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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

MISTANÁSIA NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE NÃO CONSTITUI NOVIDADE

Enquanto os governos preferirem canalizar recursos para Times de Futebol, para Igrejas, para Montadoras de Automóveis, para órgãos da mídia e para banqueiros, e, sobretudo, enquanto a população permanecer passiva ante o descaso com a saúde pública e outros setores essenciais, o quadro não se alterará.
A culpa é de quem vota validamente, entronizando essa corja que só sabe fazer promessa. Enquanto não ocorrer uma anulação massiva de votos, de modo a demonstrar que o sistema representativo, como aí está colocado, sem possibilidade de destituição dos que prometem e não cumprem, não é válido, nem representa democracia, não sairemos desse caos.
É preciso que surja um movimento no sentido de que se possa - por plebiscito, destituir governantes relapsos ou que pratiquem atos visivelmente ilícitos, ou seja, no sentido de que o povo, que pode colocá-los nos cargos, possa também retirá-los dos tronos, sem uso de violência, porque este é o outro caminho que se oferece à população, embora não agrade a ninguém

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A Associação Catarinense de Medicina vai se posicionar hoje sobre a greve dos servidores da saúde com uma nota oficial contundente. Começa enfatizando: “O que assistimos nos hospitais públicos de Santa Catarina é o exemplo mais concreto da Mistanásia. A morte miserável de pessoas pobres”.

Assinada pelo presidente da ACM e do Conselho das Entidades Médicas, Aguinel Bastian Junior, a manifestação sustenta que é dever do Estado parar tudo para atender as necessidades essenciais da população.

- Deve suspender campanhas, realocar recursos de investimentos de outra ordem, enxugar seus recursos humanos administrativos e consequentes cabides de emprego e cumprir a missão primeira do governante democrático. Atender o cidadão nas suas necessidades mais essenciais: saúde, segurança pública e educação – continua”.
Mais adiante analisa a responsabilidade do Estado, alertando que para o cidadão não interesse se a culpa é do atual ou de outros governos. Prevalece seu dever de dar assistência. Posiciona-se pelo direito de greve, mas pela manutenção pelos servidores dos serviços emergenciais.
Em outro ponto, lembra que o Cosemesc vem apelando ao governo, em cartas e boletins sobre o agravamento da situação e que a atual greve “expõe o desmantelamento da estruturas públicas da saúde”.
A greve entra esta semana no segundo mês, sem perspectivas de uma solução. A partir de hoje estarão cortados os salários dos grevistas. Os punidos chegam a cerca de mil funcionários. O Sindicato anunciou que impetraria medida judicial para impedir a execução da medida.
No fim de semana novas denúncias de casos dramáticos de pacientes em delicado estado de saúde que tiveram canceladas ou prorrogadas cirurgias de urgência em hospitais públicos da Capital.



Fonte: MOACIR PEREIRA - Clic RBS

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ATUALIZAÇÃO:

Mas, será o descaso dos governos com a saúde o único  fator responsável pelas mortes de pobres?
De outro lado, é preciso estar atento aos interesses - inclusive posicionamento ideológico de governantes - na privatização quase total da saúde.
Governos como o de Colombo, de SC, são sabidamente engajados em tudo que possa resultar em lucro para a iniciativa privada, tendo verdadeira ojeriza à atividade pública, estando nela só para tirar proveito dos cofres públicos.

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O que os hospitais não contam para você
Infecções, erros grosseiros, amputações desnecessárias – as armadilhas que se escondem sob a face tranquilizadora da medicina moderna; e um guia para defender seu bem mais precioso: a saúde


CRISTIANE SEGATTO

Quando atravessamos a recepção elegante de um hospital de boa reputação, somos encorajados a pensar que ele funciona como um território vigiado. Cada funcionário em seu lugar, trabalhando de acordo com padrões, atento ao fato de que deslizes serão notados, anotados e corrigidos. Quem conhece os bastidores das mais respeitadas instituições tem outra visão. “A realidade é mais parecida com o Velho Oeste”, diz o médico americano Martin Makary, um observador privilegiado das entranhas dos mais badalados hospitais dos Estados Unidos. Sem meias palavras, Makary expõe verdades incômodas no livro Unaccountable: what hospitals won’t tell you and how transparency can revolutionize health care (em português, Sem prestar contas: o que os hospitais não contam e como a transparência pode revolucionar a assistência à saúde). É hora de quebrar o silêncio.


A obra de Makary, comentarista das redes de TV CNN e FoxNews, recém-lançada nos Estados Unidos e ainda sem editora brasileira, não passou despercebida. “A cada colega que me considerou um traidor por escrever esse livro, cinco me agradeceram”, disse Makary a ÉPOCA. “É um sinal de que o tempo da transparência chegou.” Cirurgião especializado em aparelho digestivo, Makary trabalhou em várias das mais respeitadas instituições médicas dos Estados Unidos. Fez pesquisas sobre saúde pública na Universidade Harvard, em Boston, e atualmente atende no Hospital Johns Hopkins, em Baltimore. Ele não está sozinho. Há um movimento crescente, observável também no Brasil, em defesa de uma medicina mais transparente. Essa corrente acredita que qualquer cidadão deveria ter acesso a informações objetivas sobre a qualidade dos hospitais.


Qual é a parcela de pacientes que contrai infecção em determinada instituição? Qual é o índice de complicações cirúrgicas? Qual é a sobrevida dos doentes depois de um transplante ou operação cardíaca? Quantos recebem medicações erradas durante a internação? No Brasil, os melhores hospitais são avaliados periodicamente nesses quesitos e em muitos outros – num total de 1.300 itens. Eles fazem parte de uma elite de 21 instituições (leia a lista abaixo) num universo de 6.500 hospitais do país. Só elas dispõem do selo de qualidade emitido pela Joint Comission International (JCI), uma espécie de norma de controle de qualidade da área da saúde. Esse é o selo mais prestigiado do mundo. Além dessas, 180 instituições têm certificados emitidos por outras entidades.

COMO ESCOLHER UM HOSPITAL? 
Saber se ele tem um selo de qualidade internacional é um bom parâmetro. No Brasil, apenas 21 instituições conquistaram o certificado mais valorizado no mundo. Ainda assim, não existe hospital 100% seguro 

SÃO PAULO
Hospital Albert Einstein
Hospital Sírio-Libanês
Hospital Samaritano
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Hospital do Coração/HCor
Hospital Paulistano
Hospital Total Cor
Hospital São José/Beneficência Portuguesa
Hospital Nove de Julho
Hospital São Camilo Pompeia
Hospital Santa Paula

RIO DE JANEIRO
Hemorio/Secretaria Estadual de Saúde
Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia/ Ministério da Saúde
Hospital do Câncer I/ Instituto Nacional do Câncer
Hospital do Câncer II/ Instituto Nacional do Câncer
Hospital São Vicente de Paulo
Hospital Copa D’Or

PORTO ALEGRE
Hospital Moinhos de Vento
Hospital da Criança Santo Antônio/ Santa Casa de Misericórdia
Hospital Mãe de Deus

RECIFE
Hospital Memorial São José

Fonte: Consórcio Brasileiro de Acreditação/ Joint Commission International 


Nos Estados Unidos e no Brasil, as informações detalhadas sobre cada hospital existem, mas são guardadas a sete chaves. Raras são as instituições que divulgam um ou outro indicador de qualidade. Makary defende a divulgação desses dados. Uma forma simples e objetiva de dar poder aos consumidores do bem mais precioso do mundo: a saúde. Se podemos escolher um hotel ou um restaurante a partir de critérios técnicos, por que não temos o direito de fazer o mesmo por nossa vida?

Esse é um debate que faz cada vez mais sentido no Brasil. Nos últimos dez anos, o número de brasileiros que dispõem de planos de saúde privados cresceu 50%. São hoje 47 milhões. Nas grandes cidades, as obras de expansão dos hospitais particulares avançam em ritmo acelerado. Mal são inauguradas, as novas alas se mostram insuficientes para atender tanta gente – principalmente nos prontos-socorros. “Há filas de quatro horas e reclamações por todos os lados”, diz Francisco Balestrin, presidente do conselho da Associação Nacional dos Hospitais Privados. “A pressão dessa demanda exacerbada tira a qualidade do atendimento.” O excesso de doentes é um complicador, mas não explica todas as falhas.


Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Harvard em dez bons hospitais americanos expôs um fato conhecido no meio médico: 25% dos pacientes internados sofrem algum tipo de dano. Mesmo nos centros americanos de alta tecnologia, pequenas falhas ou erros gravíssimos ocorrem rotineiramente. Esponjas cirúrgicas são esquecidas no corpo dos pacientes, membros errados são operados, crianças recebem excesso de medicação por causa da terrível caligrafia dos médicos.
A CULTURA DO CHECKLIST
Miguel Cendoroglo Neto, superintendente do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Um checklist parecido com o dos pilotos de avião reduz o risco de erros.“Foi difícil mudar a cultura dos médicos, mas hoje eles gostam” (Foto: Marcelo Min/Fotogarrafa/ÉPOCA)



O excesso de confiança dos profissionais, a falta de comunicação entre os integrantes da equipe e o descuido em relação às normas de segurança (parece incrível, mas muitos médicos não lavam as mãos antes e depois de atender um paciente no quarto ou na UTI) expõem os pacientes a riscos desnecessários. No Brasil, o diagnóstico é semelhante. Os avaliadores de hospitais flagram erros de identificação, falta de pessoal qualificado, desleixo em relação à estrutura física (leia o quadro ao lado). O cenário é hostil, principalmente porque escolhemos hospital da forma mais subjetiva possível. Somos influenciados pelo marketing, pela decoração e pela opção das celebridades. Esta, por sinal, pode ser a pior maneira de eleger um médico. Makary relembra um caso exemplar. Trocando o nome dos envolvidos, poderia ser uma história bem brasileira.

Em 1980, Mohammad Reza Pahlavi, o xá do Irã, era um dos aliados mais importantes dos Estados Unidos. Quando um câncer no sistema linfático (linfoma) o fez adoecer de repente, Washington fez questão de oferecer o que havia de melhor na medicina americana. Michael DeBakey, o mais famoso cirurgião do mundo, chegou rapidamente ao Oriente Médio. Recomendou uma cirurgia imediata de remoção do baço. Nesse tipo de operação, há o risco de perfurar o pâncreas acidentalmente. Para evitar complicações, uma precaução básica é instalar um dreno cirúrgico. Ele evita que o fluido pancreático fique acumulado no corpo do paciente e provoque uma infecção. Confiante em sua habilidade, DeBakey não colocou o dreno. Ao final da cirurgia, declarou que a operação fora um sucesso. Recebeu medalhas e virou um herói no Oriente Médio. Pouco tempo depois, o xá começou a ter febre e vômitos. A infecção, combinada ao agravamento do linfoma, debilitou-o até a morte.

O erro do governo americano, do xá e de sua família foi não ter percebido que DeBakey era um excelente cirurgião cardíaco – não de abdome. Dos 479 artigos científicos que DeBakey assinara, mais de 95% eram sobre cirurgia cardiovascular. Apenas um mencionava o baço, e, ainda assim, ele não era o autor principal. A aura de superstar ofuscou a razão de todos os envolvidos. DeBakey errou duplamente. O excesso de autoconfiança o impediu de fazer o básico. Ou de pedir a ajuda de um especialista. Se até os poderosos erram ao escolher cuidados médicos, como o cidadão comum pode se defender?


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