Seguem várias interpretações do "Rancho do Amor à Ilha", música de Zininho, adotada como Hino da nossa Capital.
Os que, na busca insana por lucros, não titubeiam em destruir a nossa querida Ilha, deveriam ser obrigados a cantar a música todo dia.
Sub-arq. 01
A bela moça eu não conhecia. O Wagner Segura é morador de Ratones e grande talento. Cumprimentos aos dois.
Sub-arq. 02
Sub-arq. 03
Transformada num tango, sinal de que o Zininho agradou a outros povos da América do Sul (tango e milonga não são exclusividades da Argentina), ficou belíssima e mais pujante. Parabéns à companhia de dança Edson Nunes, também:
Sub-arq. 04
Um pedacinho de terra, perdido no mar!…
num pedacinho de terra, beleza sem par!…
jamais a natureza
reuniu tanta beleza
jamais algum poeta
teve tanto pra cantar
num pedacinho de terra,
belezas sem par.
Ilha da moça faceira
da velha rendeira tradicional
ilha da velha figueira
onde em tarde fagueira,
vou ler meu jornal
tua Lagoa formosa,
ternura de rosas
poema ao luar
cristal onde a lua radiosa
sestrosa, dengosa,
vem se espelhar.
E já que estamos compondo esta página nostálgica, referindo gente e coisas da Ilha, cabe acrescentar:
- A ave símbolo da Ilha é o Martin-Pescador Verde (Lei Municipal nº 3.887, de 23/12/1992)
- A árvore símbolo da Ilha (Lei Municipal nº 3.771, de 15/06/92) é o garapuvu (chizolobium parahybum), que em São Paulo é conhecido como "Cedro Mimoso", usualmente utilizado para fazer batelões e canoas. Cobre-se, por volta do mês de outubro, de flores amarelas, ganhando destaque em nossas matas, pelo seu porte altivo. A madeira é mole e não convém plantar perto de casa, porque seus galhos secos despencam com facilidade e podem destruir o que estiver em baixo.
Em homenagem ao Aldírio Simões (se eu fosse um daqueles portugueses católicos e tradicionais diria "Deus o tenha!"), reproduzo uma crônica escrita por ele para o jornal "A Notícia":
- A NOTÍCIA - Aldírio Simões – 26/10/1999
A festa dos garapuvus
O garapuvu, árvore símbolo de Florianópolis, projeto do vereador Lauro Andrade na gestão Bulcão Vianna, floresce nesta época em toda a região da Grande Florianópolis, salpicando a mata de amarelo-ouro. Lamentavelmente os nossos morros não estão sendo reflorestados, como requer o projeto do vereador, e por isso a cadeia de garapuvus se resume em algumas árvores florescendo isoladamente em no Rio Vermelho, Lagoa da Conceição, algumas poucas no morro da Cruz e outras tantas na região do Cambirela.
Meus avós costumavam contar que os morros ao longo da estrada de Canasvieiras tornavam-se amarelados nesta época do ano com as flores dos garapuvus e navegadores estrangeiros ao aportarem na baía norte, há pelo menos dois séculos, mostravam-se fascinado com o morro da Cruz pintado de amarelo-ouro, como se fosse uma grande aquarela. Na região, o desaparecimento repentino do garapuvu deve-se à construção de canoas de um pau só, do tipo batelão e canoa bordada, e não a beleeira, como afirmam alguns.
Se a baleeira chegou à região através dos colonizadores açorianos, cuja origem da embarcação é a América do Norte e não os Açores, discordo da afirmação de que a confecção de canoas de garapuvu deve-se aos europeus que por aqui aportaram. O falecido Seo Tavinho, construtor de canoas e que inclusive participou em várias oportunidades da exposição com Quantos paus se faz uma canoa, coordenado por Túlio Carpes no calçadão, costumava dizer que a arte que abraçou tinha origem em seus avôs, todos também construtores, e que seus antepassados aprenderam a recortar a árvore com os indígenas que habitavam nesta região.
A afirmação do construtor tem sentido pois, quando visitei o Arquipélago dos Açores não lembro de ter avistado um único garapuvu naquela região. Não tenho dúvidas, entretanto, que o sumiço desta árvore da Ilha deve-se ao seu corte para a confecção de embarcações. Causa-me curiosidade a afirmação de técnicos da Floram, de que o garapuvu - o manezinho prefere garapivu - floresce em regiões habitadas pelo homem. Este detalhe, no entanto, merece uma boa explicação científica, pois os morros da região aos quais o homem não tinha acesso há séculos passados, existiam milhares da árvore símbolo. No livro A visita dos navegadores estrangeiros à Ilha de Santa Catarina, os exploradores mencionam a existência de uma floresta amarelo-ouro, referindo-se ao garapuvu florido. Não pretendo, porém, questionar os esclarecimentos técnicos da Floran.
O garapuvu tem uma relação muito forte na minha vida, assim como o mar e o carro de boi. Lembro que no início da década de 50, eu saia de madrugada da praia de Canasvieiras segurando na mão da vó Belinha, que vinha vender rendas de bilro no Centro. Uma viagem de quase quatro horas a pé. Quando os raios de sol anunciavam o dia e os morros a partir do Ratones ficavam à vista, deparava-nos com um cenário exuberante, a cadeira de garapuvus floridos em toda a encosta.
Eu, ainda menino de calças curtas, tentei, inúmeras vezes, contá-los, um a um, mas eram tantos que eu acabava esquecendo de que dois mais dois "eram" quatro, diante daquele inesquecível espetáculo amarelo-ouro contrastando com o verde da vegetação e o encanto da alvorada de pássaros.
Falei acima em "batelão", então lá vai o verbete escrito para o meu futuro dicionário ratonense:
- Pequena canoa, feita de um só pau (GARAPUVU, CEDRO VERMELHO, PAU-DE-BICHO ou FIGUEIRA AMARELA), muito utilizada na Ilha e adjacências. Provavelmente, eqüivale à pequena embarcação que os portugueses conheciam como almadia, que SÍLVIA HUNOLD LARA, organizadora das Ordenações Filipinas, publicadas pela Companhia das Letras/SP/1999, informa ser conhecida também como tone (pág. 328, nota nº 264). Os batelões, ainda encontráveis nas comunidades pesqueiras da Ilha e mesmo no Rio Ratones, são impulsionados a remos de pá ou por pequenas velas retangulares, de pano. Na parte traseira, são dotados de um pequeno banco chamado paneiro (que não se apoia nas bordas, mas no fundo), costumando-se adicionar-lhe mais dois estreitos bancos (estes, sim, apoiados nas bordas), servindo o da frente, que contém um furo no meio, para ajudar na fixação do mastro da aludida na vela. Sob este banco, no fundo da embarcação, é deixado, durante a confecção, um pequeno ressalto, com um furo no centro, para receber o pé do mencionado mastro, conhecido como perapau. Não é o batelão dotado de leme, sendo sua direção ditada pelos remos, mudando-se-os de lado durante as remadas ou pelo chamado encontro, isto é, por uma manobra em que o remador, sentado no paneiro, força o remo contra o costado da embarcação, fazendo-a dirigir-se para o lado oposto ao do apoio. Os batelões costumavam ser modelados a partir de troncos de garapuvu e de figueira amarela, utilizando-se o profissional que o entalhava de uma ferramenta denominada enchó, machadinha, machado, formões, martelos, etc.... No fundo (parte de fora), o batelão é dotado de uma pequena quilha. Seus extremos (popa e proa) recebem formas que favorecem o deslocamento (perfis hidro-dinâmicos). Tais embarcações, pelo seu baixo calado, são muito usadas pelos tarrafeadores, permitindo-lhes a captura de peixes em regiões de pouca lâmina d’água, como baixios, manguezais e áreas de recifes (as baixas, com diziam os portugueses). Batelão deve ser aumentativo de batel. Segundo FRANKLIN CASCAES (ex-professor de Desenho Artístico do organizador desta coletânea, na antiga Escola Industrial de Florianópolis), na obra O fantástico na Ilha de SC, antes da chegada dos europeus, trazendo ferramentas como a enxó, formões, martelos, etc..., os índios que aqui residiam (carijós) faziam canoas de troncos das madeiras mencionadas, utilizando-se, todavia, de um método mais primitivo para ocar os troncos: o fogo.
- Quando da utilização de vela para movimentar a embarcação, o remo do que estiver sentado à popa (parte traseira) serve de leme, pela mesma manobra denominada "encontro". É impressionante ver um pescador tarrafeando de pé (ou recolhendo rede, ou espinhel), equilibrando-se sobre embarcação tão frágil e relativamente maluca como costuma ser o batelão. A água que entra no batelão (um pouco trazida pelos remos, outro tanto por marolas, outro pouco pelos aparelhos de pesca recolhidos e ainda por fendas mal vedadas) é retirada da embarcação com o uso de cuias (meio-catutos), de latas ou de embalagens plásticas. Ao chegar ao porto de destino ou retornando à origem, o batelão, por ser relativamente leve, é retirado da água, com o auxílio de rolos ou de estivas (troncos de imbaúva, rachados em lascas) e guardados em ranchos ou largados na areia, onde a maré não os alcance. Alguns pescadores fazem uma espécie de girau e o colocam em cima, emborcado, facilitando a secagem.
- VIRGÍLIO VÁRZEA, em A canção das gaivotas (conto A vela dos náufragos - Edit. Lunardelli/Fpolis-SC/1985, pág. 94) escreveu: (...) De pé, à popa do batelão (...)
Perfil
- I.A.S.
- Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR
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