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sábado, 29 de novembro de 2025

Prisão do golpista Bolsonaro em ‘gaiola de ouro’ é manobra


Editorial – 
Como se diz, para as classes dominantes, o crime de Bolsonaro foi “amar demais” o sistema de opressão e exploração, foi tentar salvá-lo de forma quixotesca, não importa a que custo. Sua condenação e prisão tornou-se imperativa para os interesses confluentes dos segmentos mais poderosos da reação.

27 de novembro de 2025·


A prisão de Bolsonaro, por violação de sua tornozeleira eletrônica, às vésperas do início da execução penal, conclui uma fase do atual processo de crise profunda do aparelho de Estado. Essa fase, iniciada com as agitações golpistas de novembro de 2022, esteve marcada pela orquestração de uma complexa operação que combinou a política e o enredo policial, dirigida pelos segmentos mais poderosos das classes dominantes locais (grandes burgueses e latifundiários, serviçais do imperialismo, principalmente ianque), no objetivo de “desarmar uma bomba”. Era preciso dissuadir e neutralizar a tendência da extrema direita de generalizar o caos social e os distúrbios no objetivo de comover a sociedade e deslanchar um processo irreversível de intervenção militar total para “garantir os poderes constituídos, a lei e a ordem”. Nesse objetivo era preciso isolar a extrema direita na opinião pública, entendido como só possível através de certa punição especificamente àquela menor parte que, de orientação extremista de direita e fascista, ousara cruzar a linha do que define o Departamento de Estado ianque como ordem política para os países sob dominação dessa superpotência imperialista, em especial aos de seu “quintal”, e a que o núcleo central das classes dominantes locais se submete como sabujo.

Refrear, deste modo, a extrema direita naquele momento não era tarefa fácil: já em novembro de 2022, mesmo que derrotada eleitoralmente, ela se mantivera na ofensiva e aglutinando, nas ruas e em ações armadas contrarrevolucionárias, dezenas de milhares de pessoas, respaldadas em um quarto da opinião pública e em uma patente divisão no seio das tropas das Forças Armadas reacionárias com alta politização. Para levar adiante tal plano, era preciso, antes, avançar lentamente, combinar o enredo policial com a luta política no seio da reação; “desidratar” a liderança de Bolsonaro, desenvolver caminhos e descaminhos para dividir a base social que se unira em torno de Bolsonaro. Era preciso restabelecer lentamente a unidade política nas tropas das Forças Armadas reacionárias, e salvar de toda a desmoralização e condenação ao Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) que, ainda antes de Bolsonaro, pôs em marcha a ofensiva contrarrevolucionária preventiva às inevitáveis revoltas populares anunciadas pelas violentas manifestações de 2013/14 que assombrou as classes dominantes e disparou o alarme de perigo revolucionário, situação que para a reacionária cúpula militar exige sua intervenção na vida política nacional através de ações golpistas de alcance parcial para atingir os mesmos objetivos golpistas.

Bolsonaro, esse reles lúmpen contrarrevolucionário, que chafurdou 30 anos no parlamento, especialista em falcatrua, um come-e-dorme e vagabundo profissional desde os tempos de exército e reconhecido como tal por seus superiores da época; terrorista de extrema direita cujo enriquecimento provém de fontes suspeitíssimas; este senhor atraiu para si e, àqueles a quem encabeçou, a ânsia de punição não porque seja ameaça real a esse sistema de opressão e exploração secularmente vigente do ponto de vista popular, é claro; e sim porque representou a ele uma ameaça demasiada à sua estabilidade ao tentar impor um caminho extremista de direita para tentar salvá-lo. 
Como se diz, para as classes dominantes, o crime de Bolsonaro foi “amar demais” o sistema de opressão e exploração, foi tentar salvá-lo de forma quixotesca, não importa a que custo. Sua condenação e prisão tornou-se imperativa para os interesses confluentes dos segmentos mais poderosos da reação.

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Hoje, quando nos deparamos com a condenação do “núcleo crucial” das agitações golpistas; com a prisão de Bolsonaro, primeiro domiciliar, agora preventiva, com a conclusão do processo no STF sem maiores instabilidades e sem o mil vezes prometido caos social da extrema direita, é sinal de que aquela fase se concluiu. Nela, de fato, a extrema direita não diminuiu, do ponto de vista de sua base social ou mesmo do seu grau de radicalização; dadas as derrotas e condenação sofridas, mudou a forma de sua ofensiva para o plano da disputa eleitoral, ocultando o afã golpista, passando a crise política e ameaça golpista a sua forma latente, em banho-maria. Isto é, aquele um quarto, que acreditava em novembro de 2022 que a ruptura da ordem constitucional era o caminho para o Brasil, mantém relativamente seu raciocínio, enquanto uma parcela não só o mantém, como considera que Bolsonaro e os generais golpistas que não “toparam” embarcar na ruptura como frouxos para a tarefa. A comprovação se vê nos números: em julho, a Datafolha, em que pese os sempre questionáveis métodos de pesquisa, registrou que 37% dos entrevistados se identificam como “bolsonaristas”; de abril para julho, o crescimento foi de 6% – sim, houve crescimento. Isso permite à extrema direita, independente de Bolsonaro, manter-se na ofensiva do ponto de vista eleitoral, e ninguém pode considerar o País terra livre deste mal. Por outro lado, a extrema direita e seu projeto de ruptura da ordem constitucional, colocados na defensiva do ponto de vista jurídico e político-operacional, não foi capaz de manter sua mobilização. A coesão, na ofensiva, como se registrou em novembro de 2022, é mais fácil do que obtê-la ou mantê-la quando é necessário recuar; apenas uma organização da extrema direita, com forte centralização, poderia lográ-lo. Condenado e preso, dentro desse complexo manejo do núcleo duro do establishment, Bolsonaro demonstrou-se incapaz de efetivar a chantagem, feita outrora, de que o caos sobreviria à sua prisão. Assim, sua estadia em alguma carceragem da PF ou unidade militar por longos meses é a tendência principal, pelo menos, até meados de 2027.

Portanto, embora seja pedir demais ao oportunismo, um marxista deve saber distinguir uma vitória de uma manobra. A resistência popular venceu, efetivamente, o Bolsonaro, através da luta de resistência econômica e sobretudo na luta pela terra na Amazônia Ocidental, onde milhares de tropas policial-militares patrocinadas por Bolsonaro, colecionaram derrotas em sucessivas batalhas camponesas em que se pretendeu destruir a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que nas palavras da extrema direita policial de RO, desde aqueles tempos, era um movimento fantasma comandado pelo CV. A derrota de Bolsonaro na luta de classes, ao presidir a repressão e o sistema de opressão e exploração, foi aquela, e isso se expressou como reprovação, que já durante o seu governo, fora relegado a meros 28% de aprovação em dado momento, cuja consequência foi sua fragorosa derrota eleitoral, mesmo tendo nas suas mãos a “máquina” estatal, resultando em maior isolamento após o 8 de janeiro. 
A prisão de Bolsonaro, por seu turno, é obra da manobra do establishment para livrar da desmoralização as instituições permanentes centrais do sistema de poder (as Forças Armadas reacionárias) e salvaguardar o sistema político, em franca decomposição, mas cuja substituição por um regime mais reacionário via ruptura institucional causaria ainda maiores riscos de sublevação das massas populares.

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Bolsonaro condenado ou absolvido, obviamente, não é indiferente para as classes revolucionárias, pois, seja num ou noutro caso, há modificações importantes na correlação de forças com repercussões nos ajustes e reajustes na tática do proletariado. 
As massas populares, democratas e intelectualidade honesta têm motivos de sobra para querer todo o mal a Bolsonaro, e não devem mais do que desejá-lo com toda a força porém, a sua condenação e prisão, que não deverá passar de dois anos em “gaiola de ouro”, estão longe de ser a punição que este terrorista de extrema direita merece. 

A grande questão, portanto, não é nenhuma daquelas. O fato é que, com Bolsonaro condenado e preso, a extrema direita conserva a iniciativa eleitoral e tende a se impor graças à profunda e crescente crise geral de decomposição da base econômica e do aparelho de Estado, inclusive com a colaboração objetiva do oportunismo que concilia com a direita latifundiária (que se inclina aos bolsonaristas). Confluindo com o desenvolvimento do protesto popular nas cidades e da luta revolucionária pela terra nas zonas rurais, tal cenário será utilizado pelo ACFA para tentar lograr uma “terra arrasada” das liberdades e direitos fundamentais e centralizar ainda mais o Poder Político em suas mãos, sob máscara de regime democrático, a mesma estratégia golpista da qual se serviu antes de Bolsonaro, e agora com potencial de recobrar a “legitimidade” que perdera e que a atual manobra visa restabelecer. Como se vê, o cenário que desponta é de recrudescimento das crises social, política, institucional e militar, afinal, repousam todas numa base econômica em franca decomposição num grau sem precedentes.

As guardiãs das liberdades e direitos democráticos – não da “democracia”, porque esta, em sua natureza burocrático-latifundiária, está viciada de procedimentos, políticas e medidas emprestados do fascismo – são as massas. É preciso mobilizá-las, mas concretamente naquela frente em que possam acumular forças combatentes para confrontar a ofensiva da reação e do fascismo. A Revolução Agrária está na Ordem do Dia.

Fonte: NOVA DEMOCRACIA

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