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terça-feira, 5 de maio de 2020

COAGIDOS A NÃO PEDIR LICENÇA MÉDICA PARA A DOENÇA, SEIS TRABALHADORES MORREM NOS EUA


CORONAVÍRUS: 
5 de Maio de 2020, 16h00

PELO MENOS SEIS PESSOAS que trabalhavam em um centro de distribuição alugado pela empresa Broadridge Financial Solutions em Long Island, Nova York, morreram de covid-19, segundo familiares dos funcionários e informações divulgadas na imprensa.

No início de abril, o Intercept e o projeto Type Investigations noticiaram que funcionários da TMG Mail Solutions – prestadora de serviços da Broadridge que imprime e envia documentos financeiros pelo correio – foram pressionados a trabalhar durante a pandemia de covid-19 enquanto outros empregados já tinham contraído a doença. Os trabalhadores também manifestaram preocupações quanto ao atraso no fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e luvas, o que poderia tornar o surto inevitável.

A Broadridge é uma prestadora de serviços financeiros global que faturou cerca de 4,4 bilhões de dólares no ano passado. A área de produção do centro de distribuição é ocupada por empregados das empresas Broadridge, TMG e Randstad – uma multinacional de recrutamento que tem um escritório dentro das instalações.

Quatro dos trabalhadores que morreram eram funcionários da Broadridge e dois pertenciam ao quadro da Randstad, segundo familiares dos profissionais.

A Randstad recusou-se a dar entrevistas, alegando que “informações pessoais de empregados são consideradas confidenciais”. A Broadridge fez menção a questões de privacidade para não informar o número de funcionários que contraíram covid-19 ou quantos morreram pelo vírus.

“Nossos pensamentos estão com as famílias e os colegas nesse momento difícil”, afirmou por e-mail Gregg Rosenberg, porta-voz da Broadridge. “Essa é uma perda terrível para a comunidade da Broadridge. A saúde e a segurança de nossos empregados, de suas famílias e da nossa comunidade são nossas maiores prioridades. Implementamos medidas extraordinárias de segurança para garantir a segurança dos trabalhadores antes das orientações de saúde pública.”

UM REPRESENTANTE da TMG disse que menos de dez de seus empregados que trabalham no centro de distribuição da Broadridge testaram positivo para o coronavírus e que nenhum deles morreu.

Um dos funcionários da Randstad, Jose Bonilla Flores, trabalhou para a empresa por mais de uma década, segundo sua esposa, Ana Menjivar, funcionária da TMG. Ela conta que Flores era um profissional cuidadoso e incansável, alguém que não se importava em trabalhar sete dias por semana, em turnos de 12 horas – que o casal cumpria na agitada temporada de primavera, quando procurações eram impressas e enviadas. O casal de El Salvador se conheceu no centro de distribuição, há quatro anos, e tiveram um filho, Jonathan, de 3 anos.

“Estamos com medo – falávamos disso a toda hora. Ao mesmo tempo, não queríamos perder o emprego.”


Como muitos trabalhadores de centros de distribuição, Flores e Menjivar estavam aflitos em relação ao coronavírus e ouviram rumores de que a covid-19 estava contaminando a equipe. “Estamos com medo – falávamos disso a toda hora”, conta Menjivar. “Ao mesmo tempo, não queríamos perder o emprego.”

Menjivar diz que ela e outros trabalhadores receberam um folheto – como já mostramos anteriormente – alertando que “se não aparecer para trabalhar, você não será pago e, depois de dois dias, será considerado que você abandonou o emprego”. O texto também desencorajava os funcionários da TMG a usarem máscaras ou luvas, a não ser que estivessem doentes ou com algum comprometimento do sistema imunológico.

Flores, que faleceu aos 53 anos, manifestava tosse branda e perda do olfato e do paladar, mas seguiu trabalhando até 2 de abril, quando passou a ter febre. No dia seguinte, no hospital Brentwood Medical Center, foi diagnosticado com suspeita de covid-19 – mais tarde, testou positivo para a doença. Naquele momento, Menjivar também apresentava sintomas de coronavírus e foi instruída pelo mesmo médico a fazer quarentena.

Com sintomas menos severos, Menjivar cuidou do marido ao longo das duas semanas seguintes. Ele estava fraco e acamado, ela recorda. A saúde de Flores parecia estável até 17 de abril, quando perdeu a fala de forma repentina. Menjivar ligou para o 911, mas quando os paramédicos chegaram, ele já tinha falecido por uma parada cardíaca causada pelo vírus – situação comum entre pacientes de covid-19 que tem preocupado os cardiologistas.

Menjivar conta que ela e Flores não receberam máscaras nem luvas para usar no centro de distribuição e que ele parou de trabalhar no dia 2 de abril – ela interrompeu suas atividades em 3 de abril. “A única preocupação das empresas é com a produção”, diz Menjivar, tentando conter o choro, por telefone. “Eles não começaram a dar máscaras para as pessoas até que ele ficasse doente.”

Lucio Acosta, 64 anos, funcionário da Randstad, também morreu de covid-19 em abril. Sua filha, Mayra Acosta, conta que o pai trabalhou muitos anos para a empresa e que ele testou positivo para coronavírus no Southside Hospital, em Bay Shore, Nova York. Um amigo próximo e colega de Luis Flores confirmou que Acosta trabalhava para a Randstad.

Porta-voz da empresa, Madison Southall negou-se a informar se ou quando os empregados receberam EPIs, como máscaras e luvas, afirmando que a empresa estava “seguindo determinações estaduais e locais, bem como orientações dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e de autoridades de saúde pública em relação ao fornecimento de equipamentos de proteção aos funcionários”.

Rosenberg, porta-voz da Broadridge, tinha contado ao Intercept e ao Type Investigations que, no começo de abril, a empresa forneceu luvas, máscaras e desinfetante para as mãos aos funcionários – e que, uma semana depois, ofereceu EPIs a todos os trabalhadores do local. Em resposta a novas perguntas, no entanto, Rosenberg disse que havia sido mal interpretado. Afirmou que os gerentes da Broadridge distribuíram máscaras em 26 de março a todos os trabalhadores da área de produção – incluindo funcionários das empresas TMG, Randstad e Broadridge – e que recomendaram de forma veemente que todos usassem o equipamento.

Menjivar e outros três funcionários que seguem atuando na TMG, todos da área de produção, contradizem o relato de Rosenberg. Ela diz que, até o dia 3 de abril, quando iniciou sua quarentena, não recebeu qualquer máscara, tampouco foi encorajada a usar o equipamento. Outros três funcionários da TMG também disseram que não receberam equipamentos de proteção até abril, depois do primeiro contato da nossa reportagem com a Broadridge. Menjivar afirmou também que ela viu um empregado da TMG usando uma máscara trazida de casa. Um supervisor confrontou o profissional e o fez retirar o equipamento, segundo ela, dizendo ao funcionário que as máscaras estavam proibidas, exceto por orientação médica.

Representando a TMG, o advogado James Prusinowski não respondeu sobre o relato de Menjivar. Disse que a empresa não pode discutir assuntos específicos relacionados aos empregados. Ele também se recusou a informar se ou quando os funcionários da TMG receberam máscaras e luvas. “A TMG está seguindo e seguiu todas as orientações dos CDC e determinações de Nova York relacionadas a distanciamento social, uso de EPIs e outros protocolos para garantir a segurança dos empregados durante esse período”, informou por e-mail.

ALÉM DOS FUNCIONÁRIOS da Randstad, quatro empregados da Broadridge morreram de covid-19, segundo familiares dos trabalhadores. Entre eles, Juan Gonzalez, um homem de 49 anos e ombros largos que trabalhava no departamento de controle de qualidade da empresa, conta Johanna Medina, irmã de Gonzalez. Ainda segundo ela, Gonzalez serviu na Marinha e trabalhou por mais de 12 anos na Broadridge. Ele faleceu em 17 de abril, no mesmo dia que Flores, depois de duas semanas de tratamento com respirador num hospital.

Juan Gonzalez trabalhando no centro de distribuição da Broadridge em Brentwood, Nova York. 

Foto: Cortesia de Johanna Medina


“Dois dias antes de ser hospitalizado, ele me disse que alguém do local tinha testado positivo”, conta Medina. A irmã de Gonzalez afirma que, depois desse teste, alguns trabalhadores da Broadridge tinham sido mandados para casa, mas que ele tinha ficado. “Eu disse para ele se cuidar.” Ela descreve o irmão – que era casado, tinha um filho de 17 anos e uma filha adotiva mais velha – como uma pessoa forte e saudável que amava churrasco. “Ainda é inacreditável que ele tenha partido.”

Anthony DeNoyior, gerente sênior de produção na Broadridge, morreu de covid-19 dois dias depois de Gonzalez. Segundo seu perfil no LinkedIn, ele tinha 55 anos e trabalhava na empresa desde 1990. DeNoyior também era capitão de polícia auxiliar, atuando de forma voluntária no condado de Suffolk, no estado de Nova York. Um obituário do jornal Newsday informa que ele era casado e tinha dois filhos. Uma campanha no site GoFundMe foi criada para arrecadar fundos que a família de DeNoyior vai dedicar a organizações beneficentes.

Astrid Echenique tinha uma função administrativa na Broadridge. Encarregada de introduzir dados nos sistemas da empresa, conforme seu perfil no LinkedIn, morreu de complicações relacionadas à covid-19, segundo familiares. Um parente próximo que preferiu o anonimato disse que um dos familiares de Echenique, também funcionário da Broadridge, testou positivo, mas se recuperou. Ainda segundo a família, Echenique tinha lúpus, doença crônica autoimune que dificulta o combate de infecções.

Aleymma Kuriakose foi a quarta pessoa entre os funcionários da Broadridge a morrer de Covid-19, segundo familiares, colegas e notícias publicadas nos jornais India West e The Tribune.

A Procuradoria-Geral do Estado de Nova York começou a investigar as condições de trabalho do centro de distribuição no início de abril, após contato do The Intercept e do Type Investigations. Informado sobre as mortes recentes, um porta-voz disse que o órgão tinha recebido diversas queixas de trabalhadores do local e que seguia coletando informações de funcionários e seus familiares.

Para David Michaels, ex-chefe de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA, na sigla em inglês) no governo Obama, os perigos enfrentados pelos trabalhadores na pandemia da Covid-19 foram exacerbados pela falta de ações do órgão.

“Alguns empregadores estão distribuindo os EPIs adequados a trabalhadores expostos à covid-19 somente agora, e muitos ainda não oferecem os equipamentos, tampouco estabelecem distanciamento social”, afirma. “Eles podem se livrar disso porque a OSHA se recusa a implementar um protocolo de emergência exigindo que os empregadores protejam seus empregados desse vírus mortal.” Até a publicação dessa reportagem, a OSHA não respondeu às nossas perguntas.

Em sua casa em Brentwood, abalada pela morte repentina do marido, Menjivar luta para reorganizar sua vida. “É tão difícil ficar sozinha”, ela diz, enquanto seu filho chora ao fundo. Ela diz que um representante da Randstad recentemente ligou para prestar condolências e dizer que a empresa enviará uma cesta de alimentos.

Tradução: Ricardo Romanoff

Fonte: https://theintercept.com/2020/05/05/coronavirus-trabalhadores-sem-licenca-morrem-eua/

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