Ouvi hoje, da cantora catalã, várias músicas que revelam uma produção musical primorosa. Dificilmente se poderá compará-la a algo já feito.
Álbum de estúdio de Rosalía
Lançamento 7 de novembro de 2025
Gravação 2024 – 2025
Estúdio(s) Studio 13 (Londres)
Gênero(s)
Clássica
art pop
Duração 61:07
Idioma(s) Árabe · catalão · inglês · francês · alemão · hebraico · italiano · japonês · latim · mandarim · português · siciliano · espanhol · ucraniano
Gravadora(s) Columbia
Produção
Rosalía (também exec.)
Dylan Wiggins
Jake Miller
Noah Goldstein
Cronologia de Rosalía
RR
(2023)
Singles de Lux
"Berghain"
Lançamento: 27 de outubro de 2025
Lux (estilizado em caixa alta) é o quarto álbum de estúdio da cantora espanhola Rosalía, lançado em 7 de novembro de 2025 através da Columbia Records. É o seu primeiro álbum completo desde Motomami, de 2022. O disco contém dezoito faixas em suas edições físicas, enquanto as digitais omitem três destas. O disco foi gravado com a Orquestra Sinfônica de Londres sob a regência de Daníel Bjarnason, com múltiplos arranjos realizados por Caroline Shaw e produção executiva da própria artista. O álbum inclui participações de Björk, Carminho, Estrella Morente, Sílvia Pérez Cruz, Yahritza y su Esencia e Yves Tumor.
Consoante comunicado enviado à imprensa, Lux aborda tematicamente "a mística feminina, transformação e transcendência”. Suas canções são inspiradas tanto pelas relações amorosas da artista quanto por sua relação com Deus. As faixas são divididas em quatro movimentos, com letras em quatorze idiomas diferentes — catalão e castelhano (idiomas nativos de Rosalía), árabe, inglês, francês, alemão, italiano, hebraico, japonês, latim, mandarim, português, siciliano e ucraniano. Cada idioma foi escolhido para representar a vida de uma santa distinta. Uma parte significativa do processo de criação do álbum, que durou "mais de dois anos", foi dedicada ao aprendizado das pronúncias e técnicas vocais necessárias para cantar em cada língua. Rosalía frequentemente iniciava as composições com rascunhos de letras criadas por meio do Google Tradutor, que posteriormente eram revisadas com a ajuda de tradutores profissionais e foneticistas. Os críticos musicais especializados classificaram Lux como um trabalho de música clássica ou pop experimental com influências orquestrais.
O primeiro single, "Berghain", foi lançado em 27 de outubro de 2025, acompanhado de um vídeo musical. Após o lançamento, a faixa alcançou o topo da parada de singles da Espanha e entrou entre as dez primeiras posições da parada World Digital Song Sales da Billboard. Uma segunda faixa, intitulada "Reliquia", foi disponibilizada no Spotify em 4 de novembro, sendo posteriormente removida. O álbum recebeu avaliações prévias positivas da crítica especializada, que destacaram sua ambição conceitual e a grandiosidade de sua sonoridade orquestral.
Antecedentes e gravação
Após o lançamento e a turnê subsequente de seu terceiro álbum de estúdio, Motomami (2022), Rosalía manteve uma agenda apertada, realizando uma série de concertos em festivais pelas Américas e Europa de março a julho de 2023.[1] Em março de 2023, ela lançou o EP colaborativo RR com Rauw Alejandro, seu então noivo. Durante os meses seguintes, ela lançou várias outras colaborações com artistas como Björk, Lisa, Carolina Durante e Ralphie Choo.[2] Rosalía indicou pela primeira vez que estava trabalhando em material novo durante a semana de lançamento de Motomami, afirmando que já estava "mapeando ideias" para seu quarto projeto.[3] Ela começou a dar dicas mais diretas sobre o álbum ao longo de 2024. Em uma entrevista de setembro de 2024 para a Highsnobiety, ela declarou: "Tem sido um processo. Eu mudei muito, mas, ao mesmo tempo, ainda estou tentando entender as mesmas coisas. É como se eu ainda tivesse as mesmas perguntas e o mesmo desejo de respondê-las."[4] Durante o Halloween, ela usou uma fantasia inspirada na arte de capa de Imaginal Disk, de Magdalena Bay, com um CD em sua testa onde se lia "R4".[5] Ela também incluiu "lançar um novo álbum" em uma lista de resoluções de Ano Novo compartilhada em seu Instagram.[6]
Em 2025, Rosalía começou a dar pistas sobre seu próximo trabalho. Em junho, a revista Hits relatou que ela havia assinado com a September Management de Jonathan Dickins e que seu próximo álbum era esperado para antes do final do ano, seguido por uma turnê em arenas em 2026.[7][8] Ao longo de agosto, seu feed do Instagram passou a ser composto de imagens de motivos visuais como pentagramas, estúdios de gravação e iconografia de arte católica. Ela confirmou mais tarde à Paper que essas postagens eram teasers intencionais para seu novo álbum.[9] Naquele mesmo mês, ela foi capa da edição de setembro da edição americana da Elle, onde declarou que seu quarto álbum ainda não estava finalizado e que "não soa nem um pouco como meu último álbum".[10][11] Após uma entrevista, a edição espanhola da Elle publicou erroneamente um artigo indicando uma data de lançamento em novembro para o álbum; posteriormente, o texto foi removido.[12] Em 13 de outubro, ela compartilhou uma partitura intitulada "Berghain" no Substack, levando inúmeros músicos e fãs a postarem suas próprias interpretações on-line.[13] No dia seguinte, outdoors enigmáticos apareceram em Madri e Nova York.[14] Em 19 de outubro, ela postou um vídeo de si mesma ouvindo uma orquestra ao vivo tocar uma composição chamada "Carmesí".[15] O anúncio oficial veio no dia seguinte, confirmando o título do álbum, Lux, e sua data de lançamento: 7 de novembro de 2025. A revelação incluiu um outdoor digital na Times Square e uma transmissão ao vivo de Rosalía na Praça Callao, onde ela revelou a arte da capa no TikTok e no Instagram.[16][17]
O álbum foi desenvolvido ao longo de "mais de dois anos" — grande parte desse período foi dedicada à pesquisa sobre como escrever e cantar em diferentes idiomas. Rosalía frequentemente iniciava o processo criando rascunhos de letras no Google Tradutor, antes de apresentá-los a tradutores profissionais, professores de fonética e colegas da indústria musical. Sobre o processo, ela afirmou: “É muita intuição e tentativa, algo como: vou apenas escrever e ver como isso soa em outro idioma.” A artista também enfatizou que nenhuma inteligência artificial foi utilizada na produção do disco.[18] Charlotte Gainsbourg colaborou com orientações linguísticas na faixa "Jeanne", enquanto o duo francês Justice contribuiu com a música “Sauvignon Blanc”. Rosalía declarou que o álbum foi criado "97% por ela mesma".[19] A faixa "Mio Cristo Piange Diamante", em particular, levou cerca de um ano para ser finalizada.[20]
Lançamento e divulgação
Foram anunciadas vinte audições exclusivas do álbum antes do lançamento, voltadas a fãs que se inscreveram pelo site oficial de Rosalía; dezoito delas foram marcadas para o dia 5 de novembro.[21] Rosalía compareceu pessoalmente à primeira sessão, realizada na Cidade do México em 29 de outubro; após o evento, ela circulou pela cidade com o grupo musical Latin Mafia, publicando vídeos do encontro em suas redes sociais.[22] A segunda audição, realizada em Nova York em 1º de novembro, contou com a presença de diversas celebridades; segundo o jornalista Chris Murphy, da Vanity Fair, cerca de cem pessoas participaram do evento. Os fãs receberam isqueiros personalizados com a marca Lux ao final.[23] Durante a divulgação do álbum, Rosalía concedeu entrevistas a Aureliano Tonet do Le Monde,[24] a Joe Coscarelli e Jon Caramanica do The New York Times,[25] e a Anamaria Sayre da NPR.[26]
Singles
O primeiro single, "Berghain", e seu vídeo musical foram lançados em 27 de outubro de 2025. O videoclipe teve a direção de Nicolas Méndez, da empresa Canada, que colaborou em outros projetos visuais da cantora.[27] A faixa apresenta vocais em inglês, alemão e espanhol.[28] "Reliquia" foi brevemente lançada na plataforma de streaming Spotify em 4 de novembro, antes de ser removida no mesmo dia; a equipe de Rosalía não comentou publicamente o upload, nem afirmaram se tratou-se um erro.[29]
Composição
Temas e influências na composição
“Há toda uma estrutura intencional ao longo do álbum. Eu tinha clareza de que queria quatro movimentos. Queria um em que houvesse mais um afastamento da pureza. O segundo movimento, eu queria que parecesse mais com estar [sob ação da] gravidade, ser amigo do mundo. O terceiro seria mais sobre graça e, esperançosamente, sobre ser amigo de Deus. E, no final, a despedida, o retorno. Tudo isso me ajudou a ser muito estratégica, concisa e precisa sobre quais músicas iriam para onde, como eu queria que começasse, como queria que a jornada seguisse, quais letras fariam sentido.
Cada história, cada música é inspirada na história de um santo. Eu li muitas hagiografias — as vidas dos santos — e isso me ajudou a expandir meu entendimento sobre a santidade. Como minha formação é católica, por parte da minha família, você acaba a entendendo através dessa única [lente]. Mas aí você percebe que, em outras culturas e contextos religiosos, é outra coisa. O que me surpreendeu muito foi perceber que há um tema principal, que é o de não ter medo — algo que se encontra em muitas religiões. E acho isso muito poderoso, porque provavelmente os medos que eu tenho, alguém do outro lado do mundo tem os mesmos. E, para mim, há beleza nisso — em entender que podemos achar que somos diferentes, mas não somos.”
Alguns jornalistas observaram que Lux é a palavra em latim para “luz”,[31][32][33] embora também seja uma unidade moderna e translinguística de medida de iluminância.[34] Durante a audição do álbum em Nova Iorque, as frases "Quando foi a última vez em que você esteve na escuridão completa?"[a] e "Há vezes em que estar na escuridão completa é a melhor maneira de encontrar a luz"[b] foram projetadas em um grande pano branco antes do início da música.[35] Maria Sherman, da Associated Press, sugeriu que o título também faz alusão à palavra "luxo" (em catalão, luxe), representando a sonoridade grandiosa e orquestral do disco.[36] A capa do álbum retrata Rosalía diante de um fundo azul, vestida com uma roupa branca semelhante ao hábito e véu de uma freira. Seus olhos estão fechados, os lábios dourados, e ela abraça a si mesma com os braços sob o traje. Daniel Neira, da Hola! USA, e Violaine Schütz, da Numéro, compararam a vestimenta a uma camisa de força.[37][38]
Rosalía, cujas línguas nativas são o catalão e o castelhano, canta em mais onze idiomas em Lux: árabe, inglês, francês, alemão, hebraico, japonês, latim, mandarim, português, siciliano e ucraniano.[18][33] Segundo Swidrak, os idiomas não são usados apenas de forma pontual, mas cada um possui seu próprio momento de destaque, com faixas inteiras cantadas em línguas que não são nativas da artista.[33] Em entrevista ao The New York Times, Rosalía expressou seu amor pelo aprendizado: “Adoro viajar, adoro aprender com outras pessoas. Por que eu não tentaria aprender outro idioma e cantar em outra língua, expandindo a forma como posso ser cantora, musicista ou artista? O mundo está tão conectado.”[18] Em conversa com o Le Monde, ela citou a filósofa francesa Simone Weil, a escritora brasileira Clarice Lispector e textos históricos sobre a vida de santas como suas principais inspirações líricas, além de elogiar o aprendizado de idiomas como ferramenta de conexão humana: “Eu queria cantar em outras línguas, compreender melhor outras culturas, estudar mais.”[32] Durante a audição em Nova Iorque, Rosalía afirmou que os idiomas e suas posições no álbum não são aleatórios, com as letras em cada língua sendo inspiradas na vida e nas histórias de uma santa específica.[35]
Um comunicado à imprensa descreveu o álbum como “um arco emocional em larga escala sobre a mística feminina, a transformação e a transcendência — movendo-se entre a intimidade e a grandiosidade operática para criar um mundo radiante onde som, linguagem e cultura se fundem em um só”.[39] Em entrevista, Rosalía — que vem de um contexto católico, mas afirmou não seguir uma religião específica — comentou sobre a influência de sua fé em Deus no álbum: “Acho que sempre senti uma conexão pessoal e espiritual com Deus [...] Sinto que Deus me deu tanto, o mínimo que eu poderia fazer é dedicar um álbum a Ele. É a minha forma de retribuir.”[32] Quando uma jornalista da NPR comentou que a iconografia religiosa do álbum parecia “espiritual [...] de uma forma diferente”, Rosalía respondeu que está mais interessada na mística e em expressar sua jornada pessoal do que em seguir códigos religiosos específicos. Ela acrescentou que a faixa “La Yugular” foi inspirada em seus estudos sobre o Islã.[20] O álbum não se limita a temas religiosos, apresentando também várias canções sobre o crescimento pessoal da cantora. O The New York Times descreveu-o como “um trabalho feito com amor, que explora o divino feminino e as brutalidades do romance”.[18] Alexis Petridis, do The Guardian, escreveu que "tem-se a sensação de que, em meio às reflexões sobre Deus, o catolicismo, a beatificação e a transcendência, também se esconde o tema mais terreno de um ex-namorado sendo criticado nas entrelinhas".[40] Diversos jornalistas compararam as faixas sobre desilusão amorosa e relacionamentos fracassados com os relacionamentos públicos reais da cantora.[36][41][32]
Conteúdo e estrutura musical
Alguns críticos e jornalistas classificaram Lux como um álbum de música clássica,[42][43][44] enquanto outros o descreveram como um álbum de pop, art pop ou pop experimental, com fortes influências clássicas.[45][46][47] O termo “movimento”, utilizado para subdividir a lista de faixas do álbum, é uma referência direta à música clássica,[48] e Rosalía afirmou que a faixa “Mio Cristo Piange Diamante” foi uma tentativa de emular uma ária.[49]
O álbum recebeu aclamação da crítica especializada em análises anteriores ao seu lançamento. No agregador Album of the Year, estreou com 94 pontos de 100 com base em cinco críticas.[51] No Metacritic, alcançou a média máxima de 98 pontos totais com base em seis análises, indicando "aclamação universal".[50]
Maria Sherman, da Associated Press, elogiou o distanciamento do disco das tendências contemporâneas e chamando-o de “muito mais complexo e iconoclasta do que óbvio”, afirmando que “há prazeres reais a serem descobertos” para os ouvintes atentos.[52] Kaelen Bell, da Exclaim!, descreve o álbum como “uma experiência genuinamente arrebatadora” e elogiando o equilíbrio entre o som grandioso e “pequenos toques de humanidade e humor”.[41] Alexis Petridis, do The Guardian, descreveu o álbum como “uma experiência verdadeiramente envolvente e cativante” e elogiando os vocais de Rosalía como “exibições espetaculares de talento”.[40] Julyssa Lopez, da Rolling Stone, descreve o álbum como “um álbum transcendente que soa como nada mais na música atual” e “um trabalho de arte atemporal, belo e dilacerante”.[54] Will Hodgkinson, do The Times, descreve-o como “uma catedral sonora grandiosa na qual temas familiares são abordados de forma profundamente tradicional e surpreendentemente original”.[55]
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