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quarta-feira, 31 de março de 2010
Catecismo da ICAR
Projeto do Maluf (só podia ser dele!)/Ação Popular
Procuradores e promotores fazem protesto contra “Lei da Mordaça”
Publicado por Adriana Vandoni em 30/03/2010 às 17:48 hs. Acompanhe as respostas pelo RSS 2.0.
Procuradores e promotores realizam na próxima terça-feira (6) um ato público de repúdio ao projeto de lei conhecido como “Lei da Mordaça”.
A manifestação tem como objetivo, segundo a Procuradoria, mostrar à sociedade que a proposta restringe a independência do Ministério Público e o intimida a não cumprir, com autonomia, deveres previstos na Constituição.
O projeto, proposto pelo deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), prevê a punição para procuradores e promotores que entrarem com ação contra políticos motivados por promoção pessoal, má-fé ou perseguição.
As penas vão de pagamento de despesas com o processo a dez meses de reclusão. O assunto voltou à tona porque entrou na pauta de votações da Câmara para as próximas semanas.
O ato ocorrerá na Procuradoria Regional da República da 3ª Região. O projeto de lei não atinge apenas o Ministério Público, mas o cidadão ou associações que tiverem promovido, nas mesmas circunstâncias imprecisas e indeterminadas, ações populares e ações civis públicas.
Segundo a Procuradoria, se aprovada, a “Lei da Mordaça” traria enorme prejuízo à sociedade, pois limitaria em muito a atuação de todo Ministério Público no combate à corrupção e à impunidade.
A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) também realizará um ato no mesmo dia, em Brasília, na PGR (Procuradoria Geral da República).
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O problema será o corrupto que for denunciado em ação popular ou ação civil pública provar a má-fé do proponente. O art. 5º, da Constituição Federal, em seu inciso LXXIII já prevê a punição (possibilidade de condenação em custas judiciais e honorários advocatícios) do autor de ação popular que, com má fé comprovada, propuser o procedimento.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Referido pelo Saramago
Saramago, um irreverente e ousado, disse que se fosse eu a escrever aquilo cá em Portugal tinham-me dependurado num desses candeeiros da avenida. É de uma violência de denúncia e de crítica que é um autêntico bota-abaixo.
Eu irei atrás de tal obra. Deve ser deliciosa, porque se mereceu os comentários acima, vindos do Saramago, deve ser mesmo impactante.
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Fernando Vallejo
Fernando Vallejo Rendón (Colombia, 24 de outubro de 1942) é escritor, biólogo e cineasta nascido na Colombia e naturalizado mexicano (2007). Recebeu numerosos reconhecimentos por sua obra, incluindo o Prémio Rómulo Gallegos em 2003 pelo livro O Despenhadeiro (em espanhol, El desbarrancadero). É também conhecido por suas fortes críticas, especialmente em relação à Igreja Católica, à dupla moralidade, e à política colombiana.
Biografia
Filho do político e jurista colombiano Aníbal Vallejo Alvarez.
Nasceu e cresceu na cidade de Medellín. Aficionado por música, chegou a ser um excelente pianista, tendo preferência pelas obras de Mozart, Chopin, Gluck e Richard Strauss. Depois de um ano de estudo na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidad Nacional de Colombia em Bogotá, licenciou-se em Biologia na Universidad Javeriana. Viajou a Europa para estudar cinema na Itália, na Escola Experimental de Cinecittà.
Em 25 de fevereiro de 1971, Vallejo mudou-se para a Cidade do México, onde produziu a totalidade de sua obra. Desde então, não voltou a viver na Colômbia.
Vallejo destacou-se mundialmente como escritor. Além de nove romances (cinco dos quais formam um ciclo autobiográfico), publicou três livros de ensaios, uma gramática da linguagem literária, e duas biografias de poetas colombianos (José Asunción Silva e Porfirio Barba Jacob). Sua atividade como diretor e cineasta, anterior a toda sua obra literária, produziu três filmes, dois de temáticas colombianas, porém produzidos no México.
Nacionalidade
Em abril de 2007, obteve a nacionalidade mexicana, e, em 8 de maio do mesmo ano, renunciou a colombiana.
Conforme explicou Vallejo posteriormente, na raiz de sua renúncia à nacionalidade colombiana estava a denúncia oferecida por um grupo de pessoas contra ele e o diretor da revista colombiana SoHo pela publicação de um artigo que os denunciantes consideraram como um insulto à religião católica. Em uma primeira instância, um juiz decidiu que tanto Vallejo, quanto o diretor da revista, Daniel Samper Ospina, deveriam ser presos. Devido a isso, Vallejo decidiu iniciar os tramites para obter a nacionalidade mexicana, pois considerou tal condenação absurda, por violar seus direitos de liberdade religiosa e de liberdade de expressão. Houve uma apelação de tal decisão, e ela foi reformada, com a consequente absolvição tanto de Vallejo quanto de Daniel Samper Ospina. Porém, o tramite para a nacionalização mexicana de Vallejo seguia em curso, e uma das condições para ela ser concedida era firmar um papel renunciando a nacionalidade colombiana.[1][2]
Em outubro de 2007, afirmou que começaria os tramites legais para retomar a nacionalidade colombiana.[3]
Obra
Fernando Vallejo é autor de uma autobiografia, El río del tiempo, composta por cinco livros. O primero, Los días azules (1985), reflete vários episódios da infância do autor, tendo como cenários o sítio de seus avós (Santa Anita) e o tradicional bairro Boston de Medellín. Em El fuego secreto (1987), explora como adolescente os caminhos da droga e da homossexualidade em Medellín e Bogotá. As obras seguintes, Los caminos a Roma (1988) e Años de indulgencia (1989), narram as suas experiências na Europa, especialmente em Roma e em Nova York. O quinto volume de El río del tiempo, Entre fantasmas, apareceu em 1993 e abrange os anos em que residiu na Cidade do México, onde vive desde 1971. Vallejo é autor da biografia do poeta do departamento colombiano de Antioquia, Miguel Angel Osorio, mais conhecido como Porfirio Barba Jacob. Intitulada El Mensajero (1987), é o produto de mais de dez anos de constante e rigorosa investigação pela Colômbia, América Central e México. Em 1994, publicou um romance fora de seu ciclo biográfico, A Virgem dos Sicarios, sobre a violência do narcotráfico em Medellín, que foi levado ao cinema por Barbet Schroeder. Ganhou o Prémio Rómulo Gallegos, um dos mais prestigiados da língua espanhola, em 2003, por O Despenhadeiro. Por meio de alusões autobiográficas e com uma força original de uma linguagem franca e aberta, Vallejo descreve nessa obra a doença e a morte de seu irmão Darío, apresentando reflexões sobre os temas da doença (dito especificamente, a SIDA), a crise da família, a violência cotidiana e a igreja católica como mal social. Em La rambla paralela (2002), um cadáver ambulante circula alucinadamente por uma Barcelona asfixiada pelo calor e que pela voz do narrador se confunde com Medellín e o México, através de uma prosa cheia de fúria e nostalgia, onde se fundem em uma coisa só passado, presente e futuro. Em Mi hermano el alcalde (2004), inspirando-se na figura de seu irmão Carlos, prefeito do município de Támesis, em Antioquia, descreve irônica porém festivamente os rituais eleitorais sul-americanos: promessas irrealizáveis, votos comprados, eleitores "fantasmas", e apadrinhamentos. Depois de não dar o braço a torcer a tais rituais devido a sua honradez congênita, o protagonista é eleito prefeito e sua administração, saturada de problemas econômicos e judiciais, resulta em um grande progresso para a cidade.
Como cineasta, escreveu e dirigiu no México dois filmes sobre a violência na Colômbia: Crónica Roja (1977) e En la tormenta (1980). Um terceiro filme, "La derrota" (1984), co-escrito com Kado Kostzer significou seu último trabalho como diretor.
Em 1985 a Procultura publicou a sua edição da Poesía completa de Porfirio Barba Jacob. No ano de 1995 publica o resultado de sua extensa pesquisa sobre a lembrança de quem foi um dos grandes poetas colombianos, José Asunción Silva; essa biografia, chamada Almas en pena, chapolas negras, descreve o desfalque financeiro do poeta e reflete, com grande êxito, o ambiente de Bogotá em finais do século XIX.
A maior parte de seus romances têm por cenário a Colômbia e seus temas recorrentes são a violência, a homossexualidade, a adolescência, as drogas e a morte.
Vallejo também cultivou o ensaio: em 1983, o Fondo de Cultura Económica publicou no México Logoi. Una gramática del lenguaje literario, um ambicioso projeto investigativo sobre a escrita literária, ressaltando pontos de vista originais e críticos sobre a linguagem, seu uso e seus limites; em La tautología darwinista (1998) tenta refutar a teoria darwiniana da seleção e adaptação como causas da evolução, teoria que ele aceita, porém tendo como causa exclusiva as modificações que aleatoriamente podem produzir-se no ADN a nível molecular, sem intervenção nem influência do meio ambiente nem de alguma causa exterior.
Como narrador oferece uma visão atrevida, iconoclasta, negra, e profundamente pessimista do mundo. Seu estilo é áspero e vigoroso e em conjunto representa um dos melhores da atual narrativa em língua espanhola. Um outro ensaio, o Manualito de imposturología física (2005), oferece uma discussão, na forma de sátira, das construções teóricas da física; na voz de um narrador erudito, Vallejo acusa de impostores os maiores representantes da física com a ajuda da 'imposturología', uma ciência da impostura inventada por ele.
Sua publicação mais recente, La Puta de Babilonia (2007), é um ensaio histórico extenso e prolixo, no qual Vallejo expõe uma mui bem documentada crítica ao cristianismo e a Igreja Católica. Uma ilustrativa menção do conteúdo de tal livro foi feita por Saramago em um entrevista. Saramago, respondendo sobre as polêmicas nas quais estava envolvido quando do lançamento do livro Caim em 2009, e se o lançamento de tal livro iria causar polêmicas na Espanha, disse o seguinte: “Não, em Espanha, não. Publicou-se lá recentemente um livro do Fernando Vallejo, La puta de Babilonia, que se fosse eu a escrever aquilo cá em Portugal tinham-me dependurado num desses candeeiros da avenida. É de uma violência de denúncia e de crítica que é um autêntico bota-abaixo”.[4]
Fernando Vallejo segue a tradição contestadora da intelectualidade de Antioquia, na esteira de nomes como o próprio Barba Jacob, Fernando González Ochoa, e dos nomes do Nadaismo, com Gonzalo Arango como principal referência.
Em Setembro de 2009 Fernando Vallejo foi premiado com o título de doutor honoris causa pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidad Nacional de Colombia, depois de muita contestação, devido à polêmica em torno de sua obra.
Polêmicas
Dono de uma personalidade forte, Vallejo é autor de muitas declarações polêmicas.
Críticas a Igreja Católica
As críticas à Igreja Católica são um tanto comuns para Vallejo. Em outubro de 2007, quando do lançamento de La Puta de Babilonia, disse em uma entrevista quando perguntado sobre uma possível influência pérfida da Igreja Católica: “Pérfida es un calificativo que no se me había ocurrido para esta plaga que ha torturado mientras ha tenido el poder temporal y que sigue haciendo el mal, azuzando a la paridera. Después de 700 años de cometer los más indecibles horrores, ahí siguen los dominicos sueltos por las calles: los esbirros de la secta de Domingo de Guzmán o Inquisición o Santo Oficio o Congregación para la Doctrina de la Fe que es como hoy la llaman y que presidía Ratzinger justamente antes de montarse al trono”.[3]
Ausência de provas da existência de um Jesus histórico
Vallejo também não acredita na existência de um Cristo como ser divino, entendendo existir apenas relatos de um Jesus histórico, ou seja, uma personagem histórica, que não se pode provar que existiu. Em uma entrevista, quando perguntado se acreditava na existência de Cristo, respondeu: “¿Cristo? Cuál de todos, porque hay muchos. En el solo Nuevo Testamento hay tres: uno es el de los evangelios sinópticos (o sea el de Mateo, Lucas y Marcos); otro muy distinto, es el del evangelio de Juan; y el tercero es el de las 14 epístolas de Pablo. Por si fuera poco, además de estos tres, está el cristo los de ebionistas, otro de los elkesaítas, otro de los ofitas, otro de los nazarenos, otro de los judaizantes, otro de los adopcionistas, otro de los docetistas, otro de los gnósticos, otro de los simonianos, otro de los harpocarcianos, otro de los valentinianos, otro de Basílides, otro de Cerinto, otro de Carpócrates, otro de Marción... ¿De cuál de estos cristos estamos hablando?” [3]
E complementou, na mesma entrevista: “Jesús es un personaje histórico, por lo tanto postular su existencia es algo muy distinto a postular la existencia de Dios. Uno puede aceptar que Dios existe por la fe, que es como lo aceptan los protestantes, los cristianos de la Iglesia ortodoxa y los musulmanes. O por la fe y la razón, como lo aceptan los católicos. Pero uno no puede aceptar la existencia de un personaje histórico por la fe, sino por pruebas de la Historia. Si el cristianismo plantea la existencia de Cristo, le toca probarlo. Y no tiene forma de hacerlo. Que Cristo existió no es algo que pueda probar. No hay forma. Solo fechas y nombres y textos inciertos”. [3]
Bibliografia do autor
Romances
- La virgen de los sicarios (1994), traduzido para o português sob o título de A Virgem dos Sicarios.
- El río del tiempo (1999). Obra composta por:
- Los días azules (1985)
- El fuego secreto (1987)
- Los caminos a Roma (1988)
- Años de indulgencia (1989)
- Entre fantasmas (1993)
- El desbarrancadero (2001), traduzido para o português sob o título de O Despenhadeiro (tradução criticada pelo próprio Vallejo)[5]. Premiado com o Prémio Rómulo Gallegos em sua XIIIª edição (2003).
- La rambla paralela (2002)
- Mi hermano el alcalde (2004)
Biografias
- El mensajero (1991), biografía de Porfirio Barba Jacob.
- Almas en pena, chapolas negras (1995), biografia de José Asunción Silva.
Literatura/filologia/linguística
Ensaios
- La tautología darwinista (1998)
- Manualito de imposturología física (2005)
- La Puta de Babilonia (2007)
Filmografia
Como diretor
Curta-metragens
- Un hombre y un pueblo (1968)
- Una vía hacia el desarrollo (1969)
Longa-metragens
- Crónica roja (Título do roteiro: Vía cerrada) (1977). Premiado em 1979 com o Prémio Ariel da Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas nas categorias "Mejor ópera prima" e "Mejor ambientación".
- En la tormenta (1980). Prémio Ariel (1981) na categoria "Mejor ambientación".
- Barrio de campeones (1981)
Como roteirista
- La virgen de los sicarios (2000)
Como ator
Ligações externas
Perfil do escritor em português- Entrevista na Ciberletras, por Francisco Villena
- Discurso na entrega do Prémio Internacional de Romance Rómulo Gallegos
- O que aconteceria se Fernando Vallejo ganhasse o Prémio Nobel
- Cibercharla com Héctor Abad
- Vallejo é melhor do que Gabo
- "«Mi obra es fruto del remordimiento»: Fernando Vallejo" El País 28-06-2003
- O abismo de Vallejo
- Crítica ao Manualito de imposturología física
- Entrevista no Clubdelibros
- 'Voy a reiniciar mis trámites para volverme otra vez colombiano', disse o escritor Fernando Vallejo
- Amparo Grisales declara que em algumas ocasiões hospedou-se na casa de Fernando Vallejo, no México
- Vallejo revela que se nacionalizou mexicano para não ir preso
- "A la humanidad le espera un infierno" Entrevista ao jornal LA NACION 13-01-08
- Antología de bódrios: La física según Vallejo
Entrevistas em áudio
- Fernando Vallejo em entrevista com o Decano da Faculdade de Ciências Humanas da Universidad Nacional de Colombia
- Fernando Vallejo convidado para Aula Aberta na Universidad de Antioquia. Conferência e respostas a perguntas. 22/05/2008. 68 min.
- Na Caracol Radio com Gustavo Gómez e Rocío Arias. 19-02-2005
- Na W Radio com Julio Sánchez Cristo
- De passagem pela Colômbia, Fernando Vallejo dialoga com ouvintes da Caracol Radio (27/oct/2006).
- Entrevista na Caracol Radio a propósito da publicação de La puta de Babilonia 18-04-2007
- O terceiro dentre os irmãos Vallejo, Aníbal Vallejo, fala sobre o escritor
- Tertúlia de Antonio Caballero com o maestro Fernando Vallejo, um dos mais importantes e controversos escritores colombianos. Caracol Radio: 28-01-2008
Artigos escritos por Fernando Vallejo
Na SoHo
- El gran diálogo del Quijote
- La Pasión de Alejandra Azcárate (Título original: "Leyendo los evangelios")
- Los rapaces
- Wojtyla vive
- El politiquero y el primate
- Por el desafuero
- Mi otro prójimo
- El liliputiense bellaco
- Nuestro gran presidente
- A las madrecitas de Colombia
- Obituario de Karol Wojtyla
- 'Bienvenida' al Rey de España
Na Revista Número
Referências
- ↑ Verbo21 (Darío Gómez Sánchez) (agosto de 2008). Caminhando com Fernando Vallejo (em português). Página visitada em 07 de janeiro de 2010.
- ↑ Laura Camila Mejía Morales. Fernando Vallejo (em espanhol). Página visitada em 25 de Outubro de 2009.
- ↑ a b c d Terra (19 de Outubro de 2007). Fernando Vallejo: 'Voy a recuperar mi nacionalidad colombiana' (em espanhol). Página visitada em 25 de Outubro de 2009.
- ↑ Diário de Notícias (25 de Outubro de 2009). "O Papa Bento XVI parece-me um hipócrita" (em português). Página visitada em 25 de Outubro de 2009.
- ↑ Máquina de Escrever (G1). O furioso cordial (em português). Página visitada em 1 de dezembro de 2009.
Escândalo ! |
La puta de Babilonia, entrevista com Fernando Vallejo |
Antonio Jáquez, 29 de abril de 2007 |
Nem uma só ponta de respeito de intelectual – menos ainda de comiseração – existe na alma, no pensamento ou na obra de Fernando Vallejo, escritor colombiano naturalizado mexicano, quando se trata de analisar o que ele chama de os horrores atuais e presentes da Igreja católica no mundo. Com a recente publicação de “La puta de Babilonia” – livro da editora Planeta, inexoravelmente destinado ao escândalo – Vallejo declara sua guerra pessoal contra a Igreja do Vaticano com argumentos históricos implacáveis… aos quais agrega seus ácidos julgamentos nesta entrevista exclusiva publicada em Proceso. Herege de coração, o autor de origem colombiana – já naturalizado mexicano – Fernando Vallejo já exibira sua aversão pela Igreja católica em sua obra em “La virgen de los sicários” e “La rambla paralela”, por exemplo, onde, de passagem, arremeteu contra Karol Wojtyla (“Zangão” foi o menos que dirigiu ao Papa polaco), de acordo com Proceso, em sua edição 1.591. Nunca, entretanto, Vallejo havia dedicado uma obra completa a questionar os crimes e pecados da Igreja católica, apostólica e romana até agora, quando publica “La puta de Babilonia”, um ensaio feroz, raivoso, corrosivo, no qual não deixa nem o Papa, nem dogma incólume, incluídos a existência de Cristo e a virgindade de Maria, de que, obviamente, duvida. “A impune bi-milenária tem contas pendentes comigo desde minha infância e aqui vão ser cobradas”, adverte Vallejo, na arrancada eletrizante de seu livro, uma espécie de anti-salmo:“La puta, la gran puta, la grandísima puta, la santurrona, la inquisidora, la torturadora, la falsificadora (…) la oscurantista, la impostora, la embaucadora, la difamadora, la estafadora de viudas, la homofóbica, la corrupta, la hipócrita, la parásita (…) la jesuítica, la dominica, la del Opus Dei…”, diz sobre aquela a quem muitos consideram a “Santa Madre Igreja”. – Que barbaridade, dom Fernando! Mas o que lhe fez a Igreja, quais são essas contas pendentes? – pergunta-se a Vallejo na entrevista a Proceso. - Arruinou-me a infância com a ameaça do inferno. Qual inferno, como se já não bastasse o deste mundo! Ah, e fez com que minha mamãe parisse vinte filhos. Dezenove irmãos são outro inferno. Aos 64 anos, Vallejo parece inofensivo, com seu olhar tranqüilo, voz musicada e gestos suaves. Sua prosa é outra história, sobretudo em seu novo livro: sarcástica, injuriosa, provocadora, mal humorada, personalíssima. Perguntamos a ele se seu livro não teria ganho mais credibilidade e público se fosse mais comedido em sua linguagem. Ele responde: “Não. Eu sei o que faço. O que meus leitores estão ouvindo atrás das palavras impressas é minha voz. E não estão lendo um livro: estão lendo minha alma”. Na entrevista, fala também de outros temas. Refere-se, por exemplo, ao seu desprezo por Gabriel García Márquez, entre outras razões pela proximidade do escritor com o ditador Fidel Castro, “Deus os faz e eles se juntam”. Congratula-se pela derrota da direita – e da Igreja – na assembléia da capital, no caso do aborto: “uma batalha foi ganha contra o obscurantismo, é um grande passo libertário para o México. Gostei quando a Igreja caiu no ridículo. Com todo o seu poder e seus aliados apenas reuniu 70 mil assinaturas”... “Pelo amor de Deus…” A Internet fascina Vallejo: facilita suas indagações e lhe economiza contatos com gente, segundo diz em seu apartamento em La Condesa, a colônia da moda entre os intelectuais da cidade do México. Conta como montou “La puta de Babilonia”, título certamente tomado do Apocalipsis: “Esteve na cabeça desde sempre: em dois anos o passei ao papel. Com Amazon e a Internet a documentação ficou mais fácil do que pensava no início. Todos os padres da Igreja, gregos e latinos, estão lá. Orígenes, São Jerônimo, Santo Augustinho...” “Com a Internet a erudição desapareceu. Buscas no Google, por exemplo, Miguel Cerulario (o imperador bizantino que o atual Papa citou em sua conferência de Ratisbona, provocando a ira dos muçulmanos) e, com um clic, tens uma informação imensa reunida que, antes, teria custado uma vida inteira juntar. O pior inimigo da Bíblia é a própria Bíblia; para destruí-la não se necessita mais do que conhecê-la. Leia com atenção e irá descobrir suas contradições, suas imbecilidades, suas imoralidades, suas infâmias. Quando Lutero a traduziu para o alemão, abriu a caixa de Pandora.” “Pois bem, a Internet veio somar-se às traduções da Bíblia para línguas vernáculas que seguiram a de Lutero ao alemão. A história monstruosa da Igreja já está ao alcance de todos, e não podem ocultá-la nem um dia mais. Essa instituição delinqüente, que já não pode matar, nem torturar, nem queimar livros e gente, não poderá impedir por mais um dia que a verdade de sua impostura e seus horrores e o relato grosseiro que inventaram do tal Cristo venham à luz.” Na primeira parte, Vallejo fala dos Papas. Há histórias loucas, como muitas das ocorridas nos tempos da Inquisição, particularmente as relacionadas com a queima de hereges. Aponta Vallejo: “Inocêncio IV autorizou a tortura, e as câmaras da Inquisição se transformaram, então, em masmorras do inferno. Os acusados eram encerrados e isolados em celas e impedidos de ver os familiares, e lhes ocultavam os nomes de seus acusadores. Quem não confessava logo recebia como aperitivo os esmagadores de dedos, umas placas que se fechavam com um torno e que trituravam e deslocavam dedos. Não confessava? Passavam a vítima então para as botas quebra-tíbias, para sentá-la, em seguida, na cadeira ardente para descansar: uma cadeira com uma grelha sob um assento metálico coberto de pregos afiados, que se aqueciam até quase ficar em brasa (…). Ou lhe desencaixavam as mandíbulas, abrindo-as ao máximo. Pelo amor de Deus, confesse para salvar sua alma – implorava o inquisidor –, não me faças sofrer tanto… – Que passagem obscura da Igreja lhe impressiona mais? A queima de supostas bruxas é impressionante, não? – é perguntado ao autor de “El desbarrancadero”. – Está correto, “supostas” bruxas, pois bruxas reais nunca existiram. Fazendo o inventário dos crimes cometidos em nome de Cristo (uma invenção das muitas seitas cristãs do século II de nossa era, que nunca existiu como um ser real de carne e osso), o que mais me impressiona é justamente o que você menciona, queimar gente viva. Difícil conceber algo mais monstruoso que essa forma de matar da Inquisição. Cristo se saiu bem, somente o crucificaram. Comovamo-nos por Giordano Bruno ou por Miguel Servet! Entretanto, disse o escritor – que também é biólogo –, nenhum Papa condenou a Inquisição de modo claro, “não com tibieza como fez Wojtyla”. A Inquisição foi fundada formalmente em 1232 por Gregório IX, de modo que está por alcançar oito séculos. “Oito séculos de impunidade! Com a Contra-reforma lhe trocaram o nome pelo de Santo Ofício. Hoje se chama Congregação para a Doutrina da Fé, e de lá – como saltou Putin, o russo da KGB, ao Kremlin –, assim saltou ao papado seu prefeito, Joseph Ratzinger. A Inquisição é a melhor prova da existência de Deus. Claro que o monstro existe! E longe de que seus desígnios sejam impenetráveis. São límpidos como turva é sua essência”. – Wojtyla pediu perdão pelos pecados da Igreja. Basta pedir perdão para apagar tudo? – Claro que não. É como se os nazis pedissem perdão pelas vítimas dos campos de concentração. Os crimes da Igreja não têm desculpa, seja onde for que tenham ocorrido, e deveria ser perseguida e castigada por isso. Daqui, lanço a idéia para que, no México, a Igreja católica seja proscrita. Sua impunidade de séculos deve terminar. – Você marca Karol Wojtyla como o Papa “mais daninho”. De verdade, você o vê assim? – Sim. O mais assassino é o genocida Lotário da Segni, aliás, Inocêncio III, o da Quarta Cruzada contra os albigenses. Mas o mais daninho é Karol Wojtyla, aliás, João Paulo II, que, em seus 26 anos de pontificado, ajudou como ninguém a subir no planeta, comprovadamente, mais dois bilhões que excretam muito mas sobre o que se diz pouco. E veja o resultado: os rios convertidos em esgotos, e o mar em um desaguadouro de cloacas, a camada de ozônio esburacada, o aquecimento global, os pólos derretendo, a proliferação de barracos e favelas, miséria, e gente e mais gente, e automóveis e automóveis, mais automóveis e mais automóveis, por onde andemos. E, sobretudo, a sorte cada vez mais desventurada dos pobres animais. Os frangos, os porcos e as vacas, produzidos em galpões e criatórios monstruosos que não são outra coisa que fábricas de carne, logo degolados ou esfaqueados nos matadouros... E quando Wojtyla disse uma palavra a seu favor? Tantas quantas disse Cristo. – O silêncio ou a cumplicidade do Vaticano diante dos crimes de Hitler equivalem ao silêncio da Igreja frente aos horrores da guerra do Iraque? – Benedicto tem pavor dos muçulmanos. Tanto como sentia Pio XII em relação a Hitler. E levantará sua voz contra os terroristas islâmicos tanto como este Papa covarde a levantou contra os nazis. Atualmente, o Vaticano está muito indignado porque em Israel, em um museu sobre o holocausto, colocaram uma foto de Pio XII com a legenda de que não havia feito nada para evitá-lo. Pois eu digo mais que os moderados judeus: não só não fez nada mas o alcagüetou: todo o episcopado alemão se juntou a Hitler e se derramou em panegíricos celebrando-o, e soaram os campanários em sua honra sem que o autocrata de sotainas de Roma fizesse nada para contê-los. Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli, aliás, Pio XII, foi um hipócrita covarde. Ele foi o maior alcagüete de Hitler, de Mussolini e de Franco. A cenoura e o garrote Vallejo está muito satisfeito. Diz que tem bons motivos hoje em dia: livro novo, estreou a cidadania mexicana – na quarta-feira, dia 25, lhe entregaram sua carta de naturalização – e a aprovação da lei de descriminalização do aborto na capital. Comenta que, em seu ensaio, não lhe basta se meter com os Papas; vai também contra o próprio Cristo e, inclusive, contra textos considerados sagrados. - Era necessário chegar tão longe em sua revanche contra a Igreja? Nem sequer como mito a imagem de Cristo lhe desperta simpatia? – O Cristo dos quatro evangelhos canônicos (que é o que pesa hoje em dia sobre nós, e que, no século II, era um entre muitos das muitas seitas cristãs que a chamada seita católica em seguida reprimiu e exterminou) era um homem contraditório, irado e louco, que não proferiu uma só palavra para repudiar a submissão da mulher, a escravidão e as agressões do homem aos animais. Como pode ser o paradigma do humano alguém que não viu que os animais, os mamíferos ao menos, também são nosso próximo? Não dirigiu a eles nem uma só palavra de compaixão. Em seu livro, Vallejo afirma que Cristo é “um plano forjado por Roma, centro do império e do mundo helenizado, a partir do ano 100, reunindo traços tomados dos mitos de Átis, da Frígia, Dionísio, da Grécia, Buda, do Nepal, Krishna, da Índia, Osíris e seu filho Horus, do Egito, Zoroastro e Mitra, da Pérsia, e toda uma série de deuses e redentores do gênero humano que o precederam em séculos, e ainda em milênios, e que o mundo mediterrâneo conheceu em razão da conquista da Pérsia e da Índia por Alexandre Magno”. Entra em detalhes: “Atis morreu pela salvação da humanidade, crucificado em uma árvore, desceu ao submundo e ressuscitou no terceiro dia. Mitra teve doze discípulos; pronunciou um Sermão da Montanha, foi chamado de Bom Pastor, se sacrificou pela paz do mundo e ressuscitou aos três dias. Buda ensinou no templo aos 12 anos, curou enfermos, caminhou sobre a água e alimentou quinhentos homens com uma cesta de biscoitos; seus seguidores faziam votos de pobreza e renunciavam ao mundo; foi chamado de Senhor, Mestre, a Luz do Mundo, Deus dos Deuses, Altíssimo… Krishna foi filho de um carpinteiro, seu nascimento foi anunciado por uma estrela no oriente e esperado por pastores que lhe presentearam com especiarias…” - No México, os priístas* costumavam justificar seus crimes e corrupção dizendo que quem falhavam eram os homens, não as instituições. Escutei alguns clérigos dizerem o mesmo. A julgar por seu livro, você considera que a Igreja e seus homens são a mesma porcaria… - Os priístas somente foram corruptos. A Igreja, além de corrupta, até quando conseguiu foi genocida e assassina: até meados do século XIX, quando Pio Nono perdeu, pelas mãos do Ressurgimento** italiano, o poder temporal que lhe restava, e os dentes e as garras, e o Santo Padre, de corrupto e assassino que havia sido até então, como bem sabiam seus súditos imediatos, os habitantes da cidade de Roma e dos Estados Pontifícios, passou a ser um santarrão. Sim. Todos estes travestis tonsurados são uma solene porcaria e desde aqui lhes declaro guerra. Sua hora chegou. – Como você explica a longa sobrevivência de uma instituição tão profundamente corrupta e inclusive criminosa – segundo seu livro – como a Igreja católica, apostólica e romana? Se é tão má, por que durou tanto? De acordo com Savater, o mito de Cristo é parte da explicação. Em que você acredita? – Durou tanto porque é a puta mais puta entre as mais putas. Porque desde que, em 312, subiu no carro da vitória do imperador Constantino, o genocida, sempre soube deitar no leito dos poderosos, por mais criminosos que fossem: Carlomagno, Carlos V, Mussolini, Franco, Hitler... Porque sempre foi a grande rameira do poder. Os comunistas foram seus inimigos porque não a deixaram se aproximar. Essa meretriz trata sempre de estar com quem ganha. Se permite, ela sobe em sua cama. – Em seu livro apenas há referências de passagem sobre o papel da Igreja nos países latino-americanos? Como você julga o papel “evangelizador” da Igreja? O que pensa da Virgem de Guadalupe? – O papel “embrutecedor”, queres dizer. Quanto à Virgem de Guadalupe, não é ninguém: uma a mais entre as Onze Mil Virgens. Não vale mais que um prêmio em um festival de cinema, do mesmo tipo que no mundo de hoje existem uns cinco mil. Em nossos dias mexicanos, dominados politicamente pelo conservadorismo vulgar do PAN***, a Igreja cavalga de novo… embora caia do cavalo. Em vão prega contra os casamentos homossexuais e contra o aborto, seguindo as diretrizes do Santo Padre… - E como você as vê? Você simpatiza com personagens como o cardeal Norberto Rivera e o bispo Onésimo Cepeda? – No enterro do professor Hank González, um dos homens mais honestos que o México produziu, Norberto Rivera disse que “bendito seja nosso irmão Hank porque multiplicou os bens de Deus”. E Onésimo vai às corridas de touros para oferecer a alternativa aos pombinhos de toureiro e se jacta de que é muito macho e come carne. O anterior nos descreve muito bem este par de homens ilustres, orgulho da Igreja. E não me pergunte pelo padre Maciel porque sinto muita inveja dele. Com semelhante jardim florido e não ter compartilhado uma só dessas florzinhas com o próximo! Que ávido! ¬- Você afirmou que lhe agradaria muito polemizar com Norberto, Onésimo, o cardeal de Guadalajara Sandoval Íñiguez “e o santo varão” Carlos Abascal. - Estou pronto para debater com eles. E mais: dou tempo de vantagem a eles para que digam o que quiserem. Creio que o debate poderia ser em um auditório da UNAM. Proponho que o encontro seja em 13 de maio, dia da Imaculada Conceição”. – Seu livro antecipa que o dia do aiatolá se aproxima e que “a Grande Besta Negra vem sobre nós”. Será um obscurantismo pior? – Na Colômbia de meus tempos dizíamos: “essa é uma carga da qual não se escapa”. Se os muçulmanos não nos invadem, la Puta de Babilonia nos devolverá às trevas medievais. Adeus Século das Luzes! Adeus Revolução Francesa! Adeus movimentos libertários do século XIX e princípios do XX! Adeus, adeus! – Parece que a Igreja quer se modernizar. Acaba de suprimir o limbo, por exemplo, o que pensa? – Se já não existe o limbo, onde estão agora os indígenas da América anteriores à Conquista, e as crianças inocentes que morreram antes de Cristo? Ou as crianças inocentes que estão nascendo na China, onde estão? Ao limbo eram mandadas as crianças e os justos. Por que não suprimem o purgatório? Este foi uma fonte de enriquecimento da Igreja, base das indulgências, que produziu a reforma protestante: essa foi a intenção, tirá-los do purgatório para que entrassem diretamente no céu. Não podem eliminar o inferno. Se o suprimem, têm que acabar com o céu. Se não existe inferno, todo mundo tem que ir para o céu. O grande anzol do catolicismo é o céu. A outra grande razão é que o ser humano quer perdurar, ser eterno; a cenoura que moveu a Igreja ao humano é a promessa da eternidade e o garrote é a ameaça do inferno. – Seu livro deixa claro que você é seu herege perfeito. Não teme a Deus? Não necessita o homem de Deus e de algum tipo de religião, ainda que seja como bálsamo? Não se arrependerá no último minuto? – Quando Napoleão perguntou por Deus ao astrônomo Laplace, este lhe respondeu: “Senhoria, eu não necessito dessa hipótese”. O mesmo lhe respondo agora. É claro que não me arrependerei: eu morrerei na obstinação final do pecado, serei inimigo da Igreja até meu último alento. Notas do tradutor Fonte: Proceso Traduzido do Espanhol para o Português por Omar L. de Barros Filho, jornalista, diretor de redação de ViaPolítica e membro de Tlaxcala, rede de tradutores pela diversidade lingüística. Esta página é Copyleft para qualquer uso não comercial. Pode ser reproduzida livremente, sob a condição de que sejam respeitadas integralmente as menções de autor, tradutores e fonte. URL deste artigo: http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=2615&lg=po |
Catei do blog da Maria Augusta Orofino
Negócio do momento – abrir uma igreja
Aparentemente sem uma conexão com os temas que normalmente venho tratando neste blog, hoje compartilho essa reportagem de Dalmo de Abreu Dallari, que aborda as fraudes que são cometidas pelas novas igrejas que diariamente são criadas em nome de Deus. Recebi essa matéria através do site www.envolverde.com.br . A cada um que ler, caberá seu julgamento.
[Fraudes em nome de Deus – Dalmo de Abreu Dallari]
Um fenômeno social que vem ganhando corpo nos últimos tempos é o aparecimento de grupos autodenominados religiosos, que, geralmente sob a direção de um líder, arrebanham adeptos, atraindo pessoas, quase sempre pouco esclarecidas ou socialmente frágeis, ou, ainda, dissidentes políticos ou religiosos aos quais oferecem um instrumento de oposição, e logo procuram formalizar a existência do grupo como uma nova igreja. E assim procuram obter proveitos materiais de várias espécies, em fraude à lei. Isso explica o aparecimento de novas igrejas em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil.
Percebendo a ocorrência desse fenômeno e desejando conhecê-lo melhor, para, entre outras coisas, despertar a opinião pública para os graves prejuízos individuais e sociais que isso pode acarretar, dois jornalistas ligados à Folha de S.Paulo, Cláudio Ângelo, editor de Ciência, e o repórter Rafael Garcia, decidiram criar experimentalmente uma nova igreja, evidentemente fundada numa fantasiosa crença religiosa.
Para tanto, com o objetivo de evidenciar a tranquila possibilidade legal de consumar essa fraude, solicitaram a orientação de um dos mais prestigiosos escritórios de advocacia de São Paulo, respeitadíssimo pelo alto nível de conhecimentos e pelo rigoroso padrão ético de seus integrantes – o escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian Associados. E assim adotaram as providências legalmente exigidas para concretizar a criação da igreja de fantasia.
Exploração da ignorância
Verificaram, então, que não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a criação de uma igreja, não havendo também a exigência de um número mínimo de fiéis. Redigiram um documento de fundação do que denominaram Igreja Heliocêntrica do Sagrado Evangelho e fizeram a inscrição da entidade no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, obtendo assim o número do CNPJ.
Com base nesse documento abriram uma conta bancária, fazendo várias aplicações financeiras, gozando de isenção dos tributos normalmente incidentes sobre operações dessa espécie, pois, segundo a Constituição, no artigo 150, inciso VI, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre templos de qualquer culto.
Nessa mesma linha, a nova igreja poderá adquirir e vender imóveis, realizar transações econômicas, cobrar pela prestação de serviços e praticar outros atos que beneficiem pessoalmente os criadores e dirigentes da igreja, sem que sejam obrigados a pagar o IPVA, o IPTU, o ISS e qualquer outro tributo. E como as igrejas são absolutamente livres para definir sua organização e direção e para admitir e manter seus sacerdotes, que, nessa condição, ficam isentos da obrigação de prestar o serviço militar obrigatório, um dos dirigentes designou seus próprios filhos como sacerdotes, garantindo-lhes, desse modo, essa isenção, devendo-se ainda acrescentar que, além desse privilégio legal, os sacerdotes terão direito a prisão especial, se forem envolvidos numa ocorrência policial.
Acrescente-se, ainda, que os dirigentes da igreja poderão indicar os imóveis de sua residência como sendo templos da igreja e assim ficarão isentos dos tributos municipais.
Essa iniciativa dos jornalistas, levada a efeito discretamente e sem procurar provocar escândalo, é merecedora do maior elogio e deve ser amplamente divulgada, para chamar a atenção dos que podem e devem influir para impedir a multiplicação fraudulenta de igrejas. Essa fraude deve merecer especial atenção dos legisladores e dos governos, pois além de acarretar enormes prejuízos a todo o povo, por criar a possibilidade de intensa atividade econômico-financeira sonegando tributos, alimentam-se da exploração da ignorância e da fragilidade de pessoas das camadas mais pobres da população.
Ação educativa
Bem ilustrativo da audácia desses exploradores da ignorância e da ingenuidade de pessoas mais simples é a notícia da criação de uma linha telefônica para falar com Deus, fato divulgado pelo jornal francês Le Monde (4/3/2010, pág.26).
Conforme registra com ironia aquele jornal, foi criado um novo serviço telefônico, “Le Fil du Seigneur”, iniciativa da sociedade Aabas Interactive. Fornecendo os dois números disponíveis para as ligações, informa o jornal que o custo das ligações é de 15 centavos de euro para as ligações comuns e de 34 centavos para as ligações urgentes e diretamente dirigidas a Deus.
Quem ligar para o serviço ouvirá uma gravação dizendo : “Você está em presença de Deus para o recolhimento e a prece a fim de receber sua graça”. Acrescenta o jornal, sempre ironizando, que os promotores desse piedoso serviço não estão autorizados a conceder absolvição por telefone, mas os interessados podem deixar sua confissão. E para acentuar os objetivos de apoio e edificação espiritual, uma gravação diz no início: “Para receber conselhos, digite 1; para confessar, digite 2 ; para escutar confissões de outros, digite 3″.
Parece absurda a criação de um “serviço” dessa natureza, mas o fato de ele continuar existindo é um sinal de que também existem usuários, o que deixa evidente que há ambiente para audácias desse tipo.
Num pronunciamento recente, o presidente da Ordem dos Advogados de Angola chamou a atenção para o surgimento e a multiplicação de práticas ilegais naquele país, ligadas justamente à exploração de crenças religiosas. E observou : “Não me surpreende o surgimento de crimes ligados à exploração religiosa, porque onde há pobreza, ignorância e um nível cultural extremamente baixo há propensão para que essas práticas religiosas duvidosas prevaleçam e tenham espaço”.
E sublinhando que a legislação angolana exige um mínimo de cem mil aderentes para a existência de uma igreja, o que considera bom mas insuficiente para impedir as fraudes, acrescentou que “é responsabilidade do Estado, nos termos da lei, controlar para que o direito de liberdade religiosa não seja utilizado para fins contrários ao que está previsto na Constituição”, considerando necessária uma ação educativa do Estado, mas também uma ação repressiva, para impedir práticas que, sob a máscara de atividades religiosas, prejudiquem os direitos de outros cidadãos e a própria ordem pública.
Necessário e urgente
Observe-se, afinal, que esse fenômeno da exploração religiosa, muito oportunamente posto em evidência pelos jornalistas da Folha de S.Paulo, vem preocupando vários países da Europa. Assim, na França já estão em vigor três leis tratando de questões relativas ao surto de organizações religiosas e suas repercussões legais. A primeira é de 18 de dezembro de 1998 e cuida, sobretudo, do problema do acesso de crianças à escola, que é obrigação dos pais e vinha enfrentando obstáculos sob alegação de motivos religiosos. A segunda, de 15 de junho de 2000, deu legitimidade às associações civis que lutam contra as seitas para propor ou integrar ações judiciais, inclusive na área penal, nesse âmbito. A terceira lei, de 12 de junho de 2001, trata dos movimentos sectários que atentam contra os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Esta lei permite a propositura de ação contra fatos que podem ser qualificados como “abusos fraudulentos do estado de ignorância ou de fragilidade”, com agravantes quando praticados contra crianças ou pessoas em situação de fraqueza.
Essas questões já vêm sendo objeto de considerações do Conselho da Europa, que em 1992 fez recomendações relativamente às seitas e aos novos movimentos religiosos e em 1999 reforçou seu pronunciamento considerando as atividades ilegais das seitas. Como fica evidente, há uma situação nova envolvendo as questões religiosas, com efeitos graves sobre os direitos.
Por tudo isso, é muito oportuna a advertência sobre o que vem ocorrendo no Brasil nessa área. A Constituição brasileira declara inviolável a liberdade de consciência e de crença, mas ao mesmo tempo diz, no artigo 5°, inciso XVII, que é plena a liberdade de associação “para fins lícitos”. É evidente que o uso fraudulento da invocação religiosa nada tem a ver com a liberdade de crença e, ainda mais, por suas conseqüências de ordem prática, acarreta graves prejuízos a todo o povo, confere privilégios injustos e cria uma situação de conflito, opondo as organizações desonestas às instituições que se fundamentam, autenticamente, em crenças religiosas.
Assim, pois, é necessário e urgente que o tema seja posto entre as prioridades brasileiras, para que se tenha uma legislação que, mantendo a laicidade do Estado, garanta a liberdade de crença com pluralidade, coibindo a invocação fraudulenta dessa liberdade.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)
Júri popular para corruptos
O que estou propondo é que seja instituído, na legislação, o julgamento, por um júri popular, dos vagabundos que fazem as grandes falcatruas, contribuindo para a morte de milhares de pessoas, quando desviam dinheiro público que deveria estar sendo colocado a serviço da saúde, por exemplo.
Não se pode deixar a cargo de um juiz singular (sujeito a pressões políticas de toda ordem, embora teoricamente porotegido pelas garantias da vitaliciedade e da inamovibilidade) a apreciação e decisão sobre tais casos. É preciso envolver o povo, dono e destinatário final dos recursos públicos e vítima dos desvios e maracutaias que abundam por toda parte.
Se tal acontecesse, com os políticos colocados sob os holofotes da imprensa e se se instituísse a pena de morte para os comprovadamente ladrões do erário, aí sim teríamos a vida pública moralizada.
De nada adianta termos os instrumentos jurídicos da ação popular e da ação civil pública, se as Vara de Fazenda do Judiciário e os próprios Tribunais (que atuam ao nível de julgamento de recursos) não são estruturados para dar conta da demanda.
Além do mais, o Tribunal de Justiça de SC, por exemplo, vem prestando gritante e escandaloso desserviço à moralidade administrativa quando estimula a impunidade dos ladrões do erário ao admitir a prescrição intercorrente, ou seja, julga extintas as ações que objetivam punir os salafrários apenas porque a própria Justiça, foi morosa e ineficiente no julgamento dos feitos.
Resumo: é preciso que alguém tome a iniciativa de propor um projeto de lei para tornar as ações populares e civis públicas imprescritíveis e que os crimes contra a administração pública (mormente os de desvio de dinheiro público) sejam julgados pelo povo (júri popular), além, é claro, de se instrumentar as Varas de Fazenda para formar rapidamente os processos e levar os réus a julgamento com celeridade.
domingo, 28 de março de 2010
Juiz federal "punido"
Determinada aposentadoria compulsória de juiz federal de SC por falsificação e uso de documento falso
24/3/2010 17h49Magistrado Carlos Alberto da Costa Dias segue respondendo a processo criminal
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) determinou em sessão nesta quarta-feira a aposentadoria compulsória, com proventos proporcionais ao tempo de serviço, do juiz federal Carlos Alberto da Costa Dias, que atua em Florianópolis. Em março de 2009, o Ministério Público Federal (MPF), por meio do Núcleo de Ações Originárias da Procuradoria Regional da República da 4ª Região, havia oferecido denúncia contra Dias por falsificação de documento particular e uso de documento falsificado.
A condenação se deu no processo administrativo disciplinar 080011476.0. O tribunal entendeu que Costa procedeu "de forma incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções", conforme a Resolução Nº 30/2007 do Conselho Nacional de Justiça. Contra o juiz, segue correndo processo criminal.
Segundo o MPF, entre fevereiro de 1998 e janeiro de 2006, Dias falsificou petições judiciais, contrato de honorários advocatícios e documento de renúncia. Além disso, utilizou-os para protocolar petições e ajuizar duas ações em seu favor na Justiça Federal de Santa Catarina. Em ambas, o magistrado obteve êxito, sendo que por uma delas ainda recebeu honorários advocatícios.
As assinaturas falsificadas são dos advogados Maurício Cozer Dias, Adriano Vituli da Silva e Luciana Freire Rangel.
Assessoria de Comunicação
Procuradoria Regional da República na 4ª Região
(51) 3216-2016, 3216-2015 ou 9701-0914
Twitter: http://twitter.com/mpf_prr4
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Foi ele quem prolatou a decisão que julgou improcedente a ação popular de doze milhões de reais que estou movendo contra a Mitra de Florianópolis, em razão do uso de dinheiro público na restauração/sofisticação da Catedral desta Capital.
Depois que minha apelação for julgada pelo TRF da 4ª Região, voltarei a falar sobre o assunto.
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Até lá, releiam a matéria que postei em 09/11/2009 sobre punições para juízes.
sexta-feira, 26 de março de 2010
Padre punheteiro - Sexo no confessionário
DER SPIEGEL: Por dentro do escândalo de abuso sexual católico na Alemanha
Data de Publicação: 10 de fevereiro de 2010
A Igreja Católica alemã foi abalada nos últimos dias por revelações de uma série de casos de abuso sexual. Perto de 100 padres e membros do corpo laico foram apontados como suspeitos de abuso nos últimos anos. Após anos de supressão, o muro de silêncio parece estar ruindo.
Isto é o que parece, o documento de uma conspiração: 24 páginas em latim, com apêndice, publicadas pela Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano. Uma “norma interna”, ou conjunto confidencial de diretrizes para todos os bispos, aos quais foi exigido que o mantivessem em segredo por toda a eternidade, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
As diretrizes, emitidas no ano de Nosso Senhor de 1962, tratam de um assunto delicado: o sexo no confessionário. O Vaticano não colocou de forma tão direta, preferindo o uso de uma terminologia mais cautelosa para descrever o que acontece quando um padre desvia um membro de seu rebanho antes, durante ou depois da confissão –em outras palavras, quando ele induz um penitente a “assuntos impuros e obscenos” por meio de “palavras, gestos, toques ou sinais com a cabeça”.
Segundo as instruções de Roma, os bispos precisavam lidar firmemente com cada caso individual –tão firmemente, de fato, que tudo permaneceria dentro dos limites da Santa Igreja. Afinal, a Congregação para a Doutrina da Fé –antes conhecida como a Inquisição– tem séculos de experiência na condução de investigações internas. O Vaticano sempre preencheu todos os cargos nestas investigações –promotores, defensores, juízes– com membros de suas próprias fileiras, enquanto os documentos das investigações são mantidos em arquivos secretos na Cúria Romana.
Posição de autoridade moral
Na superfície, o objetivo do Vaticano é proteger o sacramento da confissão. Na realidade, entretanto, ele tenta manter a posição de autoridade moral superior da Igreja Católica.
Nada pode ser autorizado a manchar essa autoridade: nem o abuso sexual de crianças e adolescentes, cometido por milhares de padres católicos em todo o mundo; nem os relacionamentos secretos entre padres e empregadas; nem o acobertamento de filhos de padres; nem os casos amorosos entre clérigos gays. Todos eles são casos de dois pesos e duas medidas que surgiram porque é difícil para as pessoas –até mesmo para os padres– subordinar seus desejos humanos a uma encíclica papal.
Este código de silêncio foi mantido por décadas, em alguns casos informalmente e em alguns casos em virtude de diretrizes do Vaticano como as de 1962.
Mas agora o muro de silêncio está ruindo na Alemanha. Isso começou quando o Canisius College de Berlim, um colégio jesuíta de elite, revelou recentemente o passado sórdido de uma série de membros da ordem, que abusaram de alunos da escola nos anos 70 e 80. Depois disso, novas vítimas começaram a surgir quase que diariamente. Até a última sexta-feira, pelo menos 40 delas acusavam três padres jesuítas de terem molestado crianças e adolescentes, primeiro em Berlim e depois na Saint Ansgar School em Hamburgo, no Saint Blasien College, na Floresta Negra, e em várias paróquias da Baixa Saxônia, um Estado no norte da Alemanha.
Ponta do Iceberg
Por mais chocantes que fossem as revelações, elas eram apenas a “ponta do iceberg”, diz o atual diretor do Canisius College, o padre Klaus Mertes, que tornou público o abuso sexual contra os estudantes.
Por décadas, os bispos alemães tentaram olhar para o outro lado enquanto seus padres praticavam abuso sexual, assim como minimizar o problema ao caracterizá-lo como incidentes isolados. Agora eles estão finalmente revelando seus próprios números, apesar de que de modo hesitante. Segundo uma pesquisa da “Spiegel” envolvendo 27 dioceses alemãs na semana passada, pelo menos 94 padres e membros do corpo laico na Alemanha são suspeitos de terem abusado de inúmeras crianças e adolescentes desde 1995. Um total de 24 das 27 dioceses responderam às perguntas da “Spiegel”.
Um grupo chamado de Mesa Redonda para o Atendimento nos Lares para Crianças publicou recentemente um relatório provisório que contém conclusões dramáticas. O relatório trata dos abusos cometidos desde os anos 50 contra crianças e adolescentes vivendo em orfanatos, quase metade deles dirigidos pela Igreja Católica.
Segundo o relatório, mais de 150 vítimas de abuso sexual se apresentaram com suas histórias nos últimos meses. Uma delas é uma mulher que, aos 15 anos, teve que assistir a um padre se masturbando no confessionário. Quando ela tentou fugir dele, ela apanhou das freiras que dirigiam o orfanato. Nunca houve uma investigação sistemática de quantas escolas, orfanatos e reitorias católicas foram cenas de abuso, mesmo quando havia evidência nos arquivos. O grupo Mesa Redonda planeja apresentar seu relatório final antes do fim deste ano.
Protegendo os infratores, ignorando as vítimas
Um tremor está atualmente ocorrendo na Igreja Católica alemã. Pode vir a ser o início de um terremoto só visto até o momento na Igreja americana e irlandesa. Dezenas de milhares de casos de abuso vieram à tona em ambos os países. A Alemanha poderia ser o próximo país?
O escândalo está apenas começando e já deixou uma impressão profunda: nos pais, que esperam que as escolas católicas ofereçam uma orientação moral aos seus filhos; nas vítimas, que agora estão enfrentando seu passado sombrio após conviverem com ele por metade de suas vidas; e nos fiéis, que agora veem sua Igreja com desalento. O choque deles vem não apenas do fato de haver pedófilos na Igreja, como em toda parte na sociedade. Ele vem do fato da Igreja ter protegido sistematicamente os perpetradores e ignorado as vítimas, e por ter encoberto os casos de abuso sexual em suas próprias fileiras por décadas –e ao fazê-lo ter permitido aos padres pedófilos deixarem um rastro de devastação emocional por toda a Alemanha.
Até hoje, o presidente da Conferência Episcopal alemã, o arcebispo de Freiburg, Robert Zollitsch, não ofereceu nenhuma palavra convincente de desculpas ou gestos de empatia para as vítimas dos dois pesos e duas medidas da Igreja. Após hesitar por dias, ele finalmente decidiu não conceder uma entrevista à “Spiegel”. A Igreja prefere oficialmente não permitir que o sofrimento de suas vítimas se torne um assunto importante, porque não se enquadra na visão de mundo hipócrita da Igreja.
A Conferência Episcopal nem mesmo discutirá os escândalos sexuais até 22 de fevereiro. “As revelações mostram um lado sombrio da Igreja que me assusta”, disse o jesuíta Hans Langendörfer, secretário da Conferência Episcopal. “Nós queremos uma investigação.”
Moralidade reprimida
Todavia, os clérigos ainda estão longe de qualquer verdadeira autocrítica ou análise abrangente, porque ela exigiria que examinassem a moralidade sexual reprimida da Igreja que é ditada do alto. Ela exigiria uma discussão honesta sobre o celibato e suas consequências, particularmente quando se trata das práticas de recrutamento da Igreja. Em uma Igreja que tem dificuldade em atrair homens ao sacerdócio, particularmente em consequência da proibição ao casamento, o número de bons candidatos se torna tão pequeno que muitos candidatos impróprios são admitidos.
Isso significa que a Igreja manterá sua política hesitante e disfuncional, evitando as questões importantes, como já fez com tanta frequência? Será difícil fazer isso, agora que a ofensiva dos jesuítas colocou todo o clero sob pressão.
A ordem pretende investigar sistematicamente os abusos ocorridos em suas próprias fileiras, por mais doloroso que seja o esforço e mesmo se um crescente número de revelações, por parte de ex-alunos, a mergulhem naquela que provavelmente seria a crise mais profunda na história dos jesuítas. O padre Stefan Dartmann, o chefe da ordem jesuíta da Alemanha, diz que “uma tragédia imensa agora está se tornando aparente”.
Seus temores são justificados, à medida que mais e mais ex-alunos se apresentam. Além do Canisius College e das escolas em Saint Ansgar e Saint Blasien, agora há revelações de abuso no Aloisius College dos jesuítas no bairro Bad Godesberg, em Bonn, onde gerações inteiras de filhos de políticos e diplomatas foram à escola.
‘Era difícil para nós suportar os avanços sexuais dos padres’
Um dos estudantes que experimentou pessoalmente o amor fraternal de um padre jesuíta é Robert K. Falando sobre seu tempo na escola em Bad Godesberg, ele diz: ‘Era difícil para nós, como garotos, suportar os avanços sexuais dos padres. Eles variavam de perguntas extremamente embaraçosas sobre detalhes minuciosos de ‘atos vergonhosos’ durante a confissão, até perguntas sobre beijos e carícias e, finalmente, a investidas sexuais sadistas concretas”. Um monitor, o padre S., “fazia com que os meninos pequenos fossem ao seu quarto, fazia com que se despissem da cintura para baixo e deitassem de bruços em sua cama. O padre então batia violentamente neles com um cabide, realizando depois demonstrações de afeto.”
Imagem jovial
A evidência desses ataques remonta aos anos 50. Alguns padres aparentemente eram capazes de manter seus impulsos mais ou menos sob controle para não atraírem atenção, como o padre M., um falecido ex-professor de matemática no Canisius College, que gostava de assistir as aulas de natação dos meninos da 7ª série. Outros convidavam seus alunos para passeios em suas BMWs. Os estudantes faziam piadas sobre o fato dos padres envolvidos tentarem acariciá-los enquanto estavam no carro.
Depois os infratores envolviam a si mesmos e seus alunos em uma teia de culpa, silêncio desajeitado e uma expiação extorquida. Um deles foi o padre Peter R., um professor de religião corpulento, com costeletas e óculos escuros, que é um dos três padres no Canisius College cujas transgressões agora foram reveladas –e que nega tudo. O padre jesuíta cultivou uma imagem jovial e tenta passar a ideia de ser alguém que entende os jovens. A placa do ônibus VW que ele dirigia incluía as letras SJ, de “Societas Jesu”. Posteriormente, os alunos do Canisius passaram a dizer sarcasticamente que as letras significavam “Seine Jungs” (“Seus meninos”).
Por oito anos, a partir de 1973, Peter R., dirigiu uma espécie de centro para jovens na propriedade do Canisius College conhecido como “Congregação Mariana”. O padre selecionava um grupo de líderes entre os estudantes matriculados em seu clube vespertino, conhecido como Burg (“Castelo”), que então eram convidados para participarem de “sessões de treinamento” de fim de semana em um retiro jesuíta na Baviera.
Fotos tiradas na época mostravam o padre, que insistia que seus estudantes o chamassem de Peter, cercado por seus queridos alunos. Ele então acompanhava “seus meninos” em saídas para esquiar e na piscina. Os adolescentes nas fotos trajam jeans e casacos de tweed. Eles podem ser vistos bebendo cerveja e vinho direto da garrafa, carregando uns aos outros nas costas e às vezes correndo sem camisa pela sala. À primeira vista, as imagens parecem não ser nada mais que fotos inocentes de jovens privilegiados de Berlim Ocidental, que se viam como parte da última escola livre diante da Rússia e como parte de um grupo exclusivo.
Conversas reservadas
Quando ele pensa no trabalho dos jesuítas com os jovens na época, Ansgar Hocke, que atualmente tem 52 anos, diz que ele era caracterizado por um espírito de otimismo. Na época, ele lembra, ele e seus amigos acreditavam que “os tempos de padres em batinas, que gritavam com seus alunos, que eram profundamente conservadores e que viam o catecismo como seu único guia, estavam chegando ao fim”. Padres jovens, atléticos, estavam injetando nova vida na escola. “Nós não víamos quão doentes e instáveis eles eram”, diz Hocke.
Os estudantes sentiam que o direito à felicidade sexual deve ser parte da felicidade humana. “Nós sabíamos que os padres jovens estavam excluídos dessa felicidade e frequentemente víamos quão impotentes eles eram”, diz Hocke. Ele não teve nenhuma experiência pessoal relacionada aos complexos deles, mas outros sofreram de formas terríveis.
Os estudantes que pertenciam à roda mais íntima do padre R. eram submetidos constantemente a “conversas reservadas”. As sessões às vezes ocorriam no porão em Burg, que rapidamente ganhou uma reputação notória entre os estudantes, que o chamavam de “porão da masturbação” ou “sala de interrogatório”. “Eu tive que tirar minhas calças e deitar na cama”, diz um ex-aluno. “Ele queria assistir enquanto eu me masturbava e me tocava enquanto eu fazia aquilo”. Quando ele terminava, diz o ex-aluno, R. perguntava: “Você gostou?”
Mantendo em segredo
Uma mistura de vergonha e medo, ameaças constantes e intimidação, mas também gestos amistosos por parte do padre e sua imagem de ser amigo dos estudantes, devem ter levado suas vítimas a manterem seu segredo por anos, ou tratá-lo como motivo de piada. Geralmente o abuso só terminava quando os estudantes se tornavam mais velhos e deixavam de ser do agrado do padre R.
“Na época, todos nós ouvíamos essas histórias de masturbação. Mas costumávamos rir delas”, disse Johannes Siebner, um ex-aluno do Canisius College que agora é um padre jesuíta e atual diretor do Saint Blasien College.
As cartas que os estudantes escreveram uns aos outros quando tomaram conhecimento das alegações revelam a perplexidade deles: “Tudo é completamente novo para mim, apesar de sempre ter tido essa sensação a respeito (...) A coisa toda foi um choque para mim e tive dificuldade em processá-la. Isso tudo é tão inacreditável, vil, enojante e ruim (...) E havia todo um sistema de pressão, do qual não era fácil sair depois de entrar (...) Mas eu também não entendo a ordem, como pôde ser tão irresponsável (...) Eu tremo enquanto escrevo isto hoje e sinto medo”.
‘Eu perdi minha inocência’
O menino que recebeu a carta, uma vítima do padre R.. tem 48 anos hoje e diz que o abuso “projeta uma sombra” sobre seus tempos de escola. O clima de “impotência, humilhação e mentiras” ainda tem um impacto sobre ele hoje, ele diz. “Você se sente você mesmo apenas parte do tempo. Eu ainda não entendo por que suportei aquilo na época. Eu perdi minha inocência e o alegria da vida.”
Apenas em 1981, quando ele se formou no colégio, é que ele encontrou coragem para denunciar o abuso ao então diretor, o padre Karl Heinz Fischer. Fischer relatou as acusações aos seus superiores e o padre R. foi transferido logo depois. Fischer não sabe o que aconteceu depois disso ao padre. “Eu reagi na época dentro daquilo que era possível”, ele diz.
Protelar a solução do problema ou transferir o transgressor eram as abordagens preferidas dentro da hierarquia da Igreja e da ordem.
O padre R. e seus companheiros, os padres Bernhard E. e Wolfgang S., foram transferidos de Berlim para vários locais na Alemanha, trabalhando em posições subsequentes como professores em Hamburgo e na Floresta Negra, e como pastores e diretores de grupos para jovens em Hildesheim, Göttingen e Hanover.
Em nenhum desses lugares os diretores da escola, padres, estudantes e seus pais foram alertados sobre as tendências perigosas dos novos padres –algo que não causa surpresa, dada a tendência da Igreja de manter as coisas em sigilo. Qualquer um que perguntasse o motivo das transferências era informado, por exemplo, que tinham ocorrido irregularidades financeiras. Quando isso acontecia, o padre em questão apenas não recebia acesso aos fundos da escola. O dinheiro podia ser protegido –mas os estudantes não.
Uma alternativa atraente às escolas públicas para muitos pais
Muitos pais na Alemanha há muito consideram as escolas católicas como uma alternativa atraente ao ensino público de baixa qualidade. Eles esperam professores dedicados que desafiam e encorajam seus alunos, transmitindo tanto conhecimento quanto valores para eles. “O estudante deve sentir a todo tempo que ele, como uma pessoa em desenvolvimento, é importante para o professor”, disse a declaração de missão da Saint Ansgar School, em Hamburgo.
Mas agora estão começando a aparecer rachaduras nesta imagem cuidadosamente cultivada –e precisamente no momento em que muitas escolas estão realizando as matrículas para o próximo ano letivo.
“É um desastre para nós”, diz Friedrich Stolze, o diretor da Saint Ansgar, que veste calça jeans e uma jaqueta esportiva. “Esses padres causaram danos imensos, tanto aos seus alunos quanto a nós atualmente.” Ele sente “raiva e desprezo” pelos homens envolvidos e diz que está claro que “a reputação das escolas católicas foi danificada”.
Quando Stolze chegou ao colégio em Hamburgo como um jovem professor em 1981, dois dos padres atualmente acusados de molestamento ainda estavam lá. Ele e seus colegas deveriam ter notado algo? “Não havia nada”, ele diz. “Nós não nos lembramos de nada.” Ele fica furioso com os líderes da ordem na época. “Eu não consigo entender que alguém deveria ser simplesmente transferido para outra escola, sob a suposição de que ele seria capaz de controlar suas tendências pedófilas lá.”
Minimizando o abuso
Sempre que rumores surgiam nas escolas católicas, paróquias, grupos de jovens e orfanatos, ou as vítimas superavam sua vergonha e denunciavam o abuso, a Igreja minimizava os casos, os caracterizando como isolados, exceções lamentáveis ou uma conduta imprópria de um padre desgarrado. Esta era a posição adotada pelo Vaticano e pelos bispos alemães, que não estavam dispostos a aceitar que o problema podia estar no próprio sistema. Mas o que acontece quando o número de casos começa a crescer, como aconteceu em outros países?
Nos Estados Unidos, também começou como um problema de padres individuais que tinham molestado alunos ou coroinhas. Como seus irmãos alemães, os bispos católicos americanos tentaram por anos proteger seus padres, minimizando as acusações e ignorando as vítimas –até que os tribunais americanos, políticos e o público começaram a exigir respostas, os obrigando a pagar indenizações. No Estado de Delaware e em outros, por exemplo, os legisladores suspenderam o prazo de prescrição dos crimes, levando a uma enxurrada de novos processos. As decisões resultantes forçaram as dioceses a abrirem seus arquivos.
Mais e mais vítimas se apresentaram e, no final, a Igreja Católica na América do Norte foi tomada pelo maior escândalo em sua história. Os bispos americanos concluíram que havia acusações críveis contra cerca de 5 mil padres, envolvendo o abuso de cerca de 12 mil crianças e adolescentes desde 1950.
Várias dioceses, incluindo Tucson, Arizona e San Diego, Califórnia, tiveram que pedir concordata quando se viram incapazes de pagar os acordos financeiros ordenados pela Justiça para as centenas de queixas apresentadas. Apenas a Arquidiocese de Los Angeles teve que pagar mais de US$ 660 milhões em danos, o que representou uma parcela substancial dos mais de US$ 2 bilhões pagos pela Igreja Católica americana como um todo.
Uma série de escândalos sexuais também sacudiu a Irlanda, onde uma comissão concluiu que cerca de 35 mil crianças sofreram agressões e abusos nos lares para crianças e orfanatos católicos entre 1914 e 2000.
Não apenas incidentes isolados
A Igreja alemã, por sua vez, está apenas começando a confrontar seu passado. Na semana passada, 24 das 27 dioceses da Alemanha responderam ao levantamento da “Spiegel” sobre casos de suspeita de abuso em suas próprias fileiras desde 1995. Apenas três dioceses, Limburg, Regensburg e Dresden-Meissen, optaram por não responder. Um porta-voz da diocese de Dresden disse que ela não participou porque “não deseja inflamar ainda mais a atual discussão”.
Os resultados do levantamento mostram que as paróquias e entidades da Igreja por toda a Alemanha enfrentaram casos de abuso sexual cometidos por padres e outras pessoas ligadas á Igreja. Com pelo menos 94 suspeitos revelados até o momento em todo o país, a posição oficial da Igreja de que os casos de abuso são incidentes isolados não mais se sustenta. Os molestadores incluem não apenas padres, mas também leigos que trabalham para a Igreja, como sacristãos, diretores de coral, funcionários das caridades da Igreja e voluntários dos programas para jovens.
Está cada vez mais claro quão difícil é para o Estado punir os culpados. Em muitos casos, os abusos enfrentam o problema da prescrição do crime. Como no caso dos ex-alunos do Canisius College em Berlim, as vítimas só se apresentam 20 ou 30 anos depois. A esta altura, os promotores não contam mais com a opção de abertura de processo. A única opção deles é rejeitar o processo ou encerrá-los prontamente.
Múltiplos casos
A diocese de Rottenburg-Stuttgart, no sudoeste da Alemanha, processou 18 padres e 5 leigos em 23 casos de abuso. Seis casos foram abandonados imediatamente, porque os cinco clérigos e um leigo envolvidos já tinha morrido. No final, 11 suspeitos foram investigados e cinco sentenciados.
Dois padres foram associados a abuso na diocese de Magdeburg, mas em seus casos o crime também prescreveu. Mas um voluntário da Igreja foi julgado por alegações de molestamento durante uma “semana religiosa para crianças”.
Na arquidiocese de Paderborn, um padre foi sentenciado a seis anos e três meses de prisão, enquanto outro padre recebeu dois anos sob liberdade condicional. Ambos foram expulsos da Igreja.
Em Munique, foram impetrados três casos de abuso de menores. Um caso foi rejeitado, um segundo resultou em condenação e o terceiro está em andamento.
Em Colônia, um padre morreu antes que as acusações pudessem ser esclarecidas, outro foi sentenciado e três casos foram rejeitados. Além disso, acusações de abuso foram impetradas contra um músico da Igreja em 2001, um organista em 2002, o diretor de um grupo de escoteiros em 2004 e um sacristão em 2008. Um faxineiro de igreja atualmente está sendo julgado.
Na cidade de Bamberg, na Baviera, várias pessoas acusaram um vigário de abuso sexual. O homem foi afastado do posto, mas então a investigação do promotor foi encerrada.
Relutância da Igreja em esclarecer os crimes
Relatos semelhantes surgiram em cidades como Würzburg, Münster e Aachen, além de muitas outras dioceses. Alguns poucos levaram a condenações, mas na maioria dos casos o Estado está impotente devido aos supostos crimes terem acontecido muitos anos atrás. E o que a Igreja está fazendo a respeito da situação? Por que reluta tanto em esclarecer os crimes? E por que não adotou uma posição mais dura em relação aos suspeitos de abuso?
A visão predominante no Vaticano é que a revolta pública em relação aos casos de abuso é utilizada como uma desculpa para reviver velhas animosidades em relação à Igreja Católica como um todo, assim como para alimentar as críticas de costuma ao papa por intelectuais seculares e desencantados.
Por este motivo, muitos membros da Cúria acreditam ser preferível manter o silêncio do que dar a esses inimigos da Igreja a chance de atacar, além de que a prioridade de Roma deve ser esperar o momento propício –não apenas para superar a tempestade, mas também para evitar ir ao ataque. Determinada a proteger os seus, eles colocam instintivamente o bem da Igreja acima do bem das vítimas. A primeira pergunta não é “como podemos ajudar as vítimas?”, mas “o que devemos fazer com os padres?”
Muito tempo –tempo demais, pelo ponto de vista das vítimas– geralmente se passa antes do próprio papa se manifestar sobre o assunto. Após o tamanho do escândalo de abusos nos Estados Unidos ficar aparente no início de 2002, foi necessário cerca de meio ano para que o então papa João Paulo 2º finalmente fizesse uma declaração no Dia Mundial da Juventude, em Toronto. O papa Bento 16 foi o primeiro papa a se encontrar com as vítimas de abuso –apesar de não oficialmente, à margem de sua viagem aos Estados Unidos e apenas após uma prolongada hesitação por parte de seus assessores. “É mais importante ter bons padres do que muitos padres”, ele disse em um comentário um tanto medíocre. Estava longe de ser um momento de virada.
Até hoje, Bento não enviou a carta pastoral reconfortante que prometeu aos irlandeses, que ficaram abalados pelo escândalo de décadas de abusos. Além disso, nenhuma vítima foi convidada ao Vaticano.
‘Não se pode dizer que a lei criminal tenha alguma importância prática’
O assunto do abuso cometido por padres não tem lugar no mundo acadêmico e de oração de Joseph Ratzinger. Para ele, os crimes contra crianças são a expressão máxima, mais chocante, de uma cultura ateísta, e infelizmente nem mesmo os clérigos estão imunes a ela. Em seu pronunciamento na quarta-feira da semana passada, a recomendação de Bento aos seus padres foi simplesmente seguir o exemplo de São Domingos e se dedicarem plenamente à oração e ao aprendizado.
E para aqueles que já caíram vítima das “fraquezas” da carne, o papa oferece a relativa leniência de um procedimento interno da Igreja. Ao lidar com os transgressores sexuais no clero, o Vaticano depende, pelo menos inicialmente, apenas de seu aparato, de seus próprios investigadores e de seus próprios tribunais. Isso é um reflexo de séculos de tradição, que vai da “santa” Inquisição até a atual Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma. Os procedimentos são nobres, caracterizados por um espírito de perdão e caridade em relação aos irmãos, geralmente conduzidos em latim e fechados ao público.
Mas como a Igreja se recusa a admitir a mera possibilidade de crimes dentro de suas próprias fileiras, sua lei criminal tem tanto peso quanto a fumaça de incenso no altar. “Não se pode dizer que lei criminal tenha alguma importância prática”, diz Klaus Lüdicke, um especialista em lei da Igreja na cidade Münster, no noroeste da Alemanha. No passado, ele acrescenta, o número de casos que se tornaram conhecidos foi “insignificantemente pequeno”.
Problema de definição
Todavia, a Igreja preferiria usar precisamente esses procedimentos para disciplinar seus padres “pecadores”. Mas ela nem mesmo sabe como definir os crimes. Uma opção é tratá-los como um “delictum contra mores”, ou crime contra a moral, enquanto outro seria aplicar o Sexto Mandamento (“Não cometerás adultério”). O problema com a segunda abordagem é que os perpetradores nunca são casados e suas vítimas raramente são casadas.
As penas –transferência ou excomunhão– ficam bem aquém das penas da lei criminal secular, enquanto as circunstâncias atenuantes que podem ser aplicadas para reduzir as penas são generosas. Uma dessas circunstâncias envolve padres, fora isso celibatários, sendo tomados por uma “tempestade de paixão” (“gravis passionis aestus”).
Além disso, uma disposição à penitência, expressão de remorso e correção dos modos normalmente aplaca aqueles que julgam. De qualquer forma, os detalhes sobre as decisões são de difícil obtenção: os veredictos são secretos e desaparecem, como um “secretum pontificium” em arquivos selados.
A Conferência Episcopal alemã gosta de apontar para um conjunto de “diretrizes”, que ela aprovou em 2002, sobre como responder às suspeitas de abuso sexual. O secretário Hans Langendörfer as descreve como um “passo importante”. “Nós queremos tratar do assunto abertamente, que é o que temos feito desde 2002, no mínimo”, ele diz.
Código de sigilo
Mas sob uma análise mais atenta, mesmo essas diretrizes são tomadas pela forma de pensar da Igreja, como afirmado pela Santa Sé em 1962, sob o papa João 23, e novamente em 2001. Segundo essas diretrizes, que permanecem atualmente em vigor, casos potenciais de abuso devem ser informados à Congregação para a Doutrina da Fé. As diretrizes também proíbem os bispos de todo mundo de agirem além da investigação inicial das acusações sem instruções diretas de Roma. Todo o procedimento está sujeito ao “sigilo pontifício”, o segundo maior grau de sigilo dentro da Santa Sé. Qualquer um que violar este código de sigilo sem a permissão papal pode ser punido.
As diretrizes da Conferência Episcopal alemã são elaboradas de acordo e enfatizam a primazia das investigações internas discretas. Antes de tomar uma decisão, cada bispo deve primeiro considerar formas de proteger a reputação do padre e da Igreja. Quando Roma assume a investigação, certos casos de abuso podem ser tratados discretamente em julgamentos secretos.
Com base em sua própria lei canônica, a Igreja Católica alemã não se sente obrigada a relatar imediatamente os casos de abuso dentro de suas próprias fileiras para as autoridades alemãs, para que as autoridades possam conduzir buscas nas casas, por exemplo. Os críticos dizem que a Igreja está se expondo a acusações de obstrução da Justiça caso o clero cuide dos casos de forma puramente interna.
Grupos católicos há muito buscam mudar as diretrizes da Conferência Episcopal, mas sem sucesso. Bernd Göhrig, o diretor executivo de um grupo chamado Igreja de Baixo, pede pela criação de ombudsmen independentes para cuidar dos interesses das vítimas, em vez de representantes tendenciosos da diocese. Esta provavelmente é a única opção viável, dado que os bispos alemães são tão relutantes em tratar da questão do sexo proibido quanto o papa alemão.
Sem necessidade de agir
Mesmo antes do imenso escândalo de abusos nos Estados Unidos em 2002, o cardeal Karl Lehmann, o bispo da cidade alemã de Mainz, no sudoeste, e chefe da Igreja Católica alemã na época, não sentia nenhuma necessidade em particular de agir. “Nós não temos um problema da mesma dimensão (que na Igreja americana)”, ele disse à “Spiegel” em uma entrevista na época. Em sua diocese, ele disse, qualquer um que seja “realmente um pedófilo, é removido imediatamente do serviço pastoral”. Essas pessoas, ele disse, “não podem ser simplesmente transferidas para um local diferente”.
Apenas poucas semanas depois, entretanto, Lehmann se viu diante de um novo caso de abuso dentro de sua própria diocese, em uma paróquia perto de Darmstadt. Poucos meses antes, os pais em uma pequena cidade próxima de Frankfurt descobriram, para seu desalento, que o novo diretor do coral infantil, o padre E., era o mesmo homem que foi forçado a deixar sua paróquia anterior por causa de relacionamentos questionáveis com menores. O sistema de Lehmann já tinha transferido o padre várias vezes de um local para outro.
A Diocese de Aachen, no oeste da Alemanha, também demonstrou pouca disposição de mudar sua abordagem tradicional em um caso recente. Apesar do departamento pessoal da diocese ter conhecimento de que o padre Georg K. tinha convidado coroinhas menores de idade para irem até sua sauna privada, o homem foi simplesmente transferido para uma congregação alemã no exterior, na África do Sul.
Mas K. atraiu atenção imediatamente para si mesmo, após assumir um retiro com crianças que estavam prestes a receber sua primeira comunhão. Os investigadores acreditam que ele as assediou de forma imprópria no dormitório. A nova paróquia de K. não foi informada sobre o incidente em sua paróquia anterior. Foi apenas quando as pessoas envolvidas no caso contataram a mídia que a Igreja reagiu, anunciando que uma autoridade especial da Igreja, responsável pelos casos de abuso, estava tratando do assunto e que as pessoas deviam contatá-la com qualquer informação –que pudessem ser “inocentadoras”, preferencialmente, ou “incriminatórias”.
As investigações se arrastam sem resultados
Enquanto isso, em Berlim, o cardeal Georg Sterzinsky está ciente das alegações contra o padre da paróquia da Santa Cruz desde julho de 2009. Apesar de seu caso poder em breve prescrever –as acusações relacionadas aos incidentes supostamente ocorreram em 2001– uma investigação interna por uma comissão “independente” da Igreja em Berlim está se arrastando. Uma investigação, apesar de secreta, também foi iniciada pelo Vaticano. Coube à vítima denunciar as alegações de abuso à polícia.
Esses casos de abuso, que aconteceram apenas há poucos meses ou anos, mostram que, apesar de suas alegações do contrário, a Igreja fez pouco para mudar sua posição. Isso coincide com a percepção de Johannes Heibel, que trabalha para uma associação alemã que aconselha as vítimas de violência sexual e que trabalha há muitos anos com pessoas que foram abusadas por padres. “A abordagem tradicional –mantenha em sigilo, acoberte, transfira o transgressor– está longe de ser coisa do passado”, ele diz.
“Vocês não estão preocupados com as vítimas, mas principalmente em assegurar que nada apareça na mídia”, disse um adolescente vítima de abuso, em uma acusação voltada ao bispo de Regensburg, Gerhard Müller. Um capelão agarrou seus genitais em 1999.
A Igreja paga pelo silêncio
Em vez da investigação do caso e do capelão ser levado à Justiça, o capelão, agindo por ordem episcopal, pagou à família uma indenização pela dor e sofrimento, sob a condição de que ficasse em silêncio. Então o homem foi transferido para outra paróquia, que não foi informada sobre as alegações de abuso, e onde novos casos de abuso foram denunciados em 2003.
Os incidentes em escolas, que contavam com um total de 220 mil alunos no início dos anos 60, também permaneceram em grande parte sem solução até agora. Michael-Peter Schiltsky, que sofreu abuso várias vezes por diáconos enquanto estava em um lar para crianças da Igreja em Westuffeln, no Estado de Hesse, no oeste, compilou os relatos de muitas outras vítimas de abuso, incluindo 40 de orfanatos católicos. Um dos relatos é de Peter Rueth, um ex-coroinha em um lar para crianças dirigido pelos salvatorianos perto da cidade de Paderborn, no noroeste:
“Certa manhã, quando ele estava sozinho no vestiário comigo, um padre fechou a porta para ouvir minha confissão antes da missa. Ele disse: apenas um espírito puro pode servir a Deus. Eu tive que me sentar em uma cadeira. Então o padre me vendou com sua estola e amarrou minhas mãos com outra peça, dizendo que tinha que fazer isso porque supostamente não se deve ver a outra pessoa durante a confissão. Ele me pediu para falar sobre meus pecados, e quando confessei, ele me disse que, como punição, eu devia abrir minha boca para que ele pudesse colocar uma esponja embebida em vinagre, como a esponja que foi oferecida ao Senhor na cruz.”
Após o sexo oral que seu seguiu, o menino foi instruído a recitar o Pai Nosso três vezes e então lavar sua boca.
Prescrição: um dos maiores problemas para as vítimas
Heinz-Jürgen Overfeld, natural de Berlim, estava no mesmo lar para crianças dirigido pelos salvatorianos. Há duas semanas, ele escreveu uma carta para o presidente da Alemanha, Horst Köhler, pedindo que outro padre daquela casa fosse destituído da Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha, porque o padre também tinha molestado crianças. Overfeld já confrontou o transgressor, mas a única resposta do padre idoso foi que qualquer coisa que tenha ocorrido no passado já prescreveu.
“No que me concerne, nada prescreve”, escreveu Overfeld para Köhler. “Está tudo voltando.” O presidente ainda não respondeu à carta de Overfeld.
A prescrição é um dos maiores problemas para as vítimas de abuso. A prescrição para crimes sexuais na Alemanha geralmente é de 10 anos a partir do 18º aniversário da vítima. Em outras palavras, alguém que sofreu abuso aos 13 anos deve denunciar o caso às autoridades antes de completar 28 anos, ou o transgressor permanecerá impune. Indenizações expiram três anos após o 21º aniversário da vítima.
Outra vítima da Igreja, Norbert Denef, já reuniu 7 mil assinaturas como parte de uma iniciativa para que o prazo de prescrição seja ampliado ou eliminado, pelo menos na lei civil, para que as vítimas possam ao menos ter a esperança de serem indenizadas financeiramente. Em um caso anterior sem precedente, Denef, após uma longa disputa contra uma ordem de proibição de divulgação, finalmente recebeu 25 mil euros em indenização pela dor e sofrimento causados pela Diocese de Magdeburg, no leste da Alemanha.
Para a Igreja, um esforço sério para confrontar sua própria moral sexual deveria ser tão importante quanto tratar das ramificações legais.
“Se você é forçado, por virtude de sua profissão, a viver uma vida sem esposa e filhos, há um grande risco de que a integração saudável da sexualidade fracassará, o que pode levar a atos pedófilos, por exemplo”, escreveu o teólogo Hans Küng na “Spiegel”, em 2005. “Além da Congregação para a Doutrina da Fé, faria sentido para Roma estabelecer uma Congregação para a Doutrina do Amor, que examinaria cada decreto emitido pela Cúria para assegurar que está de acordo com o conceito cristão de amor.”
Seu colega teólogo Eugen Drewermann escreve sobre uma “estrutura de igreja que é repressiva em áreas emocionais e em questões de amor”. Por causa dessas e outras opiniões semelhantes, o Vaticano revogou a permissão para ambos os teólogos lecionarem.
O celibato, que só passou a ser exigido a partir de 1139, é visto como o principal motivo para o acúmulo reprimido de impulsos sexuais, que às vezes irrompem de formas brutais, dentro do clero. O celibato e a proibição do casamento são padrões rigorosos que nem todos os membros do clero conseguem cumprir. Com frequência, a exibição de castidade na Igreja está em atrito com a realidade. Segundo uma pesquisa americana, dois terços dos padres cumprem seus votos de castidade, enquanto os demais praticam sexo de todos os tipos e formas: heterossexual, bissexual, homossexual, monógamo, promíscuo.
2% dos padres são pedófilos
Há um amplo acordo de que este clima de sexualidade reprimida promove o abuso sexual de crianças nas escolas, orfanatos e paróquias. Vários estudos nos Estados Unidos concluíram que cerca de 2% de todos os padres católicos são pedófilos.
Quando aplicado à Alemanha, este número sugere que de um total de 20 mil membros do clero católico, pelo menos 400 poderiam ser potencialmente pedófilos.
Essa pesquisa levou movimentos leigos como “Nós somos a Igreja” a pedir aos bispos que promovam uma discussão fundamental sobre a sexualidade. O movimento cita um problema estrutural, na qual a combinação de uma moralidade sexual rígida e um sistema autoritário forma uma mistura perigosa. Mas os bispos se recusam até mesmo a discutir o assunto.
Wunibald Müller também pede pelo fim do celibato e pela ordenação das mulheres, dizendo que ambos são “uma forma de prevenção”. Müller, um teólogo católico e psicólogo da Abadia Beneditina de Münsterschwarzach, aconselha os padres que enfrentam sérias crises. Há anos ele defende uma maior abertura em assuntos de sexo e diz: “A experiência da dor e do sofrimento pode nos levar a Deus, mas também o erotismo e a paixão sexual”.
Müller insiste que os membros do clero devem tratar de sua sexualidade. “Eles não podem reprimir esta área, caso contrário ela encontrará formas de vir à tona e causar problemas para outras pessoas.”
Posturas inibidoras em relação à homossexualidade
As posturas do Vaticano em relação à homossexualidade são particularmente inibidoras, apesar do fato dela ser um tanto disseminada dentro da Igreja e parecer ser relativamente tolerada, desde que não seja discutida. Como o Vaticano considera a prática da homossexualidade um pecado, e como até mesmo passou a exigir testes visando manter os gays longe do sacerdócio nos últimos anos, muitos gays no clero reprimem seus sentimentos. Müller cita uma “homossexualidade imatura” que torna os padres “suscetíveis” em suas interações com jovens.
Os tabus foram suspensos da sexualidade em quase todas as áreas da sociedade nos últimos anos, facilitando para que as vítimas se apresentem. A Igreja, entretanto, continua se agarrando aos seus valores morais de séculos. Segundo Müller, muitos padres que se tornam transgressores sexuais nunca aprenderam a desenvolver relacionamentos íntimos e estreitos. Alguns, ele acrescenta, nunca progrediram além dos níveis infantis de sexualidade ou desenvolveram outros problemas sexuais. Todavia, eles nunca ousariam confessar esses problemas ou mesmo passar por terapia.
Diante de seus problemas de recrutamento, a Igreja aceita quase qualquer um que decidir ser um padre. Entretanto, poucos na Igreja estão dispostos a reconhecer que os novos recrutas cada vez mais incluem jovens que consideram o sacerdócio atraente em parte por acreditarem que lhes permitirá ocultar seus problemas sexuais.
É um círculo vicioso. Menos e menos jovens estão optando pelo sacerdócio –apenas cerca de 100 foram ordenados em 2008– enquanto a maioria esmagadora dos 20 mil pastores e diáconos na Igreja Católica alemã foi educada em um ambiente arquiconservador, sexualmente reprimido da Igreja dos anos 50, 60 e 70. Isto é particularmente verdadeiro a respeito de muitos clérigos veteranos nas dioceses que, em consequência, deixaram os padres jovens sozinhos com seus problemas por tempo demais.
Especialistas concordam que mudanças radicais nos seminários são necessárias, e que questões importantes precisam ser tratadas: quão emocionalmente maduros são os candidatos? Como discussões abertas podem ser iniciadas com aqueles que podem precisar de ajuda, como eles podem ser convencidos a aceitar as ofertas de ajuda?
Celibato: uma vida desperdiçada sem sentido ou um presente do Espírito Santo?
Mas a Igreja mantém teimosamente o voto do celibato e a proibição do casamento, como se fossem uma garantia para –e, talvez, não uma ameaça à– sua existência.
Bispos, como Wilhelm Schraml da Diocese de Passau, na Baviera, glorificam constantemente “o modo de vida celibatário voluntário”, que eles dizem ter provado ser bem-sucedido por centenas de anos. Em uma carta pastoral recente, o cardeal de Colônia, Joachim Meisner, até mesmo descreveu o sacerdócio como “um sinal benéfico de provocação” contra o comportamento predominante. Em uma sociedade de prazer febril, escreveu Meisner, a vida celibatária de um padre pode até ser vista “como uma vida desperdiçada sem sentido”, mas na verdade deve ser vista como um presente precioso do Espírito Santo.
Klaus Beier, um dos especialistas médicos em sexualidade mais proeminentes da Alemanha, iniciou o Projeto de Prevenção Dunkelfeld, no Hospital da Universidade Charité, em Berlim, para ajudar pedófilos. Alguns dos homens que participaram do projeto são religiosos e, para eles, o caminho até seu instituto foi particularmente difícil. Beier teve acesso a vários padres, incluindo membros de ordens, às vezes no contexto de julgamentos e às vezes em resposta a um pedido da Igreja.
“Primeiro eles precisam concluir que a fé deles não os ajudou”, diz Beier. “Quem pode falar abertamente sobre suas inclinações quando até mesmo a fantasia sexual é considerada um pecado?”
Mas a prevenção é mais importante do que nunca na Igreja, diz Beier, porque “as ordens têm um apelo particularmente forte para pessoas com preferências pedófilas”.
Beier, que está convencido de que os padres podem ser ajudados, ofereceu seu apoio ao Vaticano em uma carta ao papa Bento 16, no final de 2008. Sua experiência clínica, ele escreveu ao Santo Padre, pode ser “de grande benefício para os membros afetados do clero”.
Surpreendentemente, o Vaticano respondeu à carta de Beier. “Em nome da Santa Sé, eu desejo agradecer por sua preocupação com o bem-estar das crianças e aos seus esforços para fornecer a assistência apropriada aos afetados”, disse um representante do Secretariado de Estado do Vaticano. Os comentários de Beier, ele acrescentou, seriam “cuidadosamente considerados e encaminhados às autoridades apropriadas”.
Um ponto de virada? Dificilmente. A carta de Beier provavelmente foi parar nos arquivos secretos da Cúria, juntamente com os muitos registros dos procedimentos internos da Igreja.
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