Então o revisionismo histórico - pelo qual se busca "crucificar" alguns opositores do sionismo - não é mais tão reprovável assim?
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Atitudes heroicas de Giovanni Palatucci são contestadas por historiadores
Publicado:21/06/13 - 22h32
Atualizado:21/06/13 - 22h45
Selo com foto de Giovanni Palatucci Reprodução
NOVA YORK — Ele foi chamado de o Schindler italiano por ter ajudado a salvar 5 mil judeus durante o holocausto. Giovanni Palatucci, um policial durante a guerra, recebeu honras em Israel, em Nova York e na Itália, onde quarteirões e bailes foram nomeados em sua homenagem, e no Vaticano, onde o Papa João Paulo II o nomeou um mártir, um passo antes de uma potencial santidade.
Mas no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, a história de suas atitudes heroicas está sendo removida de uma exposição após autoridades de lá tomarem conhecimento de evidências que sugerem que, longe de ser um herói, ele era um entusiasta colaborador nazista envolvido na deportação de judeus para Auschwitz.
Uma carta enviada este mês ao diretor do museu pelo Centro Primo Levi de História Judia de Nova York argumenta que um painel de pesquisa com mais de doze acadêmicos, que revisou quase 700 documentos, concluiu que por seis anos, Palatucci foi um “executor da legislação racista - que, após fazer um juramento à República Social de Mussolini, colaborou com os nazistas.”
A carta afirma que registros italianos e alemães não oferecem evidência de que ele ajudou judeus durante a guerra e que a primeira menção a isso só apareceu anos depois, em 1952. Pesquisadores também encontraram documentos que mostram Palatucci ajudando alemães a identificarem judeus.
Não há uma explicação estabelecida para como os registros heroicos de Palatucci ganharam forma, mas alguns especialistas dizem que a persistência deles se deve muito à luz lisonjeira que se formou na Itália do pós-guerra. Acadêmicos dizem que novas evidências emergiram nos últimos anos conforme eles ganharam acesso aos documentos. A meta da pesquisa, eles dizem, é entender o papel de Fiume, uma cidade em que Palatucci trabalhou, como um espaço de desenvolvimento do fascismo. Os documentos que acabaram com a credibilidade de Palatucci como um herói altruísta foram um subproduto dessa investigação.
‘Herói’ seria responsável por reforçar leis raciais
Palatucci recebeu o crédito por salvar milhares de judeus entre 1940 e 1944 enquanto era chefe da polícia de Fiume, uma cidade portuária considerada o símbolo do novo Império Fascista italiano (agora se chama Rijeka e é parte da Croácia). Quando os nazistas ocuparam a cidade em 1943, por exemplo, foi dito que Palatucci mandou destruir arquivos para evitar que os alemães enviassem os judeus de Fiume para campos de concentração. Sua morte aos 35 anos num campo em Dachau parecia corroborar com seu valor.
Mas Natalia Indrimi, a diretora-executiva do Centro Primo Levi, disse que historiadores têm revisado esses arquivos supostamente destruídos nos Arquivos do Estado de Rijeka.
O que eles mostram, diz Natalia, é que Fiume tinha apenas 500 judeus em 1943 e 412, ou cerca de 80%, terminaram em Auschwitz, um percentual mais alto que em qualquer outra cidade italiana. A pesquisa sobre Palatucci descobriu que, ao invés de ele ser um chefe de polícia ele era um vice-comissário responsável por reforçar as leis raciais da Itália fascista. E mais, sua deportação para Dachau em 1944 não tem nenhuma relação com a proteção de judeus, mas com as acusações alemães de que cometeu peculato e traição ao passar planos para a independência pós-guerra de Fiume para os britânicos.
O relatório diz ter sido possível que Palatucci tenha ajudado um punhado de gente, embora não seja claro se ele fez isso sob ordens de superiores. Natalia diz que “o mito” ao redor de Palatucci começou em 1952 quando um seu tio, o bispo Giuseppe Maria Palatucci, usou sua história para persuadir o governo italiano a dar uma pensão aos pais de Giovanni Palatucci. A conta, ela diz, ganhou força por que parecia melhorar a reputação do Papa Pio XII, que grupos judeus descreveram como indiferente ao genocídio.
“Se alguma coisa, Giovanni Palatucci representa o silêncio, farisaísmo e cumplicidade de vários jovens oficiais que abraçaram entusiasticamente Mussolini e seus últimos e mais desastrosos passos”, escreveu numa carta para Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos. Parte das evidências foi apresentada em uma conferência na Universidade de Nova York na semana passada.
Talvez o grande reconhecimento que Palatucci recebeu foi a nomeação em 1990, por Yad Vashem, o memorial de Israel para o Holocausto, como um dos Justos Entre as Nações - uma honraria para os que resgataram judeus que também inclui Oskar Schindler, o industrialista alemão que ajudou 1.200 judeus a evitar a morte nos campos de concentração.
Após receber o relatórios dos historiadores, Yad Vashem “começou o processo de examinar cuidadosamente os documentos” escreveu por e-mail Estee Yaari, um assessor de imprensa.
A narrativa do altruísmo de Palatucci foi tema de artigos, livros e um filme de TV. Mês passado, a Associação Giovanni Palatucci creditou sua intervenção como responsável pela miraculosa desaparição de um câncer de fígado, num caso que pedia sua santificação.
A Liga Antidifamação deu a Palatucci o Prêmio Coragem que Importa, em 18 maio de 2005. O prefeito, de Nova York, declarou a data o Dia Giovanni Palatucci da Corgem que Importa. A Fundação Internacional Raoul Wallenberg Foundation tem um hino a ele em seu website. Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse por e-mail que a Igreja Católica estava ciente das questões levantadas e pediu que historiadores estudassem o tema.
Estimados 9 mil judeus foram deportados da Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Mas especialistas observam que, embora 45 mil judeus tenham sido perseguidos na Itália, a maioria sobreviveu ao período de Guerra.
Governo italiano queria melhorar imagem
Alexander Stille, um professor da Universidade de Columbia, que revisou alguns documentos, explica que o caso de Palatucci foi o resultado de instituições poderosas, todas investidas do interesse de publicar o que aparentava ser um conto heroico.
“O governo italiano estava ansioso em melhorar sua imagem e mostrar que eles era melhores e mais humanos do que seus aliados nazistas. A Igreja Católica estava ansiosa em contar uma história positiva sobre seu papel durante a guerra, e o Estado de Israel queria promover a ideia de corretíssimos senhores e contar histórias de pessoas corretas e comuns ajudaram a salvar judeus.”
Stille, cujas memórias de família, “A Força das Coisas” (numa tradução literal), incluem um conto sobre um avô judeu de Fiume, diz que “Palatucci se beneficiou disso”.
Um artigo mês passado para o jornal italiano “Corriere Della Sera” disse que um crescente corrente de historiadores e pesquisadores definiram a tentativa de resgatar a imagem de Palatucci como “um esquema orquestrado por amigos e familiares”. A associação Palatucci desmentiu essa alegação em uma carta revoltada para o jornal.
A decisão de remover informação sobre Palatucci da exposição “Alguns foram vizinhos: Colaboração e cumplicidade no Holocausto”, do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, veio na semana passada, de acordo com Andrew Hollinger, diretor de comunicações do museu. A informação já havia sido removida do site do exposição e a instituição estava trabalhando para remover da mostra física também.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/
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