28 de novembro de 2025, 09:08 h
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Alysson Mascaro lança Crítica do Cancelamento na Casa de Portugal (Foto: Victor Barau)

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Dafne Ashton
247 - A entrevista do filósofo e jurista Alysson Mascaro ao programa Boa Noite 247 trouxe uma análise central para compreender o momento político do país. A partir do debate sobre a prisão de militares de alta patente no caso da trama golpista, Mascaro defendeu que o papel das Forças Armadas perdeu importância estrutural na lógica do capitalismo brasileiro contemporâneo.No programa da TV 247, Mascaro afirmou que os acontecimentos recentes confirmam uma tese que desenvolve há anos: “A reprodução do capital no Brasil já prescinde dos militares”. Para ele, o processo histórico que desembocou na punição de generais golpistas evidencia uma reorganização de poder que coloca o núcleo jurídico-institucional e o estamento econômico financeiro no centro do tabuleiro.
O deslocamento do poder no interior do golpe
Durante a entrevista, Mascaro recordou que, no golpe de 2016, houve uma inversão de papéis em relação ao ocorrido em 1964. Segundo ele, “em 2016, os civis — e puros civis aqui é a casta, o estamento do poder judiciário — estiveram na frente, e os militares estiveram atrás”. Para o filósofo, esse desenho explica por que a responsabilização de hoje recai apenas sobre parte da cúpula fardada.Ele argumentou que o Ministério Público e o Judiciário desencadearam e encerraram o ciclo golpista, e que isso se revela no fato de que “quem nunca é preso, quem nunca é levado às barras de um julgamento, tem o poder maior”. Enquanto generais são condenados, figuras centrais da engrenagem jurídica seguem intocadas.
O lugar secundário das Forças Armadas na máquina econômica
Mascaro sustentou que a queda de militares envolvidos na articulação golpista não abala os pilares econômicos do país: “se eles forem presos, a reprodução econômica do Brasil, a Faria Lima, continua do mesmo jeito”. Ele reforçou que o capital financeiro e os agentes que operam o aparato judicial têm hoje prioridade na proteção sistêmica.Ao comparar esse quadro com a presença militar nos golpes do passado, o jurista observou que a transição é reveladora: “Se um general foi preso e nada aconteceu com Sérgio Moro, com Dalanhol, então é sinal de que o estamento militar pode ser posto como forma de condenação de um momento histórico, porque não importam tanto”.
A blindagem do núcleo jurídico e econômico
O professor destacou que esse núcleo — formado por setores do Judiciário, Ministério Público, polícias e elites financeiras — é hoje o eixo decisivo do conservadorismo brasileiro. Para ele, este circuito opera de modo fechado: “é o circuito fechado da reprodução do capital, que fecha todas as contas”.
Segundo Mascaro, é essa blindagem que impede revisões estruturais, como mudanças na formação ideológica das escolas militares ou a responsabilização de agentes jurídicos que protagonizaram o golpe de 2016. Enquanto isso, punições pontuais recaem sobre parte da cúpula fardada, sem alterar o funcionamento de fundo.
Um dia histórico que revela novas hierarquias de poder
Ao refletir sobre o significado da prisão de militares, Mascaro afirmou que o episódio é relevante, mas expõe sobretudo uma mudança de prioridades no interior do Estado brasileiro. Ele declarou que “general de direita golpista ir preso é uma novidade”, mas que essa novidade deve ser lida sob outra chave: a de que o estamento militar deixou de ser imprescindível para a dominação econômica.
Para Mascaro, o fato de integrantes das Forças Armadas terem sido punidos enquanto setores civis estratégicos permanecem intocados mostra que a engrenagem que sustenta o capitalismo brasileiro reorganizou seus instrumentos. Na sua avaliação, a punição não representa um real reequilíbrio institucional, mas a confirmação de uma hierarquia na qual a força decisiva não está mais nas casernas.
Fonte: BRASIL 247
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