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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O PT da retórica e o PT de fato: a dialética do oportunismo

FAUSTO ARRUDA


Dilma Rousseff foi para o gerenciamento de Luiz Inácio e ingressou no PT, tornando-se sua candidata para um mandato tampão. Sentou na cadeira presidencial e preparou seu continuísmo como se fosse a mais petista de todas. Para se reeleger fez campanha como Luiz Inácio fez sua primeira, açulando a reação mais nefanda a acusá-la e ao PT de “revolucionários, socialistas, comunistas enfim”, para, com sua desfaçatez, deixar tais impropérios esvaírem-se de tão ridículos.

Com o concurso da “esquerda” eleitoreira covarde, encenou enfrentar uma tal ameaça da “direita”, venceu com os votos do clientelismo e do cabresto, chegando ainda a iludir incautos de que “conquistas” estavam em jogo. Bravateira, avisou: “os direitos trabalhistas são intocáveis!”. Não passou mais que um par de semanas para despejar medidas de arrocho, de mais impostos, cortes, etc., contra as massas trabalhadoras, claro, e em prol do capital financeiro internacional, do “agronegócio” e da banqueirada, também sem novidades.

A diferença entre os 12 anos de gerenciamento petista e o novo mandato que se inicia é a de que no primeiro trataram de aprofundar a dominação imperialista dos gerenciamentos anteriores e o que se inicia é de aprofundar mais a sua própria obra medíocre, pomposamente intitulada de “desenvolvimentismo popular”, novo eufemismo para subjugação nacional. A diferença entre o gerenciamento petista com os anteriores do PSDB, PMDB, etc., é nenhuma. Melhor, para ser mais preciso, como vaticinou Delfim Netto no dia da posse de Luiz Inácio em seu primeiro mandato: “Será mais do mesmo”. Ou o que nunca cansou de explicar FHC: “A diferença entre o PSDB e o PT é apenas de disputa de poder”.

Ou seja, do ponto de vista do Partido Único, tais nuances não têm a menor importância. Quando denunciamos que os principais candidatos eram farinha do mesmo saco, ou seja, que todos estão curvados ante a política de subjugação nacional imposta pelo imperialismo, afirmávamos também que as diferenças entre eles eram apenas cosméticas.

Protestos como de Leonardo Boff, Frei Beto e João Pedro Stédile, entre outros petistas históricos e intelectuais pequeno-burgueses, que assinaram manifesto no qual afirmam que “a indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa das urnas” e que Dilma Rousseff “parece levar mais em conta as forças cujo representante derrotou do que dialogar com as forças que a elegeram”, parecem coisa de inocentes e de neófitos em política.

Também a presidente em exercício da CUT, Carmem Foro, demonstra surpresa ao afirmar, segundo boletim do DIAP, ser “uma afronta, as medidas serem logo após a presidenta Dilma ter se comprometido, publicamente, a voltar a abrir um canal de diálogo com as centrais, através de reuniões periódicas, e não permitir a retirada de qualquer direito trabalhista que fosse. Nem que ‘a vaca tossisse’”, afirmou ela. Apojadas nas tetas do Estado, as centrais sindicais pelegas, fingindo-se traídas, farão protestos “para inglês ver”.

As críticas de arrependidos e desiludidos com o PT e com sua gerente Dilma Rousseff vêm da periferia para o centro do próprio partido como foi a explosão de Marta Suplicy. Lançando a consigna de “o PT muda ou acaba”, ela saiu do ministério lançando impropérios contra petistas de vários coturnos o que levou Paulo Vanucchi, assessor de Luiz Inácio, a declarar ao jornal Folha de São Paulo que a senadora agiu de forma “sórdida”, “intolerável” e “inaceitável” ao revelar conversas particulares suas com Luiz Inácio nas quais ele teria, em jantar organizado por ela com empresários, feito reclamações sobre suas dificuldades com Dilma.

Ao que parece, as dificuldades com Dilma não param por aí, já que a Fundação Perseu Abramo, tida como fonte de referência teórica e de pesquisa petista em seu Boletim de Análise Econômica nº 236, diverge das medidas de elevação dos impostos baixadas por Dilma Rousseff ao afirmar que “diante da continuidade de um mundo em crise e da desaceleração abrupta do mercado interno (último motor de crescimento da economia nacional que ainda funcionava), a possibilidade desses ajustes aprofundarem as tendências recessivas da economia nacional não é desprezível” e “Caso este cenário pessimista se confirme, mesmo os aumentos das alíquotas dos impostos serão insuficientes para ajustar as contas públicas, tendo em vista que a arrecadação tributária será muito inferior à esperada”.

A crise interna do PT promete atingir proporções nunca vistas diante da ameaça de José Dirceu de romper com Luiz Inácio por considerar ter sido abandonado no processo do mensalão e agora já estar vendo seu nome despontando na apuração da corrupção na Petrobras. Luiz Inácio, que tem se especializado em apagar incêndios, terá mais esta labareda pela frente. Não tendo a verdadeira dimensão da profundidade da crise, ele procura discutir com próceres petistas sobre a necessidade de mudanças estruturais no partido, começando por sua direção burocratizada.

A crise, entretanto, é mais profunda do que ele pensa. Ela é o prenúncio do esgotamento de um projeto oportunista que completará 35 anos neste 2015 com claros sintomas de senilidade, pois, criado sob a bandeira da “renovação e da ética”, chega a esta idade com todas as características dos velhos partidos burgueses com suas frações internas em pugna como consequência de suas íntimas ligações com os grupos de poder dentro do velho e apodrecido Estado brasileiro.

A FALÊNCIA DO CÍRCULO DE FOGO PETISTA

A estratégia de ser e não ser PT, ou seja, de aparentar uma coisa e na verdade ser outra, foi traçada por José Dirceu, seu presidente na época, para eleger Luiz Inácio em 2002. Assim o falatório “ético” e de “defesa dos trabalhadores” era o PT do discurso e a assinatura da Carta aos brasileiros, assegurando a submissão ao FMI e ao Banco Mundial, era o PT real; as denúncias de corrupção de FHC eram o PT do discurso e a aliança com Sarney era o PT real; a promessa de reforma agrária radical era o PT do discurso e a aliança com o agronegócio era o PT real; a promessa de fome zero era o PT de discurso e o convite ao agente do FMI e deputado do PSDB, Henrique Meireles, para chefiar o Banco Central era o PT real; a afirmação de que no congresso havia mais de 300 picaretas era o PT do discurso e a montagem de um mensalão para comprar o apoio de partidos e parlamentares era o PT real; a necessidade de controle da mídia era o PT do discurso e a destinação de milhões de reais para os monopólios de imprensa era o PT real; a proposta de uma reforma política era o PT do discurso e a utilização de recursos da Petrobras para formação de patrimônio pessoal e fazer o jogo sujo eleitoral era o PT real; a campanha eleitoral de Dilma Rousseff era o PT do discurso e o gerenciamento de Dilma Rousseff é o PT real.

Não, isto não é uma manifestação esquizofrênica, um caso de dupla personalidade, como acontece com as pessoas vítimas de distúrbios mentais. Este tipo de manifestação em política tem um nome mais apropriado: oportunismo. E o oportunismo é uma forma de manifestação da mentira e a mentira possui pernas curtas.

Desta forma, a estratégia de envolver a sociedade no círculo de fogo do corporativismo onde o gerenciamento do Estado atrela os entes da sociedade civil ao seu controle para, por um lado, beneficiar o latifúndio, a grande burguesia e o imperialismo e, por outro, impedir o protesto popular com pequenas concessões, cooptação de lideranças e aumento da criminalização dos movimentos populares, tudo isso faliu.

E foram os protestos de junho de 2013 que marcaram o momento da quebra e definhamento do círculo de fogo oportunista do PT. Escorraçado nas manifestações da juventude, diminuindo sua presença no parlamento e obtendo uma pífia diferença na eleição de sua candidata à reeleição. Este é o triste fim que espera aqueles serviçais da burguesia que usam o nome dos trabalhadores para traí-los: mais cedo ou mais tarde entram em bancarrota. As páginas da história estão cheias destes casos, a degringolada petista não constitui, portanto, novidade alguma.

APRENDENDO A LIÇÃO

Se aos oportunistas é difícil aprender com a história, ao povo já não acontece o mesmo: o número de votos repudiando as candidaturas do Partido Único, nas últimas eleições, é prova inconteste do repúdio a esta farsa em que se constitui a ditadura burguesa travestida de “Estado democrático de direito”, sob o gerenciamento petista.

Negando estes falsos representantes do povo, a juventude, os operários, os camponeses, os moradores de favelas e bairros periféricos desenvolvem a ação direta na reivindicação de solução para seus problemas mais gritantes, ao tempo em que clamam por uma direção revolucionária que aponte para a destruição deste velho e apodrecido Estado juntamente com todos que nele se empoleiraram. A situação revolucionária se desenvolve e, certamente, constrói em seu seio os instrumentos para a revolução. Uma Revolução de Nova Democracia, cujo caráter democrático e popular seja assegurado pela direção de um Partido Revolucionário à frente da aliança operário-camponesa na aplicação do programa revolucionário, garantindo um rumo firme para o Socialismo.

Vale ressaltar o ensinamento de Lenin de que pretender combater o imperialismo sem o combate inseparável ao oportunismo e ao revisionismo, não passa de fraseologia oca.

Fonte: A NOVA DEMOCRACIA

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