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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Manifesto feminista pelo romance pervertido

Há nem tanto tempo assim, cometeram o disparate de separar o sexo do amor. Demonizaram o tesão e santificaram o amor recatado, criando a oposição “fazer amor” versus “putaria” – tudo pela família patriarcal. O mundo avançou desde então, mas a tal Revolução Sexual dos anos 60 não foi suficiente pra libertar o corpo e a mente, não garantiu o direito à libido feminina e nem discutiu a questão da afetividade. Em pleno 2016, é normal a trepada na novela das 9 e o close na bunda, mas os homens ainda insistem no abismo entre sexualidade e afeto, separando mulheres entre santas e putas, pra namorar ou pra transar, mantendo o pudor e o machismo dignos da burguesia do século XIX.
Eu vejo gente púdica. Todo o tempo. Do tipo que faz mil piadinhas sujas, mas não sabe falar naturalmente sobre sexualidade, vive cheia dos tabus e adora apontar a imoralidade alheia – feminina, óbvio. Gente que fala “é só sexo” como se fosse a relação mais desprezível do mundo e sonha com o romance que vai dar namoro/casamento, esse sim, socialmente aceitável. Um bando de homem enchendo a boca para falar que comeu e ainda chamando de vagabunda, como se sexo fosse desumanizante. Dama na sala e puta na cama, essa é a moral arcaica que esfregam na nossa cara o tempo inteiro.
Parece que quanto mais você expressa sua sexualidade livre, menos elegível se torna para o mítico “amor romântico”. O sexo está lá, como componente de qualquer relacionamento afetivo saudável, mas fica encerrado no privado, domesticado entre quatro paredes. Existe o famigerado “sexo com amor” e o resto é sexo com indiferença, quando não sexo com ódio, porque no fundo ainda pulsa aquela moralzinha cristã que marginaliza o prazer. Não adiantou expor o sexo ao máximo sem quebrar os velhos paradigmas, o resultado é uma sociedade que estimula a hipersexualização ao mesmo tempo em que condena, onde “mulher livre” e “mulher bem resolvida” ainda convivem com “mulher fácil” e “mulher rodada”.

Meu apelo como mulher e feminista é pelo romance pervertido, pela sacanagem fofa, pelo amor despudorado e sexo legalizado. Quero o sexo e o afeto inseparáveis, entrelaçados como os corpos, ora em êxtase, ora em repouso. Quero os elogios mais obscenos, a depravação mais carinhosa, palavrões e beijos saindo da mesma boca. Que toda libidinagem seja permitida, que qualquer abraço vire um convite, que quanto mais eu ame mais devassos sejam os meus pensamentos. Que o tesão e a ternura, enfim, vençam os séculos de perseguição e fiquem juntos para sempre, apadrinhados pelo respeito.
Por um mundo em que a sacanagem só venha no bom sentido, por mais gente safada, realizada e amando sem poder e sem pudor. Pela libertação sexual e afetiva das mulheres de fato, sem estigmas, sem o fantasma da repressão e o terrorismo da objetificação, sem a sombra do príncipe encantado e do cavalheiro. Por uma sexualidade livre para todas e todos, com respeito, afeto, empatia e muito amor – não aquele amor romântico idealizado, mas todas as formas de amar e se relacionar. Pela reconciliação entre sexo e amor, contra toda a opressão histórica que adoeceu a mente e condenou o corpo. Por fim, que abrir as pernas combine com abrir o coração – e seja tão admirável quanto.

Fonte: https://cafefeminista.wordpress.com

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