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quarta-feira, 14 de março de 2018

Globalização continuará sem os Estados Unidos





Se antes os EUA eram a nação indispensável na promoção da globalização, a fila andou










Oliver Stuenkel
13 MAR 2018 - 17:34 BRT Trump comenta a demissão de Rex Tillerson SHAWN THEW EFE


"Somos a nação indispensável. (...) Enxergamos mais longe que outros países", declarou a então secretária de Estado Madeleine Albright, do governo Clinton, durante reunião da ONU em fevereiro de 1998. A ideia se tornaria um dos conceitos básicos da política externa norte-americana. Em 2014, o presidente Barack Obama foi mais um dos muitos políticos nos EUA a tomar emprestada a frase de Albright quando afirmou, em palestra em West Point: "Quando um tufão atinge as Filipinas ou alunas são sequestradas na Nigéria, ou homens mascarados ocupam um edifício na Ucrânia, são os Estados Unidos que o mundo procura para pedir ajuda. Os Estados Unidos são e continuam a ser a única nação indispensável. Isso foi verdade para o século passado e será verdade para o século que virá ".

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Mesmo antes de Trump, essa visão sempre foi baseada mais em ficção do que em fato. A opinião pública, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior, geralmente tendeu a superestimar a influência dos EUA. O recuo histórico dos EUA liderado por Trump, tem, portanto, gerado grande preocupação com o futuro da ordem global. Mas foi durante as últimas semanas que uma série de eventos mostraram, de forma contundente, como a comunidade internacional aprendeu a se adaptar ao mundo em que os Estados Unidos já não desempenham um papel de liderança. O anúncio do presidente americano de aumentar as tarifas das importações de aço em 25% e de alumínio em 10%, depois de ter retirado os EUA da Parceria Transpacífica no primeiro dia de sua presidência, aprofundam a retração global de Washington. Apenas uma década ou duas atrás, isso teria significado um desastre para a economia global.

Hoje, porém, o cenário é muito menos alarmante. A reação em capitais ao redor do mundo foi pragmática. No mesmo dia em que Trump anunciou as tarifas, os onze membros restantes da Parceria Transpacífica, que constituem meio bilhão de pessoas e representam cerca de 13% da economia global, assinaram um acordo de livre comércio (agora chamado de TPP11). Em um ato simbólico, Canadá e Mercosul deram início à negociação de uma área de livre comércio, e espera-se, ainda neste ano, a conclusão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, juntos representando quase 700 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, Xi Jinping, presidente chinês, tem se projetado como um dos principais defensores da globalização em uma tentativa de preencher o vácuo deixado pelos Estados Unidos. Tudo isso mostra que a política comercial de Trump muito provavelmente não causará uma onda global de protecionismo. Apesar de o dano que a estratégia americana pode produzir, o mundo avançará suas negociações sem Washington.

O protecionismo de Trump também terá impacto em temas de segurança internacional, mas nessa área o resto do mundo igualmente se adaptará sem ruptura. A imposição de tarifas contra países amigos, em médio e longo prazos, reduzirá a capacidade dos EUA de moldar a política global em um sentido mais amplo. Ao elevar tarifas alfandegárias, Washington perde um de seus principais trunfos na barganha com outros países: acesso ao mercado dos EUA. As consequências já são visíveis, com pesquisas indicando que a confiança e o apoio aos Estados Unidos em todo o mundo caíram, particularmente nos países tradicionalmente aliados a Washington. Não seria surpreendente se um futuro presidente dos EUA revertesse as políticas adotadas por Trump.

A reação da comunidade internacional mostra que está se adequando ao novo status quo. Outros países já têm assumido, com frequência, a liderança internacional. As contribuições deles não são novas, mas, ironicamente, foi preciso a chegada de Trump para que elas se tornassem mais evidentes. Por exemplo, enquanto os EUA reduziram recentemente seu orçamento para missões de paz, China e Índia continuam enviando tropas para essas missões, mesmo em regiões de perigo. O Brasil deve mandar, apesar de seus muitos desafios internos, 750 soldados para apoiar a missão de paz da ONU na República Centro-Africana. No que diz respeito aos esforços de anti-pirataria no Oceano Índico, Pequim já faz contribuições significativas por meio de suas forças navais. Ao contrário dos EUA, a China não acumulou dívidas com a ONU nos últimos anos, e Pequim agora é o principal fornecedor de crédito para infraestrutura em muitas regiões do mundo, inclusive na América Latina, e lidera instituições novas, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB).

Especialmente no imaginário latino-americano, a liderança global dos EUA é tão profundamente enraizada e onipresente que muitos ainda pensam nela como algo natural, reduzindo a capacidade de avaliar objetivamente as consequências de seu declínio – isso vale tanto para quem tem uma visão positiva da influência dos EUA quanto para quem culpa Washington por qualquer problema interno, mesmo que não tenha relação com a atuação americana. Nesse contexto, é encorajadora a resposta recente de líderes latino-americanos: em vez de reproduzir a retórica protecionista de Trump, procuram ativamente se aproximar de parceiros alternativos, como União Europeia, Canadá e China. É um excelente sinal de que a temida guerra comercial, que teria péssimas consequências para todos, pode ser evitada. Vida que segue.

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