Procuradoria avalia não haver razão para indiciar jornalistas em CPI
A decisão do relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), de pedir o indiciamento de cinco jornalistas por suposto envolvimento no esquema de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, não vai prosperar se não houver fatos novos, avaliam integrantes do Ministério Público Federal ligados ao caso.
O relatório, se aprovado pelo Congresso, deve ser enviado ao Ministério Público Federal em Goiás.
O relator cita 12 jornalistas que tiveram contato com o grupo em algum momento e pede o indiciamento de 5: 4 de mídias regionais (Wagner Relâmpago, Patrícia Moraes, João Unes e Carlos Antonio Nogueira) e o diretor da sucursal da revista "Veja" em Brasília, Policarpo Júnior.
"Cachoeira lançava mão mais uma vez da arapongagem e municiava jornalistas da imprensa local e nacional com informações que ajudavam impedir negócios concorrentes ou destruir reputações", diz trecho do texto.
Na época da revelação do caso, procuradores entenderam que não havia elementos para denunciar os jornalistas pela ligação com Cachoeira.
Ao longo da CPI, o PT pressionou diversas vezes pela convocação do jornalista de "Veja", sem sucesso. O presidente do partido, Rui Falcão, havia dito em abril que a CPI apuraria "o escândalo dos autores da farsa do mensalão".
O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais, Ricardo Pedreira, afirmou que "a ANJ espera que haja o entendimento de que o trabalho de investigação jornalística consiste em ouvir todas as fontes".
"Veja" divulgou nota sobre a citação a seu jornalista (leia a íntegra abaixo).
João Unes, dono do jornal on-line "A Redação", disse que vai esperar ser notificado para para se pronunciar.
Carlos Antonio Nogueira, da WCR Produção e Comunicação, disse que já esperava pelo indiciamento. "Mas ninguém provou nada", afirmou.
A defesa de Patrícia Moraes, diretora do semanário "Opção", disse que a citação a ela é "irresponsável".
A Folha não falou com Wagner Relâmpago.
Leia a íntegra da nota da "Veja"
Ao pedir o indiciamento do jornalista de VEJA Policarpo Júnior, o relator Odair Cunha, do PT de Minas, não conseguiu esconder sua submissão às pressões da ala radical de seu partido que, desde a concepção da CPI, objetivava atingir a credibilidade da imprensa livre por seus profissionais terem tido um papel crucial na revelação do escândalo do "mensalão" --o maior e mais ousado arranjo de corrupção da história oficial brasileira.
Com a punição exemplar pelo Supremo Tribunal Federal dos réus petistas integrantes do esquema do mensalão, sobrou a seus sequazes instrumentalizar o relator da CPI e usá-lo para tentar desqualificar o exemplar e meritório trabalho de jornalístico de Policarpo Júnior, diretor da sucursal de Brasília e um dos redatores-chefes da revista VEJA, profissional dono de uma história invejável de serviços prestados aos brasileiros.
Em seu afã de servir de instrumento de revanche contra o jornalista que mais destacadamente ajudou a desnudar os crimes dos petistas no mensalão, o relator recorreu a expedientes condenáveis.
O mais grave deles foi suprimir do relatório a mais límpida evidência da conduta absolutamente correta do jornalista de VEJA. Odair Cunha desprezou o exaustivo trabalho dos integrantes do Ministério Público e da Polícia Federal encarregados das investigações e das escutas legais feitas no contexto das operações em que o jornalista de VEJA é citado.
O relatório de Odair Cunha omitiu os depoimentos à CPI dos delegados da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues e Raul de Souza e dos procuradores da República Daniel Rezende e Léa Batista Salgado, encarregados das investigações. Todos eles, sem exceção, foram enfáticos em descrever as conversas do jornalista de VEJA com Carlos Cachoeira como relação entre repórter e fonte.
Ouvido pela comissão no dia 8 de maio, o delegado federal Raul Souza afirmou: "Não há indícios de que o relacionamento tenha ultrapassado a relação entre jornalista e fonte". Integrantes da CPI perguntaram repetidamente e sem rodeios ao delegado Mella Rodrigues se Policarpo Júnior praticou ou participou de algum crime. A resposta do policial foi sempre a mesma: "Não".
Os procuradores também reafirmaram que nas investigações ficou evidente que os contatos entre o jornalista e o contraventor nunca ultrapassaram "os limites do trabalho de um repórter em busca de informações".
As razões pelas quais Odair Cunha suprimiu essa prova irrefutável de inocência de seu relatório ainda precisam ser devidamente esclarecidas.
Com colaboração para a Folha, em Goiânia
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