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domingo, 26 de outubro de 2014

'Socialite' petista e diarista 'aecista' expõem contrastes de eleição acirrada


Jefferson Puff Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

Hildergard (esq.) defende continuidade de governo Dilma, enquanto Solange vota em Aécio Neves.

Cerca de 20 quilômetros separam as casas da colunista Hildegard Angel e da diarista Solange Alves Leite no Rio de Janeiro. A primeira mora em Copacabana, de frente para o mar, e a segunda no Morro do Banco, no Itanhangá, Barra da Tijuca. Mas não são apenas as realidades muito distintas que separam as duas mulheres. Hildegard vota em Dilma Rousseff (PT), e Solange, em Aécio Neves (PSDB).

De longe, as intenções de voto reveladas à BBC Brasil mostram faces surpreendentes do eleitorado, com um inesperado voto de uma integrante da alta sociedade brasileira à candidata petista e uma opção pelo tucano de uma trabalhadora nordestina que chegou a passar fome na infância.

As escolhas das duas também parecem ir na contramão das pesquisas eleitorais. Segundo um levantamento Datafolha divulgado na última quinta-feira, Dilma lidera com folga (64% contra 36% de Aécio) as intenções de voto entre os eleitores com renda familiar de até 2 salários mínimos, enquanto os dois candidatos estão numericamente empatados entre os votantes com renda de 2 a 5 salários. O tucano, no entanto, tem uma liderança confortável (61% a 39%) entre aqueles que ganham mais de 10 salários mínimos.

Uma análise mais próxima, no entanto, revela a cadeia de eventos que pode ajudar a explicar os votos de Hildegard e Solange.

Questões

A jornalista Hildegard Angel trabalhou no Jornal do Brasil e trabalhou para o jornalO Globo por mais de 40 anos, sendo considerada uma das mais proeminentes colunistas sociais do país. Nos últimos anos também passou a se interessar por outros temas e tem mantido um blog e uma conta no Twitter, por onde transmite seus pontos de vista sobre diversos temas.

A jornalista tem questões familiares e históricas muito fortes que a levam a optar pelo voto na candidata do PT, que na juventude foi perseguida pela ditadura: seu irmão Stuart Angel participou da luta armada contra o regime militar e faz parte da lista de desaparecidos políticos, enquanto sua mãe, Zuzu Angel, notabilizou-se por suas denúncias dos crimes da ditadura até sua morte, em 1976, em um acidente de carro sobre o qual há suspeitas do envolvimento de militares.

Tais origens fazem com que, embora pertença às altas rodas cariocas, Hildegard faça questão de defender publicamente seu voto no PT, que, segundo ela, possui "política econômica que prioriza o povo brasileiro, a multiplicação de empregos, e o desenvolvimento nacional".

Solange por outro lado, não nega avanços obtidos nos últimos anos, mas quer mais.

Ela diz que passou fome quando criança e que certamente as coisas melhoraram como um todo, mas afirma que sua vida ainda é muito difícil, seu poder de compra está estagnado, e sua busca por uma vida melhor a leva à opção pelo diferente.

"Realmente melhorou, mas eu preciso exigir mais. Moro num lugar violento, quero educação melhor, saúde melhor, menos inflação. Se ele (Aécio) cumprir as promessas, pode ser um bom presidente, sim".

De Eduardo Campos a Aécio NevesApós morte de Eduardo Campos, a diarista Solange passou a ver Aécio Neves como o melhor candidato à Presidência

Nascida em Carnaubal, cidade com pouco mais de 17 mil habitantes no interior do Ceará, Solange vive no Rio há 15 anos. Para ela, que votou em Lula em 2002 e 2006, mas não optou por Dilma em 2010, a decisão já foi tomada: seu voto vai para o PSDB.

Ao analisar seu cotidiano na segunda maior cidade do Brasil, Solange diz que ainda vê problemas no transporte público, na educação e na saúde, e demonstra irritação com casos de corrupção.

Além disso, ela diz que a maior insatisfação é com a inflação, com o poder de compra de seu salário, já que "tudo aumenta, cada vez mais".

"Você vê. Fizeram todos aqueles protestos, mas o ônibus, o trem, o metrô, todos aumentaram. É complicado. Minha filha precisou de médico, eu esperei três meses por uma consulta com especialista. Mandam do hospital para o posto, de um lugar para o outro, com um papel na mão. Na escola pública onde ela estuda, tem criança de nove anos que ainda não sabe ler direito. E mesmo assim continuam roubando, bilhões e bilhões", diz.


Solange diz que seu voto inicial era em Eduardo Campos, candidato do PSB morto num acidente aéreo em agosto, e que ele simbolizava algo diferente.

"Eu estava decidida em votar nele, acho que ele tinha chances". Com a morte do pernambucano, ela mudou seu voto no primeiro turno para Aécio Neves, e não para Marina Silva.

"Marina entende das questões do ambiente, tudo bem. Mas ela não tem o que precisa para ser presidente. Precisava se preparar mais, ter mais pulso firme, eu não confiei não".

Sobre o ex-governador de Minas Gerais, diz ter esperanças. "Pelo que eu vi ele melhorou a saúde e a educação em Minas. Se ele fizer isso pelo Brasil também, pode ser um bom presidente. Ele me convenceu, tem boas propostas, e é muito mais carismático, mais simpático do que a Dilma".
Fome, Nordeste e estagnação

Questionada sobre o Nordeste e as origens simples da família no Ceará, Solange não muda muito de opinião. Ela diz que os parentes de Carnaubal também estão descontentes, e que os que melhoraram mesmo de vida são aqueles que vieram para o Rio ou trabalham em Fortaleza, porque "estão correndo atrás".

"Se meus parentes vão votar na Dilma? Os que ganham Bolsa Família sim, com certeza. Quanto aos outros, eu tenho minhas dúvidas. Falo com minhas amigas pelo WhatsApp e pelo Facebook, elas têm que ralar muito, indo e voltando de Fortaleza para se manter. A vida ainda é muito dura por lá", diz.

A diarista relembra que muitas vezes a mãe tinha que dividir um ovo para três crianças. "Claro que era difícil. Lembro da minha mãe chorando. Hoje em dia tento dar de tudo para minha filha, Yasmin, mas não é fácil, ganhando pouco mais de R$ 1.000 por mês e pagando R$ 500 de aluguel. Isso porque a gente mora em comunidade, com tiroteio, com problemas. Queria poder morar num lugar mais tranquilo, mas não tem como", explica.

O relato de Solange mostra a divisão da chamada "classe intermediária", apontada pelo Datafolha como o grupo social com grande polarização de votos e um expressivo número de indecisos.

Entre os familiares que moram no Rio, ela diz que há consenso em torno do voto em Aécio, mas nem todos os vizinhos e conhecidos pensam assim.

"Quando tem debate, nos juntamos aqui em casa. Eu, meu marido, minhas duas irmãs e meu cunhado. Parece jogo do Brasil. E aí a gente discute o que foi dito. A conclusão é sempre de que a Dilma até fez coisas boas, mas vamos todos votar no Aécio mesmo", diz Solange.

Mas se a família quer mudança, alguns vizinhos manifestam temor com um governo PSDB.

"No ponto de ônibus às vezes a gente acaba falando de política. Tem muitos que dizem ter medo que o Aécio não faça muito pelos pobres. Que ele seja mais do lado dos ricos. Eu acho que é um risco, sim, sei disso. Mas às vezes a gente tem que apostar, né?"

Ditadura e eliteColunista diz esperar que Dilma Roussef mantenha os programas sociais em um eventual novo governo.

A esperança de Solange é partilhada por Hildegard Angel. Mas para a socialite e colunista, o melhor caminho para o Brasil é continuar com Dilma Rousseff.

"Sou Dilma porque tenho olhos para ver o rosto deste novo Brasil, a partir de uma trajetória reformadora iniciada com Lula há 12 anos, que a presidenta prossegue com ímpeto, fôlego, vontade e determinação. Hoje temos um país múltiplo, em que diferentes ocupam o mesmo lugar ao sol, merecem o mesmo respeito da sociedade, sobem no mesmo elevador, frequentam o mesmo aeroporto, têm os mesmos telefones celulares, os mesmos televisores e laptops", escreveu Hildegard em um manifesto publicado na internet.

Em entrevista à BBC Brasil, ela ratificou seu voto e acrescentou que, dada a sua história de vida, jamais poderia votar num projeto de governo que considera o golpe militar uma "revolução".

Em abril deste ano, durante um evento em Santos (SP), o candidato Aécio Neves utilizou o termo para se referir ao golpe de 1964.

"Eu sofri na carne, perdi minha mãe e meu irmão, tenho cicatrizes profundas. Isso é algo que jamais poderia fazer parte de mim, estar no lado da linha dura", diz.

Hildegard diz que nutre uma "estima pessoal pela família do outro candidato", mas que suas convicções são mais fortes.

Questionada sobre o contraste de seu posicionamento político com o da maioria da elite brasileira, a colunista diz que é preciso olhar com mais atenção, mas que é verdade que nem todos têm a mesma abertura.

"A elite é múltipla, não é um bloco. Eu não posso generalizar. Sim, existem mais pessoas que pensam como eu, mas não declaram isso abertamente. Como houve um acirramento muito grande no país, as pessoas se intimidam. É o meu temperamento, ser franca, determinada, mas nem todas as pessoas têm essa atitude", indica.

Sobre suas expectativas para um novo governo, diz esperar pela manutenção do foco em programas sociais.

"Espero que a Dilma mantenha as políticas sociais dela, que esse ritmo seja mantido, que o Brasil desate seus espíritos em função do país, que se dê ao país a oportunidade de prosperar, de prosseguir sua trajetória, e que todos contribuam - os meios de comunicação, a classe produtiva, o setor financeiro. Que todos torçam a favor, e não contra", afirma.

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