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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

REBELIÃO RELIGIOSA EM ISRAEL


TEL AVIV – Um grupo de rabinos decidiu fazer uma revolta religiosa em Israel. Eles anunciaram que, a partir de agora, vão fazer conversões ao judaísmo de milhares de pessoas à revelia do rabinato oficial do país. Os rabinos “rebeldes” protestam contra o rabinato dominado por ultraortodoxos, que tem uma visão estrita do quem é judeu ou quem “merece” ser judeu.

Entre outras consequências, essa visão estrita faz com que cerca de 300 mil imigrantes russos em Israel não sejam reconhecidos como judeus por uma razão ou outra (só têm pai judeu, passaram por conversões de outras vertentes do judaísmo, como conservadora ou reformista, etc). Cerca de 100 mil filhos de imigrantes russos não têm religião definida e o rabinato ultraortodoxo se recusa a convertê-los, mesmo que queiram.

Alegam que eles não cresceram numa casa religiosa e não se tornariam judeus religiosos. Quer dizer: só poderia se converter ao judaísmo quem tem chance de se tornar um judeu religioso (na verdade, ultraortodoxo).

Rabino Daviv Stav

Eles vivem numa espécie de limbo. Não podem se casar com judeus, por exemplo, já que o rabinato proíbe casamentos entre judeus e pessoas de outras religiões (caso se casem no exterior, serão reconhecidos como casados, mas não têm como fazer a cerimônia em Israel, onde não há casamento civil). Também encontram problemas em questões como enterros (não podem ser enterrados em cemitérios judaicos) e outros detalhes do cotidiano.

Além dos imigrantes russos, judeus convertidos por rabinos conservadores e reformistas em outros países (incluindo o Brasil) também não são reconhecidos como judeus em Israel e têm que passar por outra conversão, ultraortodoxa, estrita, longa e cara. Tudo isso atrapalha a integração de gente que quer ser parte do judaísmo no Estado Judeu. Afasta do país judeus que professam sua religião de maneira distinta à dos ultraortodoxos (principalmente a maioria dos judeus americanos, liberais).

Os rabinos David Stav e Nahum Rabinovitch, da ONG Tzohar, que busca aproximar judeus religiosos e seculares, criaram a iniciativa “Conversão pela Lei Judaica”, que mantém a ideia de uma conversão pelas leis religiosas judaicas, a Halacha, mas de uma maneira mais aberta. Eles também prometem conceder certificados de Kashrut (alimentação especial judaica) para restaurantes e bares. O rabinato oficial ultraortodoxo cobra preços exorbitantes para verificar se o restaurante cumpre com as leis alimentares judaicas.



Cohanim, os sacerdotes do Grande Templo.

A verdade é que os israelenses estão cansados do “monopólio sobre o judaísmo” do rabinato ultraortodoxo. Outro dia, vi uma reportagem na TV mostrando que, em pleno 2015, homens com sobrenome Cohen em Israel não podem se casar com mulheres divorciadas. Isso porque os “cohanim” (sacerdotes) devem se manter “puros” caso seja construído um novo templo em Jerusalém (e eles tenham que ser chamados para cumprir o papel de sacerdotes!). Casar com divorciadas seria “impuro”. Oi? Em que milênio estamos?

Volto a dizer o que digo há anos – e não estou sozinha nisso em Israel, pelo contrário: há muitos tipos de judeus, que exprimem seu judaísmo como queiram. Ninguém tem monopólio sobre o que é ser judeu, algo que transcende religião e transborda em cultura, em História, ou, como os próprios israelenses sustentam, em nacionalidade. No século XXI, num país democrático, moderno e desenvolvido, o Estado deveria se manter fora da vida pessoal dos cidadãos (judeus ou não). Se alguém quiser se converter ao judaísmo, não deveria ser obrigado a se tornar religioso ou se tornar, mais especificamente ainda, um religioso ultraortodoxo. É claro que deve aprender as leis religiosas, mas deve ser livre para lidar com elas como quiser, assim como milhões de judeus seculares pelo mundo.

Dito isso, fico muito feliz com a iniciativa e a coragem desses rabinos mais abertos, mais compreensivos. Quem sabe é um começo. 

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