Pessoas que negociaram imóveis com Dahas Zarur serão chamadas a depor
VERA ARAÚJO (EMAIL
Publicado:5/08/13 - 5h00
Com toldos azuis, um dos edifícios do Leblon onde Zarur, que não recebe salário, tem apartamentos Marcelo Carnaval / Agência O Globo
RIO - O expressivo patrimônio que o provedor da Santa Casa de Misericórdia, o advogado e jornalista Dahas Chade Zarur, de 87 anos, acumulou e repassou ao filho, às duas netas e à nora será investigado pela Delegacia Fazendária da Polícia Civil (Delfaz). Conforme O GLOBO revelou no domingo, só nos últimos 20 anos Zarur foi dono de 35 imóveis, de acordo com certidões do 5º e do 6º ofícios de Registro de Distribuição. No período, o provedor participou de 42 transações imobiliárias nas quais vendeu a terceiros ou, na maioria das vezes, doou apartamentos e casas a parentes. Dez dos imóveis ficam na área mais nobre do Leblon, como a Avenida Delfim Moreira e a Rua General Artigas, na quadra da praia, onde o metro quadrado custa cerca de R$ 36 mil.
Esta semana, a delegada Izabela Santoni chamará para depor as pessoas que negociaram imóveis com o provedor, a fim de tentar esclarecer se houve vendas irregulares de imóveis da Santa Casa que o beneficiassem.
— Vamos intimar todos os proprietários de imóveis vendidos a Zarur ou doados à Santa Casa. Há indícios de vendas irregulares — disse a delegada.
A Delfaz já é responsável pelo inquérito que investiga o esquema ilegal de venda de sepulturas clandestinas em pelo menos três dos 13 cemitérios públicos administrados pela Santa Casa de Misericórdia, denunciado pelo “Fantástico”, da TV Globo, em 7 de julho. Há suspeita de crime contra a administração pública.
Pelo menos 20 testemunhas já foram ouvidas neste inquérito, entre funcionários da entidade e diretores (irmãos da entidade), conhecidos como “mordomos” desde a época em que a Santa Casa foi criada, em 1582. Um dos diretores que, a partir das denúncias contra Zarur, pediu exoneração da função foi o desembargador aposentado Sylvio Capanema, que era responsável por coordenar a defesa da instituição na Justiça, não atuando diretamente como advogado, uma vez que a Santa Casa tem escritórios advocatícios para o serviço. Tanto Capanema quanto o ex-diretor responsável pela administração dos imóveis da entidade, o registrador público Antônio Carlos Leite Penteado, não concordavam com a venda dos imóveis da Santa Casa, que vinha acontecendo à revelia da direção. Penteado e mais quatro diretores administrativos também pediram exoneração. Todos já depuseram na delegacia.
— Só autorizamos a venda de um imóvel no Morro dos Macacos, pois dava prejuízos à Santa Casa, por ser numa área desvalorizada — afirmou Penteado.
Zarur, que não recebe salário da Santa Casa, disse ao GLOBO que foi dono de uma lavanderia e que recebe aluguéis provenientes dos imóveis que estão em nomes de parentes. Ele foi reeleito no cargo de provedor no mês passado. E disse que não sabe quantos imóveis repassou ao filho, às duas netas e à nora.
— Não posso dizer quantos imóveis tenho, porque o meu filho morreu. Eu quero passar para as minhas netas porque eu estou no fim. Se eu for chamado à delegacia, vou com o meu advogado — disse.
Sobre os bens que pertencem à Santa Casa, ele explicou que cada um tem um responsável:
— Quando um imóvel da Santa Casa é vendido, eu só assino a escritura — continuou o provedor, que apenas negou com a cabeça quando lhe foi perguntado se algum imóvel da Santa Casa passou para seu nome.
Além dos 13 cemitérios, a Santa Casa administra seis hospitais, oito creches, dois colégios e a Fundação Romão Duarte.
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