Nova presidente do Fed defende redução de salários no combate ao desemprego
Janet Yellen é a primeira mulher a chefiar o banco central dos EUA; cargo é considerado o segundo mais poderoso do país
Reprodução/ Mother Jones
Janet Yellen é nomeada presidente do Fed; economista será a primeira mulher a assumir o cargo
O presidente norte-americano Barack Obama nomeou nesta quarta-feira (09/10) Janet Yellen como a nova presidente do Fed (Federal Reserve), o Banco Central do país, em substituição a Ben Bernanke. O cargo é considerado o segundo mais poderoso nos Estados Unidos, atrás apenas do de Obama, e o mais poderoso no mundo financeiro por definir os rumos da política econômica norte-americana.
Se aprovada pelo Senado norte-americano, Yellen substituirá o atual presidente Ben Bernanke, cujo mandato termina em janeiro e se tornará a primeira mulher a ocupar o posto.
Yellen já demonstrou ter posição consolidada sobre o papel do banco na economia: sua prioridade será o combate ao desemprego e não o controle das taxas de inflação. A economista pertence ao grupo dos “doves” do Fed, que defendem mais estímulos à política monetária e não dão tanta importância à estabilidade dos preços, em oposição aos “hawks” da instituição. Segundo especialistas, é muito provável que seu objetivo seja incentivar o crescimento econômico a partir de uma série de medidas no banco.
Desde o início da crise econômica de 2008, Yellen também passou a se p
reocupar com a falta de instrumentos do Estado para controlar a especulação financeira. A nova presidente, que admitiu não ter previsto o alcance da crise norte-americana, foi uma das primeiras economistas a notar os sinais das “bolhas especulativas”. “Eu sinto a presença de um grande gorila na sala e ele é o setor imobiliário”, disse a colegas do Fed em Junho de 2007.
Apesar de Yellen ter liderado a desregulamentação econômica na década de 1990, enquanto líder do Conselho de Assessores Econômicos durante a administração da Bill Clinton (1993-2001), grande parte dos colunistas norte-americanos acredita que, agora, a economista advoga por certo grau de regulação. Ela estaria em algum lugar entre os defensores da liberdade total de mercado e os advogados do modelo de planificação econômica.
Mais empregos, salários menores
Descrita como perspicaz e pragmática, a economista iniciou a carreira na academia e continua lecionando como professora emérita da Universidade de Brown, em Nova Iorque. Yellen entrou na política como membro do Conselho de Assessores Econômicos durante a administração da Bill Clinton em 1997 e, desde então, assumiu outros postos no governo norte-americano. Com currículo extenso e mais de 12 anos de trabalho no Fed, Yellen, atualmente, é a vice-presidente do Conselho Diretor do banco.
Conhecida por seu perfil acadêmico, Yellen formulou junto a seu marido, o Nobel de economia George Akerlof, uma teoria para o combate do desemprego que rompe com os pressupostos da teoria economia clássica. Em uma série de artigos, eles argumentam que grande parte dos empregadores opta por pagar salários maiores do que o teto salarial por acreditar que a satisfação dos funcionários resulta em maior produtividade. Em tempos de crise, essa lógica é mantida, mas à custa da demissão de outros empregados.
“As empresas não tentam pagar o menor possível para ter todos os corpos necessários no barco; quando há desemprego, os empregadores se perguntam como o corte salarial irá afetar o comportamento de seus funcionários”, disse Yellen em uma entrevista em 1995, citada pelo New York Times. Em outros trabalhos, Yellen ainda procurou compreender o por quê de as pessoas preferirem ficar desempregadas a receber salários mais baixos.
Em outras palavras, o casal propõe que, durante crises, as empresas diminuam os salários e empreguem mais pessoas. Segundo Yellen, isso incentivaria o crescimento econômico e levaria, como consequência, à estabilidade dos preços.
Agência Efe
Controversa ou pragmática?
Sua indicação agradou tanto aos democratas, preocupados com o desemprego no país, quanto aos investidores de Wall Street, animados com a perspectiva de crescimento econômico. Mas, muitos economistas e políticos vinculados aos espectros mais conservadores e outros aos mais progressistas se mostraram descontentes.
[Indicação de Yellen agradou a democratas e republicanos]
Enquanto alguns apontam que Yellen pode ser responsável pelo aumento da inflação, outros afirmam que a economista pode agir de modo bastante diferente do esperado, privilegiando a estabilidade dos preços ao desemprego. Alguns analistas chegaram a chama-la de “’hawk’ na pele de ‘dove’”.
Para alguns colunistas, no entanto, a chave é compreender sua figura como conciliadora entre ambos os grupos. “Sua indicação pode ser vista como um investimento no mandato duplo do Fed, que enfatiza o papel do banco tanto na resolução do desemprego quanto da inflação”, opinou o professor de economia Justin Wolfers.
Machismo encoberto
Para o economista Paul Krugman, a indicação de Yellen também revelou o aspecto machista da política norte-americana. Segundo ele, grande parte das críticas endereçadas à economista está baseada em desconfianças de sua capacidade não como profissional, mas sim como mulher.
“Uma mulher pode, de fato, liderar o Fed?”, questionou Krugman em artigo no New York Times. “Isso nem deveria ser uma questão. E Janet Yellen, atual vice-presidente do Conselho Diretor, não apenas está apta ao trabalho; por qualquer padrão objetiva, ela é a pessoa mais qualificada nos EUA para assumir o cargo”, conclui.
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