Milhares protestam contra casamento gay em Paris
Manifestação reúne pessoas contrárias a uma polêmica reforma que o presidente François Hollande promete executar em junho
Com a participação de jovens, idosos e famílias inteiras, boa parte de caravanas do interior do país, milhares de franceses marcharam neste domingo, 13, nas ruas de Paris para protestar contra um projeto de lei do governo do presidente François Hollande que autoriza o casamento gay e - o que mais tem atraído oposição - permite que casais de pessoas do mesmo sexo possam adotar crianças.
O protesto, que teve apoio da Igreja Católica, contou com cerca de 350 mil pessoas, de acordo com cálculos da polícia - o que o torna a maior manifestação em Paris em 20 anos -, ou 800 mil pessoas, segundo anunciaram os organizadores, da frente Manif pour Tous (“Manifestação para Todos”).
Os manifestantes vieram para a capital francesa em cinco trens de alta velocidade, 900 ônibus e inúmeros comboios de carros. A marcha partiu de três pontos diferentes de Paris e, após 6 quilômetros, os grupos convergiram para a frente da Torre Eiffel, exibindo faixas como “Não ao casamento unissex” e “Somos guardiães do Código Civil”, e outras bem-humoradas, exibidas por crianças, como “Feito por papai e mamãe”.
“Nada temos contra diferentes formas de viver, mas achamos que uma criança precisa crescer com um pai e uma mãe”, disse Philippe Javaloves, um professor de literatura que participou de uma caravana de 300 pessoas da Província de Franche-Comté, no leste do país.
A humorista Frigide Barjot leu um manifesto exigindo de Hollande a retirada do projeto de lei e pedindo um debate nacional antes de a lei ir à votação.
Além da hierarquia católica, uma coalizão híbrida composta de famílias religiosas, políticos conservadores, muçulmanos e evangélicos acabou minando nos últimos meses o apoio ao projeto de lei do governo, que deve ser votado no fim do mês na Assembleia Nacional. Pesquisas feitas em agosto apontavam em torno de 65% de apoio à lei, índice que caiu para 52%, segundo sondagem divulgada neste domingo.
Hollande contava com a maioria parlamentar para aprovar a lei sem maiores sustos. Mas a mobilização nos últimos meses, centrada no veto à adoção e no registro de crianças concebidas por meio de inseminação artificial por casais gays, ameaça a aprovação do projeto de lei.
Registro. A união civil de casais gays é autorizada na França desde 1999. Os opositores do projeto de lei querem impedir que a união civil homossexual adquira o status de matrimônio, para que pessoas do mesmo sexo não possam registrar filhos. Pesquisa da revista Le Nouvel Observateur mostra que o país está dividido sobre essa questão: 50% são contra a adoção de crianças por casais homossexuais. Apesar do peso do protesto de ontem, o governo Hollande promete não recuar.
Para o porta-voz da ONG Inter-LGBT, que defende gays, lésbicas e transexuais, Nicolas Gougain, a mensagem dos organizadores do protesto de ontem embute uma homofobia implícita. “O projeto de lei não propõe alterar os direitos das famílias heterossexuais, e sim reconhecer os das famílias homossexuais”, disse Gougain.
Protesto no Vaticano. Também na manhã deste domingo quatro integrantes do Femen, grupo conhecido pela ousadia de suas manifestações sobre os mais variados assuntos, foram detidas durante a missa dominical realizada pelo Papa Bento XVI na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Com dizeres 'in gay we trust' (em gays confiamos), em contraposição ao tradicional 'in God we trust' (em Deus confiamos), escritos nas costas e no tórax, as ativistas se manifestaram a respeito da publicação do Jornal do Vaticano que condenou a adoção por homossexuais depois que a Justiça garantiu a uma mãe homossexual a custódia de seu filho.
Fonte: O ESTADO DE SP
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