Publicado por Kiko Nogueira
- 11 de novembro de 2019
Luis Fernando “Macho” Camacho é cidadão de bem, temente a Deus
A cena do líder golpista Luis Fernando “Macho” Camacho ajoelhado diante de uma Bíblia no Palácio Quemado dá a dimensão da força dos evangélicos na Bolívia.
Camacho está sempre brandindo o livro e segurando um terço em seus discursos. Vive citando versículos.
Declara-se católico, mas o apoio organizado vem das igrejas evangélicas.
Qualquer coincidência com Jair Bolsonaro é mera semelhança. O modus operandi é o mesmo.
Camacho diz que quer “devolver o país a Deus”.
Em vídeos, militares aparecem orando após a derrubada de Evo. Um coronel foi a um culto consagrar as Forças Armadas a Jesus Cristo.
São empresas milionárias, articuladas com a extrema direita e dispostas a tudo, inclusive a abraçar corruptos, milicianos, assassinos — o diabo.
O escritor colombiano Santiago Gamboa falou dessa influência nefasta no continente em seu último livro, “Será Larga la Noche” (“Será Longa a Noite”, não lançado no Brasil).
Camacho (centro) diante de uma Bíblia e da bandeira da Bolívia, no Palácio Quemado, sede do governo “As igrejas evangélicas são um problema de segurança nacional na América Latina”, afirmou para a BBC. “Estão pondo a democracia sob seu controle, estão trabalhando ativamente pela corrupção”.
“Acabamos de ver nas eleições de prefeitos e governadores como igrejas evangélicas em muitas regiões vendiam diretamente os votos de seus fieis a chefes políticos locais”, afirmou.
De acordo com Gamboa, em Bogotá, mais de cem igrejas apoiaram o candidato da direita — que não venceu — nas últimas eleições.
Os pastores o apresentaram como um “bom homem”, juraram que Cristo estava em seu coração e deram a ordem de votar nele.
“Isso é usar a democracia para chegar ao poder e então se tornar antidemocrático”, diz Gamboa.
Não é diferente, essencialmente, do Estado Islâmico ou dos talibãs. Todo fundamentalista considera seu messias melhor que o dos outros.
Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/igrejas-evangelicas-sao-problema-de-seguranca-nacional-na-america-latina-diz-escritor-colombiano-na-mosca/
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Camacho, o líder dos protestos na Bolívia que quer “devolver a Deus o Palácio do Governo”
Católico fervoroso, este líder oposicionista costuma pronunciar seus discursos com um terço na mão. Faz parte da elite boliviana e antes nunca havia participado da política
Fernando Molina
La Paz 11 Nov 2019 - 19:32 BRT
Luis Fernando Camacho durante um protesto contra Evo Morales este domingo.O líder do movimento cívico que derrubou Evo Morales, Luis Fernando Camacho, não para de pedir. Ao longo da crise boliviana, suas demandas aumentaram rapidamente: primeiro, segundo turno das eleições; depois, novas eleições; depois, a renúncia do presidente e, agora, a de todos os parlamentares governistas e dos membros tribunais de Justiça. Nesta segunda-feira ele tentou moderar sua posição fazendo um chamado a uma transição constitucional.
Camacho não acredita no sistema político tradicional, mas apenas no "povo" que ele liderou durante o protesto que terminou com a renúncia de Morales e que agora o adora. Pela primeira vez em muitas décadas, um líder de Santa Cruz tem enorme popularidade e influência em todo o país, inclusive no oeste, geralmente mais inclinado à esquerda e enciumado do poder econômico e político da terra de Camacho.
Até onde esse personagem chegará? Ninguém sabe ao certo. Ele e seu principal companheiro, o líder cívico de Potosí, Marco Pumari, são recém-chegados ao cenário político boliviano. Lideraram o movimento por causa de sua condição de presidentes de comitês civis, associações empresariais e organizações de bairro das nove regiões, na Bolívia conhecidas como departamentos. Normalmente, esses comitês se ocupam de reivindicações regionais e são comandados pelas elites locais. Camacho, filho do empresário do ramo de seguros e ex-presidente do mesmo comitê que ele agora lidera, José Luis Camacho, é membro da elite de Santa Cruz. Tem 40 anos e nunca participou de política antes. Ele se projeta como a renovação da política e não esconde suas críticas e antagonismos com os líderes tradicionais da oposição: Carlos Mesa e Samuel Doria Medina.
Católico fervoroso, nos últimos dias quis levar uma carta de renúncia já escrita para Morales, para que este a assinasse, e fez isso "armado somente com a Bíblia". Além disso, geralmente pronuncia seus discursos com um terço na mão e se ajoelha para rezar em público. Uma de suas metas é "devolver a Deus o Palácio do Governo", dada a secularidade do Estado promulgada na Constituição de 2006. Seu catolicismo se estendeu a todo o movimento, que realizou greves, bloqueios nas vias de comunicação, vigílias, missas e orações públicas, entre outras atividades.
Luis Fernando Camacho, de joelhos, em um protesto.Camacho e o grupo de líderes de Santa Cruz que ele lidera foram relacionados a Branco Marincovich, um dos oponentes de Morales que, acusado de "separatismo e terrorismo", vive no exílio. São regionalistas, liberais em questões econômicas, direitistas em política e radicalmente opostos ao ex-presidente Morales.
Na política interna, eles antagonizam com o partido do atual governador de Santa Cruz, Rubén Costas, um oposicionista moderado, e é por isso que apoiaram Carlos Mesa nas últimas eleições, em vez de se juntar ao que era supostamente o candidato regional, Oscar Ortiz, que era a cartada de Costas. Esse apoio permitiu a Mesa vencer em Santa Cruz e isso, por sua vez, impediu que Morales saísse claramente eleito.
"Macho Camacho", como é chamado, desperta a admiração e simpatia da população que saiu às ruas. Agradecem-no por "libertar o país do ditador". Elogiam sua virilidade e presença física. Nas redes sociais é tão popular, ou até mais, que astros da música. Camacho tem um sorriso e um abraço para todos. Ele transita sem problema entre "collas" [a população da zona indígena da Bolívia] e "cambas" [o povo do leste do país, majoritariamente opositor de Morales], entre "índios" e "qharas" [maneira depreciativa de chamar a população branca]. E quando lê seus discursos, sempre envia agradecimentos a sua família e sua região. Com seu aspecto de garoto justiceiro e implacável, seu radicalismo, que não ficou na retórica, constitui a antítese dos dirigentes governistas e opositores do ciclo político anterior. E é por isso que ele é o homem do momento.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/11/internacional/1573488689_493218.html
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