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quarta-feira, 7 de março de 2018

A família, a religião e a democracia





No seu livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, Friedrich Engels mostra que a organização familiar foi a primeira forma organizada do ser humano a estabelecer regras de procedimento nas relações entre as pessoas, pondo um limite na violência atávica que permitia aos mais fortes impor suas vontades.

Baseado nos estudos do antropólogo Lewis Henry Morgan sobre os índios norte-americanos da tribo iroquesa, Engels comprovou que o desenvolvimento da família, das antigas formas tribais até chegar ao modelo monogâmico de hoje, está ligado à forma como os grupos humanos se apropriam das riquezas naturais da terra.

Segundo ele, nesse desenvolvimento histórico, podemos definir a existência de três etapas, anteriores ao atual modelo familiar:

1) A família consanguínea, com o casamento de irmãos e irmãs, carnais e colaterais no seio de um grupo.

2) A família punaluana, com o casamento coletivo de grupos de irmãos e irmãs, carnais e colaterais no seio de um grupo

3) A família sindiásmica, com as uniões por casais durante um determinado tempo, mas já com o aparecimento de uma esposar principal e de um esposo principal.


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Quando, em virtude do desenvolvimento das formas de produção, o homem já havia conseguido dominar boa parte das forças da natureza e começado a acumular riquezas, desenvolveu-se nele um forte sentimento de egoísmo, fazendo com que ele sentisse a necessidade de identificar seus filhos, que seriam os herdeiros de suas riquezas.

Segundo Engels, esse modelo de monogamia teria surgido na antiguidade clássica, há três mil anos e que, de uma maneira ou outra se preserva até hoje nas suas linhas gerais.
Nesse formato de relação, Engels vê também a origem da opressão das mulheres e o estabelecimento da prostituição, desmentindo a ideia de que elas acompanhariam todas as formas de relacionamentos entre homens e mulheres.

Com a apropriação privada pelas famílias mais fortes, ou mais competentes, das riquezas que antes eram de todo o grupo, essas famílias, trataram de criar um tipo de superestrutura capaz de estabelecer regras de convívio entre todos, impedindo que, as que se atrasaram nessa corrida pelas riquezas, retomassem os procedimentos anteriores de selvageria e desrespeito à propriedade dos outros.

Surge assim o Estado, produto direto da primeira grande divisão de classes da sociedade, destinado a impedir que o status quod conquistado pelos mais ricos pudesse ser alterado.
Essa organização é ainda no seu início bastante frágil e é preciso ser defendida contra o ataque dos excluídos e para isso são estabelecidas determinadas regras, basicamente divididas em dois grupos: as regras de convivência entre pessoas e grupos e regras de compromissos éticos e morais entre os indivíduos.

Estabelecer regras de convivência entre pessoas e grupos com interesses muitas vezes opostos, demandou um esforço muito grande de convencimento, além da criação de uma força de coerção bastante eficiente.

Na Grécia, onde ele foi formulado pela primeira vez, ele tomou o nome de democracia, significando um governo do povo, mas excluía boa parte da população.

Até hoje, a ideia de democracia, principalmente na sua vertente ocidental, pode ser enaltecida em discursos acadêmicos e políticos, mas ao excluir de suas benesses boa parte da população, está sempre sob o ataque dos inconformados.

Este inconformismo pode ser dividido em dois segmentos: o daqueles, que como no ludismo dos trabalhadores inglesas, no início da revolução industrial, queriam destruir as máquinas para preservar seus empregos e são representados hoje pelos seguimentos fascistas que pretendem destruir todo o sistema democrático atual e os que, percebendo seus estreitos limites, querem sua ampliação dos seus aspectos apenas formais para todo o campo social.

Dissemos antes que haviam dois modelos de superestrutura no qual se apoiam a existência do Estado. O primeiro seria a democracia e o segundo a religião.

As grandes religiões monoteístas sempre serviram para justificar a divisão da sociedade em classes (Marx disse com propriedade que a religião era o ópio do povo), na medida em que transferem para um futuro improvável, aquilo que deveria ser conquistado aqui e com isso ajudavam a preservar as diferenças de classe. Hoje, esses dois elementos - democracia e religião - estão sob o ataque das mentes mais esclarecidas que pretendem aprimorar o primeiro, a democracia e transformar o segundo - a religião, num sentimento apenas pessoal, mas sem maiores significados para o relacionamento social

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

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