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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Wolfgang Sauer: "Ensinei a China a fazer carros!"


O maior produtor de automóveis do mundo foi treinado por brasileiros, num esforço de comércio e diplomacia


EM DEPOIMENTO A MARCELO MOURA


WOLFGANG SAUER
Casado, 82 anos, foi presidente da Volkswagen do Brasil entre 1972 e 1990. Fez a biografia O homem Volkswagen (Foto: Victor Moriyama/Folhapress)

"No começo dos anos 1980, a China era considerada o país do futuro. Como presidente da Volkswagen do Brasil, sonhava fazer negócio com os chineses. Era difícil. O comércio exterior deles era quase todo com a antiga União Soviética. Entrar na China era um desafio comercial e diplomático.

Lembro quando me sentaram ao lado de um ex-comandante do Exército de Mao Tsé-tung, num jantar oficial na China, em 1981. Ele começou a pôr comida na minha boca, usando os palitos dele. Na cultura chinesa, é uma forma de expressar cordialidade. Olhava sua boca, quase sem dentes, e me perguntava: ‘Como vou conseguir ficar até o fim?’.

Propus montar caminhões na China, mas os chineses não quiseram. Perguntei: ‘E por que não carros?’. Ofereci implantar uma fábrica e deixar 50% para o governo. Como não havia muitas leis para indústrias privadas, achei que a única maneira de defender o negócio era ter um sócio de peso. O governo ofereceu uma fábrica chamada Number One. Número Um, na tradução do inglês. Era um galpão velho, um desastre. Nunca tinha visto algo parecido. Como era a única forma de entrar no mercado, aceitei. Mas eles não fecharam o acordo.

Eles queriam introduzir uma linha de produção avançada, como a que havia na Alemanha. Eu disse: ‘Vocês precisam começar com a base. Uma fábrica automatizada daria poucos empregos. Precisa ser uma linha de produção sem muitos robôs, como a do Brasil’. Propus introduzir máquinas mais tarde, quando os funcionários já tivessem aprendido o processo e pego gosto pela indústria. Discursava longamente a cada visita à China, mas nada de convencer os burocratas do governo.


Insisti para o ministro da Indústria da China conhecer de perto a fábrica de São Bernardo do Campo, em São Paulo. O ministro era um senhor de 75 anos. Ele não gostava de viajar, mas aceitou. Quando terminamos de almoçar, eu disse que havia preparado um quarto ao lado do meu escritório, na fábrica, para ele tirar um cochilo. O ministro ficou encantado com o gesto. Dois dias depois, assinamos o contrato. A Volkswagen do Brasil iria ensiná-los a montar o Santana.

A China de 1984 era tão diferente da de hoje quanto o dia é diferente da noite. Naquela época, era definitivamente noite. A indústria chinesa era pequena e atrasada. Os 1.000 funcionários que contratamos eram agricultores. Não operavam máquinas, não sabiam ler e mal tinham hábitos de higiene. Mais de 500 brasileiros passaram um ano lá, dando treinamento. Os chineses eram ótimos alunos. Acordavam cedo, não faltavam e eram dedicados. Como era inviável importar peças de carro na China, muitas saíram do Brasil em nossa bagagem pessoal. Carregar o peso, em malas sem rodinhas, lesionou para sempre os ligamentos de meus ombros.

Até o fim de 1984, montamos 100 carros, que funcionaram perfeitamente. A fábrica estava apta a produzir. Agradecido, o governo chinês nos ofereceu homenagens e jantares. Até hoje, o Santana é montado lá. Desde 2008, a China é o maior fabricante de carros do mundo."


Fonte: ÉPOCA

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