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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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sábado, 11 de janeiro de 2020

ESCRAVOS (negros) NA LAGOA DA CONCEIÇÃO




Lagôa; he aldêa pequena, mas linda, e bem collocada em terreno elevado, sobranceiro á margem d'oeste da maior Lagôa que ha na Ilha, e communica com o Oceano por hum canal estreito e curto, que passa junto ao morro do retiro situado sobre a praia que forma a face oriental da Ilha, o que faz esta situação muito aprazível: a Igreja he pequena, mas bella, e he dedicada a Nossa Senhora da Conceição: para o norte a extensão desta Parochia he de mais de duas legoas até ao morro no Inglez, e de huma e meia para o sul até ao pequeno rio do Tavares, por onde extrema com a Matriz da Villa, ficando-lhe esta, e a Freguezia das Necessidades pelo oeste: a sua população no referido anno era de 2.430 almas; a saber: homens brancos 876; mulheres 918; libertos de côr e de ambos os sexos 37; escravos, homens 412, mulheres 187; o seu terreno he o mais fertil da Ilha de Santa Catharina. - Excertos da  Memória histórica da Capitania de Santa Catarina.../Lisboa/1829, ps. 41 e 42 (português da época)

Somando-se homens e mulheres, o número de escravos (africanos) chegava a 599. Não é por acaso que alguns moradores da Lagoa reportam a existência de um Quilombo na região da Costa da Lagoa, assunto até hoje pouco estudado pelos pesquisadores da história local. 

OSWALDO RODRIGUES CABRAL -  Nossa Senhora do Desterro - Edit. Lunardelli/Fpolis-SC/1979, emérito historiador catarinense, nascido na Laguna (do Imaruí, sul de SC), afirmou que o Rio Vermelho era um lugar da Ilha de SC onde existiam muitos escravos. 
Como a Costa é separada daquele outro distrito apenas pela Laguna da Conceição, é fácil entender a razão dos escravos fugidos preferirem o outro lado para esconder-se, formar famílias e viver, enfim, em um quilombo. Sempre seria mais difícil alcançá-los e capturá-los com toda aquela água de permeio.

Outras curiosidades: 

a) os autóctones ("índios", silvícolas, botocudos, bugres, ou como prefiram chamá-los) também eram ditos "negros", mas acrescentava-se as palavras "da terra" (negros da terra, portanto), não eram os africanos, mas os íncolas, muitos dos quais também foram perseguidos, escravizados e mortos, inclusive por um Batalhão de Pedestres, que não sei se também se dedicava à caça de escravos fugidos. 
b) Não se dizia Ingleses, usando-se o singular (Inglez) e o rio Tavares era dito rio do Tavares. 

c) Santo Antonio de Lisboa foi referido como Freguezia das Necessidades. Aquele último limite, hoje, corresponde ao território de Ratones, que até 1936, quando foi desmembrado por Aristiliano Ramos, integrava o distrito de Santo Antônio.
d) O canal que liga a Lagoa (laguna) ao mar, foi dito estreito; com efeito, só a partir da primeira década de 1950 é que se começou a alterar os meandros daquele canal, fixando-se os meandros atuais após a construção dos molhes, já no ano de 1982.

Este último detalhe é de grande relevância, porquanto a União considera que os 33 metros de "terras de marinha" devem ser contados das margens atuais, que nem sempre foram as do  estreito canal original. Ainda: os 50 metros considerados de Área de Preservação Permanente (margens do canal, antigas matas ciliares) também sofreram influência, na sua definição, das obras de alargamento.

Por último, cumpre salientar que as retificações do aludido canal e a construção dos molhes promoveram sensível alteração no fluxo e refluxo das águas do mar, salinizando as águas da dita Lagoa, aspecto que também apresenta relevância ambiental.

Recentemente, proprietários de embarcações bloquearam o canal, em protesto contra o assoreamento do mesmo. Mas é de se estranhar, pois parece que nunca foi tão funda aquela ligação. Parece-me, salvo melhor juízo, que o que está ocorrendo é a tentativa de navegar naquelas águas com embarcações de maior calado. 

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