© Flickr.com/ bysinphoto/cc-by
Uma ex-enfermeira australiana que costumava tratar de pacientes moribundos lançou um livro em que descreve as cinco coisas de que as pessoas mais se arrependem antes da morte. Uma das mais frequentes é “Trabalhei demais”. Ora bem, se o dia de hoje fosse o último na sua vida, qual seria seu maior arrependimento?
Por exemplo, o nosso planeta irá colidir com um meteorito enorme, que causará o “fim do mundo”. Ninguém poderá sobreviver. Imaginemos que não se tratar de um blockbuster fantástico, mas sim de um cenário bem real. O que faria? Como iria passar o último dia na Terra?
Claro que existem múltiplas opções. Há quem se queira divertir ao máximo, sem perder a derradeira chance de fazer asneiras sem sentir remorsos ou a iminência de castigo. Outra pessoa dedicará esse tempo à família e aos seus próximos. Outra tentará concluir alguns negócios, fará telefonemas adiados e dirá, talvez, as palavras que sempre quis dizer e não disse. Mas a vida é tão curta e imprevisível que não nos dá tempo suficiente para os preparativos necessários.
No leito de morte surgem recordações do passado e sentimentos de arrependimento. Quais são esses arrependimentos foi isso que a antiga enfermeira australiana Bronnie Wareo tentou contar no seu livro “Os Cinco Maiores Arrependimentos do Moribundo”. Durante alguns anos, ela trabalhou na secção de terapia paliativa, prestando cuidados aos pacientes nas últimas doze semanas da vida. Ware destaca o fato de “fluxos de consciência fenomenal” que as pessoas costumam sentir na etapa final de sua vida.
Perante a morte, a maior parte das pessoas não sente a falta de relações sexuais ou lastima não ter praticado para-quedismo. Por via da regra, os homens lamentavam ter trabalhado demais. Tal facto foi confirmado por uma pesquisa realizada pela psicóloga Daria Vassilenko.
“Claro que os homens dedicam a maior parte da sua vida ao trabalho ativo e ao sucesso. Avaliando o passado, reconhecem ter perdido muita coisa na vida pessoal, relações com amigos e familiares. Alguém lamenta “não ter visto o primeiro passo dado pelo filho”, ou “não ter ouvido a primeira palavra por ele pronunciada” ou ter tido “pouco convívio com a mulher”. Por isso, nos últimos momentos da vida, o homem, já ciente da morte inevitável, começa a lamentar as oportunidades perdidas”.
Na ótica de Bronnie Ware, não raro, as pessoas lamentam não terem tido coragem para confiar em si mesmas e não seguir exemplos de outros. “A maioria não pode concretizar nem metade de seus sonhos mais queridos, tendo entendido, já na “reta final”, que isso teria resultado de seu livre arbítrio”, assinala Bronnie Ware no seu livro.
Tais pessoas sentem não ter coragem suficiente para exprimir seus sentimentos. Confessavam ainda não ter valorizado as relações de amizade. Ora, no leito de morte, elas sentiam mágoa e aflição por causa disso.
Uma dos arrependimentos mais amargos é a renúncia aos caminhos que levassem à felicidade. “Muitos não chegaram a compreender que a felicidade tinha mais a ver com a liberdade de escolha”, constata.
Além disso, o moribundo é capaz de pensar muito sobre o papel da arte e da fé, independentemente de ser ou não ser crente, afirma o chefe do Departamento de Pesquisas Socioculturais do Centro Levada, Alexei Levinsson:
“Tive de lidar com pessoas que sofriam de graves doenças oncológicas sem cura e nenhuma chance de sobreviver. Falei com pessoas doentes de AIDS que estavam cientes da inevitabilidade da morte, razão pela qual tinham invertido o sistema de valores e prioridades. Eles chegam a entender a importância dos valores eternos como o amor, a arte e as reflexões sobre a alma humana e a vida em geral”.
Segundo pesquisas sociológicas, apenas 20% dos questionados antes de morte lamentam terem deixado um patrimônio pequeno. Aqui, tem-se em vista o problema do bem-estar e das garantias para um futuro feliz de seus filhos e familiares. Sabendo que passamos a vida inteira a pensar em como ganhar dinheiro, esta percentagem é insignificativa. 80% das pessoas lamentam não terem conseguido os objetivos pretendidos.
Para não completar essas estatísticas num tom triste e tentar ir ao encontro da morte sem grandes pesares, os psicólogos fazem lembrar que a vida se associa sempre à liberdade de opção. Optem, pois, pela felicidade e tentem viver cada dia como se fosse o último na vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário