Reprodução BBC
Uma enfermeira reformada tem a capacidade de detetar a doença de Parkinson através do cheiro anos antes de um diagnóstico médico
Chama-se Joy Milne, tem 67 anos e surpreendeu os especialistas com a sua habilidade de cheirar a doença. A antiga enfermeira deparou-se com este "dom" quando começou a notar uma mudança no cheiro do marido muito antes dos sintomas da doença aparecerem.
Inicialmente, Joy pensou que a alteração no cheiro do companheiro, Les Milne, estivesse relacionada com falta de higiene até ao dia em que acompanhou Les, que era anestesista, a um grupo de apoio para doentes de Parkinson no Reino Unido. Foi aí que Joy percebeu que o marido tinha o mesmo odor que as outras pessoas ali presentes.
"Estávamos os dois sentados a beber uma chávena de chá e eu disse-lhe: 'estas pessoas cheiram ao mesmo que tu!' Ele ficou confuso e eu disse 'as pessoas com Parkinson nesta sala têm o mesmo cheiro que tu'. Ele olhou para mim e disse 'temos de voltar para casa e fazer isto outra vez.', conta a enfermeira de Perth na Escócia. "Como médico, ele disse que precisava de mais provas. Voltámos para casa e ele disse-me: 'Então?' ao que eu respondi 'é espantoso, existem diversos níveis, penso eu, mas o cheiro é mesmo este.", conta.
Les foi diagnosticado com Parkinson aos 45 anos embora a esposa tivesse detetado a doença anos antes. Joy diz que sentiu o cheiro "10 ou 12 anos antes de ele ser diagnosticado. À medida que a doença piorava, o cheiro tornava-se mais intenso. Acabou por se tornar uma parte dele, mas para mim com esta sensibilidade, conseguia senti-lo a toda a hora. Acabou por se tornar bastante desconfortável". O anestesista acabou por falecer aos 65 anos, em 2015, vítima da doença.
Numa conferência, Joy contou a alguns cientistas a sua habilidade. Mais tarde, testes realizados por especialistas na doença concluíram que ela conseguia mesmo detetar a doença ao cheirar as camisolas de alguns pacientes. Nesses mesmo testes, a enfermeira detetou o cheiro da doença na camisola de um paciente que fazia parte de um grupo de controlo para pessoas que não tinham Parkinson. Três meses depois a pessoa em questão foi diagnosticada com a doença.
Citada pelo jornal Daily Mail, Joy Milne confessou que "faço parte de uma fração muito, muito pequena da população. estou algures entre os cães e os seres humanos. Nunca vi isto como um insulto, sempre achei muito bom conseguir cheirar melhor que a maior parte das pessoas".
Hoje em dia, o diagnóstico da doença continua a ser feito através da observação dos sintomas, tal como era feito em 1817 quando James Parkinson escreveu um trabalho onde descrevia pela primeira vez "a paralisia agitante", mais tarde chamada de doença de Parkinson. Com a ajuda de Joy, cientistas foram capazes de descobrir 10 moléculas detetadas em alta concentração na pele dos doentes de Parkinson, o que pode ajudar a desenvolver um teste para diagnosticar a doença.
Tilo Kunath, da Universidade de Biologia de Edimburgo, foi um dos primeiros cientistas com quem Milne falou sobre a sua habilidade. Com a ajuda de Perdita Barran, especialista em análises químicas na Universidade de Manchester, Tilo tentou isolar as moléculas que constituem o odor que Joy consegue detetar. Foi assim que concluíram que existiam certas moléculas que apenas eram identificadas em portadores da doença. Tilo confessa que "não teria sido possível sem a Joy. Foram ela e o Les que acreditaram que o que ela conseguia cheirar poderia ser utilizado em contexto clínico".
Antes de Les falecer, a esposa prometeu-lhe que iria explorar este "dom" para conseguir ajudar os doentes. "Estávamos casados há 42 anos quando ele morreu. Por isso eu não quero que outras famílias passem pela mesma experiência. Quero que elas tenham ajuda, quero ver uma melhoria dos conhecimentos na medicina. Quero uma educação melhor para o público em geral. E espero que com o diagnóstico atempado se possa encontrar tratamento", finaliza Joy Milner.
A doença de Parkinson é uma perturbação cerebral bastante frequente e progressiva que se carateriza pela presença de tremores, rigidez do tronco e dos membros e lentidão dos movimentos. Estima-se que 20 mil portugueses sofram desta doença.
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