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segunda-feira, 8 de junho de 2020

Vale a pena ler "Numa e Ninfa", de LIMA BARRETO, para que a desilusão com a situação atual seja completa e abandonemos o "romantismo"

Nesse belíssimo livro o leitor contempla uma descrição minuciosa dos vícios e costumes de uma sociedade que vivia de aparências. Lima Barreto denuncia a distribuição de cargos em troca de favores, a hipocrisia institucional, os privilégios dos militares, a injustiça (Lima narra um caso dramático, relativo à viúva de um bombeiro que pretendia receber uma pensão), o problema da fidelidade partidária, os conchavos políticos, a violência urbana que já sacudia o Rio de Janeiro, o pedantismo acadêmico e a fidelidade partidária (Numa sempre votava com o partido). Invocava com o montepio que beneficiava as filhas de militares, as viúvas que viviam em casas do Estado sem pagar aluguel e filhos que tinham colégios de graça. Não se conformava, diz o estudioso ARNALDO GODOY, livre-docente da USP, em artigo na CONJUR.

Terá havido, desde os tempos de LIMA BARRETO, alguma mudança importante,  ou continuamos num mundo de hipocrisia, a começar pelos ideais românticos de "liberdade individual", "igualdade", "soberania popular", "liberdade de expressão", "democracia", "sistema representativo"?

E, por falar em romantismo político, na obra de PAULO PRADO intitulada Retratos do Brasil/Ensaio sobre a tristeza brasileira, há um libelo digno de apreciação - que se reporta aos tempos de Rosseau e seus seguidores ou imitadores -, a partir do capítulo IV.

PRADO  acentuou: A Justiça ( sem a qual, dizia o padre Vieira, não há reino, nem província, nem cidade, nem ainda companhia de ladrões que se possa conservar), a Justiça, em contato com os interesses da politicagem, dificilmente resiste ao arbítrio e ao abuso de poder; o Exército, caríssimo, desaparece, desorganizado pelo ódio e pelo medo; a Marinha, sem navios, vegeta na baía de Guanabara: é uma repartição pública. Está tudo por fazer, nada se faz, e segundo a chapa corrente — não se sabe para quem apelar.

GODOY prosseguiu: “Numa e a Ninfa” é um romance de crítica ao positivismo, ao bacharelismo, ao Judiciário, ao direito e ao modo como as leis eram discutidas e votadas. 

Na opinião de Lilia Moritz Schwartz, competentíssima biógrafa de Lima Barreto, em “Numa e a Ninfa” o escritor “brinca com os pressupostos políticos falastrões, para quem os indígenas não passavam de inimigos internos, retardatários da natureza que deviam ficar bem longe da ‘civilização’”. 

Lima Barreto também denuncia o racismo; não como vítima, mas como analista social que bem sabia que uma sociedade racista é podre e diminuída, porque uma sociedade racista é imunda e desinformada. Não há raças. Somos seres humanos. Basta.

Como se vê, nem tudo aquilo que parece só romantismo, o é, senão um disfarce para contundentes críticas ao sistema.

A principal função do governo era desagradar; exceto aos governantes, naturalmente. 

Há também reflexões sobre o papel da mulher na sociedade da República Velha. É de um personagem a lembrança de que “enquanto mulher parir, não há homem valente”.

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