Quem sofria um desastre marítimo, assim como quem sofre um acidente aéreo ou rodoviário, acaba padecendo um duplo desastre, como consequência da existência de gente miserável e de outros não necessitados, mas esganados e inescrupulosos.
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- OSWALDO RODRIGUES CABRAL - Nossa Senhora do Desterro - Edit. Lunardelli/Fpolis-SC/1979, vol. 1 - p. 399, destacou o reprovável costume - hoje imitado por populares quando se acidenta um caminhão de carga nas rodovias, de assaltar os despojos de barcos naufragados:
Como se vê, o pior dos perigos nem sempre estava no mar...Muitas vezes, dele escapos, passageiros e tripulações viam-se na contingência de ter de escapar à fúria dos praianos das proximidades de onde acontecesse o sinistro, gente que acudia em massa, não para prestar qualquer socorro e auxiliar os náufragos, mas para saquear os salvados, na presença às vezes dos seus legítimos proprietários, aos quais disputavam a posse dos objetos.
Populações vivendo quase na mais angustiosa miséria, disputavam os destroços como coisa sua, de seu direito, se dessem à praia, cargas, mercadorias, utensílios, o que fosse - e muitas não faltou o machado para destruir o madeirame, as obras mortas dos barcos, tudo o que pudesse ser aproveitado, e até mesmo o que para coisa alguma pudesse ter serventia. E não hesitava matar, até, para apropriar-se das bagagens dos passageiros, jogados à praia.
Era um perigo naufragar. E, por vezes, muito maior ir dar em alguma praia de tal gente…
A descrição feita por Cabral, fez-me lembrar do acidente do avião da Transbrasil, que caiu no Morro da Virgínia, no distrito de Ratones, quando cenas que aconteceram, igualmente lamentáveis, com envolvimento de parte da população local e por pessoas vindas de outras comunidades vizinhas ao dito morro.
E pior ainda foi o episódio da apropriação indébita de jóias dos passageiros, promovida por um delegado e um agente da Polícia Civil, a cujos cuidados estavam ditos pertences dos passageiros da aeronave.
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