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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Fundeador romano descoberto em escavações arqueológicas no Cais do Sodré




LUSA 

Zona junto ao Mercado da Ribeira, onde será construído um parque de estacionamento, está a ser escavada há dois anos e já tinham sido descobertos vestígios de estruturas de séculos posteriores.Onde agora fica a Praça D. Luís havia no período romano uma pequena baía onde os navios ancoravam


Escavações arqueológicas na Praça D. Luís, no Cais do Sodré, Lisboa, revelaram um fundeador romano com mais de 2000 anos. É um espaço junto à costa, onde os navios ancoravam temporariamente para descargas e trânsito de passageiros e reparações.

É um achado raro e extraordinário, que reflecte de forma muito rica a história da cidade, salientou à Lusa o arqueólogo Alexandre Sarrazola, que datou o fundeador entre o século I antes de Cristo e o século V.

“Esta zona, agora a cem metros de distância da actual rua da Boavista, então zona de praia, constituía uma pequena baía onde os navios romanos fundeavam” e, no trânsito de cargas e passageiros, deixaram cair matérias ou até se libertaram delas.

Estes materiais que o lodo ajudou a preservar, permitem hoje determinar “uma dinâmica comercial, que dá já conta de Lisboa como uma placa giratória na economia do Império Romano, e já nos dá uma dimensão atlântica”.

O arqueólogo lidera uma equipa que há dois anos escava esta área, na zona do Cais do Sodré, que será um futuro parque de estacionamento. Esta campanha trouxe à luz do dia outras realidades posteriores ao Império Romano, como navios do século XVII e uma grade de maré.

O fundeador é “um achado inusitado pela sua raridade”, disse Sarrazola, que sublinhou a sua importância “do ponto de vista científico” pelos “contributos para a nossa história”.

Entre os artefactos romanos encontrados há ânforas de várias produções, desde o interior da Hispânia ao Sul da Gália, Norte de África e até da Península Itálica, além das ânforas de fabrico na Lusitânia.

Estas ânforas eram os “contentores da época, neste caso para preparados de peixe, nomeadamente a sardinha”, de que se conhecem fábricas de salga na actual Baixa e zona de Belém, explicou o arqueólogo Jorge Parreira, arqueólogo que integra a esquipa de escavações.

“As ânforas tinham, em média, a capacidade 45 litros, eram produzidas na Lusitânia, na margem sul do rio Tejo”, mas foi também encontrada uma ânfora de finais do século I antes de Cristo, “que transportaria, provavelmente, vinho de Itália”, referiu.

Foram também encontrados artefactos de cerâmicas sigilatas, da baixela de consumo dos próprios navios, ou para consumo das elites locais que “não seriam tão abastadas quanto isso”, acrescentou Sarrazola.

No espaço escavado, foi encontrada “uma sucessão de estruturas arquitectónicas e portuárias que reflectem, de uma forma muito rica, a História de Lisboa”.

O arqueólogo referenciou as diferentes estruturas encontradas, do século XIX para períodos mais recuados: “O famoso aterro da Boavista de 1855-1863, os alicerces da fundição do Arsenal Real, a estrutura portuária da Casa da Moeda, esta do século XVIII, a estrutura portuária do Forte de S. Paulo, do século XVII, e coevos desta época, uma outra pequena estrutura portuária e uma grade de maré ou rampa de estaleiro”.

Esta grade de maré serviu de protector destes vestígios romanos no maremoto que se seguiu ao terramoto de 1755, disse o arqueólogo.

Dada a importância dos achados arqueológicos encontrados, Alexandre Sarrazola alertou para a necessidade de “uma articulação entre a política de património e a de ordenamento de território, nomeadamente quando são revistos os Planos Directores Municipais ou quando se fazem planos de pormenor”. Nesses casos, adiantou, “é fundamental ter-se em conta, particularmente na zona ribeirinha de Lisboa, a probabilidade da reincidência de achados desta natureza”.

Para Sarrazola, “este tipo de intervenções” arqueológicas e os estudos que delas resultam só fazem sentido “se forem amplamente divulgados e se servirem para contar uma história para todos, de um passado que é de todos, e se sedimentarem aquilo que é uma memória colectiva”. “Só faz sentido fazer arqueologia quando essa arqueologia entronca na memória colectiva”, rematou.

Fonte: PUBLICO (Pt)

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