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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mercados: os monstros de nosso tempo


Classe política europeia precisa mudar seu modelo político e tomar as rédeas da economia




A União Europeia vive uma das situações mais difíceis desde sua criação, em 1957, com a assinatura do Tratado de Roma. A economia especulativa, engendrada pelo neoliberalismo, exerce o controle da política por meio dos monstros sagrados de nosso tempo: os mercados.

Em função dos interesses do momento, os mercados obrigam os Estados a se submeterem à sua vontade, por meio dos conglomerados financeiros que os controlam, com a ajuda das agências qualificadoras de risco.

Estas agências emitem julgamentos sobre a solvência dos Estados e das empresas, não em função de avaliações objetivas, mas de acordo com os interesses variáveis de seus principais clientes, precisamente os senhores das finanças.

A intolerável dependência da política em relação à especulação financeira e não à relação contrária, como foi no passado, bem como a aliança entre certos líderes políticos e determinados capitalistas, e o consequente declínio dos valores éticos, desembocaram na crise global que paralisa a União Europeia, está levando seus países-membros à ruína e faz temer que o bloco possa se desintegrar.

Esta situação aflige todos os Estados-membros da UE, embora em graus diferentes, e em particular os países da zona do euro. No entanto, também o Reino Unido, que não aderiu ao euro, enfrenta um quadro econômico de extrema gravidade.

Portanto, compreende-se que esta involução esteja afastando, cada dia mais, os povos de seus respectivos líderes.


É curioso comprovar a aceleração das mudanças em nossos tempos. Em apenas 20 anos, assistimos ao declínio das duas grandes ideologias contrárias que marcaram o século XX: comunismo e neoliberalismo.

Para que seja possível emergir o novo paradigma, deve acontecer uma revolução, que espero seja pacífica, que restabeleça a primazia da política sobre a economia e a vigência de valores éticos rígidos.

No plano econômico, devem ser restaurados as regras e o controle sobre os mercados e eliminados os paraísos fiscais, as economias virtuais, as agências qualificadoras de risco e todas as modalidades que facilitaram a hegemonia do capitalismo especulativo e nos arrastaram à crise atual.

Uma premissa é o aprofundamento da democracia em nossos países. Devemos ser mais liberais, não no sentido econômico, mas no político e também no social, pois estes são valores fundamentais da identidade errônea. A inversão do ideário liberal é um dos equívocos fomentados pelo neoliberalismo.

Outro conceito que deve ser esclarecido é o da identidade política. Tradicionalmente, e até os nossos dias, as duas grandes correntes ideológico-partidárias do velho continente são a democracia cristã e o socialismo democrático.

Entretanto, embora continuem se chamando socialistas ou democratas-cristãos, a grande maioria dos governantes dos países europeus é ultraconservadora. Na verdade, hoje escasseiam os políticos que podem ser considerados autênticos socialistas ou democratas-cristãos.

Do meu ponto de vista, isto é o que explica que os líderes europeus, quando participam de reuniões de cúpula da UE, não tenham coragem nem a vontade política de modificar o modelo econômico.

A reforma do modelo, mesmo parcial, implicaria necessariamente afetar certos interesses e fazer perigar a conivência malsã entre a política e os negócios, que está ligada ao financiamento dos partidos políticos. A consequência desta trama de interesses é a paralisia das instituições europeias e dos Estados-membros da UE.

Estamos, portanto, em uma encruzilhada. Ou a União Europeia executa as reformas que agora requer e voltamos a ser um farol de esperança em um mundo cada vez mais interdependente e que reclama uma nova ordem, ou, tal como adverte uma análise do comitê de sábios presidido por Felipe González, nos encaminharemos para uma triste e inevitável decadência.

(*) Mário Soares é ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal. Texto para a IPS publicado no site Envolverde.

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