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sábado, 26 de janeiro de 2013

Desmatamento na Amazônia dá sinais de voltar a crescer


ONG e Inpe dizem que números preliminares dos últimos meses indicam alta no desmate, motivada pelo novo Código Florestal e pressões econômicas

Reuters 
Reuters
Agência Brasil
Trecho de floresta desmatado na Amazônia
Após anos de avanços do Brasil no combate ao desmatamento da Amazônia, o problema parece estar voltando a se agravar, refletindo a expansão de fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e construtores para áreas antes inexploradas, segundo dados compilados pelo governo e por pesquisadores independentes.
O Imazon, instituição brasileira que monitora o desmatamento por meio de imagens de satélite, disse em um recente relatório que a destruição da maior floresta tropical do mundo subiu em dezembro pelo quarto mês consecutivo. 

Leia também: Emissões de dióxido de carbono por desmatamento da Amazônia caem 16% Madeireiros ilegais desafiam combate ao desmatamento na Amazônia Amazônia registra menor taxa de desmatamento da história, diz ministra
Nos últimos cinco meses de 2012, o Imazon detectou a eliminação de 1.288 quilômetros quadrados de matas, mais do que o dobro da área devastada no mesmo período de 2011.
Dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz suas próprias estimativas mensais, também sugerem um aumento no desmatamento entre agosto e outubro, último mês com dados divulgados.
Pesquisadores e autoridades dizem que são necessários mais dados para confirmar que está em curso uma reversão completa da tendência de redução verificada nos últimos anos. Entre outras variáveis, nuvens na atual época chuvosa complicam a obtenção de imagens.
Dados adicionais também podem esclarecer se novos clarões na cobertura florestal são resultado de queimadas e derrubadas deliberadas, ou uma degradação natural.
Se o desmatamento continuar crescendo, será a confirmação dos temores manifestados por cientistas e ecologistas de que as mudanças nas políticas ambientais brasileiras, a contínua penetração de forças econômicas na floresta e os projetos governamentais de infraestrutura estão revertendo os avanços na proteção a uma região que concentra cerca de 12 por cento da água doce do planeta, que é uma abundante fonte de oxigênio e onde vive um número incontável de espécies vegetais e animais.
"O contexto está maduro para que a destruição se intensifique", disse o diretor-executivo da conhecida ONG Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia, Paulo Moutinho. "Está claro que os níveis podem facilmente continuar a crescer."
As autoridades recomendam cautela, observando que há uma tendência de longo prazo contra o desmatamento. "É cedo demais para soar o alarme", disse Francisco Oliveira, diretor de políticas contra o desmatamento do Ministério do Meio Ambiente. "Um quadro mais completo vai emergir quando as nuvens tiverem ido embora."
Desafio científico Muitos fatores causam o desmatamento.
Madeireiros e garimpeiros há muito tempo exploram as madeiras nobres e as jazidas numa selva que tem o tamanho da Europa Ocidental. Nas últimas décadas, o Brasil se tornou uma potência agrícola, e os sojicultores, pecuaristas e outros produtores cada vez abrem mais espaço para suas lavouras.
E há também o atual ímpeto de explorar o potencial hidrelétrico da Amazônia, um processo que críticos dizem atrair muita gente para uma área que, do contrário, continuaria intacta.
Monitorar o desmatamento é um desafio científico que combina os dados de satélite e a fiscalização no terreno.
O governo brasileiro e cientistas do Imazon, instituição que tem sede em Belém e recebe financiamento privado, obtém indícios preliminares a partir das imagens de satélite.
Dados mais conclusivos demoram mais para serem compilados e dependem de recursos visuais de alta resolução, que são mais lentos, e de pesquisas de campo realizadas por cientistas e inspetores ambientais.
O governo divulga uma cifra anual em julho, quando a região está mais seca e a vista aérea fica mais clara.
Os dados mostraram que o desmatamento, até julho de 2012, havia caído a níveis recordes durante quatro anos consecutivos, em grande parte graças a uma fiscalização ambiental mais rígida.
Uma disparada em 2007, quando a alta no preço dos produtos agrícolas desencadeou uma procura por áreas cultiváveis, foi contida depois que o governo impôs multas mais pesadas e bloqueou o crédito para os desmatadores.
Em resposta, madeireiros passaram a agir de forma mais concentrada em áreas menores para burlar a vigilância dos satélites.
Agora, cientistas e ambientalistas alertam que os violadores estão sendo incentivados pelas mudanças legais, por uma nova alta nos preços globais dos produtos agrícolas e pelo impulso de colonos para desenvolver atividades econômicas ao redor das barragens de hidrelétricas e de outros grandes projetos industriais e de infraestrutura.
"Vocês vão ver logo logo um aumento no desmatamento", disse à Reuters na semana passada a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, ativista histórica da preservação da Amazônia.
Ela e outros críticos têm atacado o governo da presidenta Dilma Rousseff, cujos esforços para reavivar o crescimento econômico incluem reformas que, segundo ambientalistas, podem causar mais destruição. Dilma, por sua vez, diz que suas políticas são necessárias e ambientalmente sustentáveis.
Entre outras alterações regulatórias, o Brasil concedeu no fim de 2011 mais poder a autoridades locais para fiscalizar as leis ambientais, e esse processo levou ao fechamento de vários postos federais de fiscalização florestal, os quais muitas vezes, especialmente na vasta e remota Amazônia, representavam o único obstáculo para os desmatadores.
No ano passado, uma reforma do Código Florestal alterou os tipos de matas que devem ser preservadas ao redor de qualquer atividade. Embora o novo código continue teoricamente rigoroso nas regras de preservação, críticos dizem que a fiscalização será difícil por causa da transferência de atribuições a autoridades locais.
Oliveira, do Ministério do Meio Ambiente, disse que o governo federal ainda tem condições de reagir rapidamente. Em vez de usar bases fixas, explicou ele, novas unidades de agentes ambientais criadas nos últimos meses podem ser mobilizadas quando for necessário, tornando-as "mais ágeis" quando desmatadores agem em áreas menores. "Nossos métodos e estratégias estão evoluindo", disse ele.
No entanto, os cientistas temem que os danos estão acontecendo sob os próprios olhos do governo. Hidrelétricas construídas pelo governo, estradas e minas estão acelerando a reversão, dizem eles, porque garantem acesso a áreas antes isoladas da Amazônia.
"Você tem todos esses fatores se unindo para tornar muito mais fácil o acesso à floresta", disse o pesquisador do Imazon Paulo Barreto. Os números recentes dispararam de forma tão rápida, acrescentou ele, "que será difícil que as cifras anuais caiam."

Fonte: ULTIMO SEGUNDO

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