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segunda-feira, 20 de maio de 2013

CET oferece psicólogo a "marronzinhos" em casos de insultos e agressões na rua



CHICO FELITTI
DE SÃO PAULO
"Sendo da CET, você é mais xingado do que juiz de futebol. Um motorista nervoso é barulhento como uma arquibancada", diz o meio de campo Nenê. Ele disputou três Libertadores antes de pendurar as chuteiras e prestar concurso público para agente de trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo. "Garanto que é uma profissão que causa mais raiva nos outros", diz o ex-jogador, que pede para não ter seu nome revelado.
Nenê não está sozinho. Relatos de desventuras formam engarrafamento quando se fala com alguns dos 1.590 marronzinhos paulistanos. "Desconfio que seja a profissão mais odiada da cidade", estima um outro agente, com 20 anos de carreira ("e de ofensas").

O duro dia de um CET

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Olga Lysloff/Folhapress
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Lúcia Helena Florêncio, 39, é agente 'marronzinha' da CET e trabalha no turno da manhã (das 5h ao meio-dia) na região dos Jardins
O número de atos violentos contra a classe não é revelado pelo órgão municipal. Mas cresceu tanto que, em 2009, a empresa reagiu às ocorrências. Criou o Programa de Atenção e Prevenção a Experiências Traumáticas em Violência Urbana. Depois de ser agredido física ou verbalmente, o marronzinho ganha direito a, no mínimo, dez sessões com um psicólogo.
Após passar pelo divã, um perito do INSS avalia se o profissional deve trocar a rua pelo escritório. "Fiquei com pavor de sair às ruas. A perna tremia quando eu via asfalto. Por dois anos não consegui mais andar de moto", conta um funcionário que foi realocado em outro setor, após tomar um murro de um taxista.
Passados seis meses trabalhando com papelada, ele decidiu sair da companhia. Hoje é sorveteiro em Santana, zona norte. "Eu ouvia mais 'filho da p...' do que 'bom dia'. Pelo menos agora os clientes gostam de mim."
O estresse não se resume a motoristas enfezados. Há um movimento na instituição para que agentes possam se recusar a atender ocorrências em bairros com histórico de violência.
"Há locais como Grajaú e Cidade Ademar [ambos na zona sul] em que, se o operador for sozinho, corre risco de violência ou mesmo de vida. Defendemos que o profissional não atenda a ocorrência ou vá com policiamento", diz Marcos Rodrigues da Silva, presidente do Conselho de Representantes dos Empregados da CET.
UM DIA DE MARRONZINHO
Apesar dos riscos de violência e de atropelamento, o agente pode encontrar menos percalços, dependendo de sua rotina, mostra Lúcia Helena Florêncio, 39. Na CET há seis anos, ela desperta às 3h40 para cruzar 15 km de moto, do Jardim Guapira (zona norte) até o prédio da companhia, na Bela Vista (região central).
Dez minutos depois de assumir o turno, às 5h45, ela avisa à central que uma caçamba está em local inadequado na rua Bela Cintra. Encontra um distribuidor de pães que está parado em local proibido e pede que ele saia. "Nem sempre precisamos multar. Podemos conversar, instruir."
Depois, encosta a viatura para tomar um café --a única refeição no turno de seis horas. Enquanto está na rua, o marido, também da CET, cuida dos dois filhos. Quando dá a hora de ele entrar, às 15h, ela já está em casa.
Terminado o pão na chapa, ela segue para a porta de um colégio bilíngue no Jardim América, zona oeste, com mensalidades superiores a R$ 2.000. Vai ajudar a organizar o trânsito de BMWs, Land Rovers e uma ou outra Ferrari que carregam alunos.
A reportagem a acompanha num dia de rotina e constata que alguns pais que levavam os filhos à entrada da escola sorriam ao lhe dizer "bom dia". Os que estão a pé, pelo menos. Outro, que está guiando, olha para ela e faz o sinal de prece com as mãos, como se estivesse implorando para não ser punido enquanto ela instrui carros a não obstruir o cruzamento.
"A gente escreve muito no trabalho, anota problemas de sinalização. Mas o motorista acha que estamos multando." O sindicato corrobora a afirmação. Diz que as multas feitas por pessoas físicas vão de 30% a 40% do total --radares e lombadas inteligentes dão conta do grosso do trabalho.
Lúcia garante que não tem um número mínimo de multas para aplicar por dia. "Nem ganho a mais se der multa. E a gente não tem prazer nisso." Depois de terminada a hora do rush das crianças, ela circula por ruas dos Jardins até o fim do expediente.
Nem todas as manhãs nos Jardins, porém, são tranquilas assim, conta. Há dois meses, ela passou por maus bocados. Assim que terminou de autuar um carro, apareceram seus dois donos. "Me encurralaram na parede."
Rapidamente, ela passou por baixo dos braços que a ameaçavam, correu até o carro e lá se trancou. Engatou a primeira enquanto os multados chutavam sua porta. "Fui para a delegacia. Tem de ir para mostrar como isso é absurdo. Quem sabe assim um dia não nos dão valor?"


Fonte: FOLHA DE SP

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