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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Os protestos são da classe média?




Professor da Universidade Ave Maria, na Flórida, e ex-secretário estadual do Planejamento e da Fazenda, Ubiratan Rezende analisa as manifestações que acontecem no Brasil.
É infundado o receio de que o atual movimento de rua conduza a um "golpe de estado", análogo quem sabe ao que aconteceu em 1964. "Golpe de Estado" significa a "conquista" do Estado (leia-se "governo") por um grupo outro do que aqueles que hoje controlam o Estado e, através do Estado, controlam a sociedade. Nada vai acontecer neste sentido.

A nova "classe média" brasileira é que está indo para a rua. Os grupos oligárquicos que dominam o país, encastelados nos partidos políticos, sindicatos, setores do empresariado "nacional" e, especialmente, nos assim chamados "três poderes do Estado" desta nossa "democracia absolutista", ainda tem nas mãos o mecanismo de controle dos votos da maioria do colégio eleitoral: distribuição de dinheiro, poder, prestígio social e informação.

Contudo, o atual movimento de rua é diferente dos outros no seguinte sentido: sua aspiração não é negociar uma fatia das "benesses" usufruídas por aqueles grupos oligárquicos, do tipo, "quero também a minha parte." Sua aspiração é contestar a profunda injustiça do processo político-econômico do país o qual, "paternalmente", dá algumas migalhas à sociedade, à guisa de "programas sociais", enquanto espolia vergonhosamente o resto da população e a priva dos serviços essenciais que justificam a existência dum "governo".

Mais empregos públicos, mais despesas de "governo", mais "programas sociais" geridos pelo Estado, mais concentração de riqueza nas mãos deste mesmo Estado, sob a justificativa de que o Estado/governo sabe melhor "distribuir", significa só uma coisa: concentração do poder político e econômico nas mão de alguns "donos". Isto, entretanto, tem um limite. Não há exportação de "commodities" e aportes de capital estrangeiro de risco que possam manter indefinidamente a avidez dos oligarcas e os mecanismos de cooptação das massas. Cedo ou tarde vai faltar dinheiro.

A "nova classe média" nacional é, na verdade, o embrião duma verdadeira sociedade civil, independente, fora do controle do Estado. Ela está se dando conta de que o discurso por trás do "estado de bem estar social" ou da "social democracia" é elitista e discriminatório. Por trás do "pregão" de que é preciso que o Estado/governo assuma uma papel maior como agente econômico e social está a agenda da ditadura de uma minoria.

Basta olhar para a Constituição brasileira, rotulada de "constituição cidadã". De cidadania ela não tem nada. Ela foi escrita para proteger os direitos da maioria contra minorias como pré-requisito duma "verdadeira" democracia. Ora, a sociedade civil, a cidadania, é informada precisamente por diferentes minorias. Ao "governo" compete amparar e defender os espaço de todas as distintas minorias que constituem a sociedade civil e não construir uma "maioria" amorfa como "massa" eleitoral.

Foi convenientemente "esquecida" a possibilidade de que uma minoria pudesse controlar a maioria através do aparato do Estado. Desde os tempos de Aristóteles, lá na Grécia antiga, sabia-se que este era o risco das democracias absolutas. Infelizmente, nossa constituição não teve como objetivo proteger os direitos das minorias contra a tirania duma maioria manipulável. A proteção dos direitos de todas as minorias que formam a sociedade civil contra o arbítrio dos grupos capazes de controlar uma maioria é o objetivo precípuo duma república constitucional, uma forma imperfeita mas exemplar de governo. Estamos ainda longe, muito longe disto.

Entretanto, mantida a mobilização desta nossa incipiente sociedade civil via imprensa e redes sociais, as reservas morais do país podem, quem sabe aflorar, isto é, pessoas ainda não deformadas moralmente que aceitem a cruz dum papel político de renovação e saneamento do país. Se isto acontecer, as próximas eleições poderão marcar o início duma nova era para o Brasil. De qualquer forma, nossa "presidenta" e os demais "presidenciáveis", junto com a nossa maravilhosa "classe política" devem estar assustados... E com razão.

Não era preciso ser "profeta" para antever o que está acontecendo agora. Bastava bom senso e realismo. Ou seja, a virtude esquecida e vilipendiada da "prudência": ver a realidade tal como ela é e não como queremos que ela seja. Há alguns meses, quando perguntado, eu dizia que nomes "novos", como o do Eduardo Campos, ganhariam momento. A mesma coisa pode acontecer aí no Estado na esteira desta turbulência social.


Postado por Upiara Boschi, às 11:48

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