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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Omar Shakir foi deportado de Israel por denunciar empresas como Airbnb: “Estão a intimidar os defensores dos direitos humanos"

26.11.2019 às 22h45


JACK GUEZ


É o diretor da ONG Human Rights Watch no Médio Oriente e foi expulso de Israel na segunda-feira por supostamente apoiar o boicote àquele país. “Isto acontece para bloquear o trabalho de organizações de direitos humanos mas teve o efeito oposto”



Hugo Tavares da Silva


Não é nada de novo na vida de Omar Shakir. O norte-americano, oriundo de uma família iraquiana, é o diretor da ONG Human Rights Watch (HRW) no Médio Oriente e foi expulso de Israel na segunda-feira. Shakir, que trocou as primeiras mensagens com o Expresso quando seguia no avião rumo à Europa, já havia sido barrado no Egipto, Síria e Bahrein. Seguem-se agora encontros com seis governos europeus e uma participação no Parlamento Europeu sobre a “sistemática repressão de Israel contra os palestinianos”.

Comecemos pelo início. Shakir, de 34 anos, descreve que investiga e denuncia temas variados que vão desde a expansão de colonatos ilegais às detenções e atos de tortura “arbitrários” por parte de Hamas e Governo de Benjamin Netanyahu, intervindo ainda em questões que dizem respeito a género, sexualidade e direitos das mulheres. “É um regime discriminatório contra os palestinianos, que restringe os seus movimentos e direitos”, resume ao Expresso.

Esta história começou em maio de 2018. O Ministério do Interior israelita deu ordem a este representante da Human Rights Watch para abandonar o país em 14 dias, por este supostamente apoiar o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), no fundo um boicote contra Israel, contava então o “The Guardian”. Israel aprovou uma lei, em 2017, que bania a entrada de estrangeiros que apoiassem esse boicote. Na altura, a ONG com sede em Nova Iorque dizia que aquele país procurava simplesmente fazer desaparecer os críticos e os registos sobre abusos relacionados com direitos humanos.

JACK GUEZ

Um ano antes, o visto de Shakir para entrar no país foi-lhe negado. “O Governo israelita tem tentado bloquear, nos últimos três anos, o trabalho da HRW”, explica agora ao Expresso. “Rejeitaram o visto alegando que a HRW era uma organização de propaganda e não de direitos humanos. O Governo reverteu essa medida mas rapidamente começou a investigar o meu estatuto. Diziam que aderimos ao boicote e queixavam-se particularmente do trabalho feito pela nossa organização nos colonatos ilegais em West Bank. Não tomámos posição relativamente ao [movimento] BDS, mas instámos as empresas a respeitarem os direitos humanos. Fui deportado por isso.”

Uma das empresas na mira da HRW foi a Airbnb. A ONG denunciou, em novembro, que aquela plataforma oferece alojamentos turísticos na Cisjordânia, um território ocupado desde 1967, discriminando os palestinianos. Cinco meses depois de várias queixas apresentadas na justiça norte-americana, conta este artigo do “El País”, a empresa com sede em São Francisco recuou e fez desaparecer os anúncios para alojamento local, que se localizavam nos colonatos ilegais construídos na região.

A decisão do Governo de Netanyahu esteve congelada graças à justiça do país e arrastou-se até 5 de novembro, altura em que o Supremo finalmente concordou com a deportação de Shakir, por este funcionário da HRW ter supostamente apoiado o tal boicote. De acordo com as autoridades israelitas, esta será a primeira deportação tendo como base a lei aprovada em 2017.


“Não vamos parar. E não seremos os últimos”, escreveu no Twitter o ativista. O tribunal deu 20 dias a Omar Shakir para abandonar o país. E assim foi: no dia 25 de novembro, na segunda-feira, aquele norte-americano com sangue iraquiano estava enfiado num avião para a Europa.

“Israel deportou-me no seguimento dos esforços para se imiscuir no trabalho das ONG”, continua a contar ao Expresso. “Não é só contra a HRW, é uma mensagem para as outras organizações: a liberdade de expressão em Israel, hoje, não inclui a defesa básica para os direitos dos palestinianos. A mensagem é: se conseguimos tirar daqui a HRW através do trabalho que faz, sendo que é um dos maiores grupos de direitos humanos, então conseguimos fazê-lo a ativistas israelitas e palestinianos. Isto acontece para bloquear o trabalho de organizações de direitos humanos mas teve o efeito oposto: apontou o foco para a agressão do Governo israelita contra essas organizações e abusos.”

AHMAD GHARABLI

E continua: “A minha deportação não é um caso isolado, acontece no contexto de um ataque sistemático contra o trabalho dos ativistas pelos direitos humanos, que nega a entrada de muitos outros ativistas internacionais. Estão a intimidar os defensores dos direitos humanos, restringem o acesso ao financiamento deles e até os proíbe de viajar e detêm-nos, sobretudo aos palestinianos. Nos últimos meses, um representante da Amnistia Internacional, um palestiniano, foi proibido de abandonar a zona ocupada do West Bank. Houve também raids recentemente em escritórios de grupos palestinianos, culminando na detenção de um investigador”.

Numa certa madrugada de setembro, soldados israelitas vasculharam os escritórios do grupo Addameer, em Ramallah, às duas da manhã. Não estava lá ninguém mas aquela investida serviu para confiscar milhares de dólares em equipamento e cinco computadores, contava então o “Times of Israel”. A Amnistia Internacional mencionou a intenção governativa de “esmagar o ativismo pacífico”. Aquela ONG já sofrera de raids semelhantes em 2012.

Omar Shakir diz que Israel leva já 53 anos de ocupação de um território que não lhe pertence. “[O regime] está definido por uma discriminação instituída, em que sistematicamente existem abusos aos direitos humanos, que continuam sem qualquer dúvida e que têm escalado de várias maneiras. Israel, na última década, impôs uma política de encerramento da Faixa de Gaza, enjaulando dois milhões de pessoas. Vemos a expansão contínua dos colonatos, algo que é um crime de guerra sob a 4.ª Convenção de Genebra”, explica.

ABBAS MOMANI

Shakir sofre agora o que sofrera em 2009, 2014 e 2017. No primeiro episódio foi-lhe negada a entrada na Síria, depois de por lá ter vivido e escrito alguns relatórios que incomodaram a governança de Bashar al-Assad. A seguir, o Egipto mostrou-lhe a porta da saída, depois de um relatório que empurrava para os militares a responsabilidade de um assassinato em massa de protestantes, na sequência do golpe de Estado. Há dois anos, quando pretendia entrar no Bahrein para exercer advocacia, em representação da HRW, ficou do lado de fora da fronteira.

Em conferência de imprensa, em Jerusalém, algumas horas antes do voo que o levaria para a Europa, Shakir acusou Israel de se juntar a um “grupo feio” de regimes autoritários. “Se os israelitas podem deportar sem consequências alguém que documenta abusos nos direitos, como é que alguma vez podemos parar esses abusos?”

Kenneth Roth, o diretor executivo da HRW, foi mais longe e deu nomes ao tal "grupo feio", acusando Israel de estar a entrar na mesma gaveta de países como Coreia do Norte, Venezuela, Cuba, Sudão e Irão, que tem todos algo em comum: deportaram os funcionários daquela ONG.

Amir Levy

"O mundo vê isto como um ataque ao movimento dos direitos humanos", disse Shakir momentos antes de embarcar e do derradeiro adeus a Israel. "Vamos continuar a mesma luta e um dia, espero, vão estar aqui a dar-me as boas-vindas quando for um dia melhor, quando os direitos de israelitas e palestinianos forem respeitados. Eu voltarei."

Aquele país do Médio Oriente vive momentos conturbados, já que, após as eleições de 17 de setembro, Netanyahu e o rival Benny Gantz falharam, na ausência de uma maioria, o acordo para a formação de um novo governo. Para além do impasse político, o primeiro-ministro israelita em funções foi acusado pelo Ministério Público de fraude, suborno e abuso de confiança em três casos de corrupção.
Fonte: https://expresso.pt/internacional/2019-11-26-Omar-Shakir-foi-deportado-de-Israel-por-denunciar-empresas-como-Airbnb-Estao-a-intimidar-os-defensores-dos-direitos-humanos-1

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