Luís Guilherme Barrucho
No ano, dólar já acumula alta superior a 10% frente ao real
Em meio a diferentes apostas sobre o comportamento futuro do dólar, há apenas uma certeza por parte dos economistas: a moeda americana não deve voltar tão cedo à casa dos R$ 2, valor em que era negociada no início do ano, apesar do recuo em relação ao real na semana passada.
Na última sexta-feira, o dólar comercial, que é usado no comércio exterior, perdeu fôlego e encerrou o pregão cotado a R$ 2,27, com desvalorização de 0,56%.
No dia anterior, a divisa americana também já havia recuado.
Mesmo assim, o dólar já acumula valorização superior a 10% no ano frente à moeda brasileira e já se encontra em um patamar próximo de R$ 2,30, considerado o limite superior de uma "banda informal" aceita pelo governo para não prejudicar a inflação.
O ciclo de alta teve início em meados de maio deste ano.
Desde então, o governo vem tentando frear o avanço da moeda americana.
Em junho, o Ministério da Fazenda zerou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimentos estrangeiros em renda fixa e derivativos na esperança de atrair dólares. O tributo vinha funcionando como uma espécie de "barreira" à entrada de dólares no país.
Simultaneamente, o Banco Central vem realizando leilões da moeda americana no mercado futuro (chamados de "swap cambial"), com o objetivo de puxar a cotação do dólar para baixo.
A BBC Brasil ouviu especialistas para entender o que há por trás da recente valorização do dólar e seus principais reflexos para a economia brasileira. Confira.
Causas
Para especialistas, a principal explicação para a alta do dólar vem dos Estados Unidos. Há a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa, em breve, reduzir os estímulos à economia do país.
A aposta é baseada em dados que sinalizam uma recuperação da atividade econômica dos EUA, como a expansão maior do que prevista do PIB no segundo trimestre (de 1,7%) e a queda do desemprego, que atingiu o menor nível em quatro anos.
Desde 2009, o Fed recompra mensalmente cerca de US$ 85 bilhões (R$ 190 bilhões) em títulos do Tesouro americano numa operação conhecida como "quantitative easing", ou simplesmente QE.
Os títulos públicos são usados pelos governos como forma de captar o dinheiro que necessita para financiar os gastos públicos não cobertos pela arrecadação de impostos. Em linhas gerais, o investidor “empresta” dinheiro ao Tesouro para recebê-lo depois, acrescido de juros.
Ao decidir recomprar esses títulos, o Fed injeta dinheiro no sistema, aumentando a liquidez da economia. Um banco que se desfaça desse ativo pode, por exemplo, usar o dinheiro da venda para conceder empréstimos ao consumidor, estimulando a economia.
Parte desse súbito excedente de dinheiro tem sido usado por investidores para aplicar em mercados onde pudessem obter maiores retornos, como é o caso do Brasil que pratica uma das taxas de juros mais elevadas do mundo.
"Na medida em que o BC americano reduz os estímulos à economia, sobram menos recursos para essas aplicações, ou seja, menos dólares devem sair dos Estados Unidos em direção a outros países. A escassez da moeda americana, provoca invariavelmente alta da cotação", afirma à BBC Brasil Márcio Salvato, professor de economia do Ibmec-MG.
Além disso, o mercado prevê que, encerrado o programa de compra de títulos (QE) pelo Fed, o próximo passo será a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, hoje próxima a zero.
Nesse cenário, os títulos americanos tendem a ficar mais atraentes do que aplicações de maior risco em países emergentes, por exemplo.
"Com menos dólares no mercado, a tendência da moeda americana é se valorizar", diz Pedro Rossi, professor de economia da Unicamp.
Uma das maiores preocupações em relação à valorização da moeda é a inflação. Nos últimos 12 meses encerrados em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial medida pelo IBGE, foi de 6,27%, abaixo dos 6,7% registrados no período anterior, porém acima do centro da meta.
Desde 1999, o Brasil trabalha com um sistema de metas de inflação anual. O centro da meta para 2013, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% , mas o BC admite, ainda dentro da meta, uma variação de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
"Com o dólar apreciado, os produtos importados ficam mais caros. Em paralelo, em alguns casos, a exportação passa a se tornar mais atraente para o produtor, que passa a vender para outros países (pois ele passa a receber mais reais pelo mesmo produto vendido ao exterior em dólar). A menor oferta (no mercado interno) tende a elevar o preço nas prateleiras", diz Márcio Salvato, professor de economia do Ibmec-MG.
Segundo o IBGE, os reflexos da alta do dólar ainda não puderam ser observados claramente na inflação do mês passado.
No entanto, o preço do pão francês, cuja matéria-prima, o trigo, é importada em sua maioria, saiu de uma deflação de 0,05% para uma alta de 0,68% de junho para julho.
O mesmo aconteceu com a farinha de trigo, que passou de 0,76% para 1,33% no período.
No grupo excursões, que inclui as viagens, o aumento da inflação foi de 6,49% em julho, frente a uma variação de 0,49% no mês anterior, influenciado por uma alta do preço das passagens aéreas e tarifas de ônibus.
Fonte: BBC BR
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