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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Cerca de 1% da população britânica, assexuais se unem para romper tabus sobre vida sem sexo




Mark Carrigan | Vice | Londres - 15/04/2015 - 06h00
Frustrado com falta de informação sobre assexualidade, britânico criou site para promover informação e visibilidade a pessoas que não experimentam atração sexual, que enfrentam escárnio e incompreensão de amigos e família







Holly Falconer / Vice
Mark: "A melhor reação foi do meu irmão hétero, que disse: 'Seu sortudo'. A maioria expressa curiosidade, querendo saber mais sobre assexualidade. Não tive nenhuma reação negativa até hoje"

Você conhece alguma pessoa assexual? Pode parecer uma pergunta estranha. Até recentemente, isso provavelmente só provocava alguma lembrança das aulas de biologia do colégio. Mas, no Reino Unido, isso começou a mudar há cerca de 15 anos, quando um estudante chamado David Jay fundou a Rede para a Educação e a Visibilidade da Assexualidade (Asexuality Visibility and Education Network, em inglês), também conhecida como AVEN.

David estava frustrado com a falta de informação de seus colegas do movimento LGBT sobre pessoas que não experimentam atração sexual. O que ele não esperava era quão rápido esse site cresceria, se tornando um centro online para pessoas como ele. Com a AVEN, uma comunidade de assexuais começou a se juntar; e, com o site, vieram jornalistas e acadêmicos, interessados em entender melhor o fenômeno.

Pesquisas sugerem que você provavelmente já conhece pessoas assexuais, mesmo não sabendo. Estima-se que cerca de 1% da população britânica seja assexual, mesmo que (ainda) não se defina assim.

O critério? Não sentir atração sexual por ninguém. Nunca.

Sou um sociólogo da Universidade de Warwick, na Inglaterra, e conduzi minha primeira pesquisa sobre assexualidade em 2009. Achei o trabalho fascinante e venho explorando questões relacionadas à assexualidade desde então. Minha pesquisa era voltada inicialmente à identidade assexual, investigando como alguém vem a se identificar como assexual, mas logo percebi que não podemos entender como a identidade "assexual" emergiu sem olhar para atitudes culturais mais amplas relacionadas ao sexo.

Quando conduzi uma pesquisa estudando os pensamentos e sentimentos das pessoas assexuais, fiquei surpreso com a similaridade das experiências das quase 200 pessoas participantes do estudo. Elas eram muito diferentes entre si, mas estavam unidas por um sentimento de que algo estava fundamentalmente errado com elas por não experimentarem atração sexual. Elas se sentiam "estranhas", "erradas" ou "fodidas" – frases que se repetiam com frequência.

E, frequentemente, eram as pessoas genuinamente preocupadas com elas que as faziam se sentirem assim. Ben, que vive em Richmond, na Inglaterra, conta que seus pais riram dele quando ele disse que era assexual e que, ainda hoje, eles parecem não acreditar nisso.

Em outros casos, as pessoas descreviam uma crueldade proposital. Uma participante da pesquisa disse que outros estudantes do seu dormitório da faculdade colocaram brinquedos eróticos em seu cereal matinal. Um homem, Vincent, afirmou que evita contar que é assexual para não ter de "aguentar as pessoas dizendo que estou errado, sou muito novo ou ainda não encontrei a pessoa certa".


Muitas pessoas veem a assexualidade como algo que precisa ser corrigido. Vincent acredita que parte disso vem da mídia. "A assexualidade é algo pessimamente representado na TV e nos filmes", ele criticou. "A maioria das pessoas cita o Sheldon do seriado ‘The Big Bang Theory’ como primeiro exemplo, mas não considero esse personagem assexual. Na verdade, a maioria dos personagens 'assexuais' na TV tem algum tipo de distúrbio."

Às vezes, as pessoas agem de forma ofensiva, porque simplesmente não conseguem compreender como alguém pode ser assexual. Gareth, que vive no nordeste da Inglaterra, disse que, desde que se assumiu em 2011, só encontrou uma pessoa com conhecimento suficiente sobre o assunto para "não pensar que isso quer dizer alguém que pode se reproduzir espontaneamente ou incapaz de fazer sexo". Ele acrescentou que "perguntas repetitivas sobre masturbação" são uma experiência comum quando ele tenta explicar sobre a assexualidade.

Michael, de Coventry, explicou que, antes de se assumir, frequentemente se via "muito envergonhado quando os temas sexo ou relacionamentos surgiam numa conversa" por causa da "pergunta persistente de por que nunca tive um relacionamento e nunca mostrei interesse por sexo". Ele tinha plena consciência das suposições que as pessoas estavam fazendo – de que ele era gay, confuso ou só não conseguia arrumar uma namorada –, o que o deixava ainda mais desconfortável com quem ele era.

Mas os problemas enfrentados pelos assexuais têm mais a ver com invisibilidade do que com fobia. É doloroso sentir que a sociedade não acredita que pessoas como você existem. Ben – que acha "difícil" ter de se explicar o tempo todo – acha que o público, em geral, não tem muito conhecimento sobre assexualidade. "Isso parece estar se tornando mais mainstream, com mais gente dizendo que já ouviu o termo, mas geralmente nada muito além disso", ele frisa.

Encontrar pessoas assexuais pela primeira vez coloca em questão uma suposição básica que muitos têm: a de que todo mundo experimenta atração sexual. Na verdade, muitos nem percebem que isso é uma suposição: as provas de um comportamento contrário parecem absolutamente incompreensíveis.

Muitos assexuais vivem muito bem, seguindo seu próprio caminho no mundo como qualquer pessoa faz, com todos os altos e baixos. E a experiência de se assumir não é traumática para todos.

Holly Falconer / Vice
Jenni: "Foi incrível poder ser confiante ao abordar relacionamentos, sabendo que as outras pessoas sabiam quem eu era; e, se elas não gostavam disso, não era culpa minha"

Jenni, uma estudante de Artes de Bristol, conta que passou a dizer que era assexual quando entrou na faculdade – e foi isso. "Não foi uma grande mudança para ninguém", ela explica. "É só quem eu sou. Foi incrível poder ser confiante ao abordar relacionamentos, sabendo que as outras pessoas sabiam quem eu era; e, se elas não gostavam disso, não era culpa minha. Todos os meus amigos têm a mente muito aberta."

Ben acha que a imprensa tende a cobrir a assexualidade com um sensacionalismo do tipo "Olhe esses esquisitões" e que assexuais visíveis na cultura pop são poucos. "Há apenas o Sherlock, que é um psicopata e apenas ambiguamente assexual", ele destaca. "E o Doctor Who, que é muito inconsistente na questão." Ele acredita que isso acontece porque a assexualidade é percebida como uma coisa chata. "Ser assexual não gera conflito", ele garante.

A assexualidade, quando realmente discutida, é retratada como algo dramaticamente distante da norma. Mas a ideia do que significa ser "sexual" permanece estranhamente indefinida na nossa cultura atual.

A assexualidade ainda é descartada por muitos como uma fase "confusa", mas estou cada vez mais convencida de que, na verdade, são as pessoas não assexuais que são confusas sobre sexualidade. Achamos muito mais fácil falar sobre fazer sexo – com quem, de que jeito, com que frequência – do que realmente ser sexual. Como a psicóloga Leonore Tiefer coloca, há uma crença generalizada de que "o funcionamento sexual é um aspecto central, se não o aspecto central, de um relacionamento".

Vemos o sexo como uma característica definidora de relacionamentos românticos e sofremos para imaginar como um relacionamento poderia existir sem isso. Mas eles existem, o tempo todo. É nossa cultura hiperssexualizada que leva as pessoas a verem um relacionamento sem sexo como algo que deu errado e que precisa ser corrigido – que é quando comunidades online como a AVEN entram. Muitos dos assexuais com quem falei concordaram que conversar com outros assexuais ajudou a aceitar quem eles eram. Gareth, de Newcastle, encoraja "qualquer assexual, seja jovem ou velho, confuso ou satisfeito, a conhecer a AVEN".

Gareth também achou se assumir algo extremamente útil. "Não escolha uma hora, não escolha uma data, deixe isso acontecer naturalmente", ele afirmou. "Pode ser um processo muito estressante, e o momento 'certo', com as pessoas 'certas', pode nunca chegar. Você vai saber quando for a hora. Você vai se sentir relaxado e vai perceber que há uma oportunidade. É aí que você deve fazer isso."

Michael concorda. "Para quem está pensando em se assumir, faça isso no seu próprio tempo e num ambiente em que você se sinta seguro e confortável. Se é difícil falar com amigos próximos ou sua família primeiro, tente com outros conhecidos." Ele recomenda se conectar a outros assexuais antes de qualquer coisa para ter dicas de pessoas que já passaram pela mesma coisa, dizendo que a única situação em que ele aconselharia alguém a se assumir "definitivamente" seria no começo de um relacionamento romântico. "É justo que ambas as partes saibam em que o relacionamento se baseia."

Holly Falconer / Vice

Michael: "Identifico-me como assexual e não-romântico. Recentemente, dei uma palestra sobre assexualidade para um grupo composto principalmente de aposentados. Fiquei um pouco nervoso, porque o estereótipo dos idosos é de que eles são menos interessados em sexo; então, pensei que eles simplesmente não se importariam com a assexualidade e veriam isso como um não assunto – mas eu estava completamente errado. Eles acharam fascinante e perguntaram por que não havia mais cobertura sobre isso. Acho que precisamos abordar todas as idades, incluindo pessoas de meia-idade e aposentados, mas também seria fantástico ter alguma educação sobre assexualidade nas escolas."

Holly Falconer / Vice

Gareth: "Tenho ouvido cada vez mais histórias sobre médicos, enfermeiros e terapeutas compreensivos, além de histórias de pessoas que tinham medo de se assumir, mas que encontraram palavras de compreensão. Essa compreensão e esse conhecimento estão se espalhando, mas pode demorar um pouco até isso ser algo que a maioria das pessoas pode aceitar."

Holly Falconer / Vice

Christof: "Conhecimento sobre assexualidade é algo um pouco mais comum entre aqueles interessados em direitos sexuais e igualdade sexual e de gênero, mas é meio como uma bolha da internet. A maioria da população ainda diria: 'Quê?'."

Holly Falconer / Vice

Vincent: "Ainda prefiro o rótulo demissexual – é bem específico e combina com a forma como experimento a atração. Mas digo às pessoas que sou assexual ou que não estou interessado quando não estou com vontade de me explicar. Não saí contando para todo mundo; então, apenas algumas pessoas próximas realmente sabem. Minha irmã é lésbica; então, ela estava aberta à ideia de orientações que não são hétero, mas acho que ela não entende isso completamente. Minha mãe parece não conseguir colocar isso na cabeça ou acha que é só uma fase (mesmo eu tendo 28 anos). Minha ex ficou confusa, já que isso era um componente central de um relacionamento para ela. Contei para alguns amigos; e, na maioria das vezes, são os héteros que acham isso estranho."

Holly Falconer / Vice

Jo: "Atualmente, me defino como assexual, não-romântica, agênero e trans. As pessoas reagem diferentemente quando digo que sou assexual. Tive experiências positivas e negativas. Recentemente, fiz estágio numa organização de teatro que não sabia quase nada sobre assexualidade. Todo mundo ficou curioso, e acabei dando uma aula de 'Introdução à Assexualidade'. Na mesma época, também me assumi para minha professora de dança, e a resposta dela foi recomendar um monte de livros de conselhos sobre relacionamentos. Ainda não pensei como responder a isso."


Tradução: Marina Schnoor
Matéria original publicada no site da Vice Brasil.
Fonte: OPERA MUNDI

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