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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Ratones - De onde veio a denominação das ilhas e do distrito?


Republicação da postagem do mantenedor deste blog datada de 20/02/2011.


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Sobre a denominação de Ratones

Apesar do respeito à tese de que Ratones seria termo aplicado pelos espanhóis, tendo por base a semelhança das Ilhas a grandes ratos, inclino-me pela hipótese de que o nome tenha derivado da circunstância de que as margens e o vale do Rio Ratones, assim como as ilhas, fossem habitados por grande quantidade de cotias (ou cutias, como preferem outros), cujo aspecto é o de um grande rato e, quando os navegadores, no afã de cortar madeira para lenha e para o reparo de suas embarcações, bem como para prover-se de cítricos (laranja, bergamota e limão) e de água, deram pela presença de tais animais, passaram a se referir ao lugar por Ratones (ratos, em espanhol). 
A cotia é um mamífero roedor da família dos dasiproctídeos, gênero Dasyprocta III, com sete espécies em território brasileiro. (AURÉLIO). O animal é descrito na obra de JOSÉ ROBERTO TORERO e MARCUS AURELIUS PIMENTA intitulada Terra Papagali, como (...) semelhante ao lebrão, mas com a cabeça como a da ratazana. Vejamos o que acontecia na Ilha, por volta de 1526, quando aqui chegou a expedição de Sebastião Caboto: (...) Bom gentio (...) - os carijós – têm mantimentos e frutas, galinhas, e muita caça de veados, porcos, pacas, cotias (...) (Citação de um trecho em português arcaico, por nós atualizado, feita pelo historiador catarinense AUJOR ÁVILA DA LUZ, na obra organizada por CARLOS HUMBERTO CORREA, intitulada Santa Catarina, quatro séculos de História, XVI ao XIX - Editora Insular/Fpolis-SC/2000, p. 23). 
Um relato do alemão OTO VON KOTZEBUE (citado pelo historiador AUJOR ÁVILA DA LUZ – obra acima, p. 118) volta a se referir à abundância do animal na Ilha: No reino animal, chamaram atenção os papagaios, os tucanos, os macucos, os beija-flores, as revoadas de urubus, as tartarugas, os macacos, as cotias e os tatus (...). 
A cutia é citada, várias vezes, por RENATO IGNÁCIO DA SILVA - in Amazônia/Paraíso e Inferno - Biblioteca do Exército Editora e Quatro Artes Editora/ 1970. Numa delas, informa o escritor que o animal (...) é um extraordinário espalhador de sementes, a castanha é por ela alastrada, numa grande área da Amazônia. 
BARTOLOMÉ DE LAS CASAS - Historia de Las Indias - Fondo de Cultura Economica/México/1995, vol. II, p. 512, falando sobre as hutías (equivalente espanhol de cutia) encontradas na América, ao tempo de Cristóvão Colombo, escreveu: (...) en esta isla las hutías, que era uma especie de caza; la hechura era, y em especial la cola, como de ratones (...)
LUCAS ALEXANDRE BOITEUX (Capitão de Mar e Guerra), em Santa Catarina no século XVI (edição da Imprensa Oficial/Fpolis-SC/1951), após referir-se à visita de ALVAR NUÑES CABEZA DE VACA, em 1541, informa: (...) Desde esse tempo aparece também a denominação Ratones, dada às pequenas ilhas da baía do norte que, de certa distância, apresentam o aspecto de dois roedores. (...)(p. 50). 
O mesmo historiador, na obra denominada Pequena História Catharinense (Oficinas a Eletricidade da Imp. Oficial/Florianópolis- SC/1920, p. 74, n° 150 - fortificações), informa: (...) Pela resolução de 05 de agosto de 1738 o governo da metrópole determinou que o Sargento-mór de batalha (brigadeiro) José da Silva Paes passasse à citada ilha e nella levantasse fortificação capaz à sua defesa.(...) Em seguida (1740) iniciou o forte São José, na Ponta Grossa e o de Santo Antonio, na ilha Raton Grande na baía norte (...).

Aduzo que, nas minhas pesquisas sobre o distrito de Ratones, deparei-me com documentos que dão conta de que Ratones já se chamou Rattones, Várzea de Ratones e Vargem de Ratones.

O hábito de os portugueses (e, quiçá, de os espanhóis) darem nomes aos acidentes geográficos segundo a fartura de uma certa espécie no local, pode ser vislumbrado no trecho que segue: (...) A terra he mui fermosa, muitos ribeiros d’água e muitas ervas e frores, como as de Portugal. Achamos duas onças mui grandes, e nos tornamos para as naos sem vermos gente. (...) Estas ilhas – a que puz nome – das Onças -, tomei o sol nellas em 34 graos e meo (...) (português da época).

Adendo (10/jan./2013)

As ilhas que geograficamente situadas na Grande Florianópolis e que possuem nomes ligados à profusão de bichos:

Ilha dos Badejos
Ilha das Aranhas (Pequena)
Ilha das Aranhas (Grande)
Ilha dos Guarás (Pequena)
Ilha dos Guarás (Grande)
Ilha das Pombas
Ilha das Conchas
Ilha dos Cardos Grande (Palhoça)
Ilha dos Papagaios (Palhoça)

Penso que a tese defendida nesta postagem - no sentido de que o nome de Ratones decorreu da fartura de roedores nesta região - é muito mais plausível do que aquela que aponta para a semelhança das duas ilhas com roedores.

Ainda sobre Ratones:

Ratones - Descrição feita por Virgílio Várzea

Na obra Santa Catarina/A Ilha:

Ratones

O povoado dos Ratones eleva-se na várzea (*) banhada pelo rio do mesmo nome, ou antes pelo maior dos braços desse rio que, como vimos, divide-se em dois logo acima da foz, tomando o braço menor para o norte direito às terras de Canavieiras. A denominação de Ratones guarda origem nos dois ilhéus situados em frente ao pequeno estuário do rio, quase em meio à baía do norte, entre o Pontal e Anhatomirim.

Os primeiros navegantes espanhóis que aportaram a Santa Catarina (talvez Sólis, que a descobriu, ou os outros que aí tocaram depois), ao avistarem esses ilhéus deram-lhes o nome de Ratones, pela singular semelhança de ambos com os animais dessa espécie de roedores; e como eram dois, para os distinguir particularmente, passaram, a chamá-los Raton Grande e Raton Pequeno, denominação que se conserva até hoje, bem como a designação geral de Ratones.

O arraial expande-se ao longo da estrada real, pela falda-sul do morro da Várzea Pequena ou Várzea de Baixo e uma e outra margem do rio, cujas nascentes demoram à espalda setentrional do Moquém, monte de 390m de altura, que separa esta baixada dos planos do Saco Grande e que, descendo sempre para oeste, vai ramificar-se em Santo Antônio em pequenas colinas e morros. Pelo Moquém sobe um atalho, empinado e de difícil acesso em tempo chuvoso que encurta consideravelmente a distância entre o Ratones e a cidade, poupando seguramente três quartos de hora da volta por Santo Antônio. Esse atalho atravessa um dos pontos mais altos do monte, entre imensa floresta secular, e corre em parte à beira de perigoso desfiladeiro, assinalado por um ou outro desastre, nos trajetos noturnos, em sítios onde a mata é mais cerrada e sombria.

É célebre e quase lendário aí o caso do negociante Cabral, transeunte frequente desse caminho, o qual, uma noite de tormenta, na mais densa escuridão das ramagens, justamente na descida que margeia o abismo — lugar de um metro apenas de largo, tendo de uma banda um topo a pino de rocha e da outra a fauce do grotão pedregoso, coberta de traidoras ervagens — sentiu o cavalo escorregar e perder-se, rolando em estouros e baques para o fundo do desfiladeiro, enquanto ele, num desespero febril de salvar-se, agarrava-se convulsamente aos arbustos e cipós entrançados, que o detiveram milagrosamente na queda...

Apesar disso, é este o trajeto preferido pela gente de todas as freguesias e arraiais desse lado da Ilha, que viaja continuamente por terra entre esses pontos e a cidade. E nós, duas ou três vezes também, de viagem para Canavieiras, tivemos de trilhar esse atalho, sendo uma delas alta noite — bela noite saudosa e de silente luar! — acompanhado apenas por um crioulo roceiro, falastrão e cantador, mas que no alto do monte, sob a escuridão da folhagem, emudeceu totalmente, num vago terror supersticioso, benzendo-se à entrada e à saída da mata.

Nos Ratones veem-se as mesmas culturas observadas na Várzea de Baixo e outros lugarejos, mais animadas porém por um movimento contínuo de pequenas embarcações — lanchões, canoas e botes — de pombeiros da cidade, que percorrem todo o sítio, pelas voltas fundas do rio, em viagens de comércio. É de certo modo avultado o negócio de galinhas e ovos que se faz no lugar, bem como o embarque de farinha, milho, cana e café, que daí saem na safra.

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Na obra do Frei Vicente do Salvador (História do Brasil), a palavra é grafada "Várgea" e há outros que grafam "Vargem". 

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