A subprefeitura de Pinheiros, na cidade de São Paulo, é uma região onde a poluição
sonora se manifesta a níveis consideravelmente acima dos permitidos
pela lei. Um estudo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP constatou que em até 45% dos pontos de medição o ruído
era até 15 decibéis (dB) acima do ideal.
O geógrafo Thiago Shoegima, autor da pesquisa, pretendia comparar a
situação real dos pontos de levantamento com a lei de zoneamento
municipal vigente no município para verificar se eram coerentes.
O estudo de Shoegima intitulado Poluição sonora urbana: estudo
de caso da subprefeitura de Pinheiros, foi orientado pelo professor
Alfredo Pereira de Queiroz Filho e realizou três medições diferentes em
40 pontos distribuídos na região. Segundo ele, Pinheiros foi escolhido
por ser uma das áreas centrais da cidade e por ser uma das principais
regiões que estão dentro da mancha urbana de São Paulo.
A primeira coleta foi realizada no primeiro semestre de 2010 e foi a
que demonstrou pior situação: 45% dos pontos estavam com mais de 15dB
acima do aceitável, e apenas 2,5% deles estava dentro dos limites
estabelecidos. No segundo e no terceiro levantamento, realizados no
primeiro semestre de 2011, o quadro era menos grave: apenas 20% dos
lugares apresentavam ruído urbano superior ao permitido. E destes, em
42% dos casos o excesso ficava entre 1dB e 5dB.
O geógrafo credita essa redução à Lei que restringiu o tráfego de
caminhões na área e ao programa Controlar (Programa de Inspeção e
Manutenção de Veículos em Uso), que visa diminuir a poluição do ar. O
pesquisador diz que a principal causa do excesso de ruído na região é o
tráfego de veículos, e enfatiza que o número de reclamações recebidas
pelo Programa de Silêncio Urbano da Prefeitura de São Paulo (PSIU) não
acompanhou a diminuição da poluição sonora no período.
A poluição sonora possui comprovadamente efeitos sobre o sono.
Segundo a OMS Organização Mundial de Saúde (OMS) a exposição a elevados
níveis de ruído pode desencadear problemas no sistema cardiovascular,
psicológico, redução de desempenho e alterações no comportamento social,
além dos problemas de audição e estresse.
– Causa espanto saber que outros tipos de poluição recebem uma série
de cuidados para sua diminuição ou controle (como a poluição da água, do
solo e a poluição visual), mas nada se fez até agora para diminuir a
polução sonora, não há um grande cuidado e nem muitos estudos sobre o
assunto na cidade de São Paulo –, acrescenta Shoegima.
Ele diz que os fatores que causaram a redução observada nas medições
não foram feitos para esse fim, mas o realizaram como uma consequência
de seu objetivo principal.
– Não há ações direcionadas especificamente para a redução da poluição sonora e nem investimentos no controle da mesma.
O geógrafo considera ser necessário alertar a população do perigo a
que ela está exposta, até porque há a probabilidade de que estes
resultados não se limitem à região de Pinheiros, mas a toda a área
essencialmente urbana da cidade.
Shoegima adquiriu o equipamento e levantou ele próprio os dados
necessários à sua pesquisa, pois segundo ele a prefeitura não os
possuía, o que foi uma surpresa. O pesquisador conta que até então
tinha-se pouca ou nenhuma noção de como andava a poluição sonora naquela
região, o que demonstra a importância da divulgação destes dados.
– Para a prefeitura diminuir o problema, ela tem que não só
fiscalizar, mas ter noção da situação do problema. Isto se consegue com
levantamentos e pesquisas, não adianta ter uma lei que determina os
limites de ruído e achar que ela esta sendo mesmo respeitada. Mesmo o
PSIU, que fiscaliza somente determinados tipos de reclamações (bares,
restaurantes, casas noturnas, igrejas), não consegue dar conta da
demanda e demora muito para atender aos cidadãos. Além do mais, a
principal fonte de ruído na cidade, o tráfego de veículos, não é
atendida pelo órgão.
Fonte: CORREIO DO BRASIL
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