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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Porta da Esperança?

PETAH TIKVA NÃO É UMA BOLHA

TEL AVIV – Há dez anos moro numa cidade da Grande Tel Aviv chamada Petah Tikva ("Porta da Esperança", em hebraico). Foi fundada em 1878, muito antes da Partilha da Palestina (1947) e da criação do Estado de Israel (1948). Fica cerca de 60 km de Jerusalém e 10 km de Tel Aviv. Costuma ser calma, sem grandes novidades. Um subúrbio como todos os outros no mundo. Tem um cinema, um grande shopping center, vendinhas, lojas de rua. Ultimamente, ganhou novos restaurante numa área industrial, mas ainda é uma cidade pequena para os padrões do Brasil, com algo em torno de 230 mil habitantes – pouco mais que Petrópolis, no Estado do Rio.


Por Daniela Kresch
Jornalista
direto de Israel



Por seis anos, morei no centrão da cidade, perto da rodoviária, da feira (o shuk) e das ruas de comércio. Andei centenas de vezes pelas ruas do centro sozinha e com a minha filha para comprar roupas e sapatos baratos, frutas e legumes, etc. Eu morava bem perto do centro a até quatro anos, quando me mudei para outra parte da cidade. Mas minha agência bancária ainda é no centro. Ainda frequento as lojas e a feira. 

Na semana passada, um ataque terrorista abalou o centro de Petah Tikva e a sensação de que, nesta cidade-subúrbio, o conflito com os palestinos é algo um pouco distante. Um palestino de 19 anos abriu fogo contra transeuntes pertinho do shuk. Por sorte, a pistola improvisada emperrou e o palestino só conseguiu ferir uma pessoa, além de atingir vitrines e a janela de um ônibus. O terrorista saiu correndo, perseguido por civis. Conseguiu furar um dos perseguidores com um objeto pontiagudo antes de ser ferido e detido.




Quem é esse terrorista? Segundo informações da imprensa israelense, o rapaz de 19 anos decidiu cometer o atentado depois de ter tirado notas baixas no vestibular local. A mãe gritou com ele e o garoto resolveu que iria se redimir cometendo um gesto de “bravura”: matar infiéis (no caso, judeus). Para muitos jovens palestinos (principalmente muçulmanos), ser um “mártir” é fazer a transição de “zero para herói”. De alguém com problemas em casa, no trabalho, nos estudos, no amor, eles se transformariam rapidamente em “heróis” ou “mártires” (caso morram em meio ao ataque). Muitos são festejados em suas comunidades, suas famílias ganham prestígio e, ás vezes, dinheiro. 

Os casos recentes de atentados em Israel têm, em geral, esse tipo de característica. Alguém frustrado e influenciado por uma cultura do “martírio contra infiéis” decide, de um segundo para o outro, cometer um ato de terror. Nem sempre têm grupos terroristas por trás, como no caso da Segunda Intifada (2000-2005). 

Aliás, na época de Segunda Intifada, Petah Tikva também sofreu com dois atentados, em maio de 2002 (dois mortos, um deles um bebê, por um homem-bomba perto de um pequeno centro comercial perto da minha casa atual) e em dezembro de 2003 (um homem-bomba se explodiu num ponto de ônibus, matando cinco). Nesses dois casos, grupos terroristas como Hamas e Jihad Islâmica assumiram a autoria. Bombas não são fáceis de fazer em casa. Em geral, são fruto de grupos organizados. 

Mas sair esfaqueando ou atirando com uma arma qualquer é, em geral, algo mais pessoal. Teve três ataques assim em Petah Tikva, desde 2006. Infelizmente, a cidade também faz parte da estatística do terrorismo. Mas, quem conhece a história da cidade, percebe que ela nunca foi uma “bolha” de segurança, assim como outras tantas em Israel. 

A cidade foi criada em 1878 por pioneiros europeus religiosos que compraram terras na região. Se tornou o primeiro vilarejo agrícola judaico do Império Otomano. Enfrentou muitas dificuldades, como malária e outras doenças. E os ataques dos vizinhos árabes começaram, já em 1886. Outros se seguiram em meio ao conflito territorial-religioso-político que permeia a Terra Santa desde meados do século XIX, quando a imigração judaica para a Palestina coincidiu com o começo do fim do Império Otomono. Na verdade, no entanto, a gente sabe que há conflito (territorial, político e, principalmente, religioso) por aqui, há milênios. 

Fico imaginando se, no Brasil, com a crise econômica, as pessoas decidissem matar pessoas nas ruas não para roubar, mas para se transformarem em “mártires” e “heróis” em suas comunidades. Já há violência social o bastante para que o componente do fanatismo religioso seja incluído nessa equação. Aqui, felizmente, não há uma crise econômica como no Brasil. Mas, se houver, sem dúvida esse tipo de ataque baseado na soma de “frustração + brainwashing religioso” só cresceria. Vamos torcer para que isto não aconteça.

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