Receita Federal, embora ninguém o atenda. Quem fez as "cotações" foi o Instituto Vincere, que ao ser cobrado disse não ter muito conhecimento sobre o assunto, já que uma "colaboradora do Maranhão" teria ficado encarregada de resolver a concorrência do projeto levado por Eduardo Bolsonaro à Câmara. 

Eles disseram ainda que não mantém relação alguma com o deputado filho do presidente, o que torna incompreensível o fato do projeto ter ido parar nas mãos do parlamentar e ter sido apresentado numa emenda. O Instituto Vincere organiza e realiza "corridas ao ar livre" e "campeonatos de futebol", nos dois casos, com atletas amadores. A competição proposta era de caráter "profissional" e classificada como "esporte de alto rendimento".

Nesse caso, de competições com profissionais de surfe, uma das entidades que representam o esporte no país, a Confederação Brasileira de Surfe ou a Federação Estadual de Surfe de São Paulo, deveria ter participação, mas elas não chancelaram o evento, nem tinham conhecimento do que se tratava.

No projeto apresentado para justificar a destinação de R$ 1 milhão está, por exemplo, o gasto de até R$ 25 mil em cada prancha de surfe comprada para ser sorteada aos participantes. Para se ter uma ideia, uma prancha top da Haydenshapes Surfboards, modelo Hypto Kryto, usada pelas maiores feras do planeta, custa R$ 7.500, enquanto uma Al Merrick, modelo Neck Beard 3, escolhida também por vários atletas de nível mundial, custa no máximo, aqui no Brasil, R$ 5.200.

A partir daqui, a coisa começa a piorar ainda mais, se é que isso é possível.

Os funcionários técnicos do Ministério da Cidadania deram parecer negativo para o projeto que pretendia levar R$ 1 milhão e listaram 10 problemas como justificativa para negá-lo. A iniciativa foi barrada.

Aí, meses depois, o novo secretário Nacional de Esportes de Alto Rendimento, Bruno Bezerra de Menezes Souza, às 23h34 de 31 de dezembro de 2021, repentinamente, resolveu dar parecer favorável e liberá-lo no sistema do Ministério. Sim, você não leu errado. Faltando 26 minutos para acabar o ano, quando você já estava respondendo mensagens de Feliz Ano Novo para os amigos, meio bêbado e aguentando aquele tio inconveniente, só aguardando os fogos, um funcionário com cargo de secretário Nacional resolveu trabalhar e entrou no sistema do Ministério da Cidadania para, contrariando 10 alegações técnicas do profissionais da pasta, liberar o projeto do filho do presidente da República para conseguir garantir R$ 1 milhão antes que o ano virasse e a proposta de emenda expirasse.

Por fim, o dinheiro (R$ 1 milhão) foi "empenhado", ou seja, reservado para o pagamento, em 4 de janeiro. Só que em 31 de março deste ano, o próprio Instituto Vincere pediu o cancelamento do contrato, após os primeiros indícios terem sido revelados pela imprensa. Seguindo o rito habitual, o Vincere não disse porque não queria mais R$ 1 milhão, ao passo que o Ministério da Cidadania disse que a decisão de liberar foi técnica (às 23h36 de 31 de dezembro, pelo secretário Nacional de Esportes de Alto Rendimento), enquanto Eduardo Bolsonaro simplesmente não responde a um só contato dos jornais que atolam sua assessoria pedindo explicações.

Só pra frisar: o mote do governo de Jair Bolsonaro, e da campanha pela sua reeleição, é a "corrupção zero" de seu mandato, completamente soterrado de denúncias de roubalheira em vários setores.

Fonte: Revista Fórum

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