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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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terça-feira, 30 de julho de 2019

MEIO-AMBIENTE - O ontem e o hoje

O festejado escritor VIRGÍILIO VÁRZEA, nascido na Ilha de SC, em 1863, e falecido em 1904, na obra A Canção das Gaivotas (Edit. Lunardelli, Fpolis-SC, p. 99), descrevendo o ambiente da Ilha de Santa Catarina, registrou: Pelos morros, distinguiam-se magnificamente os grandes lençóis coloridos das roças, onde predominavam intensamente o verde-negro da mandioca e o louro seco dos milhos.

As roças eram feitas após a derrubada da mata nativa, a roçada do mato miúdo, que medrava sob as árvores de maior porte e a passagem do fogo, para completar a limpeza. Os íncolas já se valiam de semelhante rotina, no que chamavam de coivara
Por forca de tal prática, os morros onde era possível o ser humano plantar alguma cultura, viviam pelados, isto e, despidos de qualquer forma de vegetação, com exceção dos grotões, pirambeiras, escarpas e precipícios de toda sorte, pois ali não chegava o carro de bois, nem mesmo as prestativas mulas equipadas com os cestos chamados serões (cargueiros), nos quais pudessem transportar o fruto da faina agrícola. E os agricultores teriam que transportar a colheita em balaios (feitos com cipós e lascas de bambu, nos próprios lombos), o que, obviamente, não lhes servia de estímulo.
Das áreas não cultiváveis, geralmente, brotavam as águas e um pouco de vegetação, incluindo um cipozal praticamente impenetrável, a cortante língua-de-vaca e o arranha-gato,  flagelos de quem se aventurava naqueles ermos, em meio às pedras.

A legislação que veio para proteger o meio ambiente, da qual parece ter sido pioneiro o Código de águas (Decreto federal n. 24.632, de 1934), foi aperfeiçoada em 1965, com a promulgação do primeiro Código Florestal e, a partir de então, o combate ao desmatamento e a defesa de áreas de maior relevância (beiras de rios, nascentes, topos de morro, encostas com declividade acentuada) passaram a contar com maior fiscalização e tutela dos poderes públicos. As queimadas passaram a ser combatidas - embora já ao tempo do poeta Castro Alves fossem lamentadas (*) -, ao mesmo tempo em que o trabalho rude e penoso da agricultura em áreas muito inclinadas foi sendo deixado de lado, dedicando-se os obreiros a atividades novas, mais rentáveis e menos arriscadas, graças às denominadas "casas de praia" e ao advento do turismo, principalmente. Da penosa atividade agrícola nas encostas ficaram os restos de alguns engenhos, o feito (espécie de samambaia que medra mesmo em solos muito explorados) e os sulcos deixados pela passagem frequente dos carros de bois. 

Os agricultores passaram a laborar como caseiros, jardineiros, vigilantes, varredores de ruas, lixeiros, vendedores de picolés e sorvetes, de água mineral, de caldo de cana, de água de coco, de salgadinhos, de óculos de sol, de esteiras, de protetor solar, dentre outras utilidades para os banhistas, além de atuarem como locadores de cadeiras e guarda-sois, dentre outras ocupacões que dispensam qualificação intelectual. 

A própria pesca artesanal - que disputava com a pequena agricultura o lugar de fonte de alimentação das famílias - começou a ser desprezada e até combatida, por considerar-se que os restos de peixes, moluscos, águas vivas e algas, trazidos pelas redes de arrasto para as praias, constituem fonte de sujeira e incomodação para os banhistas e veranistas.

Entrementes, as águas que desciam das vertentes e grotas dos morros pelas ouvielas, ou infiltrando-se pelo solo, foram minguando, embora a vegetação, paralelamente ao abandono da agricultura, com o regeneração espontânea, devesse, teoricamente,  aumentá-las.

Fotos disponíveis na Biblioteca do IPUF - colhidas de uma área do lugar chamado Cachoeira, no distrito de Ratones, Ilha de SC, via levantamentos aerofotogramétricos, incialmente -, mostram que, por ocasião do advento do primeiro Código Florestal,  os morros estavam praticamente desnudos, com poucos tufos de mato, por força do cultivo da mandioca, milho e cana, principalmente, além do corte de lenha (inclusive de mangue, que era comercializada no centro da Capital, além de abastecer os engenhos de farinha, melado e cachaça, assim como as caieras), enquanto agora, em 2019, encontram-se com razoável cobertura vegetal.

Mas, então, onde anda a cachoeira que teria dado nome à localidade, as quais os nativos conhecem como Cachoeira da Florinda? Esta lá, no mesmo local, obviamente, mas muito longe de ser uma verdadeira cachoeira, não passando de um quase inexpressivo curso d'água, que ganha algum volume somente em épocas de grande precipitação pluviométrica, assim como incontáveis outros cursos, que literalmente sumiram.

Então, cabe indagar:  o que esta acontecendo se, nem com a cessação das derrubadas, roçadas e queimadas, as nascentes se multiplicam, ou as águas correntes, como as da Florinda, voltam a ganhar volume?

Com a palavra os entendidos em hidrologia.




 

 

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